Guerra na Ucrânia provoca onda de suicídios
na Índia
Quando a Rússia invadiu a Ucrânia, em fevereiro de 2022, os residentes de Surat, na Índia, não imaginavam que uma guerra a milhares de quilômetros de
distância levaria a um aumento de suicídios em sua comunidade.
Em Surat, no oeste do
país, funciona o epicentro da indústria de diamantes da Índia, que emprega mais
de 600 mil pessoas. Os trabalhadores do município são responsáveis pelo corte e
polimento de 80% dos diamantes do mundo, de acordo com estatísticas do setor.
Quando a guerra na
Ucrânia começou, o mercado de diamantes indiano já enfrentava problemas
como enchentes na África, queda na
demanda mundial e exportações estagnadas para a China.
Mas a seguinte onda
maciça de sanções ocidentais contra a Rússia, que incluiu os diamantes russos, empurrou Surat para uma
profunda crise financeira.
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Como a guerra na Ucrânia está causando a
crise financeira em Surat?
Em resposta à invasão
da Ucrânia, a União Europeia e o G7 restringiram o comércio de diamantes russos. O país é
o maior produtor de diamantes do mundo em volume bruto e costuma exportar a
pedra preciosa em estado bruto para ser polida e cortada na Índia.
Como resultado da
sanção ocidental a Moscou, o setor de diamantes indiano teve, portanto, o
acesso à matéria-prima vinda da Rússia limitado, e sua receita sofreu um corte
de quase um terço.
Pelo menos 63
lapidadores de diamantes cometeram suicídio em Surat nos últimos 16 meses –
vários deixaram bilhetes culpando as dificuldades financeiras, de acordo com
relatos da mídia local. Milhares de outros trabalhadores da indústria perderam
seus empregos ou estão enfrentando cortes salariais.
"Mais de 30% do
suprimento de matéria-prima da Índia vinha da mina russa Alrosa", disse
Dinesh Navadiya, presidente regional do Conselho de Promoção de Exportação de
Gemas e Joias (GJEPC), formado pelo Ministério do Comércio e Indústria da Índia.
"Esse negócio perdido ainda não se recuperou", disse ele à DW.
Jagdish Khunt,
presidente da associação de comerciantes de diamantes de Surat, tem uma
perspectiva similar. "Desde o primeiro bombardeio da guerra entre a Rússia
e a Ucrânia, as coisas só pioraram para nós", disse ele.
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Índia não consegue escoar diamantes
A exportação de
diamantes lapidados e polidos da Índia caiu 27,6% no ano fiscal de 2023-24, com
cortes significativos de seus três principais clientes – Estados Unidos,
China e Emirados Árabes Unidos.
Como resultado, as
empresas estão com um estoque três vezes maior do que o normal, disse Navadiya.
"As linhas de
crédito começaram a se esgotar e os proprietários de empresas muitas vezes são
forçados a vender alguns estoques por uma fração do custo, apenas para
permanecerem operacionais", disse ele.
·
Polidores de diamantes pedem ajuda
Ramesh Zilariya, chefe
do sindicato de trabalhadores de diamantes do estado de Gujarat, onde fica
Surat, passa uma parte considerável de seu tempo atendendo ligações em uma
linha de telefone criada em julho para combater o suicídio.
"Recebemos mais de 1,6 mil ligações pedindo ajuda desde que lançamos
esse número."
Uma dessas ligações, a
de um lapidador de diamantes, chamou a atenção de Zilariya. O homem ficou
quatro meses desempregado, não conseguia pagar o aluguel e nem as mensalidades
da escola do filho e tinha uma dívida de 500 mil rúpias (o equivalente a R$ 33
mil). Seus credores haviam se tornado agressivos. "Ele disse que estava
cansado e queria cometer suicídio", disse Zilariya, cujo escritório
resgatou o homem.
"Ele chorou em
nosso escritório o dia inteiro. Por fim, encontramos uma casa para alugar para
sua família, pagamos o depósito e o primeiro mês de aluguel, as taxas escolares
dos filhos e encontramos empregos para o marido e a esposa fora do mercado de
diamantes", disse ele.
No entanto, nem todos
podem ser ajudados financeiramente, disse ele. "Tentamos encontrar
empregos para os demais, mas tudo o que eles sabem fazer é polir
diamantes."
·
Empresas cortam horas de trabalho e reduzem
salários
Manoj, um lapidador de
diamantes de 45 anos de Surat, também foi demitido em maio, após três décadas
de trabalho. Ele acabou encontrando um emprego de entregador de encomendas. Mas
seu salário é baixo e o empregador não o reembolsa pelas despesas com combustível.
Único a trabalhar em
uma família de seis pessoas, ele está agora com dois meses de aluguel atrasado,
não conseguiu pagar as mensalidades escolares do filho mais velho e hipotecou o
mangalsutra – uma corrente de casamento de ouro considerada sagrada pelos
hindus, além de brincos e um anel de ouro da esposa.
"Não consigo
dizer como estamos nos virando”, disse ele à DW.
Nem o governo nem o
sindicato dos trabalhadores do setor de diamantes têm dados completos sobre
quantas pessoas perderam seus empregos, uma vez que parte do mercado opera
informalmente.
"Tentamos fazer
uma pesquisa enviando formulários do Google, mas a maioria deles não sabe como
operar essa tecnologia”, disse Zilariya.
O chefe do sindicato
estimou que pelo menos 50 mil polidores e lapidadores perderam seus empregos
nos últimos seis meses e centenas de milhares nos últimos 18 meses.
Já aqueles que têm a
sorte de ainda ter um emprego estão enfrentando severos cortes salariais.
Navadiya, do GJEPC, disse que muitas empresas agora empregam uma semana de
trabalho de apenas quatro dias, para economizar dinheiro. Elas também reduziram
as horas de trabalho por dia.
"Eles querem
garantir que mais pessoas tenham algum trabalho a fazer, mas isso resultou em
um corte de 30 a 40% nos salários. Alguém que ganhava 40 mil rúpias [R$ 2,6
mil] agora ganha apenas 23 mil [R$ 1,5 mil] por mês”, afirmou.
·
Trabalhadores querem ajuda financeira
O sindicato dos
trabalhadores do setor de diamantes de Gujarat enviou várias cartas ao governo
do estado, solicitando um pacote de ajuda econômica.
Eles exigem a retomada
do "Ratandeep Yojana”, um programa de treinamento criado para aprimorar as
habilidades dos trabalhadores do setor de diamantes, lançado por Narendra Modi,
hoje primeiro-ministro da Índia, quando ele governava o estado de Gujarat,
durante a crise econômica de 2009.
O sindicato também
exige ajuda financeira para as famílias dos artesãos que perderam suas vidas
por suicídio. "Estamos escrevendo para eles desde o ano passado, mas eles
nem sequer responderam”, disse Zilariya.
Em abril, o ministro
de relações exteriores da Índia, Subrahmanyam Jaishankar, expressou preocupação
com as repercussões da proibição do G7 sobre os diamantes russos em um evento
em Surat. "A intenção deles é prejudicar a Rússia. Mas não é assim que
funciona. O produtor geralmente encontra uma maneira. Mais do que a Rússia,
essas medidas tendem a prejudicar os que estão abaixo na cadeia de
suprimentos”, disse ele, segundo a mídia local.
Em maio, a agência de
notícias Reuters informou que os EUA estavam reavaliando o veto aos diamantes russos após protestos de joalheiros na Índia, na África e até
mesmo em Nova York.
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Em Kiev, Modi pede a Zelensky que Ucrânia 'sente-se para conversar' com a
Rússia
O premiê indiano
Narendra Modi pediu a Vladimir Zelensky que se sentasse para conversar com
Moscou a fim de acabar com o conflito.
O primeiro-ministro se
ofereceu para agir como amigo para ajudar a trazer a paz enquanto os dois
líderes se encontravam em Kiev nesta sexta-feira (23), relata a Reuters.
"O caminho para a
resolução só pode ser encontrado por meio do diálogo e da diplomacia. E devemos
nos mover nessa direção sem perder tempo. Ambos os lados devem se sentar juntos
para encontrar uma saída para essa crise", disse Modi.
A primeira visita de
um primeiro-ministro indiano na história moderna da Ucrânia ocorre em um
momento volátil no conflito, com Moscou fazendo ganhos no leste ucraniano
enquanto Kiev pressiona um ataque transfronteiriço.
Um militar russo das
unidades de assalto dos 20º Guardas e 25º Exércitos de Armas
Modi, cuja visita a
Moscou no mês passado foi criticada por Kiev, disse que foi à Ucrânia com uma
mensagem de paz, e pediu um diálogo entre os países o mais rápido possível.
"Quero
assegurar-lhe que a Índia está pronta para desempenhar um papel ativo em
quaisquer esforços em direção à paz. Se eu puder desempenhar qualquer papel
nisso pessoalmente, farei isso, quero assegurar-lhe como amigo", afirmou o
premiê.
O líder ucraniano
disse em seus comentários que "a questão do fim da guerra e uma paz justa
são a prioridade". No entanto, o ministro das Relações Exteriores da
Rússia, Sergei Lavrov, declarou na segunda-feira (19) que as negociações
estavam fora de questão depois que a Ucrânia lançou seu ataque terrorista na
região de Kursk.
¨ Ucrânia vende herança cristã ortodoxa da Rússia ao Ocidente,
dizem especialistas
Dois teólogos
criticaram a decisão de Kiev de transportar ícones bizantinos da Ucrânia para a
França, destacando sua histórica ligação à Rússia, que tem mais de mil anos.
A Ucrânia está levando
seu legado cristão ortodoxo para o Ocidente, argumentou o chefe do Centro de
Estudos da Religião em declarações à Sputnik.
"A Ucrânia leva
os ícones para fora do país e até vende alguns deles para o Ocidente. Não é
racional e nem ético tratar o patrimônio dessa maneira", disse Roman
Lunkin.
No ano passado, os
mais raros ícones bizantinos dos séculos VI e VII foram secretamente
transferidos do território da Ucrânia para a França, sob o pretexto de questões
de segurança, e depois expostos no Museu do Louvre, em Paris.
Esses ícones cristãos
ortodoxos haviam sido dados em meados do século XIX ao chefe da Missão
Eclesiástica Russa em Jerusalém como um presente do Mosteiro Sinai de Santa
Catarina, acrescentou o bispo Porfiry, um teólogo e bizantinólogo russo.
"Os ícones que
são mantidos no Mosteiro [de Kiev-Pechersk] e em outros museus e monumentos
culturais na Ucrânia são propriedade comum da cultura russa e da cultura da Rus
de Kiev, que foi criada a partir do momento do batismo da Rússia, há mais de mil
anos", apontou ainda Lunkin, notando que o patrimônio foi criado em uma
época em que "os ucranianos e a Ucrânia ainda não existiam. Portanto, é
errado chamar esses ícones de exclusivamente ucranianos".
"Agora estamos
testemunhando uma tentativa de dividir a história e dividir os santos em certos
e errados, bem como dividir os fiéis em certos e errados dentro da estrutura da
proibição da Igreja [Ortodoxa] Ucraniana", concluiu.
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Pela 1ª vez, Borrell admite publicamente que União Europeia 'faz parte do
conflito' na Ucrânia
O chefe da diplomacia
da UE, Josep Borrell, admitiu pela primeira vez publicamente que a União
Europeia é "parte do conflito" na Ucrânia, embora não seja parte da
ação militar.
O anúncio foi feito na
conferência internacional Quo Vadis Europa, na Espanha. O vídeo foi transmitido
na rede social X.
"O que acontece
na Ucrânia determinará o futuro geopolítico da Europa. Devemos pensar sobre a
Ucrânia, como nos tornamos participantes no jogo. Somos parte deste jogo. Não
somos parte da guerra, mas fazemos parte do conflito e como este conflito é resolvido
afetará a paz e nossa segurança", disse.
Na quarta-feira (21),
tendo como pano de fundo o ataque das Forças Armadas da Ucrânia à região de
Kursk, Borrell disse que o levantamento da proibição dos ataques de Kiev com
armas ocidentais em território russo poderia supostamente "contribuir para
os esforços pacificadores".
Ele também prometeu
discutir, na próxima semana com os ministros das Relações Exteriores e da
Defesa da EU, o aumento do apoio à Ucrânia.
Por sua vez, a
representante oficial do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria
Zakharova, disse que o ataque ucraniano à região de Kursk está ocorrendo com o
apoio total do Ocidente, que autorizou essas ações.
¨ Сorte da ajuda à Ucrânia mostra fraqueza de Berlim em relação à
Rússia, diz mídia
A redução gradual do
financiamento da Ucrânia pela Alemanha mostra a fraqueza de Berlim diante da
Rússia e coloca Kiev na posição de vítima, escreve o jornalista britânico e
editor europeu do jornal Financial Times, Ben Hall.
A Alemanha, que era um
dos maiores patrocinadores da Ucrânia no que se trata da ajuda militar há mais
de dois anos, recentemente decidiu limitar essa assistência, uma vez que, de
acordo com o planejamento orçamentário do governo federal, não há dinheiro disponível
para tal finalidade, segundo a mídia alemã.
"A redução do
apoio militar à Ucrânia demonstrou a fraqueza de Berlim e não sua força. [...]
Kiev é a grande perdedora do acordo orçamentário para 2025", escreve Hall
em seu artigo.
Ele afirmou que a
Alemanha "se tornou vítima do freio constitucional ridiculamente rígido da
dívida do país, que limita os déficits do governo".
O autor do artigo
destaca que a promessa do chanceler alemão Olaf Scholz de fornecer a ajuda
militar através o empréstimo planejado de US$ 50 bilhões (R$ 279,64 bilhões),
acordado pelos líderes do Grupo dos Sete (G7) neste verão (no Hemisfério
Norte), nesse caso, não faz sentido, pois se mostra tecnicamente difícil de
implementar e pode enfrentar objeções por parte de alguns governos europeus.
Hall considera a
decisão de Scholz um "convite" para outros líderes do G7 também
reduzirem seus apoios.
A ajuda a Kiev é uma
questão delicada também porque, segundo o artigo, o pacote de US$ 61 bilhões
(R$ 341,16 bilhões) que o Congresso dos EUA aprovou em abril pode ser o último.
A Rússia, por sua vez,
disse repetidamente que o fornecimento de armas à Ucrânia impede o alcance de
um acordo de paz e envolve diretamente os países da Organização do Tratado do
Atlântico Norte (OTAN) no conflito.
O ministro das
Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, afirmou que os Estados Unidos e a
OTAN estão diretamente envolvidos no conflito, inclusive não apenas fornecendo
armas, mas também treinando pessoal militar ucraniano no território do Reino
Unido, Alemanha, Itália e outros países.
Fonte: Deutsche Welle/Sputnik
Brasil
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