quinta-feira, 27 de julho de 2023

INFLUENCER QUE CONVOCOU AO 8 DE JANEIRO, GANHA CARGO DE R$ 17,9 MIL COM DEPUTADO NA ALESP

Brasília, 8 de janeiro de 2023. Por volta das 13h, quando uma multidão de bolsonaristas seguia pela Esplanada dos Ministérios e, pouco depois, invadiria o Palácio do Planalto, o Supremo Tribunal Federal e o Congresso Nacional, quase nenhum rosto era conhecido do noticiário político. Não era o caso da influencer Karol Eller, uma youtuber assumidamente homossexual famosa por apoiar o ex-presidente Jair Bolsonaro e também próxima aos seus filhos.

No dia da tentativa de golpe de estado, já no governo do atual presidente Lula, ela ainda ocupava um cargo com salário de R$ 10 mil na Empresa Brasil de Comunicação, a EBC, conquistado durante a gestão anterior. Acabou exonerada no dia seguinte, mas o desemprego durou pouco – exatos 66 dias. Em 16 de março deste ano, foi contratada para trabalhar no gabinete do deputado estadual Paulo Mansur, do Partido Liberal. O salário bruto recebido é de R$ 17.904,76. 

Bolsonarista de carteirinha, Mansur é herdeiro de um grupo de comunicação e apresentador de televisão em Santos. Ele concilia a atividade parlamentar com a ancoragem de um programa do SBT exibido na Baixada Santista.

Parte inferior do formulário

Pelo menos na conta bancária, Karol Eller não pode reclamar do fim do governo Bolsonaro. Por ironia do destino, a influencer é uma das brasileiras que melhorou de vida na gestão Lula. No cargo de confiança na Diretoria de Jornalismo da EBC, ela ganhava R$ 11 mil. Eller trabalhava na Gerência de Jornalismo Web da Agência Brasil, no Rio de Janeiro. Agora, em São Paulo, como funcionária do gabinete de Mansur, aumentou seus rendimentos mensais em mais de 50%.

·         ‘Orei tanto por você’

Após as cenas de depredação ganharem o país, a influencer alegou, em um vídeo gravado na própria manifestação, que condenava a depredação. “Perdeu o controle da situação. Não está legal. Estou andando aqui agora para falar com vocês. Estão quebrando lá”, disse.

Poucas horas antes, na manhã do dia 8, em tom de convocação aos atos, Karol Eller havia feito uma publicação em sua conta no Instagram celebrando que Ibaneis Rocha, governador do Distrito Federal, teria declarado que “as manifestações na Esplanada do Ministérios estavam liberadas se fossem pacíficas”. Nas semanas anteriores, a influencer convocava seus seguidores para os acampamentos golpistas nas portas de instalações militares pelo país.

Sem medo de mostrar a cara, Karol Eller se empenhou na mobilização de bolsonaristas para os acampamentos desde que Bolsonaro não conseguiu garantir a reeleição. Em dezembro, chegou a gravar um vídeo tomando chuva para divulgar um ato que seria realizado no dia 10 daquele mês: “Debaixo de chuva, debaixo de sol. Espero que a chama da esperança seja reacendida no seu coração. Levanta, meus queridos, meus irmãos. Bora para as ruas. Agora é a hora!”, afirmou.

As consequências de 8 de janeiro – incluindo a sua demissão – no entanto, nunca fizeram com que Eller adotasse um tom mais sóbrio ou desse um tempo de redes sociais. Pelo contrário. Manteve sua conta ativa no Instagram, onde possui mais de 500 mil seguidores e ostenta o selo de verificação oficial da plataforma. Mas agora, em vez de vídeos com orientações aos frequentadores de acampamento, a pauta do perfil são bastidores nos corredores dos gabinetes da Alesp.

Com o triplo dos seguidores de seu novo chefe no Instagram, Karol Eller e Mansur têm apostado em publicações casadas para impulsionar a base de seguidores do parlamentar. Em alguns vídeos, a influencer bolsonarista aparece ao lado do deputado-apresentador dentro do gabinete, no plenário da Alesp ou então durante viagens.

Uma das cenas publicadas pela influencer chama a atenção: ela aparece recepcionando o deputado federal Marco Feliciano na porta da Assembleia Legislativa de São Paulo. Ao reconhecê-la, Feliciano afirmou: “Karol Eller! Eu orei tanto por você”. A influencer nem chega a agradecer, olha para a câmara e alerta o deputado: “Estou filmando aqui!”. As orações de Feliciano parecem ter surtido efeito. Quase seis meses depois do 8 de janeiro, Karol Eller não foi alvo de operações da PF e, pelo menos nos nomes que vieram à público, não é investigada na Justiça por ataques à democracia.

·         Problemas com a justiça

A influencer enfrenta problemas em função de outro caso, já que Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro aceitou uma denúncia do Ministério Público contra ela e a ex-namorada por denunciação caluniosa e porte ilegal de arma de fogo. A produtora de conteúdo ainda responde por lesão corporal, causada durante a mesma confusão, na praia da Barra da Tijuca, no final de 2019. Na época, Eller e a namorada foram até a Polícia Civil e prestaram depoimento dizendo que a briga foi motivada por um caso de homofobia de um homem contra o casal.

No entanto, após exames de corpo de delito, a investigação da Polícia Civil apontaram que as lesões que Eller exibiu em vídeos no Youtube foram consequência de um tombo que ela levou sozinha. De acordo com o MP-RJ, Karol Eller enviou um áudio a um jornalista em que confessava que em nenhum momento o homem se dirigiu a ela com ofensas homofóbicas. Dias após o incidente, a Polícia Civil já havia descartado a hipótese de homofobia e afirmou que a youtuber foi quem teria iniciado as agressões.

Procurados, Karol Eller e o deputado Paulo Mansur não responderam aos contatos do Intercept.

 

Ø  PL filia influencer trans amiga do 04

 

Além do vereador Fernando Holiday, a influenciadora Karol Eller também ingressou no Partido Liberal em cerimônia na Assembleia Legislativa de São Paulo nesta terça-feira. A sua ficha de filiação foi assinada pelo próprio ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). No início deste ano, a apoiadora fez transmissões ao vivo nas manifestações do 8 de janeiro.

Na ocasião, ela ainda exercia um cargo de confiança na Empresa Brasil de Comunicação (EBC), do qual foi exonerada no dia seguinte após os atos. Atualmente, Karol Eller está lotada no gabinete do deputado estadual Paulo Mansur (PL). Como assessora especial recebe uma remuneração líquida de R$ 12.872,04.

— É importante porque tive uma trajetória muito árdua, de muita perseguição — disse Karol Eller sobre a filiação desta terça-feira.

A youtuber é amiga próxima do filho 04 do ex-presidente, Jair Renan, e, por isso, esteve no Palácio do Alvorada e em carros oficiais da Presidência ao longo da gestão de Bolsonaro. Karol Eller também já posou ao lado do ex-ministro da Economia Paulo Guedes, do filho Eduardo Bolsonaro, e tem um vídeo abraçando a senadora eleita Damares Alves (Republicanos-DF).

“Eu sigo ela, eu me inspiro nela, é uma mulher guerreira e valente”, disse a ex-ministra sobre Karol Eller. A youtuber devolveu a gentileza: “Eu que me inspiro na senhora, o Brasil inteiro também se inspira. Parabéns pelo trabalho”. Na legenda, a youtuber escreveu: “Uai, a ministra não era homofóbica?”. Homossexual assumida, a servidora disse, no passado, que não vê diferença entre homofobia e preconceito.

Em 2019, a youtuber Karol Eller prestou depoimento após ter sido agredida no Rio de Janeiro. O episódio foi associado pelo ex-vereador Gabriel Monteiro, à época, a um ataque homofóbico. ” “Ela teve o seu rosto desfigurado, apenas por um motivo: ser homossexual”, afirmou Monteiro, que teve seu mandato cassado por suspeita de assédio sexual, forjar vídeos na internet e de estupro de vulnerável.

Após participar dos atos do dia 8 de janeiro, Karol Eller se defendeu das acusações: “Sou contra qualquer tipo de manifestação que viole a constituição e o Estado Democrático de Direito”. A servidora da EBC garante que, no momento em que o ato se tornou violento, ela teria se retirado.

— Estão quebrando tudo lá, perderam o controle da situação. Está tendo quebradeiras no Congresso e agora no STF: não compactuo com isso, não faço parte, não contem comigo — diz em vídeo.

 

Ø  Fernando Holiday: “Bolsonaro está filiando um negro meio veado”

 

Antes um contumaz crítico do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o vereador por São Paulo, Fernando Holiday brincou, no evento de sua filiação nesta terça-feira (25/7), com a fama de homofóbico e racista do político.

“A imprensa sempre dizendo que o senhor é homofóbico, racista, aqui filiando um negro meio viado”, afirmou causando risadas e aplausos entre os presentes.

Ex-integrante do Movimento Brasil Livre (MBL), Fernando Holiday declarou, em 2018, que apesar de se declarar gay ele não se envolvia com pessoas do mesmo sexo por “namorar outro homem ser pecado”. Também afirmou que essa era a única forma de não pecar sendo um homossexual católico.

Em abril deste ano, ele se assumiu bissexual, por meio de uma postagem nas redes sociais, na qual revelou ter se relacionado com a advogada Musa Miranda, também integrante do MBL.

Já Bolsonaro, que anda participando de uma série de eventos pelo Brasil, afirmou em entrevista em 1997 que “ninguém gosta de homossexual, a gente suporta”.

Em outras oportunidades, o ex-presidente afirmou que os pais deveriam bater nos filhos para “mudar o comportamento”, caso suspeitassem que fosse homossexual, e que “nenhum pai tem orgulho de ter um filho gay”.

Enquanto era líder do Executivo, Holiday chamou o ex-presidente de “jumento” e “corrupto”. O vereador também classificou a família Bolsonaro de “quadrilha de quinta categoria”. O recém filiado ao Partido Liberal afirmou, recentemente, que se arrepende de suas falas.

Vereador pelo Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (Republicanos), que foi chamado de “bandidinho de merda pgo com dinheiro público” pelo paulista, classificou o apoio do pai ao novo quadro do PL de “surreal”.

·         Carlos Bolsonaro dá show de baixaria ao criticar Holiday

Carlos Bolsonaro mandou uma indireta a Fernando Holiday no dia da filiação do vereador ao PL, nesta terça-feira (25/7). O filho do ex-presidente citou “oportunismo” dos que já criticaram Jair Bolsonaro no passado.

O recado deixou claro que as críticas de Holiday durante o governo de Bolsonaro não foram esquecidas pela família.

“Agora que tornaram o presidente Jair Bolsonaro inelegível, os que passaram todos os dias dos últimos anos criticando sua gestão hoje tentam colar seu nome com o dele para limpar sua bunda suja em sua cara!”, atacou Carlos Bolsonaro em seu perfil no Twitter.

O recado não passou despercebido. “Está falando do Holiday?”, perguntou um seguidor. “O recado está dado, Fernando Holiday”, comentou outro.

Fernando Holiday se filiou ao PL de Bolsonaro nesta terça-feira (25/7), em cerimônia na Câmara Municipal de São Paulo, com a presença do ex-presidente.

Antes disso, o vereador irritou Bolsonaro com comentários arrogantes de que sua filiação seria tão importante que teria levado o ex-presidente a se deslocar de Brasília a São Paulo para participar do ato.

Holiday disse ter se arrependido das críticas e que sua filiação ao PL teve o aval de Bolsonaro.

 

Ø  Brasil tem primeira bancada LGBT+

 

Mais de 20 parlamentares, entre vereadores e deputados estaduais e federais, criaram a primeira bancada brasileira LGBT+. A formação do grupo tem o apoio da ONG Vote LGBT e foi articulada no México, em evento de líderes que representam a pauta da diversidade sexual e de gênero nas Américas e no Caribe.

Atrás apenas dos anfitriões, a comitiva brasileira foi a segunda maior do “VI Encontro de Lideranças Políticas LGBTI das Américas e do Caribe”, que reuniu cerca de 600 políticos.

Além dos parlamentares, o Brasil enviou representantes do governo federal e de organizações sociais ao evento.

Fazem parte da bancada:

# Beatriz Caminha – Vereadora de Belém (PT-PA)

# Bella Gonçalves – Deputada Estadual (PSOL-MG)

# Benny Briolly – Vereadora de Niterói (PSOL-RJ)

# Carla Ayres – Vereadora de Florianópolis (PT-SC)

# Daiana Santos – Deputada Federal (PCdoB-RS)

# Dani Balbi – Deputada Estadual (PCdoB-RJ)

# Dani Monteiro – Deputada Estadual (PSOL-RJ)

# Daniel Cabral – Vereador de Viçosa (PCdoB-MG)

# Duda Salabert – Deputada Federal (PDT-MG)

# Ediane Maria – Deputada Estadual (PSOL-SP)

# Erika Hilton – Deputada Federal (PSOL-SP)

# Fábio Felix – Deputado Distrital (PSOL-DF)

# Filipa Brunelli – Vereadora de Araraquara (PT-SP)

# Guilherme Cortez – Deputado Estadual (PSOL-SP)

# Iza Lourença – Vereadora de Belo Horizonte (PSOL-MG)

# Letícia Chagas – Co-Deputada Estadual (PSOL-SP)

# Linda Brasil – Deputada Estadual (PSOL-SE)

# Moara Saboia – Vereadora de Contagem (PT-MG)

# Robeyoncé Lima – Deputada Federal Suplente (PSOL-PE)

# Rosa Amorim – Deputada Estadual (PT-PE)

# Thabatta Pimenta – Vereadora de Carnaúba dos Dantas (PSOL-RN)

# Thainara Faria – Deputada Estadual (PT-SP)

# Vivi Reis – Ex-Deputada Federal (PSOL-PA)

 

Fonte: Por Paulo Motoryn, em The Intercept/O Globo/Correio Braziliense/Veja

 

Nenhum comentário: