Luís Nassif: Os mistérios por trás da
riqueza de Pablo Marçal
Vamos a alguns dados
biográficos de Pablo Marçal.
1. Ele atua em um setor propício para
lavagem de dinheiro.
Não estou afirmando
que ele lava dinheiro, mas que o setor é propício.
A lavagem de dinheiro
ocorre em setores onde não há referências maiores sobre os preços praticados.
Nos setores tradicionais da economia, há uma relação entre o custo de produção
e o preço de venda. Em mercados organizados, há as cotações em bolsa. Empresas
do setor real têm balanço com registro de todos os dados de sua atividade.
A lavagem de dinheiro
ocorre em setores onde é difícil mensurar preço ou faturamento. Por exemplo,
leilões de artes, passes de jogador de futebol, moedas digitais e faturamento
na Internet.
Não há nenhuma
indicação mais precisa sobre a origem do faturamento de Pablo Marçal. Nas
últimas eleições, a Polícia Federal foi atrás das empresas mencionadas na
declaração de renda do candidato. Todas ocupavam a mesma sala em um escritório
de Barueri, tinham o mesmo contador e nenhuma estrutura física.
2. Ele está cercado de pessoas suspeitas de
ligações com o tráfico.
• Segundo o Estadão: “Polícia Civil
investiga a participação de dois antigos homens de confiança do presidente
nacional da legenda do ex-coach em operações da facção criminosa, como
financiamento do tráfico, fraudes imobiliárias e até mesmo controle de uma casa
de prostituição; acusados alegam inocência”
• Segundo a Folha, o presidente do PRTB de
São Paulo – partido de Marçal – Leonardo Avalanche, teria admitido ligações com
o PCC em áudio.
• Em seu canal, Renato Cariani –
fisiculturista acusado de ligações com o tráfico – anunciou uma sociedade com
Pablo Marçal.
• Mantém relações estreitas com Angola,
que se tornou um centro de contrabando de diamantes e de lavar dinheiro através
de redes internacionais, além de ser rota da cocaína da América do Sul
destinada à Europa. Antes dele, esteve em Angola a Igreja Universal do Reino de
Deus, sendo expulsa por acusações de irregularidades financeiras. Até agora,
não há informação de que Marçal esteja envolvido em malfeitos por lá. Mas
também mantém profunda admiração pela Universal.
Nas suas últimas
lives, Marçal alegou estar recebendo indicações de que entrou na mira do COAF
(Conselho para Controle de Atividades Financeiras), esbravejou contra as
autoridades e abriu a possibilidade de sair do país.
Pode ser mais uma
maneira de ganhar engajamento. Pode ser também que seus arroubos e suas proezas
econômicas tenham, finalmente, chamado a atenção das autoridades.
• “Ver Marçal com chance de se eleger é
uma catástrofe”, diz Helena Chagas
Uma nova pesquisa
Datafolha, divulgada nesta quinta-feira (22), mostrou que o influenciador Pablo
Marçal (PRTB) subiu sete pontos percentuais em duas semanas, alcançando 21% das
intenções de voto para a prefeitura da capital paulista. Ele agora está tecnicamente
empatado na liderança com Guilherme Boulos (Psol), que tem 23%, e Ricardo Nunes
(MDB), que aparece com 19%. A margem de erro é de três pontos percentuais.
Em publicação na rede
social X, a jornalista Helena Chagas afirmou que o resultado pode ser, “de
certa forma”, positivo para a esquerda, pois revela que o eleitorado de direita
está dividido entre dois candidatos. No entanto, ela alertou que a possibilidade
de Pablo Marçal chegar ao segundo turno e vencer seria uma
"catástrofe" e um "escândalo".
“O avanço do candidato
da baixaria Pablo Marçal (de 14% para 21%) pelo Datafolha que acaba de sair do
forno em SP enfraquece Nunes (cai de 23%para 19%) e deixa Guilherme Boulos na
dianteira (foi de 22% para 23%) — o que, de certa forma, é positivo para a
esquerda porque dividiu a direita. Mostra que funcionou a estratégia dele de
polarizar com Boulos”, escreveu. “Mas ver esse candidato, ainda por cima de um
partido que tem ligações com o PCC, com chances de ir ao segundo turno e se
eleger é um escândalo, um perigo, uma catástrofe. Triste, muito triste,
concluir que, mesmo depois de tudo o que passamos, esse pessoal não aprendeu
nada”.
A mais recente
pesquisa AtlasIntel, divulgada na quarta-feira (21), revelou ainda que a
preferência dos eleitores bolsonaristas pelo candidato do PRTB aumentou desde
junho, quando ele era a escolha de 26,9% das pessoas que votaram em Bolsonaro
em 2022. Em agosto, esse número subiu para 41,8%.
• Humilhado por Bolsonaro, Marçal revida e
faz “revelação” sobre ex-presidente
O clima está tenso
entre a fração paulista do bolsonarismo e o candidato à prefeitura de São Paulo
Pablo Marçal. Tudo piorou na terça-feira (21) com a divulgação da pesquisa de
intenção de votos Atlas Intel, que mostra um crescimento de 5 pontos do candidato
do PRTB, o que acendeu a luz amarela na extrema direita.
Com o risco de Pablo
Marçal avançar ainda mais sobre o eleitorado de Ricardo Nunes (MDB), que é o
candidato do bolsonarismo, Eduardo Bolsonaro e outras figuras do referido campo
voltaram a atacar Marçal.
No entanto, o roteiro
ganhou um capítulo um tanto humilhante para Marçal na manhã desta quinta-feira
(22), quando o candidato coach comentou em uma publicação do ex-presidente Jair
Bolsonaro e levou uma baita invertida, que o deixou descompensado.
Além de cobrar R$ 100
mil de Jair Bolsonaro, Pablo Marçal fez uma publicação em seu perfil no
Instagram onde insinua que o ex-presidente é usuário de cocaína, mesma tática
que ele utiliza contra Guilherme Boulos (PSOL), seu adversário na disputa pela
prefeitura de São Paulo.
A publicação de Pablo
Marçal causou revolta entre bolsonaristas.
• Marçal rasteja atrás de Bolsonaro, toma
invertida e cobra doação de R$ 100 mil
O candidato a prefeito
de São Paulo, Pablo Marçal (PRTB), foi rastejar atrás do ex-presidente Jair
Bolsonaro (PL), na manhã desta quinta-feira (22), em um post do Instagram e
tomou uma invertida.
No post, Bolsonaro
citava supostos feitos de seu governo, quando Marçal comentou:
“Pra cima capitão.
Como você disse: eles vão sentir saudades de nós.”
O ex-presidente,
então, respondeu:
“Nós? Um abraço.”
A seguir, o deputado
federal Eduardo Bolsonaro (PL), também respondeu:
“Pablo Marçal,
estranho. Em 2022 vc disse que a diferença entre Lula e Bolsonaro é que um
deles tinha 1 dedo a menos. Só acordou agora? Tá parecendo até o Mourão...”
<><> Jogou
doação na cara
Marçal, então, jogou
na cara de Bolsonaro uma doação de R$ 100 mil que fez à campanha de Bolsonaro e
pediu de volta o dinheiro:
“@jairmessiasbolsonaro
isso mesmo!! Coloquei 100 mil reais na sua campanha pra presidente, te ajudei
nas estratégias digitais, fiz você gravar mais de 800 vídeos no planalto.
Entrei pra lista de investigados da PF por te ajudar. Se não existe o nós, seja
mais claro. Entendo sua palavra ao Valdemar Costa Neto, mas a honra e a
gratidão são frutos de um homem sensato. Todos os nossos desentendimentos foram
resolvidos, almoçamos esses dias, você me deu a medalha e eu continuo te
respeitando. Só não nos curvaremos a comunistas na eleição de São Paulo e se o
capitão quiser me tirar do ‘nós’, me ajude devolvendo os 100 mil reais
depositando na minha campanha aqui de prefeito a São Paulo pois não estou
usando dinheiro público e não vou colocar o meu próprio dinheiro, pra não ser
investigado mais uma vez. Se porventura o senhor não quiser ajudar na campanha,
considere o Nós como correto! Abraços ?”
• Maquiadora de esposa de Pablo Marçal
pagou anúncio ilegal de campanha no Google
Um anúncio no Google
que direciona para o site da campanha de Pablo Marçal, candidato do PRTB à
prefeitura de São Paulo, foi pago por Talita Alves Trindade Vieira, maquiadora
da esposa do coach.
O anúncio é crime
eleitoral: a lei brasileira proíbe que terceiros paguem por publicidade
eleitoral em nome de um candidato. Também é irregular porque o Google, em tese,
proíbe anúncios políticos desde abril deste ano.
Na prática, no
entanto, a big tech permitiu impulsionar – isto é, pagar para que a postagem
seja vista por mais pessoas – o anúncio, o que privilegia Marçal frente a todos
os outros candidatos nas plataformas do Google. “O anúncio vem na frente. Ele é
programado para o algoritmo entender que aquilo é mais relevante do que
qualquer coisa e entregar várias vezes”, disse Marie Santini, diretora do
NetLab da Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, ao Intercept Brasil.
O Intercept Brasil e o
Aos Fatos chegaram até a maquiadora a partir das informações que constam no
centro de transparência de anúncios do Google.
O número de WhatsApp
disponível no perfil do Instagram de Vieira para agendamentos é o mesmo número
que foi declarado no cadastro da empresa e o endereço e o email informados em
sua página no Facebook também batem com as informações da Receita Federal.
No Instagram de Talita
Vieira, uma maquiadora de Barueri, é possível ver sua relação com Pablo Marçal e esposa, Ana
Carolina Marçal.
Vieira maquiou Ana
Carolina no dia do casamento de seu irmão, em dezembro do ano passado. A
maquiadora também publicou dois vídeos de uma palestra de Marçal em novembro de
2022 e janeiro deste ano.
O anúncio rodado por
Talita no Google aparentemente promove a venda do Networking Pro, um dos cursos
de Marçal. Só que, ao clicar nele, o usuário acessa o site da campanha do candidato do PRTB.
A publicidade foi
exibida depois do início da campanha eleitoral, entre os dias 16 e 20 de
agosto. É o único anúncio pago por Talita que diz respeito a Pablo Marçal – os
demais promovem cursos de outras pessoas e dois anunciam seu trabalho como
maquiadora.
<><>
Impulsionamento em nome de terceiros pode ser estratégia para burlar a lei
Não é a primeira vez
que um terceiro impulsiona conteúdo político em nome de Marçal. Na semana
passada, uma apuração do Aos Fatos identificou seis anúncios veiculados nas
redes sociais da Meta pelo fisiculturista Renato Cariani, sócio de Marçal e réu
por tráfico de drogas.
Encontramos outro
caso, desta vez envolvendo uma pessoa de nome Geana Rosa Martins, que
impulsionou três anúncios no Google que levam para o site da campanha do
candidato. As peças foram veiculadas no mesmo período dos anúncios de Talita.
Contudo, não conseguimos identificar qual a ligação desta pessoa com Pablo
Marçal.
Uma norma de dezembro
de 2019 do Tribunal Superior Eleitoral, o TSE,
proíbe esse tipo de propaganda. “Impulsionamento só pode do próprio
[candidato] ou do partido”, explicou a coordenadora geral da Academia Brasileira
de Direito Eleitoral e Político, Vania Aieta. A violação seria, a princípio,
passível de multa, mas poderia virar uma ação na Justiça Eleitoral de abuso de
poder de mídia a depender da quantidade de anúncios.
“Se houver algum
indício de que as pessoas que estão fazendo isso recebem do candidato ou são
orientadas pelo candidato, seria ainda mais grave”, disse a advogada
eleitoralista Paula Bernardelli.
<><> Falha
da plataforma em cumprir sua própria regra
Vale ressaltar que os
anúncios foram veiculados porque o Google falhou em aplicar suas próprias
regras. Em abril deste ano, a empresa anunciou que proibiria o impulsionamento
de conteúdo político para cumprir com as regras do TSE.
As novas definições já
valem para as eleições municipais de outubro deste ano. Segundo Bernardelli, é
preciso considerar que a estratégia de impulsionamento em nome de terceiros
pode ser uma forma de driblar a proibição estabelecida pelo Google.
À reportagem, o Google
reiterou que atualizou a política de conteúdo político do Google Ads para não
mais permitir a veiculação de anúncios políticos no Brasil. “Quando
identificamos violações às nossas políticas, agimos imediatamente”, afirmou.
Pelo centro de transparência de anúncios, não é possível checar se o Google
realmente agiu sobre os anúncios identificados.
Também contatamos
Talita Vieira e a assessoria de imprensa da campanha de Marçal, que não se
posicionaram até o fechamento desta reportagem.
• Influenciador mostra pagamento de Marçal
por disparo de vídeos em massas
Um influenciador
digital revelou nesta quarta-feira, 21, um comprovante de Pix vinculado a uma
empresa de Pablo Marçal, candidato à Prefeitura de São Paulo pelo PRTB.
O pagamento de R$
8.500, realizado pela Marçal Lançamento Digital, seria por postagens de vídeos
do candidato em sua rede social, onde possui 118 mil seguidores.
Especialistas apontam
que a ação pode constituir propaganda eleitoral irregular e potencial crime
eleitoral, já que os pagamentos não foram declarados à Justiça Eleitoral. A
prática pode representar abuso de poder econômico, o que poderia desequilibrar
a competição eleitoral.
O Ministério Público
Eleitoral já está ciente da situação e sugeriu a suspensão da candidatura de
Marçal enquanto prossegue a investigação. Em caso de condenação, o ex-coach
poderia ficar inelegível por oito anos.
Apesar das evidências,
Marçal negou as acusações, descrevendo-as como “uma tentativa desesperada do
bloco da esquerda, MDB, PSB, PT e PSOL, de tentar frear quem realmente vai
vencer as eleições”. A declaração foi emitida em uma nota na última
segunda-feira, 19.
Em contrapartida,
vídeos publicados por Marçal confirmam a prática de remunerar por visualizações
de vídeos. “É um campeonato no aplicativo onde você entra, se cadastra e
aprende a fazer corte”, explicou o candidato, detalhando que os cortes dos
vídeos podem variar entre quinze e quarenta e cinco segundos.
Fonte: Jornal
GGN/Brasil 247/Fórum/The Intercept/O Cafezinho
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