Mídias contra-hegemônicas são perseguidas
por expor a hipocrisia da narrativa ocidental
Em entrevista à
Sputnik Brasil, analistas apontam que as mentiras do Ocidente não mais
convencem boa parte do mundo graças à atuação de mídias contra-hegemônicas,
sediadas sobretudo em países do Sul Global.
Em meados de setembro,
os EUA impuseram novas sanções à Rússia, desta vez mirando a Sputnik e sua
empresa-mãe, o grupo de comunicação Rossiya Segodnya.
Poucos meses antes,
Israel enviou soldados para fechar o escritório da Al Jazeera em Tel Aviv,
confiscando os equipamentos da emissora catari. Os veículos atingidos têm em
comum o fato de atuarem na divulgação do outro lado dos conflitos nos quais
esses dois países estão envolvidos.
Em entrevista à
Sputnik Brasil especialistas analisam se a censura se tornou a nova frente de
batalha entre as potências hegemônicas e o Sul Global e como as ações de EUA e
Israel afetam a imagem do Ocidente como suposto bastião da liberdade de
expressão.
Bruno Lima Rocha,
cientista político, jornalista profissional e professor de relações
internacionais, destaca a presença da cobertura jornalística em temas que são
espinhosos para o Ocidente, como o conflito ucraniano e a ofensiva israelense
na Faixa de Gaza.
Ele chama atenção para
o impacto gerado pela morte de mais de 100 jornalistas, incluindo profissionais
da Al Jazeera, em Gaza.
"É muito
impactante, porque o pessoal está cobrindo em Gaza não só de colete azul, mas
escrito Press [imprensa] em letras gigantes. Ainda assim as chamadas armas
inteligentes de Israel atingem os e as colegas", afirma.
Rocha diz que a
censura à Al Jazeera se deu porque as imagens transmitidas das ações de Israel
minavam o "discurso moralmente superior" de Tel Aviv e faz um
paralelo com a perseguição aos judeus durante o nazismo.
"Você imagina os
campos de concentração [nazistas], as câmaras de gás sendo transmitidas em
tempo real, é a mesma coisa. Não há como manter hegemonia sem discurso
moralmente superior ou hipocritamente com moral superior e creio que isso o
Ocidente está perdendo."
Rocha afirma que a
hegemonia cultural do Ocidente por vezes afeta as narrativas de profissionais
da imprensa, e alerta que "quem não tem o mínimo de treinamento e está sob
hegemonia cultural do Ocidente em todos os níveis confunde propaganda com informação
e retórica com fato".
"A gente tem uma
confusão enorme. Porque, em tese, quem faz mídia e mídia hegemônica nos países
ocidentais reproduz o discurso do Departamento de Estado [dos EUA]. Mas tendo
mídia contra-hegemônica [...] a gente consegue confrontar com o fato do que é a
propaganda de guerra."
·
EUA e países da OTAN promovem 'jornalismo
de guerra'
Para João Cláudio
Pitillo, professor de história e pesquisador do Núcleo de Estudos das Américas
(Nucleas) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), "não só
existe uma guerra de retórica em andamento, como os países da OTAN perceberam
que seus veículos de imprensa não são mais os principais formadores de opinião
no Sul Global".
"A calamidade que
se tornou a guerra da Ucrânia e o massacre israelense em Gaza e agora no Líbano
tem feito com que a popularidade dos EUA, França e Inglaterra entre numa
espiral de declínio. Porque esses países não se pronunciam contra a guerra, se
tornaram fomentadores desse conflito e não conseguem oferecer uma solução nem
política nem militar, já que a guerra a qual eles decidiram se somar não
consegue vitórias no campo de batalha, muito menos entre as sociedades",
afirma.
Ele ressalta que
países capitalistas ocidentais nunca defenderam verdadeiramente a liberdade de
expressão, e avalia que o que fizeram na realidade foi usar esse conceito como
"uma retórica política, que servia muito mais para enquadrar, punir e perseguir
países que se opunham à hegemonia desse capitalismo central".
"A política
desses países, hoje liderada pela OTAN, é uma política de dupla moral. Aquilo
que eles pregam para esses países que são vistos como inimigos, não é seguido
internamente. A perseguição aos veículos russos mostra que os EUA têm perdido a
batalha pela verdade, estão vendo as suas mentiras não convencerem mais boa
parte do mundo."
Na avaliação de
Pitillo, o trabalho desenvolvido por veículos como a rede Al Jazeera, Sputnik,
HispanTV e agência SANA há anos expõe a hipocrisia da retórica ocidental, desde
a invasão do Iraque. Segundo ele, com o avanço da Internet isso ficou ainda mais
nítido e hoje elas conseguem massificar o contraponto às mentiras produzidas
por EUA e OTAN.
"Os EUA perderam
o controle. Por mais que os EUA e os países da OTAN tenham o algoritmo das
principais redes sociais trabalhando a seu favor, eles não conseguem mais
dominar o trânsito dessas informações que são contra-hegemônicas."
Pitillo acrescenta que
as tentativas dos EUA e aliados de "calar canais que hoje têm um trabalho
contra-hegemônico mostra que esse trabalho está sendo muito importante, que ele
está incomodando".
"Durante muitos
anos, esses países tiveram um controle hegemônico da informação [...] E as
mídias contra-hegemônicas, que hoje estão situadas nos países do Sul Global,
cumprem um papel importantíssimo para mobilizar a opinião da população contra
esse uso da informação por parte dos EUA, que lidera essa corrida, como arma.
Isso se tornou o jornalismo de guerra", explica.
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A falsa liberdade de imprensa dos EUA
Hugo Albuquerque,
jurista e editor da Autonomia Literária, destaca que os EUA começaram "a
usar as grandes redes de hard news como arma política nos anos 90, com a guerra
do Golfo, a segunda guerra do Iraque".
"Eles usaram
desse artifício sob os auspícios da sociedade de imprensa e da globalização
para interferir no mundo. Então claro que os outros países que se desenvolveram
na globalização passaram a criar também os seus canais de comunicação
estratégica dando a sua visão a respeito dos fatos globais. Isso se tornou uma
ameaça porque é óbvio que uma coisa é você falar em globalização e a CNN ou a
Fox News ser a grande rede de TV global, que não é global coisa alguma, são
redes americanas. Outra coisa é a Rússia, os árabes e os chineses começarem a
ter os seus equivalentes da CNN dando a sua perspectiva das coisas",
afirma.
Ele sublinha que isso
demonstra o quanto a "história de liberdade de imprensa e globalização dos
Estados Unidos é falsa".
"O que a gente
está vendo agora em jogo, como eles não têm como disputar a narrativa, eles
estão eliminando os canais que dariam uma visão alternativa do mundo. Por isso,
lançam sanções, cortam sinal. É um fato curioso no mundo, mas o que está em jogo
é uma luta dos EUA para manter essa hegemonia unipolar e eles, junto com seus
aliados, estão jogando com todas as armas que têm. Uma delas é cortar canais, o
sinal, sancionar grupos de mídia, contradizendo todo o discurso de liberdade
imprensa", conclui.
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Kremlin denuncia 'caçada' a correspondentes russos feita pelas Forças Armadas
ucranianas
Os correspondentes de
guerra russos são alvo de tentativas premeditadas de assassinato por parte das
Forças Armadas ucranianas, que não poupam meios para atingir esse fim, disse o
porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.
Em uma declaração
nesta segunda-feira (30), o porta-voz revelou que "os nossos
correspondentes trabalham em condições de grande perigo, são alvo de tentativas
premeditadas de eliminação. As Forças Armadas ucranianas não poupam meios para
atingir esse fim e, a julgar por tudo, abriram uma caçada a muitos dos nossos
repórteres heroicos", destacou Peskov à mídia russa.
O porta-voz
presidencial apelou a todos os correspondentes de guerra para que sejam
"extremamente cuidadosos".
O embaixador russo nas
Nações Unidas em Genebra, Gennady Gatilov, lembrou ao gabinete do Alto
Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) que desde
2014, nas mãos do regime ucraniano, muitos repórteres russos perderam a vida, e
instou o órgão a condenar "a caça aos jornalistas desencadeada por
Kiev".
¨ ONG Repórteres Sem Fronteiras é um 'braço de mídia da OTAN',
afirma pesquisador
A ONG Repórteres Sem
Fronteiras (RSF) é essencialmente "um braço de mídia da OTAN [Organização
do Tratado do Atlântico Norte], um braço de mídia do Ocidente coletivo",
disse nesta segunda-feira (30) à Sputnik o pesquisador do Instituto de Estudos
Europeus Stevan Gajic.
Isso explica por que a
RSF tem pressionado a União Europeia para que repreenda a Sérvia por abrigar os
escritórios das mídias russas Sputnik e RT, afirmou ele.
A organização publicou
um projeto intitulado "Monitor da Propaganda" para "travar uma
batalha para promover o jornalismo confiável". Ela acusa a Sputnik e a RT
de espalharem "desinformação" e "narrativas do Kremlin" nos
Bálcãs.
"Isso é uma pura
projeção freudiana. Eles estão acusando os outros do que eles mesmos estão
fazendo", disse Gajic sobre as alegações de "propaganda russa".
"Onde estava o
Repórteres Sem Fronteiras quando a Rádio Televisão da Sérvia foi bombardeada,
em 1999, e quando 16 funcionários da TV foram assassinados a sangue frio? Não
há credibilidade em pessoas como essas, que não agiram quando deveriam", frisou
o pesquisador.
As narrativas da RSF e
de outros sobre a Sputnik e a RT serem silenciadas têm o objetivo claro de
"anular qualquer tipo de informação vinda do outro lado, para calar,
silenciar todos que não estão de acordo com a narrativa da OTAN. E isso é
especialmente problemático para a OTAN e para essas organizações fantoches,
como jornalistas do Repórteres Sem Fronteiras, em tempos de guerra",
enfatizou Gajic.
Quanto às alegações da
RSF sobre a RT espalhar "narrativas do Kremlin" na Sérvia, Gajic
destacou que "o sentimento pró-russo entre os sérvios não tem nada a ver
com o Kremlin, e tudo a ver com Washington e a OTAN".
"Os sérvios agora
são mais militantes pró-russos porque estivemos em uma guerra contra a OTAN, e
na verdade a OTAN estava conduzindo e ainda está conduzindo uma agressão
híbrida contra nós. Acho que isso fala muito sobre a falsidade das premissas e das
conclusões [feitas pela RSF]. Você pode ver quão irrealistas são essas pessoas
e o quanto elas estão completamente desconectadas da realidade, e como não
estão realmente fazendo uma pesquisa profunda para entender o que está
acontecendo e como isso acontece", resumiu Gajic.
¨ Estados Unidos trabalham para evitar novo 6 de janeiro após as
eleições presidenciais, diz governo
Em 6 de janeiro de
2021, apoiadores do ex-presidente Donald Trump, que havia perdido o pleito para
Joe Biden, atacaram o Capitólio durante uma tentativa de golpe contra os
resultados eleitorais na época.
O governo dos Estados
Unidos realiza esforços neste ano para evitar outro evento histórico como o
motim de 6 de janeiro, que ocorreu em 2021 e desafiou os resultados da eleição
presidencial no país. É o que contou nesta segunda-feira (30) o subsecretário
de Inteligência do Departamento de Segurança Interna, Kenneth Wainstein.
"Provavelmente
haverá alguns que tentarão agir por conta própria para tentar perturbar o
processo eleitoral após o dia da eleição. Claro, vimos isso em 6 de janeiro, e
muitos esforços estão sendo feitos para garantir que isso não aconteça
novamente este ano", declarou.
Wainstein enfatizou
que os norte-americanos têm o direito de contestar os resultados de uma eleição
nos EUA se tiverem dúvidas sobre a correção do voto.
De acordo com o
Departamento de Justiça dos EUA, desde 6 de janeiro de 2021, mais de 1.488
indivíduos foram acusados em quase todos os 50 estados dos EUA por crimes
relacionados ao motim no Capitólio, e quase 550 desse total respondem por
criminalmente por agredir ou obstruir as forças de segurança dos EUA.
No dia 6 de janeiro de
2021, após a derrota do então presidente dos EUA, Donald Trump, um grupo de
seus apoiadores invadiu o Capitólio dos EUA na tentativa de interromper a
contagem dos votos do Colégio Eleitoral pelo Congresso.
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Em discurso, Zelensky admite que linha de frente está 'muito, muito difícil'
para tropas ucranianas
Vladimir Zelensky
afirmou que o cenário para suas tropas na linha de frente do conflito é
"muito, muito difícil" e que as forças ucranianas têm que fazer tudo
o que podem durante o outono europeu.
Nesta segunda-feira
(30), o líder ucraniano comentou a situação de suas tropas à Reuters.
"Relatórios sobre
cada um dos nossos setores de linha de frente, nossas capacidades, nossas
capacidades futuras e nossas tarefas específicas. A situação é muito, muito
difícil", disse Zelensky, em um discurso noturno em vídeo, referindo-se a
uma reunião de mais de duas horas e meia com seus principais comandantes.
Também nesta segunda,
o Ministério da Defesa da Rússia informou que unidades do agrupamento de tropas
russo Tsentr (Centro) libertaram o povoado de Nelepovka, na República Popular
de Donetsk (RPD).
O analista político
britânico Anatol Lieven, em um artigo para o portal UnHerd, disse hoje que os
políticos ocidentais reconhecem cada vez mais que o conflito na Ucrânia só pode
ser encerrado por meio de negociações e de um acordo com a Rússia.
"A Ucrânia não
pode expulsar […] a Rússia de […] nenhum território. […] Pelo contrário, agora
é o Exército ucraniano que está recuando lentamente em Donbass", afirmou
Lieven, conforme noticiado.
¨ Boris Johnson acusa Macron de usar a crise migratória para
'punir' o Reino Unido pelo Brexit
O ex-primeiro-ministro
do Reino Unido, Boris Johnson, acusou o presidente francês Emmanuel Macron em
seu livro intitulado "Unleashed" (Liberto) de usar a crise migratória
indocumentada que assolou o Reino Unido nos últimos anos para "punir"
Londres por optar por sair da União Europeia (UE).
"Parecia pelo
menos possível para mim que ele [Emmanuel Macron] estava usando o problema como
arma [...] e discretamente permitindo que os migrantes passassem em números
suficientes para enlouquecer o público britânico e minar um dos fatos mais importantes
do Brexit — que tínhamos retomado o controle de nossas fronteiras", disse
Johnson no livro citado pelo The Times em um artigo publicado nesta
segunda-feira (30).
A maioria dos
migrantes indocumentados chega ao Reino Unido da França pelo canal da Mancha, e
Paris está supostamente permitindo que isso "enlouqueça o público
britânico", acrescentou Johnson. Ele também afirmou que Macron
"acreditava que o Reino Unido deveria ser punido pelo Brexit" e pode
ter usado a crise dos pequenos barcos para fazer isso.
No entanto, Johnson
conseguiu se "vingar" do líder francês ao persuadir os Estados Unidos
a fazer o pacto de submarino nuclear no âmbito do AUKUS com o Reino Unido, em
2021, fazendo com que a Austrália abandonasse um possível acordo de compra de
submarinos da França.
Imigrantes sem
documentos geralmente buscam qualquer oportunidade de entrar no Reino Unido e
solicitar o status de refugiado, que fornece acesso a suporte financeiro e
programas sociais. As autoridades do Reino Unido gastam vários milhões de
libras por dia em acomodações para refugiados em hotéis. Mais de 25.000
imigrantes sem documentos chegaram ao Reino Unido pelo canal da Mancha desde o
início de 2024, de acordo com dados do Ministério do Interior.
Em 2016, 51,8% dos
eleitores do Reino Unido escolheram encerrar a filiação do país à UE, enquanto
48,1% votaram para permanecer na união. Em 31 de janeiro de 2020, o país
finalmente deixou o bloco após 47 anos de filiação. O período de transição
durou até 31 de dezembro de 2021, durante o qual o Reino Unido não era mais um
membro do bloco, mas permaneceu sendo um membro do mercado único e da união
aduaneira da UE. Londres e Bruxelas conseguiram negociar um acordo de comércio
e cooperação durante esse período.
Fonte: Sputnik Brasil
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