Consumo de carne processada aumenta risco
de diabetes, indica estudo com milhões de pessoas
As manchetes dos
jornais estão alertando que comer "um sanduíche de presunto por dia"
aumenta o risco de diabetes tipo 2 — mas os especialistas dizem que não é tão
simples assim.
Um estudo realizado
com quase 2 milhões de pessoas de 20 países diferentes encontrou uma relação
entre a doença e carnes vermelhas e processadas, como bifes, bacon e salsichas.
Embora a pesquisa
tenha sido bem feita, as descobertas apresentam nuances — e não devem causar
medo ou pânico.
É sensato limitar a
ingestão, de acordo com as diretrizes de uma alimentação saudável, eles dizem,
mas o resultado do estudo não deve levar as pessoas a eliminar a carne do
cardápio.
• Relação não é prova
A pesquisa, publicada
na revista acadêmica The Lancet Diabetes and Endocrinology, tem uma limitação
inevitável: não pode provar que a carne causa diabetes, porque é impossível
descartar totalmente todos os outros possíveis fatores de risco, como outros alimentos
que as pessoas que participaram do estudo consumiram, e o estilo de vida delas.
"Os autores
tentaram controlar outros fatores de risco associados ao aumento do risco de
desenvolver diabetes tipo 2, incluindo maior peso corporal, tabagismo, consumo
de álcool e baixa ingestão de legumes e verduras", afirmou Duane Mellor,
da Associação Britânica de Nutricionistas (BDA, na sigla em inglês).
Havia alguns dados
faltando sobre o efeito do histórico familiar e da circunferência abdominal,
que podem estar associados ao diabetes, mas os pesquisadores dizem estar
confiantes na relação que encontraram.
Além disso, estudos
como este dependem de os participantes dizerem a verdade e se lembrarem com
precisão do que comeram.
Isso significa que as
descobertas devem ser totalmente descartadas?
Não, de jeito nenhum.
O estudo contribui para uma visão geral de que alimentos — e em que quantidade
–— podem nos fazer bem ou mal.
"Este é um estudo
importante que, apesar da inevitável natureza observacional das evidências, é
muito bem feito", afirmou Naveed Sattar, professor da Universidade de
Glasgow, na Escócia, especialista em medicina cardiometabólica.
"Os dados sugerem
que cortar carnes vermelhas e processadas da dieta pode não só proteger as
pessoas de doenças cardíacas e derrames, mas também de diabetes tipo 2, uma
doença em ascensão em todo o mundo."
• Câncer de intestino
No estudo, consumir
duas fatias grossas de presunto (50g) ou um bife pequeno (100g) por dia parecia
ser um risco.
As conclusões sobre
frango e outras carnes brancas foram menos claras.
O NHS, serviço público
de saúde britânico, já aconselha as pessoas que comem mais de 90g (peso após
cozimento) de carne vermelha ou processada por dia a reduzir para 70g, porque
os especialistas acreditam que consumir muita carne processada pode causar câncer
de intestino.
A Agência
Internacional de Pesquisa sobre o Câncer coloca na mesma categoria de risco que
o tabagismo e o amianto.
A carne processada foi
modificada, para dar sabor ou prolongar seu prazo de validade.
As substâncias
químicas e métodos utilizados — como defumar, curar ou adicionar sal ou
conservantes — podem ser um fator.
E embora a carne seja
uma boa fonte de proteínas, vitaminas e minerais, às vezes também contém muita
gordura saturada, que tem sido associada a níveis elevados de colesterol no
sangue, um fator de risco para doenças cardíacas.
• Níveis de açúcar no sangue
"Nossa pesquisa
fornece a evidência mais abrangente até o momento de uma associação entre o
consumo de carne processada e carne vermelha não processada e um risco futuro
maior de diabetes tipo 2", afirmou a pesquisadora principal do estudo, Nita
Forouhi, professora da Universidade de Cambridge, na Inglaterra.
"Ela reforça
recomendações para limitar o consumo de carne processada e carne vermelha não
processada para reduzir os casos de diabetes tipo 2 na população."
O diabetes tipo 2
consiste em níveis elevados de açúcar no sangue devido à produção insuficiente
de um hormônio chamado insulina pelo organismo — ou pelo fato de a insulina que
ele produz não funcionar corretamente.
Os fatores de risco
incluem:
• Obesidade ou excesso de peso;
• Hipertensão arterial;
• Etnia;
• Histórico familiar.
Duane Mellor alerta
que as pessoas que estão considerando reduzir o consumo de carne, devem
garantir que continuem ingerindo nutrientes vitais suficientes, como ferro e
vitamina B12.
"É importante, ao
considerar reduzir ou retirar um tipo de alimento da dieta, que qualquer
alimento substituto forneça os mesmos nutrientes para manter uma dieta saudável
de uma forma geral", explica.
Boas fontes de
vitamina B12 incluem:
• Leite;
• Queijo;
• Ovos;
• Extrato de levedura fortificado;
• Cereais matinais fortificados;
• Produtos à base de soja fortificados.
Fonte: BBC News
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