segunda-feira, 26 de agosto de 2024

Saara Ocidental: interferência da França na região mostra arrogância colonialista?

Nesta semana, o presidente da França Emmanuel Macron anunciou o reconhecimento do Saara Ocidental, onde vive o povo saaraui, com território do Marrocos, país que é parceiro do Ocidente. E, mais uma vez, a interferência francesa na soberania da região mostra a arrogância colonialista do país?

Termo originado no latim, autóctone descreve um povo que é originário de um território anteriormente à colonização por estrangeiros. No Brasil, por exemplo, ainda existem cerca de cinco milhões de pessoas consideradas assim e que falam cerca de mil línguas diferentes. E no Saara Ocidental, ainda acontece a luta da última colônia da África, há uma população de quase meio milhão de pessoas que ainda resiste ao imperialismo europeu: o povo saaraui ou povo do deserto. Sob a Frente Polisário, que é uma organização política, fundaram a República Árabe Saaraui Democrática, reconhecida por mais de 80 países — a Organização das Nações Unidas (ONU) considera a região como território ainda não descolonizado.

Nesta semana, o governo do presidente Emmanuel Macron declarou que a França passou a reconhecer o Saara Ocidental como território do Marrocos, o que gerou reações de países como a Argélia, ex-colônia francesa e que retirou os embaixadores de Paris em retaliação. Em comunicado enviado ao rei marroquino Mohammed VI, Macron declarou ainda que "pretende agir em alinhamento com esta posição tanto nacional quanto internacionalmente".

Além disso, Macron quer levar a discussão para o Conselho de Segurança da ONU, no qual possui poder de veto. "Hoje, um consenso internacional cada vez mais amplo está surgindo. A França desempenha plenamente o seu papel em todos os fóruns relevantes, através do seu apoio aos esforços do secretário-geral das Nações Unidas e do seu enviado pessoal. É hora de seguir em frente. Portanto, encorajo todas as partes a unirem-se para um acordo político, que está ao nosso alcance", finalizou.

Historiador e especialista em relações internacionais, o vice-presidente do Instituto Brasil-Palestina Said Marcos Tenório avaliou ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, que Macron trata a questão com total "arrogância colonialista" e, por outro lado, parece também fingir que "desconhece os direitos do povo saaraui.

"O reconhecimento dessa soberania do Marrocos sobre o Saara Ocidental é algo que contraria o direito internacional e também várias decisões de organismos internacionais. Por exemplo, o Tribunal da União Europeia julgou por um longo período essa questão da soberania do Marrocos sobre o Saara Ocidental e ficou decidido que não havia nenhuma comprovação histórica, nem geopolítica, nem de nenhuma ancestralidade que levasse a isso", disse.

O especialista também pontuou que a posição francesa logo foi compartilhada pela Espanha, que também tem grande responsabilidade pela situação no Saara Ocidental. "São coisas que a Frente Polisário vem alertando o mundo. Isso também tem o apoio de mais de 80 países, que reconhecem a República Árabe Saaraui Democrática e é um tema em discussão na ONU. O que o Marrocos faz no território é colonialismo, e é contra isso que o povo do Saara Ocidental luta", disse, ao acrescentar que o Brasil, apesar de não reconhecer a área como um país, considera a Frente Polisário como legítimo representante da luta e das reivindicações da população há mais de 50 anos.

·        Quem controla o Saara Ocidental?

Desde 1991, quando houve um cessar-fogo entre a ala militar da Frente Polisário e o Marrocos, dois terços do território é controlado por Rabat, que tem apoio da França e Estados Unidos, enquanto o restante é administrado pelo povo saaraui, que a ajuda da Argélia.

"A França exerceu um colonialismo predador e muito forte na África. Usurpou o Marrocos, usurpou Camarões, usurpou vários países. Então, esse colonialismo aproxima a França dos planos marroquinos. Paris também é hoje uma das principais potências europeias que se beneficiam das riquezas naturais do Saara Ocidental através de contratos ilegais de pesca, a mineração de potássio, que é o principal insumo para a produção de fertilizantes. E, por outro lado, o rei do Marrocos também tem uma relação política muito próxima com esses políticos da direita francesa", enfatizou.

E enquanto o próprio governo se ocupa e investe recursos para manter o domínio do Saara Ocidental, o especialista lembra que a população marroquina enfrenta muitas dificuldades e é submetida a grande repressão. "Os movimentos democráticos e de direitos humanos do Marrocos vivem sob repressão do rei Mohamed VI. Então, penso que há uma opressão tanto da França quanto da Espanha sobre o povo do Saara Ocidental através do apoio ao Marrocos [...]. Então, há um jogo que envolve a economia, envolve interesses políticos e envolve a chantagem desse ditador marroquino aliado de Israel para pressionar, oprimir e manter o controle sobre o território do Saara Ocidental", afirmou.

·        'Marrocos tem direito histórico sobre a região'

Já o professor de relações internacionais Mohamed Nadir defendeu ao podcast Mundioka que a França "demorou para reconhecer um direito histórico do Marrocos" sobre o Saara Ocidental.

"Para os marroquinos, o ato da França, que é a antiga potência colonial, é de fato uma mudança radical em um processo que tem mais 50 anos de conflito. E, de certa forma, acho que aquilo que se viu, pelo menos até agora, é que a Argélia não reagiu da forma diplomática que se podia esperar. Pelo contrário, de uma forma mais agressiva, chamando o embaixador de Paris para a Argélia, o que é quase um incidente diplomático entre os dois países", argumentou.

Conforme o especialista, durante a independência marroquina da Espanha em 1975, mais de 350 mil pessoas foram até a região do Saara Ocidental no evento que ficou conhecido como Marcha Verde. "Isso confirma a relação histórica que existe entre as pessoas e seus territórios no Sul."

¨      Ostentação de Kiev de apoiar terroristas na África é derrota da Ucrânia, diz mídia britânica

Kiev sofreu uma derrota simbólica por causa de sua bravata após um ataque de militantes a um comboio militar do Grupo Wagner no Mali, já que as autoridades de vários países africanos se voltaram contra a Ucrânia, disse o jornal britânico The Times.

Há pouco tempo, os governos do Mali e do Níger romperam as relações diplomáticas com a Ucrânia e, junto com seus colegas de Burkina Faso, enviaram uma carta ao Conselho de Segurança da ONU pedindo uma ação contra a Ucrânia devido ao apoio de Kiev ao terrorismo na África, especialmente na região de Sahel.

Isso ocorreu depois que o porta-voz da Diretoria Principal de Inteligência do Ministério da Defesa da Ucrânia, Andrei Yusov, se vangloriou abertamente de seu país fornecer inteligência e outra assistência não especificada aos rebeldes tuaregues no Mali para eles atacarem os combatentes do Grupo Wagner no final de julho.

Malianos protestam contra a França e em apoio à Rússia no 60º aniversário da

"Essa fanfarronice agora parece mais próxima de uma derrota emblemática para Kiev, depois que os governos militares de Burkina Faso, Mali e Níger escreveram para o Conselho de Segurança das Nações Unidas", diz o artigo.

O jornal indica que a Ucrânia não comentou a carta, mas, logo depois das declarações dos governos africanos, as autoridades ucranianas se retrataram das palavras do representante da inteligência militar ucraniana, dizendo que "não havia provas de seu papel no apoio aos rebeldes no Mali".

No início de agosto, a mídia francesa informou que os terroristas dos grupos separatistas armados do Mali CSP-DPA, que receberam treinamento na Ucrânia, não gostaram de o representante do serviço de inteligência ucraniano divulgar informações sobre a cooperação entre as duas partes.

Os militantes temem as consequências do possível alastramento do conflito ucraniano para o território do Mali.

Anteriormente, a representante oficial do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, disse que o fato de Kiev cooperar com terroristas no Sahel não é surpreendente, já que a própria Ucrânia tem recorrido repetidamente a métodos terroristas.

<><> 'Catástrofe nacional': economista prevê colapso demográfico da Ucrânia

O economista ucraniano Aleksei Kush pintou um retrato sombrio sobre a atual situação com os nascimentos na Ucrânia, que caíram mais de 30% em 2023 relativamente a 2022.

A população da Ucrânia pode diminuir para dez milhões de pessoas em 75 anos, avaliou o economista ucraniano Aleksei Kush.

"Literalmente, em três iterações de três gerações em 75 anos, a população da Ucrânia pode diminuir para dez milhões de pessoas. Em primeiro lugar, como resultado da migração e da queda da taxa de fertilidade das mulheres para menos de um", disse Kush em uma declaração de sexta-feira (24) na rede social Facebook (proibida na Rússia por ser considerada extremista, tal como a empresa mãe Meta).

Ele lembrou que, em 2022 nasceram na Ucrânia 230 mil crianças, e em 2023 o número foi de apenas 187 mil, ou seja, a taxa de natalidade caiu mais de 30%.

Na realidade, segundo o especialista, a situação pode ser ainda pior. Ele não descartou que Kiev tenha contabilizado nas estatísticas da taxa de natalidade do ano passado todas as crianças para as quais as autoridades de registro ucranianas emitiram certidões de nascimento, o que significa que muitos desses 187 mil bebês poderiam ter nascido no exterior, principalmente nos países da União Europeia.

"A guerra é uma tragédia nacional, e a crise demográfica é uma catástrofe nacional. […] Eu não entendo as pessoas que ainda não entenderam essa simples verdade", resumiu Kush.

 

¨      Alemanha discute reduzir investimento em outros países

A Alemanha é o quarto país que proporcionalmente mais investe em projetos de ajuda humanitária em países em desenvolvimento, como parte de uma estratégia de influência global e prevenção de crises. Fica atrás nesse quesito apenas de Noruega, Luxemburgo e Suécia.

No ano passado, destinou quase 34 bilhões de euros (aproximadamente R$ 210 bilhões) a programas voltadados à promoção do desenvolvimento em lugares como Quênia, Etiópia, Peru e Brasil.

Partido Liberal Democrático (FPD) e seu líder, o ministro das Finanças, Christian Lindner, estão de olho nessa cifra para resolver o rombo previsto no Orçamento de 2025, estimado entre 25 e 50 bilhões de euros.

Diante de uma economia em marcha lenta e uma arrecadação frustrante, Lindner quer manter o equilíbrio fiscal cortando, de preferência, gastos sociais. Para tanto, seu partido tem defendido o fim do Ministério da Cooperação Econômica e do Desenvolvimento e a incorporação das suas funções pelo Ministério do Exterior.

O ministério sob fogo amigo foi criado em 1961 para coordenar os investimentos alemães em outros países. Atuou, por exemplo, na cooperação da Alemanha com o Fundo Amazônia, criado em 2008 para captar doações para investimentos em prevenção, monitoramento e combate ao desmatamento na região brasileira.

<><> Discussão sobre cortes de gastos

De acordo com a minuta do Orçamento de 2025, o governo do social-democrata Olaf Scholz planeja cortar a verba para cooperação com outros países em 940 milhões de euros (R$ 5,8 bilhões) no próximo ano.

Membros do Partido Social Democrata (SPD), de centro-esquerda, e do Partido Verde, as duas outras siglas da coalizão que governa o país, defendem a manutenção de investimentos por meio do aumento da dívida.

Svenja Schulze, ministra alemã de Cooperação e Desenvolvimento, diz não estar preocupada com um possível prejuízo à política de desenvolvimento alemã.

Schulze era, inclusive, ministra do Meio Ambiente quando anunciou, em 2019, a suspensão de repasses de cerca de 35 milhões de euros para o Fundo Amazônia, durante o governo de Jair Bolsonaro. Os recursos foram desbloqueados em 2022

Em viagem oficial a Islamabad, capital do Paquistão, ela afirmou nesta quinta-feira (22/08) a jornalistas que, enquanto nação exportadora, a Alemanha depende de parcerias fortes e relacionamentos de longo prazo, "e conseguimos isso por meio da cooperação para o desenvolvimento".

Segundo ela, as diretrizes da cooperação alemã para o desenvolvimento passam pelo combate à pobreza e o fortalecimento da democracia e dos direitos humanos.

"Que as crianças possam frequentar a escola em vez de trabalhar, que a economia progrida, o meio ambiente seja protegido e a proteção climática avance: todas essas coisas não são importantes apenas para os respectivos países, mas também para nós, na Alemanha."

<><> Críticas à atuação do ministério

No entanto, surgiram críticas reiteradas dentro da Alemanha em relação à política externa do governo e seus custos. 

Membros da oposição afirmaram que a Alemanha estava contribuindo com 315 milhões de euros para um projeto de ciclovias em Lima, capital peruana, enquanto a Alemanha enfrenta problemas estruturais e orçamentários.

O Ministério da Cooperação Econômica e do Desenvolvimento rebateu a denúncia e informou que o valor do projeto era de 44 milhões de euros, e que estava promovendo a proteção climática e a sustentabilidade.

É dentro desse contexto que políticos estão pedindo que a pasta seja abolida.

"Está em nosso programa de governo. Não é segredo – sempre foi uma exigência", disse Knut Gerschau, do FDP. Ele faz parte da delegação que acompanha a ministra Schulze em sua viagem a fábricas têxteis paquistanesas.

Falando à DW, Gerschau ressaltou que nenhum outro país europeu tem um ministério para cooperação internacional, nem outras grandes nações industrializadas, como o Japão e os EUA. Ele argumenta que o fechamento do ministério aumentaria a eficiência do governo, eliminando trabalhos duplicados.

Titular da pasta, Schulze insiste que a representação dos interesses e valores alemães no contexto global requer pessoas com competência e um ministério à parte: "Vimos isso no Reino Unido. Quando eles aboliram seu próprio ministério, não estavam mais presentes no cenário internacional."

A cooperação para o desenvolvimento e a ajuda humanitária são especialmente importantes em tempos de tensão, enfatiza Jürgen Kretz, membro dos Verdes no Parlamento. Ele também faz parte da comitiva de Schulze no Paquistão.

"Em uma situação global tensa, em que atores como a China e a Rússia estão nos enfrentando no jogo de poder internacional, é importante continuar as discussões com os países parceiros, permanecer em cooperação e não deixar o campo aberto para outros", disse Kretz à DW.

Para ele, um ministério do desenvolvimento forte e independente é do interesse da Alemanha, "porque nos permite apoiar uma ordem mundial estável, que funcione bem e seja segura".

 

Fonte: Sputnik Brasil/Deutsche Welle

 

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