Catadores na Cracolândia eram pagos com
pinga por fornecedora da multinacional Novelis
MAIOR RECICLADORA de
alumínio do mundo, a Novelis comprou matéria-prima de uma empresa acusada de
pagar com garrafas de cachaça o trabalho de dependentes químicos que atuam como
catadores na Cracolândia, na região central da capital paulista.
As irregularidades
foram constatadas pela Operação Salus et Dignitas, realizada no dia 06 de
agosto pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco),
do Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP). A força-tarefa também
contou com órgãos federais.
De acordo com as
investigações, a Minas Reciclagem usava bebidas alcoólicas como forma de
remuneração tanto para os catadores que trabalhavam informalmente para a a
empresa quanto para aqueles que traziam alumínio e cobre para vender de forma
avulsa. No caso do cobre, boa parte do material é furtado do sistema de
iluminação pública do município.
Documentos acessados
pela Repórter Brasil mostram que a Novelis realizou 53 depósitos, no total de
R$ 432 mil, na conta pessoa física de um dos sócios da Minas Reciclagem.
Localizado no bairro da República, o galpão fica nas proximidades do “fluxo”,
como é conhecido o ponto de venda e consumo de crack no centro de São Paulo.
“Embora a empresa
promova imagem de preocupação com a sustentabilidade, os elementos trazidos
revelam que adquire materiais de recicladoras e ferros-velhos irregulares que
operam na região central de São Paulo”, diz um trecho do relatório do Gaeco
sobre a atuação da Novelis.
<><> O que
diz a Novelis
A multinacional faz
parte de um grupo empresarial com sede na Índia e atua principalmente nos
setores aéreo, automotivo e de bebidas. Dentre seus clientes, destacam-se
algumas das marcas mais conhecidas do mundo, como Boeing, Ferrari e Coca-Cola.
Procurada pela
Repórter Brasil, a Novelis emitiu nota afirmando que não comenta investigações
e processos em curso, e que qualquer manifestação será feita exclusivamente nos
autos do inquérito.
“A empresa reitera que
segue os mais rigorosos padrões de ética e integridade e possui um sistema
robusto de cadastro e homologação de fornecedores”, afirma o texto.
Após a publicação da
reportagem, a Novelis enviou nova nota afirmando que tomou conhecimento dos
fatos por meio da Operação Salus et Dignitas e que, apesar de não ser
investigada, está colaborando ativamente com as autoridades.
“A empresa repudia a
conduta supostamente praticada pelo referido fornecedor, com quem não possui
mais relação comercial”, diz posicionamento. Segundo a Novelis, a empresa
compra cerca de 450 mil toneladas de sucata ao ano, e o volume adquirido do
fornecedor investigado representa menos de 0,03%.
A reportagem também
entrou em contato com o escritório Torres, Falavigna e Vainer Advogados,
responsável pela defesa da Novelis, mas não obteve retorno até o fechamento
desta matéria. Os responsáveis pela Minas Reciclagem não foram encontrados. O
texto será atualizado, caso os posicionamentos sejam enviados.
<><>
Catadores dormindo em meio a fezes
As autoridades
descobriram um sistema que usava os dependentes químicos como mão-de-obra
barata, nos quinze ferros-velhos e centros de reciclagem alvos de busca e
apreensão na Operação Salus et Dignitas.
O galpão da Minas
Reciclagem estava entre os estabelecimentos fiscalizados. No local, três
pessoas foram presas por posse ilegal de arma e de munição – dentre eles,
Cláudio Henrique Silva, sócio da empresa com 33% de participação.
A investigação teve
acesso a notas fiscais de bebidas alcoólicas compradas pela Minas Reciclagem.
Uma delas, no valor de R$ 4.572, refere-se a 1.440 garrafas de 500 ml da
Cachaça do Barril, uma “prima” da Corote, popular marca de aguardente. “Pagam
[os catadores] às vezes com pinga, às vezes com moedas”, explica Eduardo Roos
Neto, promotor do Gaeco.
De forma geral, nas
recicladoras e ferros-velhos inspecionados não havia equipamentos de proteção
para os catadores manusearem latinhas, sucatas e fios de cobre.
Em um dos galpões, as
condições de higiene eram especialmente precárias. “Tinha fezes onde alguns
deles dormiam”, complementa Juliano Carvalho Atoji, também promotor do Gaeco.
No local, um dos catadores foi indagado sobre sua carga diária de trabalho. “Até
o corpo aguentar, até eu cair”, respondeu.
A operação de 06 de
agosto foi precedida por uma investigação conduzida ao longo de quase um ano
pelo Gaeco sobre atividades criminosas na Cracolândia. Dentre o material
registrado, um vídeo chamou a atenção dos promotores.
Na calçada de um
galpão na Avenida Duque de Caxias, um homem – vestido com uma camisa da seleção
brasileira, bermuda e chinelos – tentava arrancar, com os próprios dentes, a
capa plástica dos fios jogados pelo chão.
“Eles são a massa de
manobra para essas atividades ilícitas conseguirem funcionar e produzir lucro”,
finaliza o procurador Roos Neto.
• Ministro pede esclarecimentos sobre
catadores pagos com cachaça na Cracolândia
APÓS A REPÓRTER BRASIL
revelar que uma fornecedora da multinacional Novelis, líder mundial na
reciclagem de alumínio, pagava em garrafas de cachaça o trabalho de catadores
na Cracolândia, na região central da capital paulista, o ministro dos Direitos
Humanos, Silvio Almeida, veio a público nesta sexta-feira (23) para anunciar
uma série de medidas sobre o caso.
“Determinei, diante da
gravidade do fato, que a Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos do Ministério
dos Direitos Humanos e da Cidadania (ONDH/MDHC) acione às autoridades
competentes, bem como a empresa Novelis a fim de que preste esclarecimentos”,
publicou o ministro em seu perfil no X/Twitter.
“Determinei ainda que
a Secretaria Nacional de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos acione o Comitê
Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento da Política Nacional para a
População em Situação de Rua (CIAMP-Rua) e a Associação Nacional dos Catadores
para que acompanhem este caso e outros que porventura possam existir”,
complementou.
<><> Novelis
pagou R$ 432 mil a sócio de recicladora
As condições a que
estavam sujeitos os catadores de material reciclável com dependência química
vieram à tona após a Operação Salus et Dignitas, realizada no dia 06 de agosto,
pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério
Público do Estado de São Paulo (MP-SP). A força-tarefa também contou com a
participação de órgãos federais.
De acordo com as
investigações, a Minas Reciclagem, fornecedora da Novelis, usava bebidas
alcoólicas como forma de remuneração tanto para os catadores que trabalhavam
informalmente para a a empresa quanto para aqueles que traziam alumínio e cobre
para vender de forma avulsa. No caso do cobre, boa parte do material é furtado
do sistema de iluminação pública do município.
Documentos acessados
pela Repórter Brasil mostram que a Novelis realizou 53 depósitos, no total de
R$ 432 mil, na conta pessoa física de um dos sócios da Minas Reciclagem.
Localizado no bairro da República, o galpão fica nas proximidades do “fluxo”,
como é conhecido o ponto de venda e consumo de crack no centro de São Paulo.
Durante a operação,
três pessoas foram presas por posse ilegal de arma e de munição no galpão da
Minas Reciclagem, incluindo Cláudio Henrique Silva – sócio da empresa com 33%
de participação.
A investigação teve
acesso a notas fiscais de bebidas alcoólicas compradas pela Minas Reciclagem.
Uma delas, no valor de R$ 4.572, refere-se a 1.440 garrafas de 500 ml da
Cachaça do Barril, uma “prima” da Corote, popular marca de aguardente. “Pagam
[os catadores] às vezes com pinga, às vezes com moedas”, explica Eduardo Roos
Neto, promotor do Gaeco.
“Mais do que nunca, um
fato como esse reforça a necessidade de um política de direitos humanos e
empresas no Brasil. Todas as providências cabíveis, em articulação com as
autoridades do Sistema de Justiça, serão tomadas a fim de que casos como este
sejam investigados e solucionados com rigor”, defendeu o ministro Silvio
Almeida em sua publicação.
<><> O que
diz a Novelis
Procurada pela
Repórter Brasil, a Novelis emitiu nota afirmando que não comenta investigações
e processos em curso, e que qualquer manifestação será feita exclusivamente nos
autos do inquérito.
“A empresa reitera que
segue os mais rigorosos padrões de ética e integridade e possui um sistema
robusto de cadastro e homologação de fornecedores”, afirma o texto.
Após a publicação da
reportagem, a Novelis enviou nova nota afirmando que tomou conhecimento dos
fatos por meio da Operação Salus et Dignitas e que, apesar de não ser
investigada, está colaborando ativamente com as autoridades. “A empresa repudia
a conduta supostamente praticada pelo referido fornecedor, com quem não possui
mais relação comercial”, diz o posicionamento.
Segundo a Novelis, a
empresa compra cerca de 450 mil toneladas de sucata ao ano, e o volume
adquirido do fornecedor investigado representa menos de 0,03%.
Os responsáveis pela
Minas Reciclagem não foram encontrados. O texto será atualizado, caso os
posicionamentos sejam enviados.
Fonte: Reporter Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário