sábado, 24 de agosto de 2024

Guerra na Ucrânia provoca onda de suicídios na Índia

Quando a Rússia invadiu a Ucrânia, em fevereiro de 2022, os residentes de Surat, na Índia, não imaginavam que uma guerra a milhares de quilômetros de distância levaria a um aumento de suicídios em sua comunidade.

Em Surat, no oeste do país, funciona o epicentro da indústria de diamantes da Índia, que emprega mais de 600 mil pessoas. Os trabalhadores do município são responsáveis pelo corte e polimento de 80% dos diamantes do mundo, de acordo com estatísticas do setor.

Quando a guerra na Ucrânia começou, o mercado de diamantes indiano já enfrentava problemas como enchentes na África, queda na demanda mundial e exportações estagnadas para a China.

Mas a seguinte onda maciça de sanções ocidentais contra a Rússia, que incluiu os diamantes russos, empurrou Surat para uma profunda crise financeira.

¨      Como a guerra na Ucrânia está causando a crise financeira em Surat?

Em resposta à invasão da Ucrânia, a União Europeia e o G7 restringiram o comércio de  diamantes russos. O país é o maior produtor de diamantes do mundo em volume bruto e costuma exportar a pedra preciosa em estado bruto para ser polida e cortada na Índia.

Como resultado da sanção ocidental a Moscou, o setor de diamantes indiano teve, portanto, o acesso à matéria-prima vinda da Rússia limitado, e sua receita sofreu um corte de quase um terço. 

Pelo menos 63 lapidadores de diamantes cometeram suicídio em Surat nos últimos 16 meses – vários deixaram bilhetes culpando as dificuldades financeiras, de acordo com relatos da mídia local. Milhares de outros trabalhadores da indústria perderam seus empregos ou estão enfrentando cortes salariais.

"Mais de 30% do suprimento de matéria-prima da Índia vinha da mina russa Alrosa", disse Dinesh Navadiya, presidente regional do Conselho de Promoção de Exportação de Gemas e Joias (GJEPC), formado pelo Ministério do Comércio e Indústria da Índia. "Esse negócio perdido ainda não se recuperou", disse ele à DW.

Jagdish Khunt, presidente da associação de comerciantes de diamantes de Surat, tem uma perspectiva similar. "Desde o primeiro bombardeio da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, as coisas só pioraram para nós", disse ele.

·        Índia não consegue escoar diamantes

A exportação de diamantes lapidados e polidos da Índia caiu 27,6% no ano fiscal de 2023-24, com cortes significativos de seus três principais clientes – Estados Unidos, China e Emirados Árabes Unidos.

Como resultado, as empresas estão com um estoque três vezes maior do que o normal, disse Navadiya.

"As linhas de crédito começaram a se esgotar e os proprietários de empresas muitas vezes são forçados a vender alguns estoques por uma fração do custo, apenas para permanecerem operacionais", disse ele.

·        Polidores de diamantes pedem ajuda

Ramesh Zilariya, chefe do sindicato de trabalhadores de diamantes do estado de Gujarat, onde fica Surat, passa uma parte considerável de seu tempo atendendo ligações em uma linha de telefone criada em julho para combater o suicídio. "Recebemos mais de 1,6 mil ligações pedindo ajuda desde que lançamos esse número."

Uma dessas ligações, a de um lapidador de diamantes, chamou a atenção de Zilariya. O homem ficou quatro meses desempregado, não conseguia pagar o aluguel e nem as mensalidades da escola do filho e tinha uma dívida de 500 mil rúpias (o equivalente a R$ 33 mil). Seus credores haviam se tornado agressivos. "Ele disse que estava cansado e queria cometer suicídio", disse Zilariya, cujo escritório resgatou o homem.

"Ele chorou em nosso escritório o dia inteiro. Por fim, encontramos uma casa para alugar para sua família, pagamos o depósito e o primeiro mês de aluguel, as taxas escolares dos filhos e encontramos empregos para o marido e a esposa fora do mercado de diamantes", disse ele.

No entanto, nem todos podem ser ajudados financeiramente, disse ele. "Tentamos encontrar empregos para os demais, mas tudo o que eles sabem fazer é polir diamantes."

·        Empresas cortam horas de trabalho e reduzem salários

Manoj, um lapidador de diamantes de 45 anos de Surat, também foi demitido em maio, após três décadas de trabalho. Ele acabou encontrando um emprego de entregador de encomendas. Mas seu salário é baixo e o empregador não o reembolsa pelas despesas com combustível.

Único a trabalhar em uma família de seis pessoas, ele está agora com dois meses de aluguel atrasado, não conseguiu pagar as mensalidades escolares do filho mais velho e hipotecou o mangalsutra – uma corrente de casamento de ouro considerada sagrada pelos hindus, além de brincos e um anel de ouro da esposa.

"Não consigo dizer como estamos nos virando”, disse ele à DW.

Nem o governo nem o sindicato dos trabalhadores do setor de diamantes têm dados completos sobre quantas pessoas perderam seus empregos, uma vez que parte do mercado opera informalmente.

"Tentamos fazer uma pesquisa enviando formulários do Google, mas a maioria deles não sabe como operar essa tecnologia”, disse Zilariya.

O chefe do sindicato estimou que pelo menos 50 mil polidores e lapidadores perderam seus empregos nos últimos seis meses e centenas de milhares nos últimos 18 meses.

Já aqueles que têm a sorte de ainda ter um emprego estão enfrentando severos cortes salariais. Navadiya, do GJEPC, disse que muitas empresas agora empregam uma semana de trabalho de apenas quatro dias, para economizar dinheiro. Elas também reduziram as horas de trabalho por dia.

"Eles querem garantir que mais pessoas tenham algum trabalho a fazer, mas isso resultou em um corte de 30 a 40% nos salários. Alguém que ganhava 40 mil rúpias [R$ 2,6 mil] agora ganha apenas 23 mil [R$ 1,5 mil] por mês”, afirmou.

·        Trabalhadores querem ajuda financeira

O sindicato dos trabalhadores do setor de diamantes de Gujarat enviou várias cartas ao governo do estado, solicitando um pacote de ajuda econômica.

Eles exigem a retomada do "Ratandeep Yojana”, um programa de treinamento criado para aprimorar as habilidades dos trabalhadores do setor de diamantes, lançado por Narendra Modi, hoje primeiro-ministro da Índia, quando ele governava o estado de Gujarat, durante a crise econômica de 2009.

O sindicato também exige ajuda financeira para as famílias dos artesãos que perderam suas vidas por suicídio. "Estamos escrevendo para eles desde o ano passado, mas eles nem sequer responderam”, disse Zilariya.

Em abril, o ministro de relações exteriores da Índia, Subrahmanyam Jaishankar, expressou preocupação com as repercussões da proibição do G7 sobre os diamantes russos em um evento em Surat. "A intenção deles é prejudicar a Rússia. Mas não é assim que funciona. O produtor geralmente encontra uma maneira. Mais do que a Rússia, essas medidas tendem a prejudicar os que estão abaixo na cadeia de suprimentos”, disse ele, segundo a mídia local.

Em maio, a agência de notícias Reuters informou que os EUA estavam reavaliando o veto aos diamantes russos após protestos de joalheiros na Índia, na África e até mesmo em Nova York.

<><> Em Kiev, Modi pede a Zelensky que Ucrânia 'sente-se para conversar' com a Rússia

O premiê indiano Narendra Modi pediu a Vladimir Zelensky que se sentasse para conversar com Moscou a fim de acabar com o conflito.

O primeiro-ministro se ofereceu para agir como amigo para ajudar a trazer a paz enquanto os dois líderes se encontravam em Kiev nesta sexta-feira (23), relata a Reuters.

"O caminho para a resolução só pode ser encontrado por meio do diálogo e da diplomacia. E devemos nos mover nessa direção sem perder tempo. Ambos os lados devem se sentar juntos para encontrar uma saída para essa crise", disse Modi.

A primeira visita de um primeiro-ministro indiano na história moderna da Ucrânia ocorre em um momento volátil no conflito, com Moscou fazendo ganhos no leste ucraniano enquanto Kiev pressiona um ataque transfronteiriço.

Um militar russo das unidades de assalto dos 20º Guardas e 25º Exércitos de Armas

Modi, cuja visita a Moscou no mês passado foi criticada por Kiev, disse que foi à Ucrânia com uma mensagem de paz, e pediu um diálogo entre os países o mais rápido possível.

"Quero assegurar-lhe que a Índia está pronta para desempenhar um papel ativo em quaisquer esforços em direção à paz. Se eu puder desempenhar qualquer papel nisso pessoalmente, farei isso, quero assegurar-lhe como amigo", afirmou o premiê.

O líder ucraniano disse em seus comentários que "a questão do fim da guerra e uma paz justa são a prioridade". No entanto, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, declarou na segunda-feira (19) que as negociações estavam fora de questão depois que a Ucrânia lançou seu ataque terrorista na região de Kursk.

 

¨      Ucrânia vende herança cristã ortodoxa da Rússia ao Ocidente, dizem especialistas

Dois teólogos criticaram a decisão de Kiev de transportar ícones bizantinos da Ucrânia para a França, destacando sua histórica ligação à Rússia, que tem mais de mil anos.

A Ucrânia está levando seu legado cristão ortodoxo para o Ocidente, argumentou o chefe do Centro de Estudos da Religião em declarações à Sputnik.

"A Ucrânia leva os ícones para fora do país e até vende alguns deles para o Ocidente. Não é racional e nem ético tratar o patrimônio dessa maneira", disse Roman Lunkin.

No ano passado, os mais raros ícones bizantinos dos séculos VI e VII foram secretamente transferidos do território da Ucrânia para a França, sob o pretexto de questões de segurança, e depois expostos no Museu do Louvre, em Paris.

Esses ícones cristãos ortodoxos haviam sido dados em meados do século XIX ao chefe da Missão Eclesiástica Russa em Jerusalém como um presente do Mosteiro Sinai de Santa Catarina, acrescentou o bispo Porfiry, um teólogo e bizantinólogo russo.

"Os ícones que são mantidos no Mosteiro [de Kiev-Pechersk] e em outros museus e monumentos culturais na Ucrânia são propriedade comum da cultura russa e da cultura da Rus de Kiev, que foi criada a partir do momento do batismo da Rússia, há mais de mil anos", apontou ainda Lunkin, notando que o patrimônio foi criado em uma época em que "os ucranianos e a Ucrânia ainda não existiam. Portanto, é errado chamar esses ícones de exclusivamente ucranianos".

"Agora estamos testemunhando uma tentativa de dividir a história e dividir os santos em certos e errados, bem como dividir os fiéis em certos e errados dentro da estrutura da proibição da Igreja [Ortodoxa] Ucraniana", concluiu.

<><> Pela 1ª vez, Borrell admite publicamente que União Europeia 'faz parte do conflito' na Ucrânia

O chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell, admitiu pela primeira vez publicamente que a União Europeia é "parte do conflito" na Ucrânia, embora não seja parte da ação militar.

O anúncio foi feito na conferência internacional Quo Vadis Europa, na Espanha. O vídeo foi transmitido na rede social X.

"O que acontece na Ucrânia determinará o futuro geopolítico da Europa. Devemos pensar sobre a Ucrânia, como nos tornamos participantes no jogo. Somos parte deste jogo. Não somos parte da guerra, mas fazemos parte do conflito e como este conflito é resolvido afetará a paz e nossa segurança", disse.

Na quarta-feira (21), tendo como pano de fundo o ataque das Forças Armadas da Ucrânia à região de Kursk, Borrell disse que o levantamento da proibição dos ataques de Kiev com armas ocidentais em território russo poderia supostamente "contribuir para os esforços pacificadores".

Ele também prometeu discutir, na próxima semana com os ministros das Relações Exteriores e da Defesa da EU, o aumento do apoio à Ucrânia.

Por sua vez, a representante oficial do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, disse que o ataque ucraniano à região de Kursk está ocorrendo com o apoio total do Ocidente, que autorizou essas ações.

¨      Сorte da ajuda à Ucrânia mostra fraqueza de Berlim em relação à Rússia, diz mídia

A redução gradual do financiamento da Ucrânia pela Alemanha mostra a fraqueza de Berlim diante da Rússia e coloca Kiev na posição de vítima, escreve o jornalista britânico e editor europeu do jornal Financial Times, Ben Hall.

A Alemanha, que era um dos maiores patrocinadores da Ucrânia no que se trata da ajuda militar há mais de dois anos, recentemente decidiu limitar essa assistência, uma vez que, de acordo com o planejamento orçamentário do governo federal, não há dinheiro disponível para tal finalidade, segundo a mídia alemã.

"A redução do apoio militar à Ucrânia demonstrou a fraqueza de Berlim e não sua força. [...] Kiev é a grande perdedora do acordo orçamentário para 2025", escreve Hall em seu artigo.

Ele afirmou que a Alemanha "se tornou vítima do freio constitucional ridiculamente rígido da dívida do país, que limita os déficits do governo".

O autor do artigo destaca que a promessa do chanceler alemão Olaf Scholz de fornecer a ajuda militar através o empréstimo planejado de US$ 50 bilhões (R$ 279,64 bilhões), acordado pelos líderes do Grupo dos Sete (G7) neste verão (no Hemisfério Norte), nesse caso, não faz sentido, pois se mostra tecnicamente difícil de implementar e pode enfrentar objeções por parte de alguns governos europeus.

Hall considera a decisão de Scholz um "convite" para outros líderes do G7 também reduzirem seus apoios.

A ajuda a Kiev é uma questão delicada também porque, segundo o artigo, o pacote de US$ 61 bilhões (R$ 341,16 bilhões) que o Congresso dos EUA aprovou em abril pode ser o último.

A Rússia, por sua vez, disse repetidamente que o fornecimento de armas à Ucrânia impede o alcance de um acordo de paz e envolve diretamente os países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) no conflito.

O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, afirmou que os Estados Unidos e a OTAN estão diretamente envolvidos no conflito, inclusive não apenas fornecendo armas, mas também treinando pessoal militar ucraniano no território do Reino Unido, Alemanha, Itália e outros países.

 

Fonte: Deutsche Welle/Sputnik Brasil

 

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