País que se coloca como Estado indígena,
Bolívia fortalece discurso anti-imperialista no Sul Global?
Em meio a uma das
maiores reservas mundiais de lítio e gás natural que atraem a cobiça de muitos
países, a Bolívia tem focado as relações econômicas e diplomáticas nas últimas
décadas com parceiros do Sul Global, a exemplo de Brasil, Rússia e China. Este
ano, após anos de negociações, o país andino conseguiu selar a entrada no
Mercosul.
Ainda era 2009 quando
uma consulta popular aprovou a refundação da Bolívia como um Estado
plurinacional. Na prática, a mudança significou a valorização e o
reconhecimento da diversidade cultural e étnica do país andino, que é
considerado o mais indígena da América Latina — mais de 60% da população se
considera assim. Além disso, estabeleceu como lei a autonomia da população
indígena e o direito à terra.
Tudo isso também
aproximou ainda mais a Bolívia dos parceiros do Sul Global, mais ligados às
pautas de um mundo justo e multipolar. É o que pontuou ao podcast Mundioka a
pesquisadora do Laboratório de Estudos sobre Regionalismo e Política Externa da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (LeRPE/UERJ) Ana Lúcia Gonçalves. Para
a especialista, o país andino passou a ter uma política externa muito mais
ativa quando comparado aos governos do início do século XXI, inclusive com
posicionamentos firmes em entidades internacionais, como a Organização das
Nações Unidas (ONU).
"O pais utiliza
bem uma estratégia, principalmente quando traz a China e a Rússia [como
parceiras], o que contrapõe a política estadunidense [de domínio sob os demais
países da América Latina]. Temos vários discursos tanto do Evo Morales
[presidente entre 2006 e 2019] quanto do presidente Luis Arce, apesar de menos
intenso, muito anti-imperialista e anticolonizador. Eles usam muito esses
termos, principalmente por se colocarem como um Estado indígena. Então a
política externa é pautada um pouco nisso também. E fazem muito um discurso
pró-regional, que também aproxima esses outros dois países ao se contrapor à
hegemonia regional dos EUA", resume.
A pesquisadora também
pontuou que, após a estatização do setor de hidrocarbonetos do país, com foco
principalmente no setor de gás natural, a Bolívia conseguiu reverter parte
dessa riqueza em ganhos sociais. Entre 2005 e 2015, por exemplo, o índice de pessoas
que viviam na pobreza extrema caiu de 36,7% para 16,8%.
"Os recursos
naturais para o povo boliviano sempre foram muito importantes e, muito por
isso, se estatizou, processo que foi muito importante para a melhoria do
bem-estar da população. É claro que ainda tem muito o que melhorar, mas é
inegável o avanço que ocorreu nesses últimos anos. Atualmente, o que tem
acontecido é uma queda na produção de hidrocarbonetos, e o governo Arce tem
buscado novos campos de exploração para voltar a girar a economia como
anteriormente", explica.
- Por que o Brasil importa gás natural da Bolívia?
Principal fornecedor
de gás natural para o Brasil e responsável por atender cerca de 30% da demanda
nacional, a Bolívia chegou a admitir no ano passado que as reservas do país
estavam próximas do fim, o que afetaria a importação para o país, que é o maior
parceiro comercial na América do Sul. Uma novidade anunciada no último mês, no
entanto, trouxe alento: um megacampo de gás natural com cerca de 1,7 trilhão de
pés cúbicos (TCF) ao norte de La Paz.
Essa, inclusive, é a
maior descoberta desde 2005, em meio à recente escassez de combustíveis no
país, que quase levou a uma greve sem precedentes. O professor e pesquisador do
Núcleo de Estudos Latino-Americanos da Universidade de Brasília (NEL/UnB), Robson
Valdez, ressaltou ao podcast Mundioka que o Brasil pode acentuar ainda mais a
parceria com a Bolívia para apoiar a exploração e os investimentos na nova
reserva descoberta.
"O Brasil é um
parceiro estratégico quase natural, e já tem uma estrutura de gasodutos que
trazem o gás ao país. Além disso, a Petrobras já participou desses
investimentos. Tivemos aquele contratempo com a nacionalização dos
hidrocarbonetos, mas eu diria que o Brasil é um candidato natural a ser um
parceiro nessa exploração [do novo megacampo]. Também temos a presença da
China, conversas da Bolívia com Irã, Rússia, então há uma competição. O leque
de opções para o governo boliviano atualmente é um pouco maior",
acrescenta.
- Qual a maior reserva de lítio do mundo?
Diante de uma reserva
de mais de 23 milhões de toneladas de lítio, segundo estimativas do governo, a
Bolívia é o terceiro país do mundo com maior abundância do mineral, atrás
apenas da Argentina e do Chile. Crucial para as novas tecnologias, principalmente
baterias usadas nos novos veículos elétricos, o professor Valdez considera que
esse volume é atualmente o que mais desperta a cobiça estrangeira no país
andino.
"O lítio é uma
novidade, já que essas reservas foram descobertas há pouco tempo. Porém, a
falta de infraestrutura, instabilidade política e acordos desfavoráveis
prejudicam a redistribuição desses benefícios [econômicos conquistados com a
exploração do mineral] para a população", enfatiza.
Apesar disso, a
entrada do país no Mercosul neste ano, após anos de negociações e burocracias,
também representa uma oportunidade maior para a Bolívia se integrar à América
do Sul e atrair investimentos, defende o especialista. "Além disso, quase
todos os países do continente possuem algum tipo de acordo de
complementariedade econômica com o Mercosul, o que dá acesso à Bolívia para
novos mercados e pode ajudar a diversificar a economia".
- Instabilidade política na Bolívia
No fim de junho, a
Bolívia sofreu uma tentativa de golpe de Estado após a invasão do palácio
governamental por uma ala do Exército, liderada pelo então comandante-geral
Juan José Zúñiga. Apesar do fracasso da rebelião, Robson Valdez acredita que a
situação até hoje não está totalmente esclarecida e criou certa instabilidade
política no país, que já convive com a disputa entre Arce e Morales, que rompeu
com o seu antigo ministro da Economia e quer voltar ao poder.
"A grande disputa
realmente vai ficar no partido Movimento Alternativa Socialista [MAS] entre o
[Luis] Arce, que tem uma visão mais moderada, mais pragmática, e o Evo Morales,
que tem uma visão mais crítica em relação ao fundo da economia. Para o grupo
político como um todo, o necessário era a tentativa de encontrar um consenso
para que as forças da oposição não pudessem se aproveitar dessa fissura que tem
no MAS", finalizou.
¨
G20: 'Não vamos
aceitar nenhuma ingerência sobre a soberania do Brasil', diz representante do
MST
Aconteceu nesta
terça-feira (20), no Rio de Janeiro, o encontro preparatório para a Cúpula
Social do G20, dedicado a aproximar os movimentos sociais de base às
autoridades governamentais e aos líderes dos grupos de trabalho que
participarão do fórum mundial.
Como parte do governo
federal, estiveram presentes a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva; o
ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome,
Wellington Dias; e o secretário-geral da Presidência da República, Márcio Costa
Macêdo.
O Brasil assumiu neste
ano a presidência do G20, encontro das 20 maiores economias do mundo para
debater os rumos do planeta, desde políticas econômicas à sustentabilidade.
Este ano, sob a liderança brasileira, foram incluídas na pauta a fome e a
pobreza mundial, o desenvolvimento sustentável e a mudança do sistema de
governança global.
Para um fórum que
"historicamente tratou de economia e inflação, discutir fome, pobreza e as
mudanças climáticas não é uma tarefa fácil", destacou o ministro
Wellington Dias.
Em sua fala, a
ministra Marina Silva reforçou a necessidade de pensar o desenvolvimento
econômico aliado a políticas de preservação e recuperação do meio ambiente.
"Até bem pouco
tempo, a maioria era desenvolvimentista. Hoje todos terão que ser
sustentabilistas."
A ministra do Meio
Ambiente detalhou algumas das propostas discutidas por sua pasta, como a
criação de um fundo bilionário para a conservação de florestas tropicais —
projeto ligado ao Fundo Florestas Tropicais Para Sempre (TFFF, na sigla em
inglês), responsável por muitos dos mecanismos de equilíbrio ambiental a nível
global.
"Se conseguirmos
botar de pé até a COP 30, nós vamos ter um mecanismo para ajudar os 80 países
detentores de floresta tropical."
Outra iniciativa é a
proposta de taxação global sobre os superricos, cujo dinheiro seria usado para
financiar o desenvolvimento sustentável nos países em desenvolvimento. "O
setor privado não pode continuar mais fazendo os mesmos investimentos em atividades
de altíssimo potencial de destruir o planeta e a biodiversidade", afirmou
Marina Silva. "É preciso que a transição seja justa."
Da parte dos
movimentos sociais, o grande destaque nas falas de abertura foi Cassia Bechara,
representante do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST). A ativista
colocou a presidência brasileira do G20 na perspectiva do xadrez geopolítico
internacional.
Seguindo o que disse o
ministro Wellington Dias, a representante do MST afirmou que o Norte Global
busca impor as regras políticas e econômicas ao Sul Global.
Nesse sentido, a
presidência brasileira adquire importância ainda maior, destacando o papel do
país como uma "potência importante do Sul Global", capaz de pautar as
necessidades dos países em desenvolvimento.
"Nós sabemos que
as potências capitalistas, as potências imperialistas, também estão de olho no
nosso país", afirmou Bechara.
"Então não é à
toa que nós vamos fazer essa cúpula dos povos para dizer a essas potências que
não vamos aceitar nenhum tipo de ingerência sobre a nossa política, sobre a
nossa economia, sobre a soberania do Brasil, mas também a soberania dos nossos povos."
<><>
Indústrias Nucleares do Brasil voltam a mapear jazidas de urânio no país após
40 anos sem estudos
A empresa pública
Indústrias Nucleares do Brasil (INB) lançou o Programa de Parcerias em
Prospecção e Lavra de Urânio, buscando trabalhar em associação com companhias
do setor da mineração.
De acordo com a coluna
de Ancelmo Gois no jornal O Globo, a INB está retomando a prospecção de novas
jazidas de urânio após 40 anos sem estudos do tipo no país.
Segundo o jornalista,
serão feitas novas pesquisas em áreas conhecidas por seu grande potencial
mineral para essa valiosa substância, que é a matéria-prima mais acessível para
a geração de energia nuclear.
O Citi Bank prevê que
o preço médio do urânio chegará a US$ 110 (R$ 602) por libra em 2025, indicando
uma perspectiva de mercado positiva contínua devido à crescente necessidade de
energia nuclear, informou a plataforma Investing.com.
A produção de urânio
cresceu significativamente em 2023, com aumento de mais de 10%. Esse
crescimento se deve principalmente à expansão das operações de mineração
atuais, com o Cazaquistão desempenhando um papel significativo.
O Brasil terá que
desenvolver bastante sua indústria para chegar a bons níveis na produção do
elemento químico.
A produção nacional
ainda é menor do que o consumo doméstico das usinas nucleares de Angra I e II,
sem mencionar a possibilidade de ampliar a demanda com a conclusão de Angra
III, relembrou o colunista.
¨
Equador: bancada de
esquerda classifica como 'desumana' situação do ex-vice-presidente Glas
A bancada do movimento
equatoriano Revolução Cidadã classificou nesta terça-feira (20) como desumana a
situação enfrentada pelo ex-vice-presidente Jorge Glas (2013-2018), que
permanece na prisão de máxima segurança La Roca.
"Expressamos
nossa profunda indignação diante da situação desumana que vive nosso
companheiro Jorge Glas, que continua sequestrado na prisão, vítima de uma
perseguição política implacável", afirmou o coletivo parlamentar em um
comunicado divulgado na rede social X.
O texto da bancada da
RC afirma que é inadmissível que, em um país que se diz democrático, os
direitos humanos de seu correligionário sejam sistematicamente violados.
"Jorge Glas não
apenas foi privado de sua liberdade, mas também tem sido submetido a condições
que visam quebrantar seu espírito e sua saúde, em uma tentativa de silenciá-lo
e enfraquecer a força daqueles que lutam e acreditam em um Equador justo e livre
da corrupção que realmente assola o país", acrescenta.
A bancada
oposicionista indica que o sistema judicial está manipulado para servir a
"interesses obscuros", que buscam eliminar qualquer vestígio de
oposição e quebrar a vontade do povo equatoriano.
Além disso, expressa
"profunda indignação" pelo que reputam como sequestro político de
Glas, que consideram vítima de "uma perseguição implacável".
¨
Argentina de Milei
envia milhões de reservas em ouro para Londres, sem dar explicações
A Argentina de Javier
Milei enviou à Londres um terceiro carregamento com o que se calcula ter cerca
de 1.500 barras de ouro do Banco Central, avaliadas em 250 milhões de dólares,
segundo noticiou o jornal argentino C5N.
Nesta semana, um vídeo
com caminhões transportando as reservas de ouro à capital do Reino Unido
viralizou, levantando os questionamentos da população argentina e de críticos
sobre a falta de transparência e o impacto da remessa milionária ao país.
“Estão levando o ouro
e não querem falar”, afirmou o deputado do partido Frente de Todos, Sergio
Palazzo, nesta terça-feira (20).
“Temos registrado, no
mínimo, quatro ou cinco saídas de ouro do Banco Central para o exterior e
quando fazemos a consulta pelos canais oficiais e institucionais que
correspondem, a resposta do BCRA [Banco Central] é negar responder a todas as
informações que solicitamos”, criticou.
O argumento do governo
Milei é de que “qualquer dado ligado à localização estratégica poderá pôr em
risco a segurança destes ativos, com o consequente impacto na política
monetária e cambial”.
No final de julho, o
ministro da Economia da Argentina, Luis Caputo, havia confirmado que o país
estava enviando ao exterior barras de ouro das reservas internacionais do Banco
Central, restringindo-se a falar que o envio “permitiria ao país obter retornos
financeiros que não seriam possíveis de outra forma”.
Mas tanto o ministro,
quanto outros canais do governo de Javier Milei não trazem transparência às
razões para o retiro das reservas do país em ouro e envio ao Reino Unido. “É um
governo que está demonstrando que não quer ser fiscalizado e não quer informar
à sociedade o que está fazendo”, disse Palazzo, ao períodico argentino
Pagina12.
Analistas entendem que
os envios das remessas do país seria para fazer operações comerciais.
Entretanto, criticam, uma vez que as reservas em ouro do Banco Central são os
principais mecanismos de solidez para sustentar as moedas nacionais.
“Por que levam o ouro?
Há diversas operações que podem fazer. Uma, a que o próprio [ministro da
Economia] Caputo disse, se chama ‘compra e recompra’ do ouro, que é feita por
meio do banco internacional de transações, a Basileia [na Suíça]. Mas por que
para Londres? Porque não é possível monetizar o ouro para fazer uma operação
mantendo-o no próprio país. Isso significa que vão fazer essa operação”,
raciocinou o deputado.
Não só os
parlamentares de oposição da Argentina questionaram as remessas, sem qualquer
explicação, como diversos setores da sociedade civil. O coordenador de
políticas institucionais da Casa de la Provincia de Tierra del Fuego, Alexis
Román Kalczynski, também confirmou ao jornal RT que “não se sabe de nada” sobre
as movimentações.
Kalczynski explicou
que para a retirada do ouro do país é, ainda, necessário formalizar um
procedimento junto ao Banco Central, que, por sua vez, não traz nenhum
esclarecimento. Segundo o especialista, a saída do ouro “atenta diretamente
contra a soberania argentina”, uma vez que Buenos Aires detém cerca de US$ 4,6
bilhões em ouro e não se sabe, exatamente, quanto foi enviado à Londres.
Outros políticos, como
o partido União pela Pátria, de Cristina Kirchner e Sergio Massa, emitiram uma
petição, pedindo a suspensão imediata do envio das reservas e o detalhamento
das operações e riscos.
Ao jornal La Nación,
Caputo disse que o envio dos recursos ao exterior possibilitava obter “um
retorno sobre ele”, também sem trazer detalhes. “É muito melhor tê-lo guardado
lá fora, onde você recebe algo”, limitou-se a responder.
Fonte: Sputnik
Brasil/Jornal GGN
Nenhum comentário:
Postar um comentário