Potência ou manipulação? 'Inevitável',
inteligência artificial se entranha no cotidiano da política
Em São Paulo, o hacker
e ativista Pedro Markun lançou um candidatura híbrida à Câmara de Vereadores da
cidade junto de uma inteligência artificial (IA), a Lex, desenvolvida pelo
próprio especialista em tecnologia. Bastante usada no mundo dos negócios, chegou
a hora de as IAs entrarem na política?
No mundo da educação e
da guerra, no mundo dos negócios e na vida cotidiana, a IA está cada vez mais
presente e, agora, com a candidatura de Markun, pode entrar de vez para a
política. "É inevitável", diz o candidato do Rede Sustentabilidade.
À Sputnik Brasil,
Pedro Markun disse ser fã desse formato de candidaturas coletivas, sendo
candidato pela Bancada Ativista em 2016 e um dos colaboradores de 2018. "A
coletividade das inteligências é benéfica."
Em vez de recorrer a
um mandato coletivo com outras pessoas, este ano Markun optou por dividir seu
possível mandato com a Lex, IA desenvolvida por ele mesmo. A ideia, diz o
candidato, "não é retirar a inteligência humana da equação".
"O que não dá é
negar que surgiu nos últimos anos um novo tipo de inteligência, a IA
generativa, capaz de ler, processar e capturar milhões de dados e informações
ao mesmo tempo."
Segundo o ativista,
essa ferramenta vai potencializar o trabalho do legislador, dando-o não só o
acesso a toda legislação federal, estadual e municipal de maneira simples, mas
também a bases de dados, como do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) e da prefeitura, e à vasta literatura científica que pode ajudar na
formulação de políticas públicas eficientes.
É nesse último ponto,
ressalta Markun, que está o grande trunfo da Lex: sua transparência.
Diferente de IAs como
o ChatGPT da OpenAI e a Gemini do Google, treinados a partir de quaisquer dados
coletados on-line, a IA criada por Markun terá sua biblioteca aberta, de modo
que o cidadão poderá entender de onde vieram suas opiniões sobre temas como
saúde, educação e economia.
Em 2016, a Microsoft
lançou a Tay, um chatbot de inteligência artificial, que, em menos de um dia,
começou a proferir frases racistas e nazistas devido ao aprendizado que teve a
partir de interações com os usuários.
Esse é o risco, aponta
Markun, de fazer uma IA sem que a relação seja pensada de maneira explícita.
"Risco de pegar todos os problemas que sabemos que a IA tem, como vieses
cognitivos, alucinação, falta de contexto, e injetarmos dentro da política."
"Demos a ela uma
ampla gama, limitando pelos princípios imutáveis como os direitos humanos.
Portanto, ela não lê 'Minha luta', do Hitler […]. A Lex não acredita que a
Terra é plana ou que o homem não foi para a Lua. Tudo o que é consenso na
comunidade científica pertence à Lex."
A IA de Markun está
disponível para conversar com o eleitor 24 horas por dia pelo WhatsApp. De
acordo com o ativista, isso representa uma revolução que coloca São Paulo não
só na fronteira da inovação tecnológica, como também "refina o futuro da
participação cidadã".
Apesar de tanto
otimismo, o criador da Lex afirma que a era da governança das máquinas não deve
chegar tão rápido assim, pelo menos não nos próximos 20 anos. "É um
cenário improvável, mas os primeiros sinais de que isso vai acontecer estão
aí."
Filipe Medon,
professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) Direito Rio, destaca que a IA já
está sendo usada na administração pública em diversos âmbitos, não só para a
formulação de políticas públicas, mas também como forma de dar maior celeridade
às atividades do dia a dia das repartições.
"A inteligência
artificial pode ser muito boa em identificar correlações entre dados
aparentemente desconexos e indicar bons caminhos, além de poder ser útil para
direcionar verbas identificando lacunas e áreas prioritárias."
No entanto, o
professor destaca que o fator humano ainda é a grande limitação dessas
ferramentas. "Nada disso pode ser feito sem intervenção humana. Qualquer
uso de inteligência artificial pelo poder público é muito sério."
Atualmente, essas
tecnologias ainda incorrem em erros preveníveis ou remediáveis com a supervisão
apropriada. É o caso das ferramentas de reconhecimento facial que, no Rio de
Janeiro, classificou erroneamente um cidadão como fugitivo da Justiça.
Ainda há risco de a IA
apontar correlações espúrias. Por exemplo, existe uma associação entre dois
temas desconexos, como o lançamento de filmes estrelados por Nicolas Cage e a
quantidade de pessoas que morrem afogadas em uma piscina. "Apesar de estarem
na mesma taxa estatística, não têm nenhuma relação de causa e efeito."
• Extrema direita e o uso de inteligência
artificial. Por Flávio Aguiar
No dia 29 de julho
próximo passado, por volta do meio-dia, na cidade de Southport, no noroeste da
Inglaterra, um jovem de 17 anos irrompeu numa festa infantil numa escola de
dança e ioga, organizada por uma de suas professoras. Armado de faca, o jovem
provocou a morte de três crianças, de seis, sete e nove anos, feriu outras oito
e mais dois adultos que tentaram protegê-las, inclusive a professora que
organizara o evento.
A polícia e
ambulâncias acorreram em minutos. Preso em flagrante, o jovem foi identificado
como Axel Rudakubana, de 17 anos, cidadão britânico, filhos de pais vindos de
Ruanda, na África. Como se tratava de um menor de idade, por motivos legais a
polícia não divulgou imediatamente sua identidade.
Na sequência, as
especulações mentirosas começaram a circular nas redes sociais.
Em 24 horas
proliferaram 27 milhões de acessos a uma mensagem que identificava o assaltante
como muçulmano (o que não era verdade) e dava-lhe um falso nome. Outras
mensagens o identificavam como um refugiado ilegal, que chegara à Inglaterra de
barco, em busca de asilo. “Influencers” e um site identificado como Channel3Now
(que depois se desculparia) disseminavam rapidamente tais mensagens. Um destes
“influencers” bradava que “a alma do homem ocidental se dilacera quando
invasores matam suas filhas”.
Uma outra mensagem –
gerada por Inteligência artificial – punha em cena na plataforma X, antes
Twitter, a imagem de alguns homens que vestiam trajes supostamente muçulmanos,
armados de facas, perseguindo uma criança, tendo o Parlamento Britânico ao
fundo, com os dizeres “precisamos proteger nossas crianças”.
De imediato, em
Southport uma multidão, segundo a polícia insuflada por gente que não mora na
cidade, passou a atacar uma mesquita, entrando em luta com a polícia. Ataques
contra mesquitas e centros de acolhimento de refugiados e imigrantes se
espalharam por diversas cidades da Inglaterra, inclusive as populosas Londres e
Manchester.
O caso chamou a
atenção de pesquisadores da relação entre grupos extremistas, sobretudo de
extrema direita, e o uso da Inteligência artificial.
Pesquisadores do
Middle East Media Research, dos Estados Unidos, chamaram a atenção para seu
relatório que mapeia dezenas de casos semelhantes. O relatório mostra que tais grupos, valendo-se de ferramentas da
Inteligência artificial, gravam as vozes e as imagens de artistas, políticos e
outras pessoas famosas. Depois disseminam mensagens falsas como se fossem
deles, afirmando a supremacia branca e atacando negros, muçulmanos e judeus.
Segundo o pesquisador
do grupo NETLab, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, grupos extremistas
de direita disseminam mensagens com instruções que vão até o ponto de
ilustrarem a fabricação de armas a explosivos, sempre com o uso de ferramentas
da Inteligência artificial. Na América Latina os alvos preferenciais de tais
mensagens têm sido o México, a Colômbia, o Equador e a Argentina.
Os pesquisadores do
tema chamam a atenção para o fato de que este uso da Inteligência artificial
também se dissemina entre organizações terroristas como o Estado Islâmico e a
Al Qaïda.
Na Inglaterra, os
ataques arrefeceram depois que grandes manifestações anti-racistas tomaram as
ruas de dezenas de cidades britânicas. Pesquisas mostraram que 85% da população
rejeitava a violência. Entretanto 42% dos entrevistados reconheciam a
legitimidade de manifestações com aquelas motivações, desde que fossem
pacíficas.
• Para 81% dos brasileiros, fake news
podem afetar significativamente o resultado eleitoral
Uma pesquisa do
DataSenado, realizada entre os dias 5 e 28 de julho, apontou que com a
proximidade das eleições municipais de 2024, a desinformação e a propagação de
notícias falsas viraram alvo de preocupação entre os brasileiros.
Segundo o
levantamento, para 81% dos brasileiros, as notícias falsas podem afetar
"significativamente o resultado eleitoral".
A pesquisa, realizada
pelo Senado Federal, aponta que 72% dos brasileiros já se depararam com
notícias falsas nas redes sociais nos últimos seis meses e consideram
"muito importante" controlar essas publicações para garantir uma
competição justa.
O levantamento da
Agência Senado abordou 21.808 brasileiros de todas as regiões do país.
De acordo com o
estudo, "72% dos usuários de redes sociais — o que equivale a 67% da
população com 16 anos ou mais — já viram notícias que desconfiam serem falsas
nos últimos seis meses. Esse número revela o alcance da crescente desinformação
às vésperas das eleições municipais de 2024, como destaca o coordenador da
pesquisa DataSenado, José Henrique Varanda".
Quando perguntados
qual seria o motivo para a disseminação das chamadas fake news, 31% acham que
quem compartilha esse tipo de notícia quer mudar a opinião dos outros. Já
outros 30% acreditam que as notícias falsas são compartilhadas por
desconhecimento sobre sua veracidade.
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Inquéritos fake news
O inquérito das fake
news foi instaurado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) ainda em 2019, por
ordem do então presidente do tribunal, Dias Toffoli, em meio a uma escalada de
ameaças aos ministros e ao próprio Judiciário.
• Pablo Marçal coloca em xeque a hegemonia
de Bolsonaro na direita: um novo líder à vista? Por Esmael Morais
O coach Pablo Marçal
vem se destacando nos últimos meses como um dos personagens mais influentes na
direita brasileira, desafiando diretamente a liderança do ex-presidente Jair
Bolsonaro (PL). Marçal, que antes era conhecido apenas como coach e influenciador
digital, agora ganha notoriedade como candidato do PRTB e ameaça seriamente o
projeto bolsonarista nas eleições de 2026. Esse fenômeno não é isolado e já
provoca reflexos nas eleições de 2024, especialmente na disputa pela prefeitura
de São Paulo, onde Marçal pode prejudicar as chances de reeleição de Ricardo
Nunes (MDB).
Marçal tem adotado uma
estratégia que espelha muitas das táticas que levaram Bolsonaro ao poder em
2018. Ele explora o sentimento anticomunista, antipetista e antilulista com a
mesma intensidade que o ex-presidente, mas com um diferencial: a habilidade de
se conectar profundamente com um público que já se sentia representado por
Bolsonaro. As recentes fotos e interações entre Bolsonaro e Marçal, longe de
fortalecerem a imagem do ex-presidente, acabaram por destacar a capacidade do
coach em captar a narrativa bolsonarista e fazer dela sua própria bandeira.
Esse movimento
estratégico, onde Bolsonaro, aparentemente, buscava cooptar Marçal como aliado,
acabou se voltando contra ele. Ao tentar “domar a cobra”, o ex-presidente
viu-se envolvido por uma narrativa que, aos poucos, vai capturando a base mais
radical da direita.
A mais recente
pesquisa Datafolha aponta um crescimento expressivo de Marçal entre os
eleitores bolsonaristas, especialmente entre os evangélicos, brancos e pardos.
No geral, Marçal aparece com 21% das intenções de voto, tecnicamente empatado
com Guilherme Boulos (PSOL), que lidera com 23%, e Ricardo Nunes, com 19%.
Este avanço é
particularmente relevante entre os que se identificam como bolsonaristas.
Marçal, que em agosto tinha 25% das intenções de voto nesse grupo, agora possui
46%, ultrapassando Nunes, que caiu de 37% para 26%. Esse dado revela que Marçal
não apenas capturou parte significativa do eleitorado de Bolsonaro, como também
ameaça o projeto político do atual prefeito de São Paulo.
As implicações dessa
mudança no cenário político são profundas. Ricardo Nunes, que conta com o apoio
formal de Bolsonaro e do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), vê sua
posição fragilizada com o avanço de Marçal. Entre os eleitores de Tarcísio,
Marçal saltou de 25% para 41% nas intenções de voto, enquanto Nunes caiu de 42%
para 28%. Esse movimento pode ser decisivo para a eleição municipal de São
Paulo, já que o apoio de Bolsonaro, antes considerado um trunfo, agora parece
ser dividido com o candidato do PRTB.
Além disso, Marçal
também cresceu entre os adultos de 35 a 59 anos e entre aqueles com renda
familiar de dois a cinco salários mínimos. Esse público, que tradicionalmente
tem maior peso nas urnas, pode ser o fator decisivo para que Marçal continue
avançando na disputa pela liderança da direita.
Entretanto, diz a
Paraná Pesquisas, há luz no fim do túnel bolsonarista. De acordo com o
instituto, que diverge do Datafolha, em São Paulo o líder na corrida pela
prefeitura é o atual prefeito Ricardo Nunes, com 24,1% das intenções de voto,
seguido do deputado Guilheme Boulos, com 21,9%, e do coach Pablo Marçal, com
17,9%.
Para Bolsonaro, a
ascensão de Marçal representa um desafio existencial. O ex-presidente sempre
contou com um eleitorado fiel, mas a perda desse apoio para Marçal sugere que o
bolsonarismo, como movimento, pode estar passando por um processo de fragmentação.
Se Marçal conseguir consolidar essa base em 2024 e 2026, ele não só
enfraquecerá Bolsonaro, mas também redefinirá a liderança da direita no Brasil.
O risco para Bolsonaro
é evidente: com Marçal ganhando força entre seus próprios apoiadores, a
narrativa bolsonarista pode se diluir, perdendo o impacto que teve em eleições
anteriores. O que antes parecia ser uma aliança estratégica entre Bolsonaro e
Marçal, agora se revela como uma competição direta pela liderança do espectro
político de direita.
Portanto, Pablo Marçal
está rapidamente se tornando um nome incontornável no cenário político
brasileiro. Seu crescimento nas pesquisas em São Paulo, especialmente entre os
eleitores que antes eram fiéis a Bolsonaro, indica que ele pode ser o
responsável por uma reconfiguração completa na direita brasileira. Enquanto
Bolsonaro tenta manter sua influência, Marçal se posiciona como o novo
porta-voz dos valores conservadores, utilizando as mesmas ferramentas que
fizeram do ex-presidente um fenômeno político.
Se essa tendência se
mantiver, é possível que, em 2026, não estejamos mais falando do
“bolsonarismo”, mas sim do “marçalismo” como a nova força de direita dominante
na política nacional. E, com isso, o projeto de reeleição de Ricardo Nunes e o
futuro de Bolsonaro como líder da direita enfrentam um novo e perigoso rival.
Fonte: Sputnik Brasil/Brasil
247/Blog do Esmael
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