sábado, 24 de agosto de 2024

ORCRIM MARÇAL: Gordão, Escobar, Avalanche - o PRTB de Pablo Marçal seria um avanço?

A julgar pelo noticiário, o PRTB, partido de Pablo Marçal, tornou-se uma filial do PCC, a facção criminosa que bateria ponto também no Legislativo paulistano.

De acordo com Heitor Mazzoco e Marcelo Godoy, jornalistas que revelaram a história, Gordão e Escobar, apresentados como articuladores do PRTB, são acusados pela Polícia Civil de São Paulo de trocar carros de luxo por cocaína fornecida pelo PCC, financiando o tráfico de drogas e dividindo os seus lucros.

Eles foram descobertos graças a um pendrive apreendido com Coringa, apelido de um cidadão de respeito que participava do esquema. Gordão e Escobar são sócios em uma empresa que vende lotes irregulares a pessoas humildes. Escobar também teria tomado a casa de prostituição de uma cafetina, que foi ameaçada de morte. Tem-se então Gordão, Escobar e Coringa.

Há um quarto elemento que aparece na reportagem: Leonardo Avalanche, presidente nacional do PRTB e fiador da candidatura de Pablo Marçal. Dizem os jornalistas:

“No dia 18 de março, Avalanche nomeou Escobar para ocupar a presidência estadual da legenda em São Paulo, mas ele ficou apenas três dias no cargo, sendo afastado, oficialmente, porque ‘não tinha título de eleitor’.”

Ainda assim, Escobar participou de eventos do PRTB com Pablo Marçal, em abril, ao lado de Gordão. Mas Avalanche rompeu com Escobar, e Escobar rompeu com Avalanche, depois de Escobar ter sido indiciado por associação com o PCC. Tem-se, então, Gordão, Escobar, Coringa e Avalanche.

A polícia apreendeu um celular na casa de Gordão e recuperou conversas em áudio nas quais o assunto era o PCC. Nos áudios, Gordão conversa com Buchecha e lá pelas tantas eles falam de Magrão, outro membro do grupo. Tem-se, então, Gordão, Escobar, Coringa, Avalanche, Buchecha e Magrão. Além de Pablo Marçal, é claro, que jura não ter nada a ver com a história. Entre uma molecagem e outra visando a publicar memes, ele disse que Avalanche é quem deve explicações.

Diante de gente tão ilustre nessa comissão de frente, a minha dúvida é se o PRTB não seria um avanço institucional, um aperfeiçoamento dos partidos políticos brasileiros.

<><> Veja trechos da investigação que condenou Marçal por golpes bancários e chegou a levá-lo à prisão

Registros do processo que correu na 11ª Vara Federal em Goiânia, na investigação que apurou ações de criminosos condenados por desviar dinheiro de contas bancárias, mostram como foi a atuação do candidato à Prefeitura de São Paulo Pablo Marçal (PRTB) no episódio.

A ação começou em 2005, ocasião em que Marçal chegou a ser preso temporariamente, quando tinha 18 anos. Em 2010, ele foi condenado a quatro anos e cinco meses de reclusão por furto qualificado (artigo 155, do Código Penal) pela Justiça Federal. Um recurso só foi analisado pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) em 2018. Em razão da demora para o tribunal apreciar o caso, houve prescrição punitiva - ou seja, Marçal, embora considerado culpado, não cumpriu a pena.

Procurado, Marçal não se manifestou sobre o episódio. Nesta campanha, ele já afirmou na saída da gravação de um podcast na zona Sul de São Paulo que ganhava R$ 350 "de um cara" apenas para consertar computadores. "Ano que vem, que é 2025, vai fazer 20 anos disso. Eu ganhava R$ 350 trabalhando para esse cara. Ele me colocava para consertar computador e pedia algumas coisas. Lá na sentença está escrito que eu não auferi lucro nenhum. E desafio. Ache alguma coisa que eu ganhei com isso que eu vou imediatamente fazer um Pix pagando. Fui processado durante 13 anos de forma injusta", disse o candidato.

A investigação apontou ainda que o grupo fazia uso de dois softwares para enviar mensagens por e-mail e infectar o computador das vítimas. A partir da lista de endereços eletrônicos capturados por Marçal, o primeiro programa enviava mensagens "spam" que continham um malware. Quando o usuário digitava dados da conta bancária no computador, eles eram direcionados para o e-mail dos criminosos.

Em sua defesa na época, o ex-coach afirmou que trabalhava apenas com a manutenção dos computadores e fornecia listas de e-mails para Danilo sem saber que eram utilizados para um crime. No entanto, trechos do Acórdão do TRF-1 mostram que as próprias declarações de Marçal foram na contramão de suas alegações de inocência.

Isso porque, em um interrogatório policial, o ex-coach acusou um terceiro investigado de querer participar do "esquema montado por Danilo", o que mostra, conforme o colegiado, que Marçal tinha consciência de que se tratava de uma atividade criminosa. O despacho ainda aponta que, como prestador de serviços de manutenção de computadores, o ex-coach tinha conhecimento em informática suficiente para entender do que se tratava.

        Por que Pablo Marçal irrita tanto Bolsonaro

Candidato a prefeito de São Paulo pelo nanico PRTB, o ex-coach e influencer Pablo Marçal conseguiu em poucos meses incomodar Bolsonaro em sua hegemonia de modo que nenhum dos outros pretendentes conseguiu.

Aécio Neves (PSDB), João Doria (PSDB), João Amoêdo (ex-Novo), Sergio Moro (União Brasil) e até mesmo o ex-ministro Abraham Weintraub (sem partido) e o finado Olavo de Carvalho. Todos tentaram, sem sucesso, ser alternativa, tecendo críticas ao bolsonarismo dentro da direita.

Marçal, ao contrário, causou um rebuliço dentro do bolsonarismo e no núcleo da campanha de Ricardo Nunes (MDB) à Prefeitura de São Paulo. Nos últimos dias, Carlos e Eduardo, além do próprio Jair Bolsonaro, iniciaram uma campanha para minar a popularidade do ex-coach, que cresce nas pesquisas.

O candidato do PRTB em São Paulo dá de ombros. Agradece a Bolsonaro e diz que ele só não o apoia por causa de acordos entre o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e Nunes, um clássico político do Centrão que foi opositor do bolsonarismo ao ser vice de Bruno Covas em 2020 e que pulou o muro recentemente.

A questão é que, enquanto Nunes parece cada vez mais com Celso Russomano (Republicanos), candidato apoiado por Bolsonaro em São Paulo há quatro anos e derrotado por Covas, Marçal tem cada vez mais cara e focinho do ex-presidente e da anti-política que consagrou o bolsonarismo em 2018.

O ex-coach atrai o eleitor totalmente desesperançoso com a política. E faz aquilo que essa parcela da população gostaria de fazer: xinga, ofende e bota o dedo na cara de políticos de carreira. Exatamente o que fez Bolsonaro entre 2014 e 2018, quando derrotou Fernando Haddad (PT), Marina Silva (Rede) e especialmente Geraldo Alckmin (então no PSDB). Assim como Nunes, Alckmin se vendia como candidato da direita, com apoio de todos os partidos do Centrão.

De quebra, Marçal ainda controla as redes sociais de modo muito mais consciente do que fazia Carlos Bolsonaro e sua estética “cafofo do Osama” que marcou a campanha de 2018. E ainda consegue se dizer independente da política tradicional, algo que Jair não pode fazer desde que casou com o Centrão para evitar o pior em seu governo.

Marçal irrita Bolsonaro porque entendeu o que o bolsonarismo é. Difícil dizer até onde irá na eleição em São Paulo, mas mostrou que a nova direita pode procurar candidatos sem o carimbo do ex-presidente.

        Por que o crescimento de Marçal é tão ruim para Bolsonaro?

O crescimento expressivo de Pablo Marçal (PRTB), demonstrado na pesquisa Datafolha nesta quinta-feira (22), é uma péssima notícia para o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seu clã.

Não apenas porque Marçal ultrapassou numericamente – mas em empate dentro da margem de erro – o candidato que Bolsonaro e seu grupo apoiam, o prefeito Ricardo Nunes (MDB).

O pior é mostrar que Bolsonaro não tem o condão de transferir votos de quem simpatiza com ideias que o elegeram em 2018 e construíram seu apoio e votos na corrida eleitoral de 2022.

Marçal conquistou, em um momento ainda precoce da corrida à Prefeitura, intenção de voto de eleitores que escolheram Bolsonaro em 2022 (21%) e daqueles que votaram também no governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), escolhido candidato por Bolsonaro, mas que já ganhou fôlego como político próprio.

O ex-coach conquista os votos usando as mesmas técnicas que o bolsonarismo usou: forte atenção a redes sociais, polêmica, frases desconcertantes, ataques e um apelo à antipolítica. É, na verdade, um pupilo muito mais genuíno do método que construiu o próprio Bolsonaro do que Ricardo Nunes.

A família Bolsonaro já acusou o golpe: nos últimos dias, os filhos do ex-presidente e o próprio Jair trocaram farpas com Marçal nas redes sociais.

Caberá a Bolsonaro entrar em campo com muito mais força se quiser eleger seu candidato na maior cidade do país. Se quiser defender seu poder como cabo eleitoral, Bolsonaro precisa passar no teste de provar ao eleitor que sabe quem representa melhor suas próprias ideias.

Não importa o que a propaganda eleitoral diga, o eleitor que optou por Bolsonaro no passado agora escolhe Marçal.

 

        Bolsonaro tenta afastar Pablo Marçal, mas coach reforça laços com clã. Por Guilherme Mazieiro

Nessa primeira semana em que oficialmente começou a corrida à prefeitura de São Paulo, a família Bolsonaro adotou um posicionamento mais firme em prol da reeleição de Ricardo Nunes (MDB) e começou a se distanciar do coach Pablo Marçal (PRTB). Nos últimos dias, membros do clã passaram a fazer postagens reforçando o apoio ao prefeito. No entanto, Marçal fez publicações junto com Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e usando o discursos bolsonarista para indicar que tem proximidade com o grupo.

No acordo político oficial, Nunes agregou 11 partidos na sua candidatura, a maior parte do centrão. Entre os partidos, o PL que abriga Bolsonaro e o indicado a vice, Coronel Mello Araújo (PL). Na pré-campanha, Bolsonaro flertou com a candidatura de Marçal, candidato que dialoga com o mesmo eleitorado bolsonarista e tem habilidade no uso e amplificação de conteúdos por redes sociais.

Na terça, 20, o perfil do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), publicou um vídeo de Bolsonaro pedindo voto para Nunes. "Temos algumas coligações como em São Paulo, estamos coligados com o MDB. Vamos apoiar Ricardo Nunes para reeleição", disse.

Em outra postagem, na conta de Bolsonaro, Marçal comentou: "Pra cima capitão. Como você disse: eles vão sentir saudades de nós". A conta de Bolsonaro respondeu: "Nós? Um abraço". Nesta quinta, 22, Marçal postou um stories da publicação em que fez o comentário pedindo aos seus 12,9 milhões de seguidores que "por favor, com respeito comentem na foto do presidente". Em outra postagem, disse que doou R$ 100 mil para campanha de Bolsoanro em 2022 e disse que o ajudou "com os influenciadores, te ajudei no digital, fiz você gravar mais de 800 vídeos. Por te ajudar, entrei para a lista de investigados da PF. Se não existe o nós, seja mais claro".

Em meio ao embate, Eduardo fez uma postagem nesta quarta, 21, chamando Marçal de “arregão” por não participar de uma entrevista com um aliado bolsonarista, Paulo Figueiredo, e não fazer a defesa contra o comunismo. Na sequência, citou a reportagem do jornal O Estado de S. Paulo que indica a suspeita de relação de auxiliares da campanha de Marçal, na cúpula do PRTB, envolvidos com o PCC.

“Cada um faz o seu julgamento. Mas já começa a perder um pouco dessa moral para ficar chamando os outros de cheirador”, disse Eduardo citando afirmações infundadas que Marçal faz sobre o adversário Guilherme Boulos (Psol) para tentar relacioná-lo ao uso de cocaína.

Menos de 24 horas depois, Marçal publicou no Instagram uma foto com Eduardo, marcando o deputado na publicação e agradecendo pela “luta contra os comunistas”. No post, ele também agradece ao deputado por tê-lo recebido em seu gabinete e ter dado “conselhos preciosos”, mas sem indicar quando a foto foi tirada.

“Nunes e Boulos não representam os nossos princípios e valores. Já que o PL tirou o Salles, assistam o que nós iremos fazer aqui na capital do futuro. deixa que eu resolvo aqui. O Valdemar Costa Neto não representa o anseio dos conservadores de São Paulo”, disse Marçal.

Ao final, afirmou que o deputado “será o nosso senador por São Paulo”. As eleições para o Senado serão em 2026.

        Chamado de 'retardado mental', Carlos Bolsonaro diz que processará Marçal, mas apoiará quem for ao 2º turno contra Boulos

O vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ), filho de Jair Bolsonaro (PL), tem demonstrado posições ambíguas em relação à eleição para a prefeitura de São Paulo. Essa oscilação ocorre após a pesquisa Datafolha indicar o crescimento de Pablo Marçal (PRTB). Na quinta-feira (22), Carlos mencionou a possibilidade de apoiar Marina Helena (Novo). Já nesta sexta-feira (23), ele afirmou que apoiaria qualquer candidato que enfrentasse Guilherme Boulos (PSOL) no segundo turno, insinuando uma possível aliança com Marçal. No entanto, ele também anunciou que pretende processar o empresário goiano.

“Esqueçam os rótulos e emoções. Assim como temos que tirar Boulos, queremos também ideias defendidas de todos os postulantes. Quem for no segundo contra o soldado do Lula estarei lá mesmo que me neguem e me 'escrotizem', sinceramente, sem eu nem chegar perto do que me rotulam e mentem”, escreveu Carlos no X, antigo Twitter.

Pouco depois, ele postou que acionará a Justiça contra Marçal. “Acionarei a Justiça através de meu advogado, Antônio Carlos, devido a crimes contra minha honra, injúria e difamação cometidos por Pablo Marçal e também para provar as inverdades ditas em recentes oportunidades [...] Por fim, independente de quem vá ao segundo turno o apoiarei desde que seja contra Boulos, soldado do Lula (PT)”, escreveu.

A decisão de processar Marçal foi tomada após o empresário associar as críticas que recebeu do Clã Bolsonaro a uma possível influência do vereador, a quem chamou de "retardado mental" durante conversa com jornalistas. No entanto, Marçal afirmou que tenta preservar a relação com Carlos "em respeito ao capitão".

Pesquisa Datafolha divulgada esta semana coloca Marçal empatado tecnicamente com Boulos e o candidato à reeleição Ricardo Nunes (MDB), dentro da margem de erro, com 23%, 21% e 19% das intenções de voto, respectivamente.

 

Fonte: Metrópoles/Terra/g1/Brasil 247

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