segunda-feira, 26 de agosto de 2024

Por que adolescentes são gulosos e mais velhos comem pouco

"Nosso corpo nos diz mais ou menos o que comer e quando comer, e talvez devêssemos ouvir", afirma Susanne Klaus, pesquisadora-chefe do Instituto Alemão de Nutrição Humana.

Isso faz sentido. Mas a maneira como nosso corpo exige energia de nós não é a mesma ao longo de nossas vidas.

Desde sermos alimentados com colher pelos pais quando bebês, até comermos doces açucarados quando crianças, comermos tudo o que estiver à vista quando adolescentes e depois comermos pratos pequenos e simples em fases posteriores da vida, nosso apetite muda com o passar dos anos. Entender o motivo pode ajudar a garantir uma boa saúde em nossos últimos anos.

•                                          Os hormônios da fome e como funcionam

Em sua essência, comer é algo funcional: sem a energia que extraímos deles, simplesmente não sobreviveríamos.

Os carboidratos dos alimentos são convertidos em energia, enquanto as gorduras e os aminoácidos ajudam a criar as proteínas vitais e outras estruturas que auxiliam o funcionamento do corpo.

Para garantir que esses processos funcionem como um relógio, o corpo tem sistemas especiais para garantir um suprimento regular de energia.

"Esses mecanismos que impulsionam a fome e a saciedade", diz Klaus. "São principalmente sinais do estômago e do intestino, mas também de hormônios, como a leptina, que é secretada pelo tecido adiposo [ou gordura corporal] e que sinaliza para o hipotálamo principal [um centro de controle no cérebro]. Esse é um sistema autonômico, como a respiração".

Esses fatores químicos que nos levam a procurar (ou parar de procurar) alimentos são às vezes chamados de hormônios da fome. Além da leptina, a grelina talvez seja o hormônio da fome mais conhecido.

A grelina é liberada na corrente sanguínea pelo estômago e diz ao cérebro para nos fazer comer. Quando estamos saciados, a liberação de grelina diminui, dando a sensação de saciedade.

Outros hormônios também regulam as sensações de saciedade e vazio. Entre eles, estão a insulina e outros hormônios pancreáticos que inibem a fome, como o GLP-1, que o medicamento para diabetes, Ozempic, imita.

•                                          A mecânica da digestão

Quando esses hormônios levam a pessoa a colocar o alimento na boca, o corpo usa processos digestivos para, literalmente, corroer a refeição.

A digestão mecânica começa na boca, onde o alimento é triturado em formas menores e mais macias, que podem ser engolidas. Esse processo continua à medida que a pasta engolida é forçada a descer pelo esôfago até o estômago, um processo conhecido como peristaltismo.

Junto com esse processo está a digestão química. Ela começa na boca, onde as enzimas amilase da saliva começam a quebrar os amidos dos alimentos. Mais dessas enzimas digestivas estão no estômago para concluir o trabalho, de modo que a água e os nutrientes possam ser absorvidos do intestino para a corrente sanguínea.

•                                          Mudança no envelhecimento

Esse impulso por comida aumenta muito quando a pessoa chega à adolescência. O corpo anseia por energia para alimentar seu estágio de crescimento mais importante – a puberdade –, estimulando-o em direção à maturidade física e sexual.

Mas a nutrição ao longo da vida pode ser um desafio. Para as pessoas mais velhas, existe o risco de o corpo se tornar menos eficiente em estimular a ingestão necessária de nutrientes. Alguns estudos mostraram mudanças nos padrões de secreção do hormônio da fome na vida adulta.

"Quando as pessoas envelhecem, em média, perdem massa muscular, e o músculo é o compartimento que consome mais energia”, disse Klaus.

Um dos principais fatores da redução da massa muscular é o fato de não se consumir proteína suficiente.

"A ingestão de proteínas na velhice é mais baixa do que o recomendado, e até mesmo as recomendações, de acordo com vários grupos científicos, deveriam ser mais altas para a ingestão de proteínas na velhice, porque é muito importante manter a massa muscular", sublinha Daniel Crabtree, que pesquisa nutrição na fase tardia da vida na Universidade de Aberdeen.

Apesar das recomendações, Crabtree afirma que a ingestão de proteínas por pessoas mais velhas tende a ficar abaixo do recomendado, e isso pode incluir fatores fisiológicos e outros sinais de envelhecimento do corpo, desde problemas com os dentes até alterações no paladar ou no olfato.

 

•                                          Por que a comida parece perder o sabor no espaço

Atrofia muscular, deterioração óssea ou piora da função hepática – essas são apenas algumas das várias condições a que o corpo humano está sujeito quando passa muito tempo no espaço, algo que poderia eventualmente representar um risco para a saúde dos viajantes espaciais.

No entanto, os astronautas relatam sofrer de outro problema estranho: a comida é insípida ou sem sabor e, por isso, eles acabam perdendo o apetite. Agora, um grupo de pesquisadores sugere que isso pode ser devido ao aroma dos alimentos, de acordo com um estudo publicado no International Journal of Food Science and Technology.

<><> Dois possíveis motivos

Estudos anteriores sugeriram que a baixa gravidade faz com que o fluido corporal se desloque das partes inferiores para as superiores do corpo, causando inchaço facial ou congestão nasal, afetando os sentidos do olfato e do paladar. Entretanto, alguns astronautas disseram que o problema persistiu mesmo após o desaparecimento desses sintomas.

"Os astronautas continuam a não conseguir desfrutar de sua comida mesmo depois que os efeitos da mudança de fluido passam, sugerindo que há algo mais acontecendo", disse a autora principal do estudo, Julia Low, em um comunicado da universidade Instituto Real de Tecnologia de Melbourne.

<><> Questões de contexto e conforto

A nova pesquisa acrescenta que esse fenômeno também pode estar enraizado em fatores psicológicos, como longos períodos de isolamento e desconforto, que podem influenciar a percepção de aromas e a atratividade dos alimentos.

<><> Simulador espacial

Os cientistas testaram um grupo de 54 participantes, que estavam em dois ambientes: um normal e um de realidade virtual, projetado para simular a experiência de estar na Estação Espacial Internacional (ISS).

Na simulação, os participantes do experimento viram objetos flutuantes, juntamente com "aparelhos espaciais montados para evocar uma sensação de desordem e confinamento" e um ruído de fundo que "imitava os sons operacionais altos que foram registrados na ISS".

<><> Testando os cheiros

Os participantes receberam amostras de três odores: limão, amêndoa e baunilha. Em seguida, foi solicitado que classificassem a intensidade de cada odor em uma escala de 1 a 5 nos dois ambientes. Depois de concluir o experimento, os participantes disseram que o cheiro de limão era o mesmo nos dois ambientes, mas os cheiros de amêndoa e baunilha eram mais intensos na sala que simulava a ISS.

Os pesquisadores suspeitam que o fator principal seja o benzaldeído, um composto aromático volátil encontrado na amêndoa e na baunilha, mas não no limão. "Talvez certos compostos voláteis que compartilham perfis de odor comuns (por exemplo, doce) tenham maior probabilidade de serem afetados contextualmente em comparação com outros (por exemplo, cítrico)", especulam.

<><> Trabalhando para ajudar pessoas isoladas

Ao concluírem que os odores influenciam o contexto e o ambiente em que os astronautas ou pessoas isoladas se encontram, os cientistas sugerem que ajustar o cheiro dos alimentos pode ser uma forma de melhorar a dieta e a nutrição desses grupos.

"O que veremos no futuro com as missões Artemis são missões muito mais longas, de anos, especialmente quando formos a Marte, por isso precisamos realmente entender a dieta e as questões alimentares e como os membros da tripulação interagem com a comida", disse a coautora Gail Iles no comunicado.

A autora principal do estudo, Julia Low, acrescenta que um dos objetivos de longo prazo da pesquisa é "desenvolver alimentos mais bem adaptados para os astronautas, assim como para outras pessoas em ambientes isolados", a fim de aproximar sua ingestão nutricional do patamar ideal.

 

Fonte: Deutsche Welle  

 

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