Nos
EUA, empresários temem que Donald Trump jogue o país em uma recessão
Nos Estados Unidos, empresários temem que o presidente Donald Trump jogue o país em uma recessão.
Wall Street demonstrou
preocupação logo na abertura. Os principais índices da Bolsa de Valores
começaram o dia em baixa. Os investidores avaliavam a repercussão das últimas
ações da guerra tarifária.
Larry
Fink, presidente do BlackRock, o maior fundo de investimentos do mundo, disse à
rede americana CNBC que acredita em uma desaceleração econômica até que haja
mais confiança e que a pausa de 90 dias nas tarifas recíprocas para todos os
países, exceto a China, vai provocar uma
incerteza mais longa, e afirmou:
"Acho
que estamos muito perto de uma recessão, se já não estivermos em uma”.
No fim
da manhã, a Bolsa começou a subir. Foi pouco antes de a porta-voz da Casa
Branca afirmar que Donald Trump está otimista em fechar um acordo com a
China. Ela afirmou que, mesmo depois da retaliação da China, os Estados
Unidos vão manter a taxa sobre importados da China em 145%. Em uma rede social,
Trump postou:
"Estamos
indo muito bem na nossa política tarifária. Estou muito animado pela América e
pelo Mundo”.
A Bolsa
de Valores fechou em alta em uma das semanas de maior oscilação de sua
história. A cada dia sem acordos sobre as tarifas, cresce a incerteza com
o abastecimento de produtos que veem de outros países. E a preocupação não
é só dos investidores. A confiança do consumidor americano na economia atingiu
o nível mais baixo desde 1952. É o que mostra uma pesquisa da Universidade de
Michigan, feita dos dias 25 de março a 8 de abril. O índice ficou abaixo
inclusive do que previa o mercado financeiro.
Comerciantes
também estão ansiosos. Um, de Chinatown, em Nova York, acha que pequenos
negócios podem não sobreviver ao impacto das tarifas.
A
preocupação chegou ao Banco Central americano. Uma diretora da instituição
afirmou ao jornal “Financial Times” que os mercados financeiros continuam
funcionando dentro da normalidade por enquanto. Mas admitiu que o FED está preparado para intervir e tentar estabilizar o
mercado de dívida pública, se ele ficar em desordem.
A China
detém US$ 760 bilhões em títulos americanos - atrás apenas do
Japão. Uma das preocupações é que a China se desfaça de maneira maciça
desses papéis, obrigando os Estados Unidos a pagarem juros mais altos para se
financiarem.
¨
Trump dobra a aposta no tarifaço em meio a pressões
internas e o medo de recessão
O
presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a defender sua política
tarifária nesta sexta-feira, 11, em meio à intensificação do conflito comercial
com a China e sinais de desaceleração econômica global.
Em
publicação na rede Truth Social, Trump afirmou: “Estamos indo muito bem na
nossa POLÍTICA DE TARIFAS”, acrescentando: “Muito empolgante para a América e
para o mundo!!! Está avançando rapidamente. DJT.”
As
declarações ocorrem em um momento de crescente tensão entre Washington e
Pequim. De acordo com o jornal britânico The Guardian, o governo
chinês respondeu às ações norte-americanas com novas tarifas sobre produtos dos
Estados Unidos, elevando as alíquotas para até 125%.
Em
comunicado oficial, o Ministério das Finanças da China classificou a estratégia
dos EUA como “intimidação unilateral e coerção” e afirmou que os novos aumentos
tarifários “já não teriam qualquer significado econômico” e “entrariam para a
história como uma piada da economia mundial”.
O
cenário econômico interno norte-americano também demonstra sinais de pressão.
Pesquisa realizada pela Universidade de Michigan revelou que o sentimento do
consumidor nos Estados Unidos caiu 11% no mês, alcançando 50,8 pontos — o
segundo menor nível já registrado, inferior apenas ao período mais crítico da
pandemia de Covid-19.
O
levantamento também apontou que as expectativas de inflação dos consumidores
aumentaram, com projeção de alta de 6,7% nos preços no próximo ano, a maior em
quatro décadas.
Apesar
dos dados negativos, a Casa Branca manteve seu discurso de confiança na
condução da economia.
Em
declaração à imprensa, a porta-voz Karoline Leavitt afirmou: “Há um grande
otimismo nesta economia. Confiem no presidente Trump. Ele sabe o que está
fazendo. Esta é uma fórmula econômica comprovada.”
Nos
mercados financeiros, a semana foi marcada por forte volatilidade. O índice
S&P 500 encerrou o período com alta de 5,7%, o melhor desempenho semanal
desde novembro de 2023.
No
entanto, a recuperação ocorreu após uma queda acumulada de 12% em quatro
sessões, seguida por uma alta abrupta de quase 10% em um único dia,
evidenciando o clima de incerteza entre investidores.
Líderes
do setor financeiro manifestaram preocupação com o atual cenário. Larry Fink,
CEO da BlackRock, declarou à rede CNBC que a economia pode já estar em
recessão: “Acho que estamos muito próximos de uma recessão, se é que já não
estamos nela”.
Segundo
ele, a decisão do governo norte-americano de suspender temporariamente novos
aumentos tarifários por 90 dias não elimina a instabilidade.
Jamie
Dimon, presidente do JPMorgan Chase, também comentou sobre o tema: “A maior
economia do mundo está enfrentando uma turbulência considerável”. Ele observou
que os impactos nas expectativas de consumo são significativos.
A
postura do presidente Trump também gerou questionamentos no campo político.
Pouco antes de anunciar mudanças em sua política tarifária, Trump publicou na
Truth Social que seria “UMA ÓTIMA HORA PARA COMPRAR!!!”.
A
postagem levantou suspeitas sobre possível uso de informações privilegiadas. Em
resposta, os senadores democratas Elizabeth Warren e Chuck Schumer enviaram uma
carta à Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC), solicitando uma
investigação formal.
“É
inconcebível que, enquanto as famílias americanas se preocupam com sua
segurança financeira durante esta crise econômica totalmente fabricada pelo
presidente, insiders possam ter lucrado ativamente com a volatilidade do
mercado e possivelmente cometido fraude financeira contra o público americano”,
afirmaram os parlamentares no documento.
No
setor privado, os efeitos da guerra comercial se manifestam de forma concreta.
A montadora Tesla, liderada por Elon Musk, anunciou a suspensão de pedidos na
China para os modelos Model S e Model X fabricados nos Estados Unidos.
Embora
a empresa não tenha emitido explicações, analistas do setor atribuem a decisão
ao aumento expressivo das tarifas de importação, que inviabilizariam a
comercialização desses veículos no mercado chinês.
Na
Europa, especialistas monitoram os desdobramentos da disputa entre as duas
maiores economias do mundo. Mesmo com o crescimento de 0,5% do Produto Interno
Bruto do Reino Unido em fevereiro, analistas alertam que o desempenho pode não
se sustentar caso a instabilidade global se prolongue.
A
guerra tarifária, segundo previsões, tende a afetar investimentos e o comércio
internacional, com reflexos diretos sobre economias dependentes do fluxo global
de capitais.
Enquanto
a Casa Branca mantém o discurso de que a atual política econômica conduzirá a
uma nova fase de prosperidade, indicadores internos, reações de mercados e
críticas internacionais sugerem que os efeitos das medidas adotadas ainda estão
longe de consenso. A continuidade da guerra comercial e seus impactos sobre o
cenário macroeconômico permanecem no centro do debate econômico global.
¨ Nos EUA, consumidores
aderem ao hábito brasileiro de parcelar compras
A guerra
tarifária tem potencial para aumentar a inflação nos Estados Unidos - e também para estimular uma forma de
compra que os brasileiros conhecem muito bem.
A
inflação nos Estados Unidos tem um histórico bem mais comportado do que
conhecemos no Brasil. De 2015 até 2020, por exemplo, o acumulado do ano
não passou muito de 2%. Por isso, a meta do Banco Central americano é de 2%.
Com a
crise na cadeia de suprimentos que assolou o mundo depois da pandemia, os
preços nos Estados Unidos saíram de controle, e a inflação atingiu um pico de
9,1% em junho de 2022. Nos últimos três anos, foi caindo aos poucos e só
recentemente voltou a ficar abaixo dos 3%.
O susto
que os americanos tiveram com a alta dos preços ainda está longe de ser os
brasileiros sentíamos na época da hiperinflação na virada dos anos
1980 para 1990, mas já foi o suficiente para mudar os hábitos do consumidor
americano nas compras pela internet. Os parcelamentos sem
juros - nossos velho conhecido e que nos Estados Unidos é novidade -
começa a ganhar força. A diferença é que o parcelamento não é feito pelo cartão
de crédito e, sim, por empresas conhecidas como “Buy Now, Pay Later” -
ou “Compre Agora, Pague Depois” –, que debitam as parcelas direto da conta
do cliente.
O
professor Filipe Campante, da Universidade Johns Hopkins, chama esse fenômeno
de latino-americanização das compras:
“Uma
parte desse processo de parcelamento é que a gente conhece no Brasil, a pessoa
que não tem talvez o recurso para comprar, para fazer uma compra mais volumosa
de uma vez, mas a parcela cabe no orçamento. Então, você tem o surgimento desse
tipo de serviço para procurar atingir essa parcela. Então, acho que são
reflexos desse aumento da incerteza. Essa ideia de que amanhã pode ser pior,
então melhor fazer o hoje e aí tentar fazer da forma que der”.
A Cody
costumava comprar tudo no cartão de crédito, mas recentemente aderiu aos
serviços de parcelamento. Primeiro fez um teste:
“Fiz
uma compra pequena de US$ 50, porque desconfiei dos juros zero e pensei que ia
ter alguma taxa extra no final. Mas funcionou, fiz compras maiores e achei
prático que as parcelas são debitadas direto da conta bancária. E quando você
quer uma coisa, quer na hora”, conta.
Segundo
o Banco Central americano, o valor total de empréstimos para compras parceladas
nos Estados Unidos era de US$ 2 bilhões em 2019. Em dois anos, cresceu 12 vezes
e chegou a US$ 24,2 bilhões. Em 2023, subiu ainda mais até chegar a US$ 75
bilhões.
Os
consumidores mais jovens são os que mais escolhem essa forma de pagamento,
porque são os que têm a renda mais baixa, especialmente quem tem de 25 a 34
anos. A Cody tem 29 anos e ainda mantém a maior parte dos gastos no cartão de
crédito. O parcelamento fica para aquelas compras que ela poderia adiar, mas
não consegue resistir.
“Quando
a gente se endivida no cartão de crédito, que tem juros altos, em 30 dias, a
dívida fica enorme. Então, com a economia do jeito que está, é melhor pagar em
parcelas fixas. Dói menos no bolso”, diz.
“Isso
pode parecer piada, mas eu acho que é verdade mesmo. Eu acho que assim, eu como
brasileiro nascido e criado no Brasil, como eu vim nos anos 1980, 1990, me
sinto realmente com o nível de experiência que os americanos não têm”, afirma
Filipe Campante.
¨
BRICS criticam tarifaço dos EUA e defendem
multilateralismo comercial
Os
países membros do BRICS manifestaram preocupação com os efeitos da política de
“tarifas recíprocas” adotada pelos Estados Unidos e defenderam a preservação do
sistema multilateral de comércio baseado em regras.
A
posição foi expressa durante a segunda reunião do Grupo de Contato do BRICS
sobre Questões Econômicas e Comerciais, realizada por videoconferência entre
quinta e sexta-feira, conforme informou o Ministério do Comércio da China
(MOFCOM) no sábado.
O
grupo, criado em 2011, serve como espaço para troca de opiniões entre os
membros do BRICS — Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — sobre temas
econômicos, comerciais e de investimentos. A reunião teve como foco central os
impactos das tarifas americanas nas cadeias globais de produção e comércio.
Durante
o encontro, a delegação chinesa afirmou que as tarifas impostas pelos Estados
Unidos comprometem o sistema internacional de comércio, causam disrupções nas
cadeias industriais e de suprimentos e geram efeitos prolongados sobre a
economia global.
De
acordo com a declaração oficial do MOFCOM, a China classificou essas medidas
como práticas de unilateralismo e protecionismo comercial.
Ainda
segundo o ministério, a China defendeu o papel do BRICS como plataforma para
fortalecer a cooperação entre mercados emergentes e países em desenvolvimento.
O grupo
também foi citado como instrumento para promover reformas no sistema de
governança econômica global e para ampliar a liberalização e a facilitação do
comércio e dos investimentos.
Os
demais membros expressaram preocupações semelhantes.
Segundo
a nota oficial do MOFCOM, diversos representantes afirmaram que as tarifas
adotadas pelos Estados Unidos violam regras da Organização Mundial do Comércio
(OMC), comprometem o crescimento da economia global e prejudicam os interesses
dos países em desenvolvimento.
O grupo
se comprometeu a manter a coordenação entre seus membros e a continuar
discutindo a questão por meio de canais econômicos e comerciais multilaterais.
A
declaração conjunta dos BRICS também indicou que os países buscarão apresentar
uma posição unificada contra medidas unilaterais que, segundo eles, enfraquecem
o sistema multilateral de comércio. O objetivo, segundo o documento, é
“responder colaborativamente às atuais tensões comerciais globais”.
Paralelamente
à reunião, o Ministro do Comércio da China, Wang Wentao, realizou uma
videoconferência com o vice-presidente do Brasil e Ministro do Desenvolvimento,
Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin.
De
acordo com o MOFCOM, os dois discutiram o aprofundamento da cooperação
econômica e comercial bilateral e trocaram impressões sobre as implicações da
política tarifária americana. Também reafirmaram a importância de fóruns
multilaterais como o BRICS e o G20 para coordenar ações entre países em
desenvolvimento.
Enquanto
os países do BRICS discutiam as repercussões das tarifas dos EUA, o Ministro de
Minas e Energia do Brasil, Alexandre Silveira, se preparava para uma missão
oficial à China.
Segundo
a Bloomberg, Silveira buscará parcerias na área de armazenamento de energia com
empresas chinesas, incluindo a Huawei Technologies e a montadora BYD.
A
agenda inclui ainda reuniões com a State Grid Corporation of China, com o
objetivo de tratar de projetos de transmissão elétrica que possam reduzir
gargalos na infraestrutura energética brasileira.
Nos
Estados Unidos, as dificuldades relacionadas à implementação da nova política
tarifária também foram registradas. Segundo reportagem da CNBC, uma falha no
sistema da Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA impediu temporariamente a
aplicação de isenções tarifárias para cargas já em trânsito.
O
código utilizado por transportadores para declarar essas isenções ficou
inoperante por mais de 10 horas na sexta-feira, afetando mercadorias que
estavam em processo de desembarque.
A falha
foi corrigida no mesmo dia, mas, de acordo com a Alfândega, a situação está sob
revisão. A medida temporária de isenção se aplica a cargas já embarcadas antes
da entrada em vigor das novas tarifas, incluindo aquelas com destino à China e
a outros países afetados por adiamentos tarifários de até 90 dias.
A
crescente aplicação de tarifas tem provocado reações no setor logístico dos
Estados Unidos. O diretor executivo do Porto de Los Angeles, Gene Seroka,
declarou na sexta-feira que as importações podem cair a partir de maio como
resposta direta às medidas protecionistas.
Em
entrevista à Reuters, Seroka afirmou que o comércio global será impactado à
medida que empresas tentam compreender os efeitos das novas regras. Ele
projetou uma redução de pelo menos 10% nas importações do porto no segundo
semestre de 2025.
As
movimentações dos países do BRICS e os desdobramentos nos Estados Unidos
ocorrem em um momento de crescente fragmentação do comércio internacional, com
implicações diretas sobre as cadeias globais de valor.
O grupo
BRICS reforçou o compromisso de intensificar o diálogo e a cooperação entre
seus membros para mitigar os impactos de políticas comerciais unilaterais e
preservar a estabilidade econômica global.
Fonte:
g1/O Cafezinho

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