terça-feira, 1 de outubro de 2024

Pepe Escobar: A ONU não irá proteger Gaza, mas pode adotar um “Pacto para o Futuro”?

A incapacidade - e a relutância - das Nações Unidas e de seu Conselho de Segurança de pôr fim ao genocídio transmitido ao vivo desacreditou a organização além de qualquer possibilidade de redenção. Qualquer resolução séria que inflija consequências sérias à psicopatologia mortífera de Israel sempre foi, continua sendo e sempre será vetada pelo Conselho de Segurança da ONU.

Muda a cena para o espetáculo surrealista deste último domingo e segunda em Nova York, logo antes da 79ª Assembleia Geral anual, onde chefes de estado se reuniram para proferir seus altissonantes discursos no pódio da AG.

Os estados-membros da ONU adotaram um Pacto para o Futuro, com 143 votos a favor, apenas sete contra e 15 abstenções. O diabo está nos detalhes, é claro: quem de fato o redigiu e aprovou, como ele conseguiu chegar ao topo da agenda enquanto o mundo ardia em fogo, e por que ficamos com uma (gigantesca) pulga atrás da orelha?

A máquina de relações públicas da ONU anunciou alegremente que o principal resultado da Cúpula para o Futuro é a oportunidade, que só ocorre uma vez a cada geração, de guiar a humanidade em uma nova direção rumo a nosso futuro em comum”.

Belas palavras, mas, para sermos claros, elas nada se parecem com o filosófico e inclusivo conceito chinês de “comunidade para um futuro compartilhado para a humanidade”, bem diferente do futuro comum imaginado pela plutocracia atlanticista que domina o chamado “jardim”, que nada faz além de produzir ordens para a “selva”.

¨      Como China, Rússia e Irã votaram

Dmitry Polyansky, o Primeiro Vice-Representante da Rússia na ONU, resumiu bem a iniciativa:

“As Nações Unidas infringiram seus próprios princípios para agradar a um grupo de delegações do “belo jardim”, que usurparam as conversações desde o início. E a maioria dos representantes da “selva”, como uma manada, não conseguiu reunir coragem suficiente para protestar e defender seus direitos. Eles terão que assumir responsabilidade pelas consequências”.

Alguns diplomatas, falando em caráter não-oficial e em tons de voz estarrecidos, confirmaram que, na verdade, não houve qualquer negociação prévia, e que o Pacto foi adotado consensualmente, com um mínimo grupo de apenas sete países, todos da “selva” – tentando opor Resistência, rejeitando o texto preparado sem acrescentar emendas de última hora.

Até mesmo o novíssimo Presidente da Assembleia Geral da ONU, Philemon Yang, tentou fazer alguma coisa. Os que resistiam propuseram que Yang adiasse a votação até que todos os dispositivos fossem consensualmente aprovados – mais especificamente as que tratam de desarmamento e da interferência das ONGs no trabalho do Alto-Comissário da ONU para Direitos Humanos.

Mas o “jardim” aplicou Pressão Máxima para forçar a aprovação do Pacto, e aqueles que resistiam vieram com muito pouco, tarde demais.

Uns poucos diplomatas africanos queixaram-se, longe dos microfones, que seus países eram contrários ao Pacto, mas que haviam votado “por solidariedade”. Isso é linguagem cifrada para ser intimidado ou simplesmente subornado pelo “jardim”.

Chegamos então ao ponto central. Tanto a Rússia quanto o Irã votaram “não”. E a China se absteve.

Em suma, três importantes estados-civilização, que são também os principais motores da integração da Eurásia e talvez os três membros dos BRICS de maior importância, rejeitaram o Pacto fabricado pelo jardim. A razão central, embora não explicitamente expressa, é que esse Pacto, em última análise, é contra os BRICS e contra a ascensão de um segundo polo global.

O que entrega o jogo são as várias referências diretas, no Pacto, à “ordem internacional baseada em regras”, o mantra do Hegêmona. O Pacto foi habilmente arquitetado para isolar os maiores estados-civilização e para dividir os BRIC de dentro para fora: o clássico Dividir para Dominar.

Mas o verdadeiro pacto para o futuro da Maioria Global em breve começará a ser seriamente discutido, não na ONU, mas na cúpula anual dos BRICS a ser realizada em Kazan no próximo mês.

¨      Gaza quem?

Apesar do fato de o prédio da ONU estar recebendo a reunião do maior grupo de lideranças mundiais deste último ano, absolutamente nada está sendo feito quanto ao genocídio em Gaza e à expansão de Israel em território libanês. Essa estarrecedora inatividade com relação à crise humanitária de maior urgência de todo o globo surpreendeu até mesmo os “abastecedores do jardim” do Golfo Pérsico, que tendem a obedecer às ordens dos Estados Unidos na maior parte dos assuntos.

O Secretário-Geral Adjunto para Questões Políticas e Negociações do Conselho de Cooperação do Golfo, o Dr. Abdel Aziz Aluwaisheg, chegou a escrever um editorial apontando o equívoco do Presidente Joe Biden dos Estados Unidos, que “afirma que o sistema internacional está funcionando e que os Estados Unidos são o principal responsável por mantê-lo unido, sendo o único chefe de estado a subir ao pódio para fazer uma afirmação desse teor.

Em sua coluna intitulada “O equivocado discurso final de Biden na Assembleia Geral da ONU”, Aluwaisheg revela: “Em encontros de alto-nível realizados em Nova York nestes últimos dias, como a “Cúpula do Futuro”, os participantes concordaram que o sistema da ONU está avariado e necessitando de uma reforma, ou até mesmo de uma reformulação geral”. Ele acrescenta:

“Do ponto de vista de uma superpotência com direito a veto, o sistema está funcionando. Essa potência é capaz de bloquear qualquer iniciativa que não for de seu agrado e aceitar as decisões que ela aprova. O que poderia ser melhor? Mas, o mundo parece diferente da perspectiva de refugiados indefesos, amontoados em frente da ruína de suas casas, tendo perdido muitos familiares e sujeitos a serem mortos a qualquer momento por uma força militar imensamente superior, que a ONU não consegue conter e ainda conta com o apoio de seus membros mais poderosos”.

·        A ONU se torna um anexo de Davos

Todo o prédio das Nações Unidas, na cidade de Nova York, foi reduzido à condição de monolito celebrando Desânimo e Cinismo, na medida que se torna meridianamente claro a qualquer corpo diplomático que o genocídio de Gaza, e agora sua extensão ao Líbano, têm o pleno apoio do sindicato do crime ocidental, liderado pelo Sionismo Anglo-Americano.

À essa luz, qualquer votação das Nações Unidas deve ser vista como irrelevante. Toda a estrutura da ONU deveria ser vista como irrelevante.

Quem ler o Pacto o fará a seu próprio risco. Ele não passa de uma salada de palavras recheada de chavões, misturando sinalizações virtuais desenfreadas a velhas políticas requentadas tiradas do arquivo morto, como o Acordo Comercial TPP da era Obama, somado a um programa de Digitalização Global originalmente redigido, em tese, pelos governos da Alemanha e da Namíbia.

Os verdadeiros redatores, entretanto, foram os suspeitos de sempre: a Big Tech e a Big Finance, a gendarmes da “ordem internacional baseada em regras”.

O futuro antevisto para a humanidade – diferentemente do espírito comunitário chinês – é uma apoteose da Quarta Revolução Industrial, originária da gangue de Davos, personificada pelo Fórum Econômico Mundial (WEF).

Foram esses os atores que supervisionaram as inexistentes “negociações” prévias, datando do fatídico acordo de cooperação entre a ONU e o WEF, assinado em julho de 2019, meses antes da era Covid.

Esse acordo, como observou o analista Peter Koenig, é “ilegal”, “uma vez que a ONU não pode firmar acordos com ONGs, embora isso seja irrelevante em uma ordem mundial baseada em regras”. Na vida real, ele mostra a ONU como um mero anexo de Davos.

Bem-vindos, portanto, a seu futuro distópico, que hoje já foi até posto no papel. Não no papel, erro nosso, isso é tão obsoleto: em script digital.

Haveria uma saída? Sim. A Resistência Global, pouco a pouco, vem se esculpindo na forma de uma força transcontinental coesa, devendo grande parte de seu alcance e profundidade a uma China cada vez mais assertiva. Os BRICS estão firmemente resolvidos a desenvolver poderosos nós interconectados capazes de conduzir a Maioria Global rumo a um futuro equitativo, habitável e não-distópico. Todos os olhos em Kazan, em outubro.

¨      Países árabes aumentam envio de petrodólares para investimento em IA no Vale do Silício

Países ricos em petróleo, como Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Kuwait e Catar, têm buscado diversificar suas economias e estão recorrendo a investimentos em tecnologia como forma de proteção.

Fundos soberanos do Oriente Médio estão emergindo como principais financiadores dos "queridinhos" da inteligência artificial (IA) do famoso Vale do Silício.

Só no ano passado, o financiamento para empresas de IA por soberanos do Oriente Médio aumentou cinco vezes, de acordo com dados da Pitchbook, citados pela CNBC.

A MGX, um novo fundo de IA dos Emirados Árabes Unidos sediada em Abu Dhabi, estava entre os investidores que buscavam uma fatia da última arrecadação de fundos da OpenAI esta semana, disseram duas fontes à mídia.

No início desta semana, a MGX fechou uma parceria em infraestrutura de IA com a BlackRock, Microsoft e Global Infrastructure Partners, visando levantar até US$ 100 bilhões (R$ 543 bilhões) para data centers e outros investimentos em infraestrutura.

O Fundo de Investimento Público (PIF, na sigla em inglês) da Arábia Saudita está em negociações para criar uma parceria de US$ 40 bilhões (R$ 217 bilhões) com a empresa de capital de risco dos EUA Andreessen Horowitz. Ele também lançou um fundo dedicado à IA chamado Saudi Company for Artificial Intelligence, ou SCAI.

A Mubadala dos Emirados Árabes Unidos também investiu na rival da OpenAI, Anthropic, e está entre os investidores de risco mais ativos, com oito negócios de IA nos últimos quatro anos, de acordo com a Pitchbook.

O Oriente Médio está usando as parcerias do Vale do Silício para atingir suas próprias metas: tornar-se uma potência em IA e diminuir sua dependência econômica do petróleo, cuja demanda global está projetada para atingir o pico nesta década.

Para os EUA, ter fundos soberanos investindo em empresas norte-americanas, e não em adversários globais como a China, tem sido uma prioridade geopolítica. Ao mesmo tempo, ignoram as preocupações com direitos humanos, uma vez tão reivindicada pelo governo norte-americano, em nome dos novos negócios.

Jared Cohen, do Goldman Sachs Global Institute, disse que há uma quantidade desproporcional de capital vindo de nações como Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos, e uma disposição para implantá-lo ao redor do mundo. Ele os descreveu como "Estados oscilantes geopolíticos".

<><> EUA aumentam apoio aéreo 'defensivo' no Oriente Médio e Pentágono adverte Irã contra ataques

O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin, alertou o Irã e grupos aliados contra ataques a norte-americanos no Oriente Médio.

Dizendo que os EUA "mantêm a capacidade de mobilizar forças em curto prazo", o major-general Pat Ryder, secretário de imprensa do Pentágono, disse que o grupo de porta-aviões USS Abraham Lincoln permanecerá no teatro do Comando Central dos EUA, que cobre o Oriente Médio, e que o Grupo Anfíbio Pronto USS Wasp "continuará a operar no Mediterrâneo Oriental".

"O secretário Austin deixou claro que, caso o Irã, seus parceiros ou seus representantes usem esse momento para atingir pessoal ou interesses americanos na região, os Estados Unidos tomarão todas as medidas necessárias para defender nosso povo", disse o major-general Pat Ryder, secretário de imprensa do Pentágono, em um comunicado neste domingo (29).

A presença naval dos EUA é apoiada por aviões de caça e ataque, e "reforçaremos nossas capacidades de apoio aéreo defensivo nos próximos dias", acrescentou o major-general.

A declaração não detalha quais novas aeronaves serão enviadas para a região, detalhou o The Times of Israel.

¨      Papa Francisco critica ataques de Israel no Líbano: 'Vão além da moralidade'

Papa Francisco criticou, neste domingo (29), os ataques aéreos israelenses no Líbano que mataram o líder do Hezbollah Sayyed Hassan Nasrallah. Segundo o pontífice, os ataques militares na região vão "além da moralidade".

No voo de volta para Roma da Bélgica, onde se encontrou com representantes da comunidade católica, Franciso disse que os países não podem "exagerar" no uso de suas forças militares.

"Mesmo na guerra, há uma moralidade a salvaguardar", disse ele. "A guerra é imoral. Mas as regras da guerra dão a ela alguma moralidade."

Respondendo a uma pergunta durante uma coletiva de imprensa a bordo sobre os últimos ataques de Israel, o papa de 87 anos disse: "A defesa deve ser sempre proporcional ao ataque. Quando há algo desproporcional, você vê uma tendência de dominar que vai além da moralidade."

Francisco, como líder de 1,4 bilhão de católicos do mundo, frequentemente faz apelos pelo fim de conflitos violentos, mas geralmente é cauteloso em parecer determinar os agressores. Ele falou mais abertamente nas últimas semanas sobre as ações militares de Israel em sua guerra de quase um ano contra o Hamas.

Na semana passada, o papa disse que os ataques aéreos israelenses no Líbano eram "inaceitáveis" e pediu à comunidade internacional que fizesse todo o possível para interromper os combates.

Em uma coletiva de imprensa em 28 de setembro, ele condenou as mortes de crianças palestinas em ataques israelenses em Gaza.

Francisco disse no domingo que fala ao telefone com membros de uma paróquia católica em Gaza "todos os dias". Ele disse que os paroquianos lhe contam sobre as condições no local e "também a crueldade que está acontecendo lá".

¨      Israel foi informado da chegada de Nasrallah por um espião iraniano, diz mídia

Um informante iraniano avisou Israel sobre a sua localização, disse o jornal francês Le Parisien, citando uma fonte de segurança libanesa.

Segundo informações do jornal, antes do assassinato do líder do movimento libanês Hezbollah, Hassan Nasrallah, as autoridades de Israel receberam informações sobre sua chegada aos subúrbios sul de Beirute.

"Os israelenses foram informados à tarde por um informante iraniano sobre a chegada iminente do líder xiita", diz o artigo.

Por sua vez, a agência de notícias Reuters especifica que Nasrallah pode ter sido morto pela onda de choque da explosão.

"Seu corpo não apresentava ferimentos diretos e parecia que a causa da morte foi um traumatismo de tipo concussão causado pela força da explosão", disseram duas fontes da agência.

<><> Intensificação do conflito entre Israel e o Hezbollah

Desde o ataque do movimento palestino Hamas a Israel em outubro de 2023, o movimento xiita libanês Hezbollah tem bombardeado o norte do país regularmente, de acordo com as autoridades israelenses, matando dezenas de civis.

O Hezbollah atribui isso à solidariedade com o povo palestino e diz que os bombardeios vão cessar com o fim da guerra na Faixa de Gaza, que era controlada pelo Hamas.

Após as explosões de milhares de dispositivos de comunicação por todo o Líbano em 17 e 18 de setembro, matando dezenas de pessoas e ferindo cerca de 3.000, ocorreu outra escalada, com o aumento da intensidade dos bombardeios de ambos os lados.

A Força Aérea Israelense lançou ataques massivos contra assentamentos no sul e no leste do Líbano a partir da manhã de 23 de setembro, anunciando uma operação ofensiva chamada Flechas do Norte.

Dezenas de vilarejos e vários assentamentos regionais foram atacados. De acordo com observadores, não havia ataques tão intensos desde a Segunda Guerra do Líbano, em 2006.

Em 27 de setembro, como resultado de um ataque aéreo a Beirute, o secretário-geral do Hezbollah, Hassan Nasrallah, foi morto junto com vários comandantes de alto escalão.

As tensões estão aumentando em meio a declarações de que Israel está preparando uma operação terrestre no Líbano.

 

Fonte: Tradução de Patricia Zimbres, em Brasi 247/g1/Sputnik Brasil

 

Nenhum comentário: