segunda-feira, 30 de outubro de 2023

Entenda o que representa o peronismo para a Argentina nos dias de hoje

Quando acompanhamos eleições mundo afora, tentamos categorizar os políticos num espectro ideológico que vai da extrema esquerda à extrema direita para compreender melhor o que está em jogo e até para identificar quem tem uma visão de mundo mais parecida com a nossa. Mas, em alguns casos, esses rótulos não dão conta da complexidade envolvida.

A disputa presidencial argentina é um caso assim. No primeiro turno, tivemos três candidatos competitivos. Patricia Bullrich, que ficou em terceiro lugar e saiu do páreo, pertence ao campo conservador, identificado com a centro-direita. Javier Milei, que terminou na vice colocação e agora disputa o segundo turno, é um ultraliberal que ganhou o rótulo de extrema direita. Seu adversário é Sergio Massa, o peronista que venceu com folga o primeiro turno prometendo defender os trabalhadores e os direitos sociais no enfrentamento da grave crise enfrentada pelo país.

Com tal configuração, é natural enxergar Massa como o elemento de esquerda dessa disputa, o candidato mais progressista. No entanto, de esquerda mesmo, só havia uma candidata no primeiro turno e foi a última colocada: Myriam Bregman. Vamos, então, tentar ampliar um pouco nosso entendimento sobre o peronismo e o que ele representa na Argentina de hoje.

·         ‘Patas en la fuente’

O peronismo surgiu durante a década de 1940. Em 1943, um golpe levou ao poder um grupo formado por militares, que perseguia movimentos populares. Mas havia um ministro do Trabalho, o coronel Juan Domingo Perón, que preferia se aproximar dos trabalhadores e movimentos sindicais, promover justiça social.  Ele criou benefícios como salário mínimo e 13º, medidas que desagradaram as elites e o levou a prisão em 8 de outubro de 1945.

“Perón foi preso por não existir no grupo de militares que governava o país um consenso sobre o caminho a ser  seguido ou preocupações com ‘o povo nas ruas’, afirma o professor da UnB Carlos Vidigal, estudioso da história argentina, ao Brasil de Fato. “O povo nas ruas era uma novidade política”.

A detenção de Perón desencadeou manifestações populares em sua defesa. A mais notória ocorreu nove dias depois, em 17 de outubro, e ficou conhecida como patas en la fuente (pés na fonte). Sob um sol escaldante, uma mobilização liderada por uma classe trabalhadora renovada invadiu Buenos Aires e ocupou a Praça de Maio, onde fica a Casa Rosada (sede do governo), para exigir a liberdade de Perón. Num local tradicionalmente frequentado por uma elite comportada e cheia de bons modos, pessoas de variados recortes sociais e raciais levantaram as calças acima dos joelhos e entraram numa fonte para se banhar, cena que foi fotografada e entrou para a posteridade.

No mesmo dia, Perón foi libertado. No ano seguinte, seria eleito presidente para seu primeiro mandato (1946-1955), enquanto surgia uma corrente política com peso de massas, que dialogava com a esquerda e a direita, e levaria seu nome. Começava ali a primeira a primeira de quatro fases do peronismo, conhecida como “peronismo clássico”, explica o economista argentino Alejandro Horowicz, doutor em ciências sociais e autor de livros sobre esse movimento político.

Era uma época de mudança do capitalismo na região, da chamada substituição de importações, ou seja, a passagem do modelo primário-exportador e da ordem política oligárquica para a industrialização e a inclusão dos trabalhadores na política, via direitos civis e legislação trabalhista. Ou, pelo menos, a intenção declarada de inclui-los. Afinal, os próprios sindicatos, hegemonizados por comunistas e anarquistas, perceberam que o programa de Perón era uma forma de incentivar a industrialização e conter os trabalhadores, explica Vidigal.

“O peronismo foi um desdobramento do processo de crescimento populacional, urbanização e industrialização pelo qual a Argentina passou no período de apogeu, entre 1880 e 1930. A passagem de um país primário exportador para um país em alguma medida industrializado demandou uma nova forma de dominação, que foi o peronismo, um dos casos clássicos de populismo histórico latino-americano”, diz ele. Os outros são o varguismo, no Brasil, e o cardenismo, no México.

Ao mesmo tempo em que ampliava benefícios e promovia melhoria na qualidade de vida, Perón também aumentou o controle sobre os sindicatos, numa relação mediada por sua esposa María Eva Duarte de Perón, a Evita, que se aproximou dos trabalhadores e ajudou a popularizar a imagem de um Estado benfeitor.

“Perón era militar, político, ideólogo y otras cositas más. A principal inspiração de seus textos foi o fascismo italiano. Era um admirador de (Benito) Mussolini e Evita dizia que ele o imitaria em tudo, menos nos erros”, ensina Vidigal. “A essência do fascismo era o corporativismo, ou seja, a união de classes como contraponto à luta de classes, de inspiração marxista ou comunista”.

No cenário de abundância econômica que se seguiu à Segunda Guerra Mundial (1939-1945), este Estado peronista contava com fartas reservas cambiais e investiu em sua indústria. Também promoveu distribuição de renda, o que estimulou o consumo da população e, ato contínuo, o aumento da inflação, até hoje um problema crônico da sociedade argentina, certamente um dos maiores desafios do próximo presidente.

·         Peronismo da resistência

Em 1955, quando, no decorrer de seu segundo mandato, Perón sofre um golpe militar e se exila na Espanha - do ditador de direita Franco - , começa o “segundo peronismo, que é o da resistência”, segundo Horowicz. “A classe operária não muda, mas o sistema político, sim. O peronismo agora está proibido, não pode ser candidato a nada.”

O analista argentino menciona dois fatos históricos importantes do período: a mobilização operário-estudantil conhecida como Cordobazo e a emergência de uma organização político-militar chamada ‘montoneros’, que, na definição dele, se reivindica peronista. Os dois fatos “pavimentam o caminho para uma terceira fase do peronismo”, que começa com o regresso de Perón, em 1972, e vai até sua morte, em 1974.

Nessa fase, o peronismo é “mais plebeu, radicalizado, com uma tensão enorme entre duas alas internas, que se dilui em 1973, quando Perón respalda os dirigentes sindicais contra os ‘montoneros’ e a tendência revolucionária”, explica Horowicz. Quando, em 1976, um novo golpe militar dá início à fase mais repressiva e sangrenta (1976-1983) do conjunto de ditaduras argentinas, o que se vê é um “peronismo diferente”.

Segundo o analista, uma característica é o fracasso nas urnas, o que fica demonstrado na derrota para o conservador Raúl Alfonsin (1983-1989). Outra é a capacidade de chegar ao poder com quadros bem distintos da herança de Perón, como é o caso de Carlos Menem, que vence a interna peronista e depois as eleições nacionais em 1989, dando início a um duplo mandato que vai até 1999.

O muro de Berlim havia caído e o mundo passava por uma nova ordem internacional mais instável, sob hegemonia militar e política dos EUA, na qual o dólar era a moeda do sistema monetário mundial. O mandato de Menem se caracteriza por uma gestão tida como neoliberal, alinhada ao Consenso de Washington. O peronismo representou um dos movimentos mais liberais da América Latina, naquela década . 

Era, e continua sendo, um peronismo “sem tarefa histórica, a não ser a de governar num contexto em que a dívida pública, que garante o funcionamento do sistema e a rentabilidade financeira da classe dominante, siga sendo elemento-chave do programa econômico argentino”, na visão de Horowicz.

·         Peronismo hoje

As duas fontes consultadas para esta reportagem coincidem na avaliação de que o peronismo é conveniente para as classes dominantes, o que é uma observação interessante no contexto da atual disputa eleitoral, na qual Javier Milei afirma que apoiar sua candidatura é uma forma de combater a “casta política”.

“Tanto à época [primórdios do peronismo] quanto nos governos peronistas mais recentes [Néstor Kirchner (2003-2007), Cristina Kirchner (2007-2015), Alberto Fernández (desde 2019)], a inclusão social se dá por meio de políticas assistencialistas, sem redistribuição de renda e sem maiores prejuízos para o capital. Ao contrário, mantém a desigualdade social e a exploração”, opina Carlos Vidigal.

Alejandro Horowicz oferece um dado ilustrativo. “Nos primeiros três peronismos, os trabalhadores recebiam de 43% a 48% do PIB nacional como renda. Hoje, não chega a metade disso: 23%. Esse é o quadro no qual o candidato Sergio Massa tenta ganhar as eleições”. No passado recente, segundo ele, o peronismo tem se limitado a implementar variantes do Plano Austral, criado durante o governo Alfonsín na tentativa de conter a inflação e estabilizar a economia, sem sucesso.

Questionado sobre o que se mantém e o que se perdeu do peronismo original nos dias de hoje, Vidigal faz o seguinte resumo: “O que foi superado historicamente foi a industrialização (relativamente fracassada), o papel do operariado e a possibilidade de promoção de reformas, ao menos no discurso. Permaneceu o peronismo popular (representado por Evita), o assistencialismo, o controle dos sindicatos e do voto popular, além da composição (articulações políticas variadas) com o capital”.

O peronismo cotidiano é composto por três correntes, na visão do jornalista Mario Santucho, editor da revista Crisis: kirchnerismo, massismo e albertismo. O kirchnerismo, com a atual vice-presidenta Cristina Kirchner à frente, seria, ideologicamente, a corrente mais à esquerda da coalizão, da qual faz parte Axel Kicillof, reeleito governador da província de Buenos Aires. O albertismo, referência ao presidente Alberto Fernández, seria a centro-esquerda. E o massismo, referência a Carlos Massa, seria a direita da coalizão.

Vidigal tem um olhar diferente para esse espectro ideológico. “Não considero que cada liderança corresponda a uma corrente política, embora no dia-a-dia a imprensa argentina assim trabalhe. Tenho dificuldade em tratar de uma esquerda e uma direita peronista, pois, como disse acima, as políticas sociais são de natureza assistencialista."

"Há um peronismo kirchnerista e um peronismo não-kirchnerista, composto por uma variedade de tendências, como o sindicalismo peronista tradicional, os governadores do interior, a burocracia do Estado etc. Mas é verdade que Massa está mais próximo do empresariado e das elites em geral do que Cristina Kirchner, que, por uma série de expedientes, controla o voto popular.”

 

Ø  Vitória de Massa e derretimento de Milei: tudo pode acontecer no segundo turno da Argentina

 

Depois das eleições de domingo (22) na Argentina, as surpresas deixaram um novo cenário político cheio de incertezas. 

O partido pró-governo União pela Pátria (UP), liderado por Sergio Massa, conseguiu vencer no primeiro turno com 36,64%. Deixando em segundo lugar o ultradireitista Javier Milei, candidato do A Liberdade Avança (LA), que obteve 30%. Entretanto, a candidata do Juntos pela Mudança (JM), Patricia Bullrich, obteve 23,83% dos votos.

Embora um eventual segundo turno entre Massa e o ultradireitista Milei fosse um cenário previsto pelos pesquisadores de opinião, a possibilidade de Massa ganhar o primeiro lugar estava longe de ser prevista. 

Menos ainda foi previsto que na estratégica província de Buenos Aires - a província com a maior densidade populacional do país - o atual governador Axel Kicillof (UP) ganharia a reeleição com quase 45% dos votos. Com uma diferença de quase 20% em relação ao segundo lugar, Néstor Grindetti (JM), que obteve 26%, e Carolina Piparo (LA), em terceiro lugar, com 25%.   

Assim começa uma nova corrida de Massa contra Milei em um segundo turno eleitoral no dia 19 de novembro. Uma eleição que dependerá de novas coordenadas políticas daqueles que comandaram o cenário político até o momento.

·         Eu escolho acreditar 

Desde cedo, o nervosismo e a ansiedade começaram a inundar a militância da União pela Pátria. Entre os diversos rituais populares, os grupos de Whatsapp dos partidários do oficialismo foram inundados com mensagens que diziam "Eu escolho acreditar". A frase usada por Lionel Messi depois de perder a primeira partida da Copa do Mundo de 2022.  

Foram quatro anos de governo peronista que ninguém parece defender. Nem mesmo os próprios funcionários do governo. A Argentina se encontra à beira da hiperinflação, com a precária renda dos trabalhadores se deteriorando semana a semana. Uma situação crítica que tem correlação direta com um clima social cada vez mais marcado pelo cansaço. 

Nesse cenário difícil, o grande desafio para o UP era como reacender uma faísca de esperança e, sobretudo, de entusiasmo entre seus apoiadores. Impedir que a extrema direita chegasse ao governo parecia ser o principal (e talvez o único) ativo místico com o qual o partido governista poderia contar. 

À medida que o dia da eleição se aproximava, começaram a surgir grandes manifestações contra a extrema direita de "militância silvestre", ou seja, não orgânica em partidos, sindicatos ou movimentos sociais. Reuniões em centros culturais, universidades, escolas de ensino médio, praças públicas. Cartazes anônimos ironizando o candidato de extrema direita. Vídeos e memes que levaram a batalha para as redes sociais. Todo um conjunto inorgânico de posições "Unidos pelo pavor" causado em uma parte significativa da sociedade pelo surgimento da extrema direita.     

Entre as primárias realizas no mês de agosto e as eleições deste domingo, a participação dos eleitores aumentou em 7%, passando de 70% para 77%. A UP, pró-governo, obteve mais de 3 milhões de novos votos, enquanto Milei obteve apenas 700 mil votos adicionais. Por sua vez, Patricia Bullrich nem sequer conseguiu manter todos os votos do Juntos por Mudança, perdendo 600 mil.  

Os resultados deixam claro que Milei mantém um piso e um teto eleitorais próximos. Uma porcentagem muito alta para uma força sem extensão territorial e dependente de sua única figura, mas com pouca "elasticidade" para crescer. Enquanto isso, o maior comparecimento dos eleitores beneficiou Massa.

Eleitores que, para punir o partido governista, não votaram nas primárias. Mas não estavam dispostos a votar na oposição. 

Por outro lado, a União pela Pátria conseguiu reverter a eleição em oito províncias onde havia perdido para a extrema direita nas eleições de agosto. O "aparato territorial" dos governadores, que nas eleições anteriores permaneceu praticamente imóvel, foi colocado em movimento e conseguiu recuperar terreno.

·         Show de pânico em plena luz do dia

Os resultados foram um duro golpe para os ultraliberais. O triunfo exponencial do partido A Liberdade Avança nas eleições de agosto havia gerado um clima de euforia entre seus apoiadores. Não era para menos: sem aparato político, eles haviam conseguido vencer na maior parte do país. 

A euforia do sucesso era tanta que, durante a cerimônia de encerramento da campanha, os militantes ultraliberais gritavam "primeiro turno". A ilusão de que Milei poderia "dar o golpe" e se tornar presidente neste domingo era palpável. 

Uma ideia alimentada pelas equipes de campanha da UP e da LA, que tentaram antecipar o voto útil. No caso do UP, para "impedir que Milei ganhasse no primeiro turno". No caso da LA, para "derrotar o populismo de uma vez por todas". 

No entanto, essa tão comentada estratégia não favoreceu a extrema direita. Nesse cenário, o jogo para calibrar a diferença entre essas expectativas e os resultados teve um duplo movimento. De baixo para cima, a liderança ultraliberal deixou circular a ideia de que "houve fraude", a fim de manter um certo moral entre sua militância. Ao mesmo tempo, Milei, em seu discurso na noite de domingo, saudou o resultado como "histórico", tentando conter a mística do resultado. 

"Há dois anos, se nos tivessem dito que estaríamos disputando um segundo turno, não teríamos acreditado. Este é um evento histórico. De não ter um partido a estar disputando o kirchnerismo em dois anos. Não vamos perder de vista a magnitude", disse ele. 

Longe de seu estilo estridente, Milei deu uma prévia de qual será sua nova estratégia. Deixando de lado toda a virulência de seu discurso, ele convocou o Juntos pela Mudança a participar de sua campanha. Parece que nem toda "casta política" é ruim.  

"A campanha colocou muitos de nós, que queremos mudanças, em conflito uns com os outros. Quero acabar com as agressões, fazer uma limpa e embaralhar as cartas com aqueles de nós que enfrentaram o kirchnerismo", acrescentou.

·         A correlação de fraquezas 

Os resultados de domingo permitiram que a extrema direita desse um salto espetacular em sua presença parlamentar. Dos 257 membros que compõem a Câmara dos Deputados, o Liberdade Avança passará de 2 para 38 deputados. Enquanto o Unidos pela Patria terá 107 assentos. No Senado, das 72 cadeiras, o atual partido governista (UP) terá 35 legisladores próprios, enquanto a extrema direita inaugurará seu próprio bloco com oito legisladores.

O grande ponto de interrogação é o que acontecerá com as cadeiras do Juntos pela Mudança (JM), o grande perdedor da noite. As duas forças que concorrerão nas urnas precisarão dos votos do JM para obter o quórum correspondente no parlamento (129 para deputados e 37 para senadores). 

Nos últimos 15 anos, o sistema político argentino foi ordenado - com seus altos e baixos - sob a clivagem entre o kirchnerismo e o antikirchnerismo. Juntos pela Mudança, sob a liderança do PRO do ex-presidente Mauricio Macri, surgiu como uma coalizão de partidos políticos cujo principal eixo articulador era o antikirchnerismo. Essa forma de ordenar o sistema político acabou explodindo neste domingo.

É de se esperar que os vários componentes que formam o Juntos pela Mudança entrem em crise. Isso abre um ponto de interrogação sobre como serão ordenados seus 94 assentos na Câmara Baixa e 24 assentos no Senado. Assentos que serão a chave para um eventual esquema de governabilidade para quem vencer. Um preço alto que os membros do JM venderão caro.  

Ao mesmo tempo, o setor liderado pelo ex-presidente Mauricio Macri e as alas duras do partido de direita Proposta Republicana (PRO), estão entusiasmados com o surgimento de Milei, que veem como uma expressão política desinibida do que eles mesmos pretendiam fazer. Ao contrário, os setores ligados à União Cívica Radical (UCR), o partido com a maior extensão territorial do JM, veem o surgimento de Milei como um perigo para o sistema democrático que reivindicam.  

É de se esperar que a votação entre Massa e Milei provoque o rompimento do JM. No entanto, isso não significa uma migração linear de votos para as forças em disputa. Os líderes têm demonstrado pouca capacidade de puxar votos.

A longa marcha até 19 de novembro 

Com a deterioração de todas as variáveis macroeconômicas desde as primárias até agora, a corrida eleitoral para 19 de novembro está ocorrendo em um cenário de extrema precariedade macroeconômica. Massa buscará estabilizar o cenário e evitar uma nova desvalorização da moeda. Isso é difícil de conseguir, dado o baixo nível de reservas de divisas do país. 

Mas o desafio de Massa não será apenas manter uma estabilidade precária e evitar que tudo exploda. A vitória retumbante da UP não pode perder de vista o fato de que a extrema direita (LA), juntamente com a direita tradicional (JM), conseguiram obter o maior número de votos. 

O restante dos votos foi dividido entre o peronismo de Schiaretti, que obteve quase 7% dos votos, e a esquerda do FIT, que obteve quase 3%. É provável que a maioria desses votos vá para Massa. Mas, mesmo assim, Massa não obteria mais de 50% para vencer. A grande questão é como os 24% que Bullrich obteve serão distribuídos. 

"O distanciamento está morto e uma nova etapa começa em 10 de dezembro, com o meu governo", disse Sergio Massa em seu discurso na noite de domingo. Discurso que não mencionou Alberto Fernández ou Cristina Kirchner, os principais parceiros da coalizão governista. 

Dirigindo-se diretamente às forças dissidentes do JM, principalmente à UCR, ele declarou que "farei o possível para ganhar sua confiança" e prometeu "convocar um governo de unidade nacional em 10 de dezembro".

Dessa forma, aposta na construção de uma grande coalizão democrática que pretende afastar o perigo da extrema direita. Uma grande coalizão encabeçada por um dos homens com os melhores vínculos com os setores do poder na Argentina, Sergio Tomas Massa, que pretende combater o fundamentalismo religioso do mercado encarnado em Milei.  

Como a moeda ainda está no ar, tudo pode acontecer até 19 de novembro nas eleições mais incertas desde o retorno da democracia até o momento. 

 

Fonte: Brasil de Fato

 

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