quinta-feira, 27 de julho de 2023

América Latina e Europa: uma cordial deriva continental

O Ocidente e o Extremo Ocidente, ou seja, as Américas, se reuniram em Paris nos dias 22 e 23 de junho de 2023 para discutir o que somente pode ser descrito como a serpente marinha das grandes reuniões entre os chamados países do Norte e do Sul, ou seja, o financiamento das consequências do aquecimento global.

A festa organizada em torno da fogueira no prédio da extinta bolsa de valores de Paris, o Palais Brongniart, desta vez foi chamada de Novo Pacto Financeiro Global. Em 22 e 23 de junho, Paris foi palco de uma versão atualizada da Guerra Fria, dessa vez implicando particularmente o eixo Norte-Sul, com a Aliança Atlântica ampliada de um lado (EUA e Europa) e, do outro, a América Latina e o continente Africano. Na verdade, este último lado não estava efetivamente representado, porque em Paris, enquanto a África contava com uma participação significativa, da América Latina havia, na verdade, quatro representantes: o brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, o colombiano Gustavo Petro, o cubano Miguel Díaz Canel e o haitiano Ariel Henry.

Houve muitos abraços calorosos, sorrisos largos e longos apertos de mão. Tudo isso acompanhado de uma ou outra palavra amiga. Foi uma continuação da recepção calorosa que Emmanuel Macron tem reservado a Lula, desde quando o convidou e o recebeu com honras no Palácio do Eliseu quando ele era ainda apenas ex-presidente, em 17 de novembro de 2021, até a noite da vitória do brasileiro, em 31 de outubro de 2022, quando o presidente francês repetiu seu gesto caloroso, sendo um dos primeiros a ligar para Lula para parabenizá-lo, e com direito à bis em uma ligação calorosa, em janeiro de 2023, quando Lula, que tinha acabado de ser abalado por uma tentativa de golpe, apenas uma semana depois de assumir o cargo, recebeu novo telefonema do seu colega francês para assegurar-lhe o seu apoio democrático.

Na ocasião, os dois presidentes convidaram um ao outro para os seus respectivos países. Em 20 de maio de 2023, na cúpula do G7 em Hiroshima, no Japão, eles formalizaram a restauração das relações bilaterais que haviam sido prejudicadas durante os anos de Michel Temer e Jair Bolsonaro. Portanto, não é surpresa que, em 23 de junho, após o jantar oferecido pelo primeiro-ministro da França no Palácio do Eliseu, o brasileiro tenha se declarado “encantado com a qualidade da refeição e da recepção”. O fato foi confirmado por Macron, que falou de um encontro “formidável”.

No entanto, há ainda um longo caminho diplomático a se percorrer. Desde janeiro de 2023, quando Lula assumiu o cargo, temos assistido a um estranho balé em que cada um dos presidentes sopra a vela das “reuniões ambientais”, mas evita jogar o jogo. Lula fez questão de ir a Paris nos dias 22 e 23 de junho para participar da “performance pró-verde” organizada por seu colega francês. Em março, ele não compareceu a outro evento ambiental criado por Macron e Ali Bongo em Libreville sobre a proteção de florestas tropicais. Emmanuel Macron, por outro lado, tem sido repetidamente cobrado desde janeiro de 2023 por Lula, que o convidou para a cúpula sobre a Amazônia que será organizada em Belém nos dias 8 e 9 de agosto pela OTCA (Organização do Tratado de Cooperação Amazônica) [1].

É verdade que, além dessas brigas de egos ecológicos, há pelo menos quatro discordâncias “cordiais”. Todas elas foram reiteradas publicamente e sem rodeios por Luiz Inácio Lula da Silva e Gustavo Petro durante a reunião de cúpula no Palácio Brongniart. Primeiro: a mudança climática é consequência das políticas industriais da Europa e dos Estados Unidos. Portanto, cabe a eles pagar sua dívida ecológica histórica para compensar o tempo perdido.

Segundo: A União Europeia quer impor um acordo comercial desigual, com termos injustos, com países do Mercosul. Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai afirmaram que não assinariam esse acordo na cúpula da União Europeia/CELAC (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos) em Bruxelas, em 17 ou 18 de julho. Os termos do tratado precisam ser mais bem reequilibrados e, portanto, renegociados entre os países implicados e que devem ser tratados como iguais.

Terceiro: A guerra está de volta à Europa. O invasor da Ucrânia, a Rússia, é um Estado com armas nucleares e membro permanente do Conselho de Segurança. Esse círculo fechado da ONU adquiriu o hábito de intervir militarmente em outros países. Atualmente, a Rússia na Ucrânia e, anteriormente, os Estados Unidos no Iraque. Os outros Estados devem impedir essa possível escalada. Além de condenar o agressor, devemos preparar o mais rápido possível uma saída para o conflito por meio do diálogo.

Quarto: se o mundo está indo mal, é porque está sendo administrado por seus principais causadores de problemas, os membros permanentes do Conselho de Segurança. A ONU, o Banco Mundial e o FMI têm estado nas mesmas mãos desde 1945. É hora disso mudar e desse círculo ser ampliado.

Para deixar claro seu ponto de vista, em 23 de junho, o Brasil, juntamente com Bolívia, Chile, Colômbia, México e Paraguai, publicou uma carta endereçada a Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, pedindo-lhe que apoiasse a Argentina, que atualmente está envolvida em difíceis negociações com o FMI. Sem isso, é no mínimo irônico “vir nos falar de lutas compartilhadas pela democracia e pelos direitos humanos”, disseram os sul-americanos. Dentro das organizações internacionais, no centro dos conflitos armados e comerciais, há uma série de interesses. O Ocidente (entenda-se Europa e EUA) defende seus interesses com todo tipo de aliado, tais como a Arábia Saudita e a Tunísia que, compartilham os mesmos valores autocráticos da Rússia ou do Irã.

Foi com esse espírito que o brasileiro Lula e o colombiano Gustavo Petro tocaram uma partitura em Paris que revelou uma ária desagradável para a orquestra ocidental. Eles colocaram na mesa as suas discordâncias com o FMI, a União Europeia, o G7 e a Aliança Atlântica. Ao mesmo tempo, fizeram propostas centradas na necessidade de ir direto ao ponto. Por exemplo, como proposto pelo chefe de estado colombiano Gustavo Petro, ao combinar o alívio da dívida com iniciativas de proteção ambiental e introduzir o contrapeso dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e seu Banco, liderado atualmente pela ex-presidente brasileira Dilma Rousseff, para revitalizar as relações internacionais e reequilibrar as relações econômicas com a União Europeia e os Estados Unidos. Em Paris, Lula se encontrou com seu colega sul-africano Cyril Ramaphosa, que sediará a próxima cúpula dos BRICS nos dias 22, 23 e 24 de agosto. Também foram construídas pontes entre sul-americanos e africanos para criar um clube de países favoráveis ao diálogo russo-ucraniano. O Brasil e a Colômbia lançaram as bases. Antes de chegar a Paris, Lula conversou longamente com o Papa Francisco. Em Paris, ele se encontrou com o congolês Denis Sassou Nguesso, o precursor de uma iniciativa de paz africana.

Todas essas coisas colocaram em foco Lula e Petro em Paris não sem produzir algum dissabor ao anfitrião. Em um sinal de preocupação, Emmanuel Macron também convidou Dilma Rousseff, presidente do banco BRICS, para seu jantar com Lula. A imprensa francesa percebeu a mudança no clima, ecoando simultaneamente preocupações e decepções sobre a governança doméstica e ambiental de Petro e, acima de tudo, de Lula…

 

Ø  Presidente da maior entidade empresarial da Venezuela pede fim do bloqueio: ‘empobreceu o país’

 

O empresário Andán Celis Michelena, novo presidente da maior entidade empresarial da Venezuela, a Fedecamaras, pediu o fim das sanções impostas pelos Estados Unidos e disse que o bloqueio empobreceu o país. As declarações foram dadas nesta terça-feira (25/07) durante entrevista à emissora de rádio Circuito Éxitos, logo após ele ser eleito na última sexta-feira (21/07) para presidir a instituição.

Questionado se sua gestão frente à Fedecamaras acompanharia os pedidos de eliminação do bloqueio, Michelena classificou como “loucos” os que pediram a aplicação de sanções e disse que as medidas causaram danoa à Venezuela.

“Nenhum país quer estar sancionado, o venezuelano que diz querer sanções é um louco. Evidentemente, nós pedimos que as sanções sejam eliminadas, elas não fizeram outra coisa senão empobrecer o país”, disse.

O empresário ainda relacionou a possibilidade de eliminar sanções com uma recuperação comercial e financeira, embora tenha pedido “mudanças necessárias no contexto jurídico e econômico” para o setor privado.

“Através da eliminação dessas sanções, nós podemos ter um comércio mais fluído, mas por outro lado é preciso fazer mudanças necessárias no ordenamento jurídico e acho que estamos caminhando nessa direção. As duas coisas devem caminhar juntas, mas ninguém pode pedir um país sancionado, isso não serve, causou danos ao país”, afirmou.

Empresário do ramo de embalagens, Michelena tem passagens pelo setor financeiro e já presidiu por duas ocasiões a Conindustria (Confederação Nacional da Indústria) e a Câmara Industrial do estado de Carabobo. Embora tenha sido vice-presidente da gestão anterior na Fedecamaras, sua postura representa um posicionamento mais claro da entidade sobre as sanções em relação às administrações anteriores.

Os pedidos pelo fim das sanções estão em sintonia com as exigências feitas pelo governo venezuelano na mesa de diálogos com a oposição. Uma das principais demandas de Caracas nas negociações é a suspensão do bloqueio para que o calendário eleitoral presidencial de 2024 possa ser definido sem pressões externas.

A harmonia entre os discursos do setor privado e do governo é mais um capítulo de uma série de aproximações que vem ocorrendo há alguns anos. Desde 2019, o governo de Nicolás Maduro tem adotado algumas medidas econômicas visando incentivar a produção nacional privada.

Em 2021, a vice-presidenta, Delcy Rodríguez, chegou a participar da Assembleia Geral da Fedecamaras, ato que marcou uma espécie de abertura de diálogo entre o setor privado e o governo. Já neste ano, no início de julho, Rodríguez esteve presente no Congresso Anual da Conindustria e pediu que os empresários não misturem a “economia com a política”.

“O nosso pedido é que a economia não vá ao campo de batalha político, porque sabemos o que aconteceu no passado. O setor empresarial foi golpeado, o país e o povo foram prejudicados”, disse.

Desde que entrou em recessão em 2014, a Venezuela tem sofrido com uma crise na produção petroleira, principal setor da economia e responsável pela maior parte das receitas do país. Isso afetou a capacidade importadora e deu origem a um processo hiperinflacionário que só terminou em 2022. As sanções impostas pelos Estados Unidos agravaram vertiginosamente a crise econômica e fizeram com que o PIB venezuelano contraísse mais de 70% nos últimos 10 anos, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI).

 

Fonte: Por Jean-Jacques Kourliandsky, no Observatório da Imprensa/Opera Mundi

 

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