sábado, 24 de agosto de 2024

Sem querer, confusão na compra de obuseiros pelo Exército pode trazer benefícios para o Brasil

O processo de compra do Exército Brasileiro (EB) de 36 obuseiros autopropulsados sobre rodas enfrenta um novo desafio: um embate no governo federal. De um lado, um dos assessores mais próximos de Luiz Inácio Lula da Silva, Celso Amorim. Do outro, o ministro da Defesa, José Mucio. Por sorte, a solução parece beneficiar a indústria brasileira.

Após decidir pelo modelo Atmos, da israelense Elbit Systems, a força terrestre foi criticada por cidadãos, parlamentares e até mesmo membros do Executivo por escolher uma artilharia ligada ao conflito que ocorre na Faixa de Gaza.

Agora, o assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Celso Amorim, intercedeu junto ao presidente Lula pelo embargo da compra. "A decisão da corte internacional recomenda não colaborar com Israel nesse aspecto militar", justificou Amorim à CNN.

Para tentar destravar essa compra, o ministro da Defesa, José Mucio, interviu junto à Elbit Systems para que o obuseiro seja produzido em solo brasileiro, no Rio Grande do Sul.

Entrevistados pela Sputnik Brasil, especialistas destacaram a oportunidade de aprofundar os investimentos na Base Industrial de Defesa (BID) brasileira.

A Elbit Systems concorreu em um edital aberto do EB e venceu frente a outros modelos — como o SH-15, da chinesa Norinco, o Ceasar, da francesa Nexter, e o eslovaco Zuzana 2, da Konstrukta, representado no certame pela empresa de defesa tcheca Excalibur.

Para melhor pontuar no edital, as companhias deviam preencher requisitos que vão desde o tipo de munição usada, tempo do primeiro disparo à perspectiva de nacionalização de algum componente e transferência de tecnologia.

Conforme adiantado pela Sputnik Brasil, a proposta da Excalibur era a que mais previa transferência tecnológica para o Brasil. O modelo, contudo, não atendia a uma característica importante, mas opcional: a capacidade de ser transportado no cargueiro KC-390 da Embraer, o que pode ter pesado contra sua escolha.

"Historicamente, as Forças Armadas brasileiras sempre buscaram cooperações que envolvessem transferência tecnológica", diz Issam Menem, doutor em estudos estratégicos internacionais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e pesquisador do Núcleo de Pesquisa sobre as Relações Internacionais do Mundo Árabe (Nuprima), à Sputnik Brasil.

É o caso de grandes projetos recentes, como o caça Gripen da Força Aérea Brasileira (FAB) com a sueca Saab, os submarinos Riachuelo com a Naval Group, da França, e as fragatas Tamandaré, com a alemã Thyssenkrupp.

"O desenvolvimento e a produção desse tipo de produto, que tem embutido alta tecnologia, acaba estimulando um sistema nacional de inovação e gerando empregos altamente qualificados", diz Menem. "No entanto, essa transferência de tecnologia nem sempre ocorre."

<><> Produção nacional do Atmos pode reviver a BID

Thiago Rodrigues, professor de relações internacionais do Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense (Inest/UFF), explica à Sputnik Brasil que o Brasil possuía uma tradição na construção de veículos militares desde a década de 1970. No entanto, com a chegada de Fernando Henrique Cardoso à presidência, ocorreu o desmonte da BID e dos demais setores industriais.

"Esse incentivo à indústria de defesa fez parte da política geral para as Forças Armadas e para a projeção de poder do Brasil na América do Sul nos primeiros governos Lula."

Hoje, o governo Lula tenta aprimorar a indústria de defesa brasileira, assim como fez em seus primeiros mandatos. Dessa forma, a vinda da produção do Atmos para o Brasil pode girar a chave para finalizar de vez esse acordo.

Hoje, o parque industrial da Defesa Nacional representa 4,80% do produto interno bruto (PIB), o que gera cerca de 3 milhões de postos de trabalho, direta e indiretamente. Entretanto, isso está longe de ser o ápice da indústria bélica brasileira. Nos anos 1970 e 1980, o Brasil chegou a ocupar o oitavo lugar mundial em exportação de produtos de defesa, diz Menem.

"Naquele período, o Brasil se destacou bastante exportando blindados, foguetes, munição, armamento leve e, posteriormente, aviões. E o benefício não é só econômico. O Brasil instrumentalizou a indústria bélica nacional para negociar um acesso ao petróleo árabe em meio aos choques de 1973 e 1979."

"Ainda temos instalado um importante setor industrial que não teria dificuldades para absorver projetos da indústria bélica de alta escala", declara Menem.

Rodrigues ressalta que em qualquer país a indústria de defesa tem sempre um principal cliente: o Estado. "Se não há investimento do próprio Estado na compra de equipamentos produzidos pela indústria nacional, não existe indústria de defesa."

"Antes de a indústria de defesa de qualquer país ter projeção internacional e se transformar em uma multinacional importante, ela se solidifica com as compras governamentais do próprio país."

<><> Comandante do Exército Brasileiro pede mais 'helicópteros e mísseis' a Lula

Em meio às discussões do governo para cortar gastos previstos para o ano que vem, o comandante do Exército Brasileiro, general Tomás Paiva, afirmou que a força precisa de mais equipamentos.

O chefe da força fez o pedido em discurso na cerimônia do Dia do Soldado na manhã desta quinta-feira (22) em Brasília. O evento contou com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O presidente foi acompanhado pelos ministros de Estado da Defesa, José Múcio Monteiro, e do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Marco Amaro.

"[...] esse espírito perseverante e de doação integra à carreira tem sido mantido incólume, mesmo sob os escritos das restrições orçamentárias que atingem a todos. Apesar disso, não nos descuidamos da imperiosa necessidade de mais helicópteros, de mais blindados e mais mísseis", afirmou o comandante, citado pelo jornal O Globo.

Múcio Monteiro tem pedido a Lula mais recursos para as Forças Armadas enquanto a equipe econômica discute contingenciamento do orçamento federal. A equipe do Ministério da Fazenda também avalia cortes de R$ 25,9 bilhões em despesas dos ministérios para o próximo ano, relata a mídia.

Ainda segundo o jornal, o ministro levou ao presidente dados de uma série histórica de 2014 a 2024 que mostram que este foi o ano no qual a pasta contou com o menor valor voltado ao pagamento de despesas discricionárias e de recursos direcionados para investimentos de projetos estratégicos — agora incluídos no Novo PAC.

Os números do Ministério da Defesa apontam perda de 47% de recursos da pasta ao longo de uma década.

Os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso, atual presidente da Corte, Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes também marcam presença no evento.

Durante o evento, militares que participaram dos Jogos Olímpicos e atuaram na tragédia climática do Rio Grande do Sul foram agraciados pela Medalha do Exército Brasileiro.

O Dia do Soldado, comemorado tradicionalmente em 25 de agosto, homenageia o nascimento de Luiz Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias, patrono do Exército Brasileiro.

 

•        Plano brasileiro de IA e tecnologias com apoio federal são apresentadas em conferência em São Paulo

Nesta quinta-feira (22), durante conferência da Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (Anpei), em São Paulo, foi apresentado o Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA) 2024–2028.

Considerado um marco no desenvolvimento tecnológico do país, o plano visa transformar o Brasil em referência global no uso de inteligência artificial (IA), especialmente no setor público.

Com investimento previsto de R$ 23 bilhões nos próximos quatro anos, o PBIA pretende otimizar a entrega de serviços públicos e promover a inclusão social por meio de soluções avançadas em IA.

Entre as metas estabelecidas está a criação de um supercomputador de alta performance, essencial para processar grandes volumes de dados e desenvolver algoritmos sofisticados.

Posteriormente, no evento, outras atividades foram realizadas e tecnologias apresentadas.

Mark Esposito, economista e professor suíço, afirmou que o aumento da tecnologia nas periferias está gerando um volume de dados sem precedentes. Segundo ele, essa expansão permite que mais pessoas usem os dados de forma competitiva, "o que pode acelerar significativamente o desenvolvimento em áreas como saúde, educação e infraestrutura".

Esposito, que lecionou em instituições como a Universidade de Harvard e a Universidade Estadual do Arizona, além de ter sido consultor do governo dos Estados Unidos no tema da IA, destacou a importância desse fenômeno para impulsionar a inclusão digital no geral.

A Eve Air Mobility, subsidiária da Embraer, também revelou informações sobre o primeiro protótipo de seu táxi voador elétrico (eVTOL).

A aeronave, que será utilizada para voos curtos e urbanos, deve entrar em operação comercial em 2026.

O protótipo foi construído na unidade da Embraer em Gavião Peixoto, São Paulo, e ainda passará por testes e certificações. O modelo inicial é "não conforme", ou seja, não está completo e será pilotado na versão final.

O eVTOL é movido por motores elétricos e projetado para transportar até quatro passageiros, com possibilidade de futuras versões autônomas que acomodarão seis ocupantes.

<><> Companhias divulgam projetos de robótica patrocinados pelo governo federal

A Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) também destacou o Projeto SUBOT durante a conferência.

O mecanismo autônomo e robótico para inspecionar sistemas elétricos de potência tem a possibilidade de mudar a manutenção e segurança das operações industriais, especialmente no setor de petróleo.

Desenvolvido em parceria com instituições de pesquisa e companhias do setor, o SUBOT usa tecnologia avançada para fazer inspeções detalhadas em ambientes de difícil acesso ou de alto risco, como linhas de transmissão e subestações.

Operando de forma autônoma, o robô é capaz de identificar falhas e anomalias em tempo real, o que reduz custos.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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