Como mel e maracujá sustentaram homem por 50 dias na mata? Entenda
O homem que passou 50 dias desaparecido em uma área
de mata no Ceará e sobreviveu se alimentando de vegetais e animais contou com
uma dieta repleta em carboidratos e micronutrientes que ajudaram a manter seu
sistema imunológico bem, segundo avaliam especialistas que analisaram o caso.
No tempo em que passou sumido, ele esteve uma área
de mata entre os municípios de Pedra Branca e Independência. Durante este
período, segundo contou à família, José comeu apenas dois peixes, mel, maracujá
do mato e jerimum (conhecido como abóbora em outras partes do Brasil).
José Cristóvão Rodrigues da Costa desapareceu na
tarde de 5 de junho. Ele viajava de ônibus da cidade de Leme, em São Paulo,
para o município cearense de Pedra Branca, onde sua família mora. Conforme
familiares, durante o percurso, o agricultor apresentou indicativos de que não
estava bem mentalmente.
Quando o ônibus parou na localidade de Cruzeta, em
Pedra Branca, José desceu, abandonou a bagagem e desapareceu no matagal da
região. Ele só foi reencontrado na última segunda-feira (24), 50 dias após
sumir.
• Dieta
limitada
Apesar de limitada, a dieta, conforme
nutricionistas com quem o g1 conversou, continha os elementos necessários para
fornecer energia e manter a imunidade do agricultor.
“Ele contou com a sorte de Deus de cair no meio de
um lugar que tinha nutrientes completíssimos. Na nutrição, nós temos o mel e o
ovo como alimentos completos. O mel é o primeiro de todos dos alimentos mais
completos que existem”, afirma a nutricionista e gastrônoma Ana Ruth de
Alencar.
O mel possui em sua composição vitaminas do
complexo B, C, D e E, além de minerais, potássio, magnésio, sódio, cálcio,
ferro, manganês e cobre.
“Fora que o mel ainda deu a defesa, a imunidade
dele, porque o mel aumenta essa questão da imunidade”, analisa Ana Ruth.
"Então o mel, eu posso lhe dizer, foi o melhor aliado dele.”
O nutricionista Lucas de Albu destaca que o mel, o
maracujá do mato e o jerimum, combinados, foram responsáveis por fornecer os
carboidratos necessários ao corpo de José Rodrigues.
“Qual a
função do carboidrato? É dar energia para nossas funções vitais. Ele conseguiu
consumir uma quantidade suficiente de carboidrato, de energia, para manter o
sistema dele funcionando, as funções vitais, para os órgãos funcionarem. Então
ele teve uma quantidade suficiente para, pelo menos, sobreviver esses 50 dias”,
avalia Lucas.
O maracujá do mato, comum na Caatinga, ajudou a
manter o sistema imunológico de José fortalecido. A fruta é diferente daquela
encontrada normalmente nos supermercados e se caracteriza pela cor esverdeada
da casca mesmo após madura.
"Tem muitos antioxidantes, tem muitos
micronutrientes importantes ali que ajudaram nessa sobrevivência dele",
diz Lucas de Albu. "Como ele passou 50 dias [no mato], provavelmente ele
estava exposto a infecções, ou algum corte, ou coisa do tipo, Ele precisava
estar bem para poder aguentar esses 50 dias sem ficar doente, ou se ele ficou
doente, conseguir se manter".
“A abóbora é um dos alimentos que o nutricionista
mais recomenda na fase de emagrecimento, então a perda de peso com certeza deve
ter sido visível, porque é um alimento de baixa caloria, apesar de ser
riquíssimo em nutrientes e minerais, ela também não tem uma sustentabilidade
muito boa”, aponta Ana Ruth.
• Agricultor
aguarda atendimento psiquiátrico
A família acredita que a sobrevivência de José se
deve às suas habilidades com agricultura. Há 15 anos, ele trabalha como
cortador de cana em Leme, São Paulo. Ele participava da colheita da safra e,
quando não havia colheita, passava um período com a família no Ceará.
Conforme a família, quando estava no ônibus na
Bahia, a caminho do Ceará, José apresentou sintomas de um surto e indicativos
de que estava sofrendo com transtorno de mania de perseguição. Ele afirmava,
por exemplo, que os passageiros do veículo estavam tentando matá-lo.
Antes de chegar ao destino final, desceu em uma
comunidade na zona rural de Pedra Branca e desapareceu. Durante os 50 dias, não
chegou perto das estradas e não pediu ajuda a ninguém "porque sempre tinha
uns caras querendo me matar".
Na última segunda-feira, porém, com fome e com
sede, resolveu pedir ajuda a um agricultor do local, que o alimentou e contatou
sua família. A família levou José para o hospital municipal de Pedra Branca,
onde ele está internado e medicado.
Até a quarta-feira (26), José continuava internado
na unidade hospitalar. Segundo a irmã de José, Antoniclé Rodrigues, após
receber a alta, o agricultor será levado a um médico psiquiatra.
A ideia é que José fique morando com a mãe deles
após passar por atendimento psiquiátrico e receber um diagnóstico preciso da
sua situação.
Fonte: g1
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