Os
desafios socioambientais da expansão ferroviária no Brasil
- Anúncio
do Governo Federal sobre investimentos no setor com o Novo PAC revela
desafios e oportunidades de desenvolvimento e integração no Brasil.
- Participação
comunitária e diálogo aberto são caminhos para prevenção e mitigação de
impactos negativos, e potencialização de impactos positivos junto a
comunidades vizinhas.
A expansão
dos empreendimentos ferroviários é uma crescente no mundo e, mesmo que em menor
escala, não deixa de ser um fato no Brasil. Especialistas da Synergia, uma das
maiores consultorias socioambientais do país, alertam que o setor ferroviário
terá desafios socioambientais a serem enfrentados para atender ao Plano de
Expansão da Malha Ferroviária planejado pelo governo federal. Segundo
publicações recentes, dentro do Novo PAC, o governo federal planeja investir R$
94,2 bilhões em 35 empreendimentos, sendo R$ 55,1 bilhões até 2026 e mais R$
39,1 bilhões nos anos seguintes.
A maior
parte desse investimento, segundo o Ministério dos Transportes, virá da
iniciativa privada, por meio de 15 trechos de concessões novas ou já
existentes. Independentemente desse cenário futuro, o modal ferroviário é
atualmente no Brasil uma importante ferramenta de desenvolvimento econômico e
integração regional, facilitando o transporte de mercadorias, principalmente, e
de passageiros. Se ainda é modesta em comparação a outros países, a malha
ferroviária brasileira é essencial para cobrir as dimensões continentais do
Brasil.
De acordo
com a Associação Nacional de Transportes Ferroviários – ANTF (2023), o Brasil
ainda tem uma malha ferroviária de baixa densidade em comparação à rodoviária.
Também de baixa amplitude quando comparada a outros países com escala
continental, como mostra o gráfico abaixo produzido pela entidade.
A expansão
da malha ferroviária brasileira, planejada pelo Governo Federal para os
próximos anos, chega carregada de otimismo para o desenvolvimento nacional, mas
também de preocupação, já que frequentemente afeta comunidades que vivem
próximas às linhas férreas, e este é o ponto que chamamos a atenção aqui.
Entender
os desafios enfrentados no relacionamento entre empreendimento ferroviários e
comunidades locais é condição fundamental para que a expansão da malha
ferroviária no Brasil represente melhorias efetivas para o crescimento do país
e da sociedade. Esse entendimento passa tanto pela avaliação dos impactos
quanto pelas melhores práticas para mitigá-los, destacando a importância de
abordar essas questões de forma colaborativa e sustentável.
Deslocamentos
e desapropriações, supressão da vegetação, emissão de ruído e poluição do ar,
riscos à segurança física são alguns dos impactos diretos de empreendimentos
ferroviários a serem considerados, além dos impactos indiretos, como isolamento
socioterritorial em seu entorno imediato, segregando populações vizinhas e
alterando o modo de vida das comunidades locais.
·
Mercadorias e
Passageiros
Em análise
quanto às diferenças entre o transporte de passageiros e mercadorias por meio
das ferrovias é possível destacar potencialidades, particularmente nas
condições brasileiras. Investir no transporte de passageiros por ferrovias pode
promover uma alternativa sustentável ao transporte individual, aliviando a
pressão sobre as estradas, reduzindo acidentes e, principalmente, emissão de
poluentes.
Assim,
expandir a rede conectaria cidades e regiões, inclusive estimulando turismo e
fortalecendo laços econômicos e culturais. Se bem planejado, trata-se de
promover um desenvolvimento urbano com tendências a priorizar a mobilidade
coletiva e minimizando impactos negativos nas comunidades locais.
Com
relação ao transporte de mercadorias, esse demonstra eficiência na movimentação
de grandes volumes e cargas a longas distâncias, reduzindo congestionamento em
estradas, dependência do setor rodoviário e emissão de gases de efeito estufa.
·
Deslocamento e
Desapropriação
Um dos
maiores desafios enfrentados pelas comunidades próximas a empreendimentos
ferroviários é o deslocamento forçado e a desapropriação de terras.
Frequentemente, as ferrovias exigem espaço adicional para expansão ou
modernização, o que pode resultar na remoção de famílias de suas casas. Boas
práticas internacionais, recomendam que deslocamentos devem ser evitados.
No
entanto, nem sempre isso é possível e, nesses casos, isso demanda um
planejamento minucioso por parte das empresas envolvidas, a fim de realizar um
adequado tratamento das famílias afetadas.
Segundo
Selma Singulano, gerente de projetos da Synergia Socioambiental, as empresas
líderes em transporte ferroviário devem possuir áreas dedicadas a estabelecer
programas contínuos de relacionamento comunitário e a elaborar Planos de
Atendimento capazes de prever riscos e oferecer soluções socioambientais
adequadas para cada situação.
“Um bom
Plano de Atendimento, construído de forma colaborativa e sustentável, é capaz
de conduzir processos de deslocamento que garantam a mitigação de impactos e
potencializem as condições de vida dos sujeitos envolvidos”, aponta a
profissional.
·
Ruído e Poluição do Ar
Outro
ponto de grande preocupação em operações ferroviárias diz respeito à geração de
níveis significativos de ruído e poluição do ar, que afetam a qualidade de vida
das comunidades vizinhas. Diferentes fontes de ruído podem contribuir para o
desconforto acústico em comunidades vizinhas, tais como a propagação de ruído
associada ao rolamento do trilho, frenagem, buzina, tração, ruído aerodinâmico
e, ainda, de equipamentos secundários e/ou outros componentes (ISO 3095: 2013).
As
operações ferroviárias também contribuem para a poluição do ar, apontando
consequências à saúde pública e ao meio ambiente, principalmente em comunidades
próximas às linhas férreas, onde a exposição é mais concentrada. Poluentes
emitidos podem causar, por exemplo, problemas respiratórios e agravar condições
como asma e doenças cardíacas.
Além dos
impactos na saúde humana, a poluição do ar proveniente das operações
ferroviárias também pode afetar ecossistemas naturais e causar danos à
vegetação, corpos d'água e vida selvagem. A deposição de poluentes atmosféricos
pode acidificar solos e corpos d'água, prejudicando a biodiversidade e afetando
a qualidade dos ecossistemas locais.
·
Segurança e Educação
As
comunidades próximas a ferrovias também enfrentam desafios de segurança,
especialmente quando se trata de riscos associados ao trânsito ferroviário.
Esse risco está presente tanto durante a construção da malha ferroviária, em
que há intensa movimentação de maquinários e veículos diversos, quanto depois
de sua implantação.
Mesmo que
realizada toda sinalização obrigatória, instaladas barreiras de isolamento dos
trilhos e outros mecanismos de segurança, é fundamental que haja programas de
conscientização e educação junto à população impactada.
“Desenvolver
programas de educação junto às escolas do território, articulados com o poder
público e com organizações e associações comunitárias, é essencial para
promover a segurança das pessoas”, ressalta Singulano.
Ela
explica, ainda, que ao longo dos últimos anos tem percebido um aumento
expressivo na demanda de projetos socioambientais para apoiar grandes
empreendimentos: “e não apenas para cumprir exigências de legislação, mas sim
para prevenir e mitigar impactos negativos e criar um laço com as comunidades
vizinhas a esses empreendimentos.”
·
Participação
Comunitária e Diálogo Aberto
A chave
para superar os desafios do relacionamento com as comunidades é a participação
comunitária ativa e um diálogo aberto. As empresas ferroviárias devem envolver
as comunidades locais desde o início, ouvindo suas preocupações e trabalhando
juntas para encontrar soluções que sejam reais e mutuamente benéficas.
Laís
Mourão, coordenadora de projetos na Synergia, destaca a importância da
elaboração de diagnósticos socioterritoriais e planos de ação junto às
comunidades afetadas. Ela relata sua experiência em projetos ferroviários no
estado de São Paulo que demonstraram que iniciativas desse tipo têm sido
importantes pontos de partida para a identificação de oportunidades da atuação
dos empreendedores, como também para o fomento de comunidades mais resilientes,
contribuindo para o fortalecimento de um diálogo transparente e participativo
entre todas as partes interessadas.
“O
relacionamento entre empresas ferroviárias e comunidades vizinhas é complexo,
mas não insuperável. É essencial abordar os desafios de forma colaborativa,
promovendo o desenvolvimento sustentável, a justiça social e o respeito aos
direitos das comunidades afetadas”, explica Mourão.
E
completa: “é fato que muitas vezes as comunidades afetadas pela implantação de
ferrovias podem ser consideradas vulneráveis, especialmente aquelas localizadas
em áreas rurais ou periféricas, em que recursos e oportunidades podem ser
limitados e os direitos não estejam garantidos.”
·
Sobre a Synergia
Fundada em
2005, a Synergia é uma consultoria socioambiental que atende os setores público
e privado, oferecendo soluções em gestão e prevenção de crises, desenvolvimento
social, relações territoriais e gestão de conhecimento. Atua em todo o
território nacional, atendendo às demandas dos segmentos de mineração,
siderurgia, indústria petroquímica, gestão pública, agronegócio, agroindústria,
saneamento, energia e gestão hídrica.
A Synergia
Socioambiental é uma Empresa B, possui o certificado internacional de qualidade
ISO:9001, Selo Prata do Programa Brasileiro GHG Protocol, Rating A na pesquisa
Melhores para o Brasil, associada do Instituto Ethos e membra do Pacto Global
das Nações Unidas. Já atuou em mais de 500 projetos no Brasil e em Moçambique,
envolvendo mais de 1.2 milhão de pessoas.
Fonte: MVerissimocomunicacao
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