sexta-feira, 23 de agosto de 2024

Salem Nasser: ‘Dizem, e mentem… É difícil não acreditar nas mentiras dos EUA’

Mais de uma vez, eu quis escrever um texto que se abrisse com essa frase: “Dizem, e mentem…”. Há muito que se pode dizer começando com essa afirmação. Muitos, de fato, dizem muito e mentem muito.

A frase me acompanha talvez desde a infância, desde a primeira vez em que ouvi a estória, contada como se fosse verdadeira, que se encerra com ela.

Dizia a estória que, em um dos pequenos vilarejos do Líbano – e eu vejo bem que poderia ser aquele de onde provém minha família – havia uma mulher cujos anos haviam passado e que ainda não tinha se casado.

Quando as pessoas se reuniam, nos começos de noite, sendo as aldeias lugares em que a proximidade entre os habitantes se combina com provocações constantes e instâncias de pequena, ou grande, crueldade, alguém inevitavelmente tentava fazer rir os demais provocando a solteirona do vilarejo e dizendo: ‘Você sabe, fulana, as pessoas andam dizendo que vem aí alguém que vai pedir sua mão em casamento.”

Sendo ela mais sábia do que os outros estavam prontos a admitir e tendo, talvez, se rendido diante da passagem do tempo, ela sempre respondia: “Dizem, e mentem…”

Desta vez, a frase me ocorreu de novo quando escutei, de Joe Biden e de seu Secretário de Estado, Antony Blinken, sobre as grandes esperanças que tinham de chegar a um acordo que encerraria a guerra de Gaza.

É muito difícil não acreditar nas mentiras dos Estados Unidos; tanta gente, incluindo políticos, jornalistas, analistas, parece levar tão a sério o que dizem e, se sentimos algo diferente, começamos a duvidar da nossa própria inteligência.

Algo nos diz, porque já aprendemos algo com o tempo passado e com as experiências prévias, que ninguém virá nos propor casamento… mas, ouvindo tanta gente conhecedora repetir a mentira, talvez uma pequena chama de esperança se eleve novamente…

Nossa sábia heroína, no entanto, não se deixaria enganar.

Primeiro, ela notaria que uma das partes do conflito não está negociando. Na quinta-feira, dia 15, em Doha, estavam os americanos, os israelenses, os egípcios e os catarianos. A resistência palestina, representada pelo Hamas, não compareceu porque já tinha aceitado duas propostas apresentadas pelos Estados Unidos, uma delas inscrita em resolução do Conselho de Segurança da ONU e a outra que seria, segundo Joe Biden, a proposta que Israel lhe apresentara. Quem recuou foi Israel e, com eles, os Estados Unidos.

Nossa heroína também veria com interesse o fato de que Estados Unidos, Egito e Catar se apresentam como mediadores entre Israel e Hamas. Isso apesar de terem os americanos, enquanto expressavam sua confiança no processo “negociador”, aprovado 20 bilhões de dólares em ajuda militar a Israel, na proteção de quem estão definitivamente comprometidos, dizem. Em condições normais, onde imperasse a razão, não se poderia ser parte e terceiro neutro ao mesmo tempo.

Já os países árabes, Egito e Catar, estavam ali, como disse alguém, enquanto testemunhas e carimbo, um carimbo árabe para o que Estados Unidos e Israel querem impor aos palestinos.

E, porque se trata apenas de genocídio, não viam os americanos e os israelenses, enquanto parceiros e aliados que discutiam entre si o que imporiam aos outros, urgência em apresentar uma proposta detalhada; resolveram marcar uma nova rodada de “negociações” para dali a uma semana, tempo suficiente para mais alguns massacres.

A não ser que algo milagroso ocorra nos próximos dois dias, não haverá acordo e a guerra seguirá.

Por que a encenação então? perguntaria nossa solteira sábia. Uma razão clara está na intenção de retardar a resposta militar forte que se espera, por parte de Irã e Hezbollah, contra Israel. E logo, quando viesse a resposta, Israel e Estados Unidos poderiam culpar as resistências pela não concretização da paz, que teria estado tão perto.

Porque as pessoas continuarão a dizer, e a mentir, voltaremos várias vezes ao exercício de duvidar…

 

¨      A pressão de Biden sobre Netanyahu por cessar-fogo urgente em Gaza

O presidente dos EUA, Joe Biden, destacou a urgência de alcançar um cessar-fogo em Gaza e de firmar um acordo para a libertação de reféns em conversa com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, segundo a Casa Branca.

Na ligação, realizada na quarta-feira (21/8), com a participação da vice-presidente Kamala Harris, Biden enfatizou a importância de eliminar todos os obstáculos que impedem um acordo com o Hamas.

Biden também reafirmou o compromisso dos EUA em ajudar a defender Israel contra ameaças vindas do Irã, incluindo grupos extremistas apoiados por Teerã, como o Hamas, o Hezbollah e os houthis.

A ligação ocorreu após uma visita diplomática do secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, ao Oriente Médio, onde buscou um acordo que pudesse pôr fim ao conflito.

Na quarta-feira, o gabinete de Netanyahu reiterou que Israel planeja manter tropas em uma faixa de terra ao longo da fronteira entre Gaza e o Egito, conhecida como o "Corredor Filadélfia", caso seja firmado um acordo.

"Israel insistirá no cumprimento de todos os seus objetivos de guerra, conforme definidos pelo gabinete de segurança, incluindo garantir que Gaza nunca mais represente uma ameaça à segurança de Israel. Isso requer a segurança da fronteira sul", afirmou um comunicado.

A questão tornou-se um ponto crítico nas negociações, com o Hamas insistindo até agora na retirada completa das tropas israelenses de Gaza.

O Egito também se opõe à presença de forças israelenses em sua fronteira com Gaza.

Na segunda-feira (19/8), Blinken declarou que Israel aceitou uma "proposta intermediária dos EUA", após uma reunião de três horas com Netanyahu em Jerusalém.

Ele não confirmou à BBC se essa proposta incluía a retirada das tropas israelenses do Corredor Filadélfia, mas a insistência pública de Netanyahu nesse plano parece ter gerado desconforto em Washington.

Um funcionário do governo americano acusou Netanyahu de fazer "declarações maximalistas" que não ajudavam a avançar nas negociações para o cessar-fogo.

Uma nova rodada de negociações sobre o cessar-fogo está programada para ocorrer no Cairo neste fim de semana, com a participação de representantes dos EUA, Israel, Egito e Catar.

Embora o Hamas ainda não tenha confirmado presença, acredita-se que continue recebendo atualizações sobre as negociações por mediadores egípcios e cataris.

Na segunda-feira, um membro do escritório político do Hamas disse à BBC que o grupo já havia concordado com um acordo em 2 de julho por meio de mediadores e, por isso, não precisava de uma nova rodada de negociações ou discutir as novas exigências de Netanyahu.

"Mostramos máxima flexibilidade e positividade", afirmou Basem Naim, membro do Hamas.

Ele acusou Netanyahu de não estar interessado em um cessar-fogo, mas sim em inflamar a região para servir a seus próprios interesses políticos.

Na quarta-feira, em Gaza, pelo menos 50 palestinos foram mortos em ataques aéreos israelenses, de acordo com autoridades de saúde ligadas ao Hamas.

As Forças de Defesa de Israel (FDI) afirmaram ter atingido cerca de 30 alvos em todo o território, incluindo túneis, locais de lançamento de foguetes e um posto de observação.

Entre os alvos estava a escola Salah al-Din, administrada pela ONU na Cidade de Gaza, que as FDI disseram ser usada por operativos do Hamas como esconderijo.

O ataque matou pelo menos quatro pessoas e feriu outras 15, segundo o serviço de Defesa Civil administrado pelo Hamas.

Philippe Lazzarini, chefe da agência de refugiados palestinos da ONU, afirmou que crianças morreram no ataque, algumas delas "queimadas até a morte".

"Gaza já não é mais um lugar seguro para crianças. Elas são as principais vítimas dessa guerra impiedosa", disse Lazzarini, acrescentando que "um cessar-fogo já deveria ter sido alcançado há muito tempo".

Israel lançou sua campanha militar em Gaza após um ataque sem precedentes de militantes armados do Hamas no sul de Israel, em 7 de outubro, que resultou na morte de cerca de 1.200 pessoas e no sequestro de 251 reféns.

Desde então, mais de 40.223 pessoas foram mortas em Gaza, segundo o ministério da Saúde controlado pelo Hamas, que não especifica quantos desses mortos são civis ou combatentes. A ONU informa que a maioria das vítimas eram mulheres e crianças.

Na quarta-feira, Israel e o Hezbollah, grupo militante baseado no sul do Líbano, também trocaram disparos.

Israel relatou ter atingido um depósito de armas do Hezbollah no Vale do Bekaa, no Líbano, durante a noite. O ministério da Saúde do Líbano informou que uma pessoa foi morta e outras 30 ficaram feridas.

Em resposta, o Hezbollah, que é apoiado pelo Irã, afirmou ter lançado foguetes contra posições militares israelenses nas Colinas de Golã.

As autoridades israelenses relataram que duas casas foram atingidas e uma pessoa ficou ferida.

 

¨      Administração Biden não tem estratégia para a Ucrânia; Trump tem, diz congressista dos EUA

Um membro do Comitê de Serviços Armados da Câmara dos Representantes norte-americana criticou a atuação da Casa Branca como sendo incapaz de resolver o conflito ucraniano.

A administração americana de Joe Biden, com a vice-presidente Kamala Harris, fracassou devido à ausência de uma estratégia para o conflito ucraniano, opinou Michael Waltz, membro do Comitê de Serviços Armados da Câmara dos Representantes dos EUA, à Sputnik.

"Ainda não obtivemos, e eu pedi publicamente, privadamente e até mesmo em ambientes confidenciais, uma estratégia real desse governo. E acho que isso tem sido uma falha real", contou Waltz, falando à margem da Convenção Nacional Democrata em Chicago sobre a falta de uma estratégia do atual governo para a Ucrânia.

Por outro lado, disse o também coronel aposentado da Guarda Nacional dos EUA, e que serviu em combate como membro das Forças Especiais do Exército dos EUA, Donald Trump, candidato republicano à presidência dos EUA, tem uma estratégia para instar a Rússia e a Ucrânia a se sentarem à mesa de negociações para pôr fim ao conflito ucraniano.

"Ele deixou claro que dirá ao governo ucraniano que eles precisam se sentar à mesa de negociações ou não haverá mais nada, então acho que ele tem uma estratégia geral em mente para trazer os dois lados à mesa de negociações diplomáticas, de forma razoável, para chegar a uma solução", disse Waltz quando questionado sobre a capacidade de Trump de ajudar a encerrar o conflito na Ucrânia.

O jornal ucraniano The Kyiv Independent informou na quarta-feira (21), citando uma fonte próxima a Vladimir Zelensky, que as autoridades ucranianas querem preparar o terreno nestes próximos meses para possíveis negociações de paz com a Rússia.

¨      Ansiedade por vitória de Trump estimula investimento em startups de defesa europeias

O possível retorno de Donald Trump à Casa Branca tem ajudado a estimular uma onda de investimentos em startups de tecnologia de defesa em toda a Europa, segundo afirmaram fontes da indústria à mídia britânica.

Enquanto trava uma disputa acirrada pela presidência dos EUA contra a candidata democrata e vice-presidente Kamala Harris, o ex-presidente e candidato republicano Donald Trump já ameaçou — mais de uma vez — retirar o país da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) além de garantir que não defenderia aliados que não aumentassem seus orçamentos de defesa.

A imprevisibilidade por trás de um novo possível mandato de Trump, combinada com as tensões estabelecidas pelo conflito ucraniano e a guerra travada por Israel no enclave palestino contra o Hamas, contribuiu para que os gastos militares globais atingissem um recorde de US$ 2,4 trilhões (cerca de R$ 12,6 trilhões) em 2023, de acordo com o Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (SIPRI, na sigla em inglês).

Em junho, o Fundo de Inovação da OTAN (NIF, na sigla em inglês) de US$ 1,1 bilhão (aproximadamente R$ 6,03 bilhões) anunciou parcerias com empresas de capital de risco e startups de defesa em toda a Europa, com o objetivo de reforçar a segurança no continente.

De acordo com a Reuters, a União Europeia (UE) revelou no início deste ano sua primeira estratégia industrial de defesa, comprometendo mais de US$ 1 bilhão (mais de R$ 5,4 bilhões) com a inovação militar especialmente na fabricação de drones, robótica e computação quântica.

Segundo Herbert Mangesius, sócio fundador da Vsquared Ventures, uma das principais investidoras de tecnologia profunda da Europa, "as ameaças de Trump fizeram os Estados europeus pensarem muito diferente sobre investir em suas próprias capacidades e dar contratos, geralmente para startups" para ver "ciclos mais rápidos, experimentação mais ampla e melhores capacidades", ressaltou o investidor.

Ainda segundo a apuração, os investidores ressaltam que as tensões geopolíticas atuais mudaram as percepções dos governos europeus — em especial da Alemanha — para a busca de uma maior independência que promova mudanças estruturais na indústria de defesa e aposte na resiliência ante os novos desafios de guerra eletrônica e uso cada vez mais frequente de drones.

 

Fonte: A Terra é Redonda/BBC News/Sputnik Brasil

 

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