Mpox:
eczema na pele pode agravar infecção, diz virologista
Desde
que o atual surto de mpox começou, em janeiro de 2023, houve cerca de 27 mil
casos e mais de 1.100 mortes pela doença apenas na República Democrática do
Congo. Entre as pessoas com maior risco de desenvolver uma infecção grave e
consequentemente vir a óbito estão pessoas imunossuprimidas, com HIV, gestantes
e crianças.
Além
disso, pessoas com eczema, um tipo de doença de pele, também podem correr maior
risco de ter quadros graves de mpox e de morte, de acordo com Matthew
Binnicker, diretor do Laboratório de Virologia Clínica da Mayo Clinic em
Rochester, Minnesota, nos Estados Unidos.
Em
entrevista à CNN, o especialista explica que pessoas com eczema e outras
condições de pele podem sofrer replicação descontrolada do vírus da mpox em
algumas situações, levando a uma infecção mais grave que se espalha para
diferentes sistemas de órgãos, como o cardiovascular e o nervoso.
“É
uma combinação do tipo do vírus e, também, de fatores relacionados ao paciente,
como seu sistema imunológico e outras condições de saúde, que o leva a ter uma
maior chance de doença mais grave”, afirma Binnicker.
• O que é
eczema e qual a sua relação com mpox?
De
acordo com a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), eczema é um tipo de
dermatose (doença que atinge a pele) que se caracteriza por apresentar vários
tipos de lesões. Ela pode ser aguda, subaguda ou crônica. Na fase aguda, as
lesões começam com marcas avermelhadas com bolhinhas de água na superfície e,
ao se romperem, eliminam um líquido claro. Já na fase crônica, a secreção
começa a secar, levando à formação de crostas.
Segundo
a entidade, existem seis doenças que podem se manifestar como eczema: dermatite
atópica, dermatite de contato, eczema por droga ingerida, eczema numular,
eczema de estase e disidrose.
“Pessoas
que possuem doenças de pele, como o eczema, correm maior risco porque a pele é
uma barreira natural contra infecções virais. Se houver uma ruptura na pele,
como em uma condição de eczema, é provável ocorrer uma infecção”, explica
Binnicker. “Também há algo na resposta imunológica e inflamatória desses
indivíduos que os torna prováveis que o vírus se replique de forma
descontrolada”, acrescenta.
• O que é
mpox e quando o quadro pode ser grave?
Mpox
é uma doença infecciosa causada por um vírus do gênero Orthopoxvirus, o mesmo
do vírus da varíola (já erradicada). A transmissão ocorre por meio do contato
com pessoas infectadas ou materiais contaminados pelo vírus.
A doença
é caracterizada pelas lesões na pele, mucosas e órgãos internos, além de
sintomas como febre, dores no corpo, dor de cabeça, calafrios e fraqueza. As
lesões, geralmente, costumam aparecer de um a três dias após o início da febre,
mas, às vezes, podem aparecer antes da febre.
Segundo
o Ministério da Saúde, o intervalo de tempo entre o primeiro contato com o
vírus até o início dos primeiros sintomas da mpox (período de incubação) é
tipicamente de três a 16 dias, mas pode chegar a 21 dias.
“Em
alguns pacientes, o vírus pode se disseminar através do sangue, passando de uma
infecção na pele ou na genitália para diferentes partes do corpo, causando o
que chamamos de ‘doença disseminada'”, explica Binnicker. É nesse momento que
surge um quadro grave de mpox.
“Quando
a infecção ataque diferentes sistemas de órgãos, como o coração ou o sistema
nervoso central, podem resultar na morte do indivíduo”, afirma o virologista.
No
atual surto, os quadros mais graves de mpox estão relacionados à infecção
causada pelo clado 1 e sua subvariante clado 1B. Clados são grupos de vírus
que, apesar de terem semelhanças genéticas, não são idênticos.
“Existem
dois clados diferentes do vírus do mpox: o clado 1 e o clado 2. Em 2022, houve
um grande surto mundial resultante da disseminação do clado 2, que, geralmente,
está associado a uma menor taxa de mortalidade. O surto atual, que está
ocorrendo na África e em algumas outras nações, é causado pelo clado 1 e,
especificamente, pelo clado 1B, que está associado a uma doença mais grave e
uma maior taxa de mortalidade”, explica Binnicker.
Segundo
o especialista, a taxa de mortalidade da mpox com o clado 1 e 1B pode variar de
3% a 10%. Já a taxa de letalidade do clado 2 varia entre 0,1% a 0,5%. “É uma
taxa de mortalidade muito menor em comparação com o clado 1”, comenta.
Na
visão do virologista, apesar de o clado 1 e 1B serem mais transmissíveis e
causarem uma doença mais grave, não há risco de pandemia no mesmo nível que a
causada pelo vírus da Covid-19. “A principal diferença entre os dois vírus é
que o vírus que causa a Covid-19 é transmitido principalmente pela via
respiratória (…), enquanto a mpox é transmissível, principalmente, através do
contato direto de uma pessoa com as lesões cutâneas contaminadas pelo vírus”,
afirma.
• Quem
mais está em maior risco de mpox grave e de morte?
Além
de pessoas com eczema, aquelas com o sistema imunológico enfraquecido ou
suprimido correm maior risco de ter uma infecção grave e de vir a óbito. É o
caso de pessoas com HIV e pacientes que realizaram transplante de órgão e estão
sob medicação imunossupressora.
“Também
vimos nos surtos mais recentes que crianças muito pequenas estão entre os
grupos mais vulneráveis e de maior risco para doença grave e, potencialmente,
morte”, acrescenta Binnicker.
“A
maioria das pessoas não precisará de medicação antiviral se tiver um sistema
imunológico normal e a doença não for grave; elas receberão apenas cuidados de
suporte e manejo da dor. Mas, se um paciente estiver em um dos grupos de alto
risco que discutimos anteriormente, ele pode receber um medicamento chamado
TPOXX, que demonstrou reduzir a gravidade e a taxa de mortalidade do mpox”,
afirma.
No
entanto, a análise primária de um estudo mostrou que o medicamento pode não ser
eficaz para reduzir a duração dos sintomas em pessoas infectadas com o clado 1
do vírus.
• Como
prevenir e tratar mpox?
A
prevenção da mpox é feita ao evitar o contato direto com pessoas com suspeita
ou confirmação da doença, além de manter a higiene das mãos com água e sabão.
Segundo o Ministério da Saúde, pessoas infectadas devem cumprir isolamento
social, que inclui não compartilhar materiais e objetos de uso pessoal, como
toalhas, escovas, lençóis e roupas.
A
vacina contra a mpox também é fundamental para a prevenção e é indicada,
prioritariamente, a pessoas com maior risco de ter formas graves da doença,
segundo a pasta. São elas homens cisgêneros, travestis e mulheres transexuais
com idade igual ou superior a 18 anos que vivem com o vírus HIV, além de
funcionários de laboratórios que trabalham diretamente com microrganismos e têm
18 a 49 anos, e pessoas que já tiveram contatos com pessoas suspeitas ou
confirmadas de infecção por mpox.
“Foram
realizados vários estudos sobre a eficácia da vacina, e ela gera uma resposta
imunológica contra o vírus, ajudando a prevenir que ele se replique em altos
níveis em uma pessoa, caso ela seja infectada”, explica Binnicker. “Se apenas
uma dose for administrada, a eficácia da vacina varia de 36% a 75%, dependendo
do estudo realizado. Se ambas as doses forem administradas, a eficácia varia de
65% a 85%”, acrescenta o virologista.
O
especialista ressalta que, “mesmo que alguém vacinado desenvolva sintomas de
mpox, a gravidade da doença provavelmente será muito menor do que se não
tivesse sido vacinado”.
• Creme
antisséptico feito no Brasil pode proteger contra o vírus
Um
creme antisséptico para mãos desenvolvido no Brasil mostrou ser efetivo na
proteção contra o vírus da mpox. Em testes realizados pelo Instituto de
Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), o “Phitta Cream”
foi capaz de inativar e matar o MPXV, vírus causador da doença, e suas
variantes por até quatro horas.
“Nós
testamos o creme na cepa que está causando o surto atual da doença e que levou
a OMS [Organização Mundial da Saúde] a decretar emergência global em saúde. O
produto foi capaz de inativar o vírus em diferentes tempos: em minutos, 1, 2, 3
e 4 horas”, afirma o professor Edison Luiz Durigon, coordenador do Laboratório
de Virologia Clínica e Molecular do ICB-USP, em comunicado à imprensa. Durigon
foi um dos responsáveis por isolar o vírus da mpox no Brasil.
O
creme utiliza um princípio ativo chamado Phtalox, desenvolvido com
nanotecnologia pelo Instituto de Química da USP. “É uma espécie de oxigênio,
derivado do corante natural ftalocianina, que age no capsídeo do vírus,
provocando sua oxidação. Assim, consegue destruir a camada superficial do
micro-organismo, o suficiente para inativá-lo”, explica o pesquisador. Essa
proteção também se aplica à nova cepa da mpox, que é mais transmissível e causa
maior mortalidade. É possível verificar o laudo com os resultados do teste
aqui.
A
mpox é uma doença infecciosa causada por um vírus do gênero Orthopoxvirus, o
mesmo do vírus da varíola (já erradicada). A transmissão ocorre por meio do
contato com pessoas infectadas ou materiais contaminados pelo vírus. A doença é
caracterizada pelas lesões na pele, mucosas e órgãos internos, além de sintomas
como febre, dores no corpo, dor de cabeça, calafrios e fraqueza.
Na
semana passada, a OMS declarou o atual surto de mpox — que atinge,
principalmente, a África e alguns países fora do continente africano, como a
Suécia — uma emergência de saúde pública global. A declaração ocorre diante da
circulação do clado 1B, uma cepa com maior transmissibilidade e maior taxa de
mortalidade no continente africano, com chances de se espalhar para outras
regiões do mundo. No Brasil, ainda não há casos de mpox causados pela nova
variante, apenas pela clado 2, que é associada a uma infecção menos grave.
“Acreditamos
que o Phitta Cream será um importante aliado para o controle da doença, pois a
transmissão da mpox também ocorre por contato com objetos contaminados”, afirma
Sergio Bertucci, fundador e CEO da startup Use Phitta Cream, que detém a
patente do produto.
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Outras formas de prevenir a mpox
De
acordo com o Ministério da Saúde, a principal forma de se proteger contra a
mpox é evitar o contato direto com pessoas com suspeita ou confirmação da
doença. Em caso de necessidade de contato com a pessoa infectada — caso seja um
cuidador, familiar próximo ou profissional da saúde — utilizar luvas, máscaras,
avental e óculos de proteção.
A
pasta também orienta lavar regularmente as mãos com água e sabão e utilizar
álcool em gel, principalmente após o contato com a pessoa infectada e seus
objetos de uso pessoal. Lavar as roupas de cama, roupas, toalhas, lençóis,
talheres e objetos pessoais da pessoa com água morna e detergente. Limpar e
desinfectar todas as superfícies contaminadas e descartar os resíduos
contaminados (por exemplo, curativos) de forma adequada.
Além
disso, a vacina também é importante para a prevenção da mpox. Segundo o
Ministério da Saúde, estratégia de vacinação prioriza a proteção das pessoas
com maior risco de evolução para as formas graves da doença. São elas:
• Pessoas
vivendo com HIV/aids (PVHA): homens cisgêneros, travestis e mulheres
transexuais; com idade igual ou superior a 18 anos; e com status imunológico
identificado pela contagem de linfócitos T CD4 inferior a 200 células nos
últimos seis meses;
• Profissionais
de laboratório que trabalham diretamente com Orthopoxvírus em laboratórios com
nível de biossegurança 2 (NB-2), de 18 a 49 anos de idade;
• Pessoas
que tiveram contato direto com fluidos e secreções corporais de pessoas
suspeitas, prováveis ou confirmadas para mpox, cuja exposição seja classificada
como de alto ou médio risco, conforme recomendações da OMS, mediante avaliação
da vigilância local.
Fonte:
CNN Brasil
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