Qual é a chave para a saúde do cérebro?
Veja algumas dicas para que sua mente não envelheça
As doenças
relacionadas à idade afetam negativamente as habilidades cognitivas de uma
pessoa, afirmou o médico de ciências médicas Sergei Ilarioshkin. No entanto,
existem soluções para evitar ou retardar o desenvolvimento de problemas
neurodegenerativos.
As estatísticas
mostram que a doença de Alzheimer é um dos principais problemas não só para a
medicina e a ciência médica, mas também para o desenvolvimento da sociedade em
qualquer país do mundo, observa Sergei Ilarioshkin.
Segundo várias
estimativas, existem hoje cerca de 35-40 milhões de pacientes no mundo que
sofrem das duas doenças neurodegenerativas mais comuns, a doença de Parkinson e
a doença de Alzheimer, sublinha o especialista.
Nesse contexto,
Ilarioshkin destaca que não existem tratamentos farmacológicos para o
envelhecimento cerebral. Por isso, ele acrescenta que é importante manter o
cérebro ativo.
"O fator crucial
para proteger o cérebro não é apenas a atividade física regular, mas também o
exercício cognitivo intensivo. Afinal, o cérebro é um sistema muito complicado
e com uma troca de energia relevante", comentou o médico.
O cérebro tem que
ficar ocupado o tempo todo, continua ele, comparando-o a um carro.
"Se comprarmos um
carro e mantê-lo na garagem por alguns anos para salvá-lo, a situação só vai
piorar. Um veículo tem que funcionar o tempo todo, todos os dias."
Para manter a saúde
cerebral, pode-se realizar as seguintes atividades:
# Estudar línguas
estrangeiras;
# Ler livros
constantemente;
# Tocar um instrumento
musical;
# Fazer palavras
cruzadas;
# Recitar poesia
"Não basta ler
textos primitivos, eles devem ser ricos, complexos, cheios de experiências,
pensamentos sobre o destino das pessoas, seus vícios, suas reflexões sobre
deus. Os textos devem fazer pensar, seja ficção ou literatura científica
popular", enfatizou o acadêmico.
A partir dos 40 anos,
a pessoa deve passar por um exame médico, para manter o cérebro jovem e
saudável na presença de certas doenças relacionadas à idade.
"Existem muitos
fatores de risco que precisam ser identificados e controlados, por exemplo, a
pressão arterial, o estado do coração e dos órgãos internos. Esta será a melhor
prevenção de doenças cerebrais em pessoas idosas", acrescenta.
Outro fator crucial
para manter uma pessoa com cérebro saudável é uma noite de sono satisfatória e
suficientemente longa, esclarece o médico. Em nossas vidas, é quase inatingível
para um adulto ativo dormir mais de sete a oito horas, explica Ilarioshkin.
"Mas dormir pelo
menos seis a sete horas é fundamental. A pessoa não deve se sentir
sobrecarregada todos os dias, ano após ano, pela falta de sono. Isso é
extremamente prejudicial", ressalta.
A saúde cognitiva, que
não é menos importante que a saúde neurológica ou física, é de total
importância.
"Você precisa
dedicar tempo a si mesmo e aos seus hobbies. Isso evita não só problemas de
saúde cognitiva, mas também possíveis depressões. Portanto, você precisa ter um
trabalho preferido e um círculo social agradável, o que é muito significativo para
as pessoas mais velhas", acrescentou.
Ainda segundo
Ilarioshkin, "as estimativas apontam que, até 2035, o número de pessoas
[com demência] poderá duplicar e, até 2050, quadruplicar. Isso significa que se
espera que cerca de 120-150 milhões de pessoas tenham demência no futuro".
• Chips cerebrais: analistas apontam os
prós e contras de transformar seres humanos em 'semimáquinas'
Em fevereiro, Elon
Musk anunciou que sua empresa Neuralink havia realizado o primeiro implante de
chip cerebral em um paciente com paralisia. Em entrevista à Sputnik Brasil,
especialistas apontam que a nova tecnologia traz benefícios, mas também riscos,
como o hackeamento e o acesso não autorizado a dados.
Em fevereiro, o
magnata do setor de tecnologia Elon Musk anunciou que sua startup de chips
cerebrais, Neuralink, havia realizado o primeiro implante de chip cerebral em
um ser humano.
O implante é parte de
uma série de testes a serem feitos com pacientes que se voluntariaram para o
estudo com o dispositivo, que visa melhorar a qualidade de vida de pessoas
afetadas por condições como paralisia, tetraplegia e esclerose lateral
amiotrófica, entre outras, que limitem os movimentos.
O anúncio da Neuralink
apontava que o paciente que teve o chip implantado já estava conseguindo
controlar o cursor de um mouse de computador usando apenas os pensamentos.
A notícia promete
revolucionar a medicina e faz parte de uma tendência em ascensão que também é
explorada pela China. Também em fevereiro, uma equipe da Universidade de
Tsinghua, na China, anunciou que havia implantado um dispositivo em um cérebro
de um homem que estava paralisado há 14 anos, e que conseguiu recuperar algumas
habilidades motoras, como beber uma garrafa de água sozinho.
Porém a tendência
levantou uma série de questionamentos na comunidade médica e científica, sobre
questões éticas, jurídicas e, acima de tudo, sobre segurança de dados.
Em entrevista à
Sputnik Brasil, especialistas analisam quais são os prós e contras dessa nova
tecnologia, que eles apontam ser uma tendência inevitável.
Para Washington
Fonseca, especialista em direito médico, mestre em direito pela Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), vice-presidente para as Américas
da rede BGI Global e sócio do escritório Fonseca Moreti Advogados, a
preocupação em torno do tema é totalmente legítima, por conta da falta de
clareza em relação aos testes da Neuralink.
"Não existe
nenhum elemento claro na realização dos testes, de como são conduzidos, quais
são os princípios éticos utilizados, quais são as técnicas, tudo o que vem
sendo implementado para que esses testes possam estar sendo realizados. Então,
pelo fato de inexistir uma clareza de espírito no tocante a isso, faz com que
esses testes sejam bastante questionáveis", diz Fonseca.
Ele afirma considerar
óbvio que a nova tecnologia possa ser muito positiva para obter um melhoramento
na qualidade de vida de pessoas que por alguma condição tenham seus movimentos
ou visão limitados, "todavia a falta de clareza de como isso poderia ser
feito, da forma com que seria conduzido, até mesmo para evitar questionamentos
relacionados a fraude, é o que traz a grande interrogação".
"Então eu falo
para você que se os protocolos utilizados para teste forem claros, definidos e,
obviamente, estiverem amparados na ciência, à luz da ciência e da ética, óbvio
que eles seriam mais positivos do que efetivamente negativos. O problema é a
falta de mecanismos de controle para que o mal eventualmente aconteça. E,
óbvio, evitar que o mal aconteça é sempre prerrogativa número um para você
pensar que os benefícios sejam superados em relação aos malefícios."
<><> Qual
o objetivo do chip da Neuralink?
Por sua vez, Felipe
Haberfeld, médico neurologista formado pela Universidade Federal Fluminense
(UFF), docente de neurologia do Instituto de Educação Médica (IDOMED), do grupo
Yduqs, e head do IDOMED Hubs, diz que o estudo da Neuralink tem critérios muito
bem estabelecidos.
"O estudo, que é
o PRIME Study, ele, na verdade, desde setembro de 2023, já está sendo colocado
aberto para recrutamento. Tanto que se você for no site da Neuralink, vai ter
lá o announcement de 19 de setembro de 2023. Mas realmente você tem uma brochura
onde eles falam sobre o estudo e tudo, que tem critérios muito bem
estabelecidos de aceitação de pacientes para a pesquisa e de exclusão de
pacientes à pesquisa", explica.
Ele afirma que para
que um paciente seja aceito na pesquisa, deve ter no mínimo 22 anos e ter
tetraplegia, quadriplegia, alguma condição que o impeça de mexer os quatro
membros (os dois braços e as duas pernas), como uma lesão na parte espinhal,
principalmente cervical, ou esclerose amiotrófica. Além disso, a lesão que
restringe os movimentos deve ter pelo menos um ano, sem melhora, e o paciente
deve ter uma rede de apoio, ou seja, pessoas que possam acompanhá-lo durante o
estudo.
"Pacientes que
têm um device [dispositivo], marca-passo, estimulador cerebral profundo
implantado ou histórico de epilepsia, que precisem fazer ressonância magnética
por uma questão médica ou que estejam recebendo estimulação magnética
transcraniana não podem fazer parte do estudo."
Para Haberfeld, um dos
principais benefícios dessa tecnologia é o aumento da liberdade do paciente,
que passa a ter independência, seja total ou em algum grau. Porém ele adverte
que, "como em qualquer estudo científico, há contras muito fortes".
<><> Quais
os riscos associados à tecnologia?
"O primeiro deles
é o risco da cirurgia, você vai implantar um chip no cérebro, então tem risco
de infecção, hemorragia. Possíveis efeitos colaterais, o paciente pode ter
crises convulsivas porque vai estar mexendo em córtex, e córtex, ele pode causar
crises convulsivas quando você tem uma alteração da arquitetura ali; pode ter
um mau funcionamento, esse dispositivo não obrigatoriamente trabalhar
bem."
Ademais, ele afirma
que o custo da operação é relativamente complexo, então o chip não deve ser
barato, logo, em caso de problemas, o acesso e a troca do dispositivo serão
difícieis.
"Além disso, vai
criar uma dependência tecnológica, vai criar um novo mercado, porque as pessoas
que terão acesso a isso não vão querer deixar de ter, então cresce uma condição
complicada em que a pessoa vai sempre precisar dessa possibilidade. E tem
aspectos éticos e legais nisso. Por exemplo, o governo vai pagar para todas as
pessoas que têm problema? Uma vez implantado o chip, essa pessoa
obrigatoriamente vai manter relações com a empresa? A empresa vai usar esse
chip para outras coisas? Os dados são muito bem protegidos?"
Washington Fonseca
aponta que há ainda outros riscos, como a possibilidade de a nova tecnologia
criar situações conflitantes com a religião ou cultura, o que poderia acarretar
em segregação em alguns grupos sociais, e também há o questionamento jurídico sobre
se o paciente "teria capacidade plena para o desenvolvimento das suas
atividades, discernimento das suas atividades e exteriorização da sua
vontade".
"Então a gente
tem que tomar muito cuidado, porque, com toda a franqueza, fazer com que
pessoas se tornem semimáquinas, isso é muito perigoso."
Ele também sublinha
que a nova tecnologia deve vir acompanhada de limites morais e regramentos
estabelecidos por conselhos regionais de medicina.
"A gente tem que
ter projetos de lei que justamente façam o controle de até onde o indivíduo com
chip humano pode celebrar determinados negócios jurídicos, externar a sua
vontade", diz Fonseca.
"E a gente tem um
outro aspecto também. Imagina só uma pessoa que, eventualmente, tem um
histórico de pedofilia, mas que tenha sofrido um AVC, ou então qualquer
problema de ordem cognitiva, motora, começar a fazer busca por sites de
pedofilia. Como é que isso seria controlado? Então a gente tem uma série de
limitações que hoje não existem, que a gente deveria ter um aprimoramento do
mundo digital, trazendo para a discussão dentro desse contexto. Caso contrário,
a gente vai ter uma situação muito solta pela falta de regulamentação",
complementa.
Também há a questão da
segurança referente aos dados, como aponta Haberfeld. Segundo ele, "todos
os dados gerados na pesquisa têm de ser muito bem controlados, porque são muito
sensíveis".
"Eles [dados] têm
que ser realmente protegidos contra o acesso não autorizado. Imagina se esses
dados forem hackeados? Qualquer dispositivo que tem uma conexão com a Internet
ou qualquer outra rede pode ser hackeado, então temos que pensar nisso",
afirma o especialista.
"Além disso,
obrigatoriamente a gente tem que ter regulamentação. E aí é algo complicado,
porque tem que ser regulada a segurança, tem que ser regulada a conformidade de
padrão. Por exemplo, vamos supor que um concorrente queira fazer [um chip cerebral].
Como é que tem que ser feito? Quando tem que ser feito? De que forma? Qual o
material utilizado? Quais são as obrigatoriedades para que a segurança do
paciente seja colocada de maneira adequada? Então tem pontos aí que a gente tem
que ver", complementa.
Porém ele afirma
considerar que os benefícios superam os riscos "quando se está falando de
pacientes que têm uma restrição de mobilidade impactando muito na qualidade de
vida".
"Obviamente há
riscos. Como a gente está lidando com ciência, há riscos calculados. Se os
riscos são conhecidos, supera-se. No entanto, riscos desconhecidos não têm como
ser superados pelos benefícios porque eu não sei [quais são os riscos]. Mas se for
de acordo com o que está sendo exposto pela empresa, pela Neuralink, sim, faz
sentido e o benefício é maior."
<><>
Dispositivos implantados são uma tendência irreversível?
Questionados sobre se
novas tecnologias com dispositivos implantados ou acoplados ao corpo humano,
como o chip cerebral, serão uma tendência inevitável, ambos os especialistas
afirmam que sim e apontam que já existem dispositivos anteriores ao chip cerebral
atuando nesse sentido.
"Já existem
mecanismos que são utilizados para aprimorar a saúde do indivíduo. A gente pode
pegar até o próprio exemplo do Apple Watch e de outros relógios smart, que
verificam pressão arterial, se o sujeito está em fase de pré-infarto, entre
outras coisas, para melhorar a avaliação e, consequentemente, mitigar alguns
riscos", afirma Fonseca.
"Há inclusive
aqueles sensores que se colocam no braço para fazer a medição do nível de
glicose. A colocação de chip cerebral é uma coisa que merece discussão, debate.
Porque a gente se defronta e esbarra em diversos limites éticos e falta de
legislação para regulamentar a matéria. Agora, outros gadgets [usados] para ter
um aprimoramento de quadros clínicos do ser humano, sem sombra de dúvida, é uma
coisa muito positiva e é uma tendência inevitável mesmo", acrescenta.
Haberfeld ressalta que
"o uso de wearables [dispositivos vestíveis] está cada vez mais comum, e
não só pensando no chip".
"Por exemplo, [o
uso de] smartwatches que verificam se o paciente teve fibrilação atrial, que é
uma arritmia do coração, já está aplicado no nosso dia a dia de maneira
cotidiana mesmo. Creio que a tendência dos wearables vá se manter e vá crescer
para aumentar cada vez mais a eficiência de dados que precisam de controle do
ser humano. Então, sim, creio que o futuro vai ser bastante recheado de
dispositivos que vão otimizar cuidados médicos e otimizar a saúde do ser
humano", conclui.
Fonte: Sputnik Brasil
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