segunda-feira, 26 de agosto de 2024

Nina Lemos: ‘Elon Musk, o menino mimado que não sabe ouvir não’

Ao não aceitar seguir leis do Brasil e por isso preferir fechar escritório do X, multimilionário age como "dono da bola". Infelizmente, nesse caso, não se trata de brincadeira de playground, mas de assuntos muito sérios.

"Meninos mimados não podem reger a nação." A frase, do rapper Criolo, traz uma verdade: é realmente perigoso quando alguém com comportamento de criança mimada resolve ser, por exemplo, presidente de um país. Mas ainda pode ser pior: o menino mimado pode querer reger o mundo.

Esse parece ser o caso do multimilionário Elon Musk, o homem mais rico do mundo, que entra em polêmica dia sim e dia não e, como proprietário das gigantes Tesla e do Twitter (que ao comprar ele nomeou de X), atua como uma espécie de dono do mundo, fazendo o que bem quer e sem noção de limite.

No último sábado, ele levou isso ao extremo e anunciou que fecharia o escritório do X no Brasil. A notícia causou alarme, pois a primeira impressão que dá é que o Brasil ficaria sem Twitter (ou sem X). Não é verdade. Ele mesmo explicou que os brasileiros continuariam tendo acesso à rede social. O que ele fechou teria sido uma "firma" onde trabalhavam cerca de 40 pessoas, já que a maioria dos empregados do Twitter foi demitida em 2022, quando Elon comprou a empresa.

O motivo da saída é um show de menino mimado: basicamente, Musk se recusa a cumprir as leis e regras do Brasil. E, contrariado, respondeu: "não quero mais brincar". Explicando: o milionário anunciou o fechamento do X no país dizendo que estava sendo perseguido pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.

"A decisão de fechar o escritório X no Brasil foi difícil, mas, se tivéssemos concordado com as exigências de censura secreta (ilegal) e entrega de informações privadas de @alexandre, não haveria como explicar nossas ações sem ficarmos envergonhados", alegou Musk.

Junto com a nota, ele anexou o suposto despacho recebido por seus advogados, que teria sido enviado pelo ministro Alexandre de Moraes. O documento postado por ele parece um ofício padrão, onde os advogados da empresa são intimados para que tomem providências necessárias e cumpram, no prazo de 24 horas uma decisão anterior para bloquear contas de usuários da rede. Caso não cumprissem, diz o documento, a administradora da empresa poderia ser presa e a direção deveria pagar uma multa de R$ 20 mil por dia. No ofício, é explicado que eles não haviam respondido a vários contatos da justiça.

Não há nada de escandaloso nisso. Afinal, o X, sendo uma empresa que atua no Brasil, está sujeita, como todas e todos, às autoridades brasileiras e às leis do país. E, pelo menos no caso atual, quando a justiça pede o bloqueio de um perfil, é porque ele está agindo contra a lei, seja publicando conteúdo de ódio, fake news e por aí vai. Mentira não é liberdade de expressão. E também não existe o direito à ofensa.

Além disso, como todo mundo devia saber, o Brasil tem muitos problemas, mas não é uma ditadura e não vive sob regime de censura no momento. Existem leis, assim como em todos os países, e elas devem ser cumpridas. Simples assim.

Quando fala que não aceita seguir as leis do Brasil e por isso prefere fechar o escritório, o multimilionário age como um "dono da bola", aquele personagem da infância que achava que podia inventar e mudar as regras do jogo. Infelizmente, no caso de Elon Musk, não se trata de uma brincadeira de playground, mas de assuntos muito sérios, como propagação de discurso de ódio e fake news.

<><> F… a União Europeia

Não é só o Brasil que Elon trata como seu playground. No momento, ele briga também com a União Europeia.

No dia 12 de agosto, o comissário da UE Thierry Breton publicou no X uma carta onde alertava que a empresa tinha que seguir as regras previstas pelo novo regulamento digital do bloco europeu. A reação de Musk foi citar uma piada do filme satírico americano Trovão Tropical: "Eu realmente queria responder com esse meme, mas eu nunca seria tão rude e irresponsável", escreveu em seu perfil. Logo abaixo, ele postou postou um meme onde está escrito: "literalmente, f.. sua própria cara". Maturidade: cinco anos.

<><> O caso Tesla em Brandemburgo

A lógica "o mundo é o meu playground" é usada pelo milionário também na Tesla. Nós, que moramos na Alemanha, sabemos disso, já que Elon Musk é uma espécie de vizinho problemático de todos nós. Isso porque, em 2020, ele começou a construir em Grünheide, em Brandemburgo, nos arredores de Berlim, a maior fábrica da Tesla na Europa. Desde então, tudo tem sido caótico, e leis não são cumpridas.

Para dar uma ideia da loucura: a construção da megafábrica, feita em tempo recorde, começou antes que a empresa tivesse todas as licenças formais para começar a levantar a obra. Eles simplesmente fizeram, desobedecendo várias regras, principalmente ambientais. A empresa já foi multada pelo menos seis vezes pela Secretária de Meio Ambiente de Brandemburgo e há denúncias sérias de acidentes durante a obra e de infrações que poderiam gerar multas de 500 mil euros.

No momento, eles fazem uma expansão da fábrica, novamente sem licença definitiva de aprovação da obra. O governo de Brandemburgo deu para eles uma "licença provisória". Os moderadores da área são contra a expansão, assim como ambientalistas. Mas Musk não está nem aí. E segue ganhando aplausos e seguidores fanáticos por causa desse seu "jeitão". Quinta série. Sim, ele faz tudo isso e, para muitos, é um herói. Complicado.

 

•                                          “Musk está ameaçando a democracia não só no Brasil, mas em todo o mundo”, diz Nathália Urban

Durante participação no programa Bom Dia 247, a jornalista Nathália Urban comentou sobre as recentes ações de Elon Musk, dono da plataforma X, antigo Twitter, e os impactos globais de sua administração. Urban afirmou que "Musk está ameaçando a democracia não só no Brasil, mas em todo o mundo", apontando que o empresário tem promovido desinformação em diversos países.

Urban destacou que "Elon Musk não apenas propagou ódio e desinformação, como financiou protestos no Reino Unido", além de violar leis locais. Ela também afirmou que "o número de pessoas banidas por discurso de ódio caiu 70% desde que Musk tomou o poder", o que contribui para a ampliação de discursos de ódio na plataforma. Segundo a jornalista, Musk "infringe leis do Reino Unido e da União Europeia", reforçando sua crítica ao papel que ele tem desempenhado internacionalmente.

A jornalista concluiu alertando para as implicações globais das ações de Musk, afirmando que "sua agenda internacional é a dominação do mundo pela extrema-direita", apontando para uma estratégia coordenada de influência política extremista através das redes sociais.

•                                          Musk ataca liberdade de expressão e pratica assédio judicial contra seus adversários

Advogados de Elon Musk e da plataforma X, anteriormente conhecida como Twitter, iniciaram o envio de intimações judiciais a diversos grupos de interesse público que criticaram a gestão de Musk. Essas organizações, incluindo o Centro para Combater o Ódio Digital, a União de Cientistas Preocupados, Access Now e Fairness and Accuracy in Reporting (FAIR), enfrentam ações judiciais por terem expressado preocupações com a direção da plataforma sob o comando de Musk. As intimações são parte de um processo mais amplo movido por Musk e X contra o Media Matters, acusado de vincular anunciantes a conteúdos extremistas. A revelação foi feita pelo site Mother Jones.

Este movimento de Musk, que se denomina um defensor absoluto da liberdade de expressão, é visto por muitos como uma contradição. Ele alega manipulação de algoritmos pelo Media Matters para prejudicar sua empresa. A disputa está agora nas mãos do Juiz Reed O’Connor no Texas, um juiz que possui laços financeiros com outra empresa de Musk, a Tesla. A decisão de não se recusar do caso, apesar dos pedidos, adiciona outra camada de complexidade ao litígio.

Grupos que receberam as intimações criticam essas ações como tentativas de intimidar e silenciar adversários. Jessica González, da Free Press, descreve as ações de Musk como um ataque cínico contra a liberdade de expressão, destacando a ironia do empresário atacar justamente aqueles que exercem seu direito de criticar.

•                                          “Seria dar um tiro no pé de escopeta defender o banimento do X no Brasil”, diz Breno Altman

Durante entrevista ao programa Bom Dia 247, o jornalista e analista político Breno Altman, editor do Opera Mundi, se posicionou contra a possibilidade de banimento imediato da plataforma X, antigo Twitter, no Brasil, defendendo uma abordagem estratégica e de longo prazo. Altman argumentou que o banimento seria prejudicial à esquerda, afirmando: "Eu sou contrário a isso, eu acho que seria dar de presente para a extrema-direita um discurso de altíssima potência contra o governo. Seria um grave erro, um tiro no pé de escopeta".

Altman alertou que a medida atenderia aos interesses da extrema-direita, que usaria o discurso de liberdade contra a esquerda. "Seria tudo que a extrema-direita deseja no Brasil, para que ela reivindique o discurso da liberdade contra a esquerda", afirmou.

O jornalista defendeu a substituição das plataformas digitais por alternativas latino-americanas, inspirando-se na estratégia adotada pela China, que aboliu redes como Facebook e Instagram, substituindo-as por plataformas nacionais. "Nós temos que resolver o problema das plataformas, disso eu não tenho nenhuma dúvida, mas a longo prazo. As plataformas atuais são controladas por empresários norte-americanos, todas elas, essas plataformas teriam que ser substituídas por plataformas latino-americanas, produtos da integração latino-americana", explicou.

Altman reforçou que a substituição das plataformas deve ser feita como parte de um projeto estratégico, com debate popular e possivelmente até um plebiscito. "Temos que cuidar da substituição dessas plataformas como um projeto estratégico, que tenha convencimento e debate popular", disse. Para ele, uma ação imediata do Poder Judiciário seria um erro grave, visto por grande parte da população como uma violação da liberdade: "Por um ato do Poder Judiciário, seria um erro gravíssimo, pelo qual nós pagaríamos muito".

 

•                                          A luta contra o fascismo de todos os dias. Por Urariano Mota

Foi nestes dias. Depois da vitória de Lula para a presidência, recebi um surpreendente choque em minha vida; na tarde 7 de agosto, caminhava com a minha esposa pela calçada em Olinda, quando ouvi barulho, músicas infernais. Era uma carreata de Bolsonaro! O quê?! Era o próprio seguido por “patriotas” de camisa da seleção brasileira, aos gritos, aos gritos, aos gritos.

Eu não tive escolha. Não poderia ter tido escolha. O mais zen, o mais ponderado socialista, não pode caminhar imune, de surpresa, diante de uma carreta do fascista ou fascistas em passeata. Vocês me perdoem, mas perdi a gentileza, a maldita boa educação. E respondi aos sons da tarde que estrondavam;

- Filho da puta! (E mais alto) Filho da puta!

Isso foi o começo da conversa. A emoção foi tomando conta de mim, uma indignação sem tamanho, diante daquela invasão do terreno da pátria da humanidade. E continuei. E bradei mais alto, quando passei por um pelotão de soldados da PM:

- Aqui é terra de Lula! Fascista não se cria!

Eles me ameaçaram com os olhos, com as caras de ataque, puseram a mão nas armas, mas estudantes me salvaram de uma bárbara agressão.  Mocinhas e rapazes, adolescentes, em um colégio em frente ao pelotão, me aplaudiram. Deles vinha uma solidariedade de irmãos, fraternos até onde pode ir a fraternidade. Aquilo amenizou, mas não me dei conta de que eu era também uma agressão até sem palavras à carreta, Eu não me dava conta de que estava com uma camisa do Sport, vermelha. Daquelas que na frente possuem estrelas, e atrás o nome do Sport. As estrelas são do Sport na série A. Mas os ignorantes, quando a veem, interpretam logo; é do PT.

Então passei a ser perseguido aos gritos:

- Ladrão! (Eu me virei) Luladrão! Lulaladrão!

Sabe-se que os bolsonaristas não têm argumentos. Têm só intestinos. Eles não refletem:

- Luladrão!

Não lembro ao certo o que respondi - quem sabe ao certo como agiu num ato de paixão? -, mas devo ter respondido:

- Bolsonaro é assassino! Matou o povo na pandemia. Genocida!

Então os bolsonaristas, na maioria idosos, não donos de idade respeitável, mas da idade que gera uma odiosa demência, responderam à sua maneira. Esclarecedora, mas nunca esclarecida:

- Lula é terrorista!

Essa é uma palavra que para mim é uma pedra de toque, é clara e um chamamento. Tenho escrito romances sobre a memória da ditadura, uma denúncia dos crimes da ditadura, do seu terror sobre jovens do Brasil.

E me virei para os que me perseguiam:

- O quê?!

E continuaram:

- Lula é terrorista!

E preparei o bote::

- Lula é terrorista?

- Sim!

A minha resposta foi levantar os braços:

- Então viva o terrorismo!

A minah esposa tentava me acalmar, numa tarefa impossível. Até porque ela própria estava agitada. E tomava a minha frente contra a turba:

- Viva Lula!

E fazia sinais do L de Lua, um L que eu transformava em um dedo só, do médio, para Bolsonaro.

Ela gritava;

- Lula é meu presidente!

E vinham pra cima dela. Então foi a minha vez de acalmá-la, pedir-lhe calma, ponderação, serenidade, eu, o calmo, sereno e poderado. Mas para ser calmo,  zen, a gente tem que respirar fundo primeiro, não perder o fôlego. E eu só queria uma cachaça ou um pouco d’água, na pior das hipóteses. Era incrível. Me sentia ferido nos domínios do que julgava sagrado. Olinda, que é isso?! Eu precisava ter uma inspiração profunda. Mas só depois de acabar com aquele pesadelo.

Agora, em 23 de agosto, a respirar melhor tento refletir. A primeira coisa sensata é: todo militante democrata, todo socialista, tem um caso pessoal contra os fascistas.   

Na volta para casa, enquanto via os grupos de senhores e senhoras de amarelo - o que era aquilo, estavam todos cobertos de fezes de bebê? - , pude sentir que eram todos bons pais, avós, aposentados cidadãos de bem, do bem da classe média. Agora os compreendo. Eles não são todos fascistas. Nem todos adoram a suástica. Embora existam entre eles ardorosos assassinos de direita. Mas não todos. O problema é que essa boa gente, todos boa gente, apoiam um código moral atrasado. Todos dizem defender a família. Aquela tradicional, pai, mãe, filhos, modelo da sagrada família que está no céu.

Neles, entre eles, há uma sobrevivência fóssil de valores morais que vão  contra a própria experiência. Muitos deles têm parentes homossexuais, mas nisso não veem uma luz para a diversidade, para tudo que é humano. Muitos deles são descendentes de negros, são mestiços, mas acham natural o racismo contra as pessoas de pele mais escura. Cospem na memória da sua origem.  

Percebo que o moralismo deles é uma rigorosa e severa perversão. Se pudessem, trepariam com a Santíssima Virgem Maria. Mas como tal coisa é impossível, pelo menos em seres de carne, buscam satisfazer o desejo frustrado em corpos mais puros, mais inocentes. Eles vão até à pedofilia, que só entendem uma perversão quando o sexo é feito em corpinhos de bebê. Mas crianças a partir de 7 anos, não. “Já conhecem a safadeza”, falam. E discursam a favor da família, da moral e da pátria.   .

Em tudo fedem a hipocrisia. Uma rígida hipocrisia, que fala mais alto que falo sem força. Mas são perigosos, porque matam e promovem a destruição de vidas, Quando a gente vê o caso de professoras no grande Recife, que obrigaram uma criança, adotada por duas mães, ser obrigada a uma cerimônia do Dia dos Pais, e se comprazerem em ver a menina aos prantos, isso revolta, isso mostra a urgência da civilização. Quando a gente vê a tal da pastora Collins apresentar projeto de lei  contra atletas trans, sabemos que nossa luta hoje é sem quartel e sem trégua. Esse horror da direita não pode nem deve prosperar. Temos que sair dos nossos guetos humanizados. 

Daí que a nossa resistência deve ser um dever e prazer ao mesmo tempo. Temos todos a obrigação de espalhar a civilização de todas as formas, de todas as maneiras, Na arte, com arte, na ciência, com ciência,  na política partidária e com política, e fora dos partidos também.. Escritores, artistas, professores, cientistas, sindicalistas militantes organizados, jornalistas, músicos e compositores: estamos todos convocados. A luta contra o fascismo é contínua. sem trégua, porque a peste do fascismo não morreu. Se não pudermos todos escrever romances, reportagens, vídeos, músicas, posts, escrevamos panfletos. Vamos distribuir nosso pensamento impresso em bandeiras, papel, imagens e alma. A guerra não nos dá um minuto de paz.

 

Fonte: Deutsche Welle/Brasil 247

 

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