sábado, 24 de agosto de 2024

O ressentimento de Pablo Marçal: de guru digital rejeitado a rival político

As recentes trocas de farpas entre a família Bolsonaro e Pablo Marçal são reflexo de um conflito que começou nos bastidores do primeiro governo Bolsonaro. Marçal, que buscava ser uma espécie de Steve Bannon brasileiro, tentou se aproximar de Jair Bolsonaro e se consolidar como o principal estrategista digital da extrema-direita. Seu caminho, no entanto, foi bloqueado por Carlos Bolsonaro, que já ocupava essa posição na campanha do pai.

Fontes próximas ao PL e a Jair Bolsonaro confirmaram à coluna que Marçal, desde o início, almejava um papel central na construção da narrativa digital do bolsonarismo. Mas seus esforços esbarraram na resistência de Carlos, o que resultou na exclusão de Marçal do círculo íntimo dos Bolsonaro. Esse afastamento gerou um ressentimento que agora transparece nas críticas de Marçal, que tenta se posicionar como uma nova liderança política.

Um exemplo claro desse ressentimento é um comentário recente de Marçal nas redes sociais: “Coloquei 100 mil na sua campanha para presidente, te ajudei nas estratégias digitais, fiz você gravar mais de 800 vídeos no Planalto”. Essa declaração escancara seu desejo frustrado de ser reconhecido como o estrategista digital do movimento.

Nos bastidores, pessoas próximas ao ex-presidente sempre viram Marçal como uma figura caricata e não levavam suas ambições a sério. Em 2022, ele tentou se reaproximar da família Bolsonaro, mas acabou gerando novos atritos, especialmente com Carlos Bolsonaro, por tentar se intrometer em funções que já estavam sob controle do filho do ex-presidente.

A rejeição é tão evidente que Flávio Bolsonaro sequer menciona Marçal publicamente, preferindo ignorar sua existência. Nos círculos bolsonaristas, há quem culpe Marçal por alguns dos problemas enfrentados na campanha de 2022, embora ele não seja visto como o principal responsável pela derrota.

Hoje, Marçal tenta conquistar um espaço que antes era dominado pelos Bolsonaro, gerando temor entre os aliados do ex-presidente de que ele possa abalar a hegemonia da família na extrema-direita. O conflito é um reflexo das ambições frustradas de Marçal e do receio dos Bolsonaro de perder o controle sobre o movimento que construíram.

•        Bolsonaro acusa Marçal de oportunismo e "falta de caráter"

Jair Bolsonaro fez fortes declarações sobre Pablo Marçal, candidato do PRTB à Prefeitura de São Paulo. Bolsonaro afirmou que Marçal o criticava duramente antes das eleições de 2022, chegando a chamá-lo de "quadrilheiro". Para Bolsonaro, a mudança de postura de Marçal após o período eleitoral revela "falta de caráter". Ele ainda ressaltou que Marçal só mudou de lado quando percebeu que não conseguiria disputar a presidência. Ele deu as declarações em entrevista ao jornalista Paulo Cappelli, do Metrópoles.

Bolsonaro também comentou um encontro recente que teve com Marçal, no qual ambos tiveram uma conversa "cordial". Segundo o ex-mandatário, ele chegou até a entregar uma medalha a Marçal durante a reunião. No entanto, apenas duas horas após o encontro, Marçal divulgou que Bolsonaro não apoiaria a candidatura de Ricardo Nunes (MDB), o que foi prontamente negado por Bolsonaro na entrevista.

•        Marçal se declara "pesadelo" nas eleições, mas rivais devem apostar em seu desgaste

Em meio a um embate com Jair Bolsonaro, o candidato à Prefeitura de São Paulo e coach de extrema-direita, Pablo Marçal, afirmou nesta quinta-feira (22) que seu crescimento nas pesquisas, conforme o último levantamento Datafolha, transformou sua candidatura em um "pesadelo". "A piada virou pesadelo", escreveu Marçal no X (antigo Twitter), referindo-se à sua trajetória inesperada na corrida eleitoral.

No entanto, seu principal adversário, o deputado federal Guilherme Boulos, não demonstrou preocupação com o avanço de Marçal entre o eleitorado bolsonarista, nem com o cenário de empate técnico apontado pelo Datafolha entre ele, Marçal e o prefeito Ricardo Nunes (MDB). Nas redes sociais, Boulos comemorava sua liderança na pesquisa, com cerca de 23% das intenções de voto. Enquanto isso, Nunes, com o apoio declarado de Bolsonaro, foca em manter essa aliança instável para frear ao máximo o crescimento de Marçal e conseguir alcançar o segundo turno.

Ambos os rivais de Marçal parecem apostar que o próprio comportamento hostil do influenciador acabará desgastando sua imagem. Com ataques frequentes a todos os candidatos, Marçal pode acabar sendo vítima de sua própria estratégia agressiva, transformando-se em seu próprio pesadelo.

 

•        Marçal é a geração de influencers do fascismo se aproximando do poder.  Por Moisés Mendes

Tem gente tentando tirar um peso das costas com a tese segundo a qual Pablo Marçal cresce e agora empata com Boulos e Nunes no Datafolha, em meio ao caos da campanha eleitoral em São Paulo, por ser uma alternativa turbinada pelas elites que não apostam mais no prefeito.

É mais uma conversa preguiçosa, sustentada pelo mesmo argumento de que nossos problemas são provocados por interferências externas que golpearam Dilma, encarceraram Lula e inventaram Bolsonaro. Gente poderosa, mas de fora.

Marçal seria a invenção de uma aliança da delinquência com grandes empresários, os mesmos que patrocinaram Bolsonaro e que ficaram quatro anos com o sujeito porque queriam ter a proteção de Paulo Guedes.

Se Ricardo Nunes não funciona direito, as elites inventam Marçal. É só chamar Paulo Guedes de novo, ou anunciar que Roberto Campos Neto estará com ele na prefeitura, e tudo se resolve.

Não é bem assim. Todos eles, desde o Bolsonaro de 2018, são invenções internas, com alguma participação complementar da direita mundial e seus muitos agentes. Mas todos foram gerados pelo Brasil arcaico e, eureka, pelo povo.

E aí está o problema que se apresenta com Marçal para as esquerdas, para a velha direita engolida pela extrema direita e agora também para o núcleo do bolsonarismo. Marçal é uma invenção do povo.

Marçal é o assustador ponto fora da curva do fascismo. Ele tem o que Bolsonaro nunca teve. O influencer conta com um certo povo que o bolsonarismo nunca emocionou.

Ele sensibiliza camadas da população para muito além da classe média branca de tios e tias de meia idade do zap, que formam o lastro do ativismo e da base social fiel e orgânica do bolsonarismo.

Marçal é um estágio acima desse bolsonarismo envelhecido porque mexe com os sentimentos dos jovens que a extrema direita não sensibilizou como pretendia.

Como as pesquisas informam, é o cara do Instagram e do TikTok e de todas as redes, dominando tudo o que se move nesse mundo de ódios, mentiras, difamações e crimes acobertados pelas big techs. Essa é a audiência de Marçal e sua base política, que Bolsonaro nunca teve com esse alcance no público com menos de 40 anos.

Marçal repete aqui o fenômeno Javier Milei na Argentina, que se sustentou entre a classe média suburbana, mais pobre do que média, e entre quem tem menos de 30 anos. Os jovens desiludidos e desorientados elegeram Milei.

O argentino antissistema, que se apresentava com o glamour do economista de grandes grupos, teve o suporte dos jovens para se eleger, porque chegou a eles de um jeito que o fascismo brasileiro não conseguiu e que pode agora conseguir com Marçal.

Não que Marçal e Milei sejam iguais, porque Milei é a imagem do serviçal do poder econômico e Marçal é um delinquente metido em golpes pela internet e em quadrilhas de traficantes. Independentemente de onde saíram, ambos comovem os jovens. Marçal prosperou e ficou milionário.

O fenômeno passa a ser um problema para Bolsonaro, Tarcísio, Michelle, Malafaia e os que investem no futuro do bolsonarismo pensando em 2026 ainda sob a tutela de Bolsonaro. Marçal, que não integra a estrutura de comando ou liderança da extrema direita, é uma ameaça a Bolsonaro como alternativa nacional.

Tem 37 anos, escapou do cerco da Justiça até agora, aperfeiçoou lacrações, cortes de vídeos e discursos, é rico e afronta todos ao redor com a irresponsabilidade do cãozinho que entrou no pátio dos cachorros grandes. Pode ser devorado por causa da arrogância. Mas não o subestimem.

Marçal se anuncia como o aperfeiçoamento da direita extremada com voto, a criatura que pode renovar o fascismo com as virtudes que o brasileiro conectado ao bolsonarismo pede: o pensamento raso da síntese simplória e agressiva, o currículo de criminoso, a capacidade para difamar, o empreendedorismo, a fortuna, a adoração a Deus e à família e mais o antilulismo e o antiesquerdismo.

Temos aí, como tivemos em 2018, um sujeito com todos os predicados, agora aperfeiçoados e radicalizados, para atender às demandas da família brasileira que se viciou em agressões, negacionismo, racismo, golpismo e todo tipo de preconceito. Ele é o novo estágio do que se iniciou há seis anos.

Marçal é o cara que resume a frase repetida desde 2018 em quaisquer circunstâncias, por gente esperta, estudada, formada ou imbecilizada, idiotizada e alienada que se dedica às várias formas de fascismo exposto ou dissimulado: é hora de mudar.

Ele é o Monark que deu certo. Se não for contido, pode transformar Bolsonaro no Orkut da extrema direita. Marçal é a geração de influencers fascistas cada vez mais perto de um projeto de poder.

 

•        Datafolha: Bolsonaro corre o risco de perder em SP e no RJ

O instituto Datafolha divulgou nesta quinta-feira (22) uma série de pesquisas com intenções de voto em variadas regiões, e duas delas mostram que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que está nas ruas em campanha intensa pelos seus aliados, pode sofrer derrota nos principais colégios eleitorais: São Paulo e Rio de Janeiro.

Em São Paulo, o Datafolha confirma o fenômeno de Pablo Marçal (PRTB), que cresceu 7 pontos e está tecnicamente empatado com Guilherme Boulos (PSOL) na primeira posição, com 21% e 23%, respectivamente. Ricardo Nunes, o candidato de Bolsonaro, aparece em terceiro lugar com 19%.

No Rio de Janeiro, a situação também não é nada boa para o aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro: Alexandre Ramagem (PL) aparece na segunda colocação com 9%, porém, Eduardo Paes (PSD) segue na dianteira com 56%.

As pesquisas do Datafolha, no entanto, trazem outros números que são tão importantes quanto, senão mais, do que a votação geral. O levantamento revela, principalmente em São Paulo, que o ex-presidente não controla totalmente o seu eleitorado.

De acordo com dados do Datafolha, 44% dos eleitores que votaram em Bolsonaro em 2022 declararam voto em Pablo Marçal. Esse número era de 29% há duas semanas. Ou seja, apesar dos apelos do ex-presidente, o seu eleitorado migrou para o coach.

Marçal também lidera em dois grupos que costumam votar em Bolsonaro: entre os homens (28%) ante 18% de Nunes; e entre os evangélicos, onde o candidato do PRTB tem 30% da preferência, ante 22% de Nunes.

A disputa eleitoral acabou de começar, mas já dá sinais de que o ex-presidente Jair Bolsonaro pode ser o grande derrotado ao perder São Paulo e Rio de Janeiro. Mas, claro, esse cenário ainda pode ser revertido.

Como se observou nos últimos dias, a família Bolsonaro e sua claque vão continuar em campanha contínua contra Pablo Marçal e orientar o seu eleitorado a votar em Ricardo Nunes. Até aqui, a estratégia não funcionou... O jogo segue em aberto, mas com vantagem para Marçal e, pior, com votos dos bolsonaristas.

•        Desabando nas pesquisas, Nunes vira ‘desbocado’ e insulta Datena, Marçal e Boulos

O atual prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), ao que consta, nunca apresentou outra versão de si que não seja a de um agente público com o carisma de uma xícara de chá de erva-cidreira que herdou um dos mais importantes cargos da política brasileira. No entanto, o homem que comanda a maior cidade do hemisfério sul do planeta Terra resolveu adotar uma postura de rottweiler na campanha eleitoral em luta para receber mais quatro anos de mandato. A explicação é simples: ele está desabando nas pesquisas e, pelo andar da carruagem, deve ficar fora até mesmo do segundo turno se sua perda de votos não cessar.

Nesta quinta-feira (22), num evento realizado na Abrasel-SP (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes de São Paulo), Nunes deixou o ar insosso de lado e partiu para a agressividade contra seus adversários, das mais diferentes posições do espectro político-ideológico. José Luiz Datena (PSDB), foi chamado de “gagá”, Pablo Marçal (PRTB) de “lunático” e Guilherme Boulos (PSOL) foi tachado de invasor arruaceiro.

“Agora a gente vive uma guerra de narrativas, né... Uma guerra de narrativa, tem um, um...um gagá aí que é candidato a prefeito também, que a vida dele quando tava na televisão era detonar o Centro de São Paulo para buscar audiência... E a gente tinha ali uma ação de desinformação”, disparou o atual prefeito contra Datena, o jornalista que por décadas comandou programas policialescos na TV.

Já em relação a Marçal, que é de fato quem mais o ameaça, uma vez que não para de crescer nas sondagens e está próximo de ultrapassá-lo, Nunes pediu “consciência” ao eleitor, mas não sem deixar de esculhambar o coach condenado por ter integrado uma quadrilha de criminosos que aplicava golpe em bancos.

“Ou a gente tem um outro lunático que fala que as propostas é fazer um teleférico pra transporte de massa... pra um desconhecimento total. Eu não vou nem falar que ele não mora em São Paulo...", falou o prefeito. "Mas a falta de conhecimento das reais necessidades da cidade, né, pode nos levar... mas eu tenho certeza que não vai... a um retrocesso na cidade”, disse.

Já em relação a Boulos, Nunes não usou um adjetivo ou alcunha específico, mas tentou rotulá-lo como um invasor arruaceiro que promove quebra-quebras, evidentemente distorcendo fatos relacionados à militância do psolista no Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST).

“Acho que existe uma diferença muito grande aí entre os candidatos. Alguém, que agora... A turma dele do MTST, agora, em 2021, invadiram (sic) a Bolsa de Valores no Centro de São Paulo, invadiram. Alguém que invadiu o Ministério da Fazenda e subiu em cima da mesa. Não é possível alguém em sã consciência imaginar, né, que uma pessoa dessa tem o mínimo de capacidade de liderar a cidade que é a maior da América Latina, a décima cidade do mundo, a cidade que está inserida na quinta maior metrópole do mundo”, seguiu agressivo o candidato à reeleição.

•        Bolsonarista Marcos Cintra abandona o “mito” e embarca em Marçal

O economista Marcos Cintra, tradicional apoiador de Jair Bolsonaro, usou seu perfil no X para elogiar Pablo Marçal (PRTB) e manifestar seu apoio à candidatura do coach. Confira abaixo:  

Não tenho a menor idéia do que pensa Pablo Marçal, mas para mim, a recusa dele em entrar em dividida com o Alexandre de Morais é demonstração de inteligência, coragem e de argúcia estratégica. Uma recuada planejada para poder saltar em seguida. Vai lhe render críticas de quem não sofre os mesmos riscos.

Reconhecer a força e o poder destrutivo superior do adversário não é covardia, mas sabedoria que preserva a própria integridade. E permite chegar ao objetivo desejado, no caso a prefeitura de S.Paulo.

Burrice é dar muro em ponta de faca para mostrar coragem e ser afastado da disputa, por seja lá qual razão. Nossa infausta realidade mostra o risco de Marçal entrar numa briga que não é dele, e colocar em risco seu objetivo imediato de se tornar prefeito de São Paulo. Marçal é fraco demais para peitar Alexandre de Moraes.

Todos sabem o que ambos pensam e como se comportam. Vale a pena cutucar a onça com vara curta? Vale a pena entrar num tiroteio com um calibe 22 contra uma M15? Posso até dar um tiro certeiro e vencer, mas a probabilidade é muito maior de ser fusilado. A briga de Marçal é contra a corrupção e a ineficiência na cidade de São Paulo. Já é o bastante. Salvar o país fica para uma outra etapa, se ultrapassar a primeira.

 

Fonte: O Cafezinho/Brasil 247/Fórum/DCM

 

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