sexta-feira, 28 de julho de 2023


 Como mel e maracujá sustentaram homem por 50 dias na mata? Entenda

O homem que passou 50 dias desaparecido em uma área de mata no Ceará e sobreviveu se alimentando de vegetais e animais contou com uma dieta repleta em carboidratos e micronutrientes que ajudaram a manter seu sistema imunológico bem, segundo avaliam especialistas que analisaram o caso.

No tempo em que passou sumido, ele esteve uma área de mata entre os municípios de Pedra Branca e Independência. Durante este período, segundo contou à família, José comeu apenas dois peixes, mel, maracujá do mato e jerimum (conhecido como abóbora em outras partes do Brasil).

José Cristóvão Rodrigues da Costa desapareceu na tarde de 5 de junho. Ele viajava de ônibus da cidade de Leme, em São Paulo, para o município cearense de Pedra Branca, onde sua família mora. Conforme familiares, durante o percurso, o agricultor apresentou indicativos de que não estava bem mentalmente.

Quando o ônibus parou na localidade de Cruzeta, em Pedra Branca, José desceu, abandonou a bagagem e desapareceu no matagal da região. Ele só foi reencontrado na última segunda-feira (24), 50 dias após sumir.

        Dieta limitada

Apesar de limitada, a dieta, conforme nutricionistas com quem o g1 conversou, continha os elementos necessários para fornecer energia e manter a imunidade do agricultor.

“Ele contou com a sorte de Deus de cair no meio de um lugar que tinha nutrientes completíssimos. Na nutrição, nós temos o mel e o ovo como alimentos completos. O mel é o primeiro de todos dos alimentos mais completos que existem”, afirma a nutricionista e gastrônoma Ana Ruth de Alencar.

O mel possui em sua composição vitaminas do complexo B, C, D e E, além de minerais, potássio, magnésio, sódio, cálcio, ferro, manganês e cobre.

“Fora que o mel ainda deu a defesa, a imunidade dele, porque o mel aumenta essa questão da imunidade”, analisa Ana Ruth. "Então o mel, eu posso lhe dizer, foi o melhor aliado dele.”

O nutricionista Lucas de Albu destaca que o mel, o maracujá do mato e o jerimum, combinados, foram responsáveis por fornecer os carboidratos necessários ao corpo de José Rodrigues.

 “Qual a função do carboidrato? É dar energia para nossas funções vitais. Ele conseguiu consumir uma quantidade suficiente de carboidrato, de energia, para manter o sistema dele funcionando, as funções vitais, para os órgãos funcionarem. Então ele teve uma quantidade suficiente para, pelo menos, sobreviver esses 50 dias”, avalia Lucas.

O maracujá do mato, comum na Caatinga, ajudou a manter o sistema imunológico de José fortalecido. A fruta é diferente daquela encontrada normalmente nos supermercados e se caracteriza pela cor esverdeada da casca mesmo após madura.

"Tem muitos antioxidantes, tem muitos micronutrientes importantes ali que ajudaram nessa sobrevivência dele", diz Lucas de Albu. "Como ele passou 50 dias [no mato], provavelmente ele estava exposto a infecções, ou algum corte, ou coisa do tipo, Ele precisava estar bem para poder aguentar esses 50 dias sem ficar doente, ou se ele ficou doente, conseguir se manter".

“A abóbora é um dos alimentos que o nutricionista mais recomenda na fase de emagrecimento, então a perda de peso com certeza deve ter sido visível, porque é um alimento de baixa caloria, apesar de ser riquíssimo em nutrientes e minerais, ela também não tem uma sustentabilidade muito boa”, aponta Ana Ruth.

        Agricultor aguarda atendimento psiquiátrico

A família acredita que a sobrevivência de José se deve às suas habilidades com agricultura. Há 15 anos, ele trabalha como cortador de cana em Leme, São Paulo. Ele participava da colheita da safra e, quando não havia colheita, passava um período com a família no Ceará.

Conforme a família, quando estava no ônibus na Bahia, a caminho do Ceará, José apresentou sintomas de um surto e indicativos de que estava sofrendo com transtorno de mania de perseguição. Ele afirmava, por exemplo, que os passageiros do veículo estavam tentando matá-lo.

Antes de chegar ao destino final, desceu em uma comunidade na zona rural de Pedra Branca e desapareceu. Durante os 50 dias, não chegou perto das estradas e não pediu ajuda a ninguém "porque sempre tinha uns caras querendo me matar".

Na última segunda-feira, porém, com fome e com sede, resolveu pedir ajuda a um agricultor do local, que o alimentou e contatou sua família. A família levou José para o hospital municipal de Pedra Branca, onde ele está internado e medicado.

Até a quarta-feira (26), José continuava internado na unidade hospitalar. Segundo a irmã de José, Antoniclé Rodrigues, após receber a alta, o agricultor será levado a um médico psiquiatra.

A ideia é que José fique morando com a mãe deles após passar por atendimento psiquiátrico e receber um diagnóstico preciso da sua situação.

 

Fonte: g1

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