sábado, 24 de agosto de 2024

Luís Nassif: Os mistérios por trás da riqueza de Pablo Marçal

Vamos a alguns dados biográficos de Pablo Marçal.

1.       Ele atua em um setor propício para lavagem de dinheiro.

Não estou afirmando que ele lava dinheiro, mas que o setor é propício.

A lavagem de dinheiro ocorre em setores onde não há referências maiores sobre os preços praticados. Nos setores tradicionais da economia, há uma relação entre o custo de produção e o preço de venda. Em mercados organizados, há as cotações em bolsa. Empresas do setor real têm balanço com registro de todos os dados de sua atividade.

A lavagem de dinheiro ocorre em setores onde é difícil mensurar preço ou faturamento. Por exemplo, leilões de artes, passes de jogador de futebol, moedas digitais e faturamento na Internet.

Não há nenhuma indicação mais precisa sobre a origem do faturamento de Pablo Marçal. Nas últimas eleições, a Polícia Federal foi atrás das empresas mencionadas na declaração de renda do candidato. Todas ocupavam a mesma sala em um escritório de Barueri, tinham o mesmo contador e nenhuma estrutura física.

2.       Ele está cercado de pessoas suspeitas de ligações com o tráfico.

•        Segundo o Estadão: “Polícia Civil investiga a participação de dois antigos homens de confiança do presidente nacional da legenda do ex-coach em operações da facção criminosa, como financiamento do tráfico, fraudes imobiliárias e até mesmo controle de uma casa de prostituição; acusados alegam inocência”

•        Segundo a Folha, o presidente do PRTB de São Paulo – partido de Marçal – Leonardo Avalanche, teria admitido ligações com o PCC em áudio.

•        Em seu canal, Renato Cariani – fisiculturista acusado de ligações com o tráfico – anunciou uma sociedade com Pablo Marçal.

•        Mantém relações estreitas com Angola, que se tornou um centro de contrabando de diamantes e de lavar dinheiro através de redes internacionais, além de ser rota da cocaína da América do Sul destinada à Europa. Antes dele, esteve em Angola a Igreja Universal do Reino de Deus, sendo expulsa por acusações de irregularidades financeiras. Até agora, não há informação de que Marçal esteja envolvido em malfeitos por lá. Mas também mantém profunda admiração pela Universal.

Nas suas últimas lives, Marçal alegou estar recebendo indicações de que entrou na mira do COAF (Conselho para Controle de Atividades Financeiras), esbravejou contra as autoridades e abriu a possibilidade de sair do país.

Pode ser mais uma maneira de ganhar engajamento. Pode ser também que seus arroubos e suas proezas econômicas tenham, finalmente, chamado a atenção das autoridades.

•        “Ver Marçal com chance de se eleger é uma catástrofe”, diz Helena Chagas

Uma nova pesquisa Datafolha, divulgada nesta quinta-feira (22), mostrou que o influenciador Pablo Marçal (PRTB) subiu sete pontos percentuais em duas semanas, alcançando 21% das intenções de voto para a prefeitura da capital paulista. Ele agora está tecnicamente empatado na liderança com Guilherme Boulos (Psol), que tem 23%, e Ricardo Nunes (MDB), que aparece com 19%. A margem de erro é de três pontos percentuais.

Em publicação na rede social X, a jornalista Helena Chagas afirmou que o resultado pode ser, “de certa forma”, positivo para a esquerda, pois revela que o eleitorado de direita está dividido entre dois candidatos. No entanto, ela alertou que a possibilidade de Pablo Marçal chegar ao segundo turno e vencer seria uma "catástrofe" e um "escândalo".

“O avanço do candidato da baixaria Pablo Marçal (de 14% para 21%) pelo Datafolha que acaba de sair do forno em SP enfraquece Nunes (cai de 23%para 19%) e deixa Guilherme Boulos na dianteira (foi de 22% para 23%) — o que, de certa forma, é positivo para a esquerda porque dividiu a direita. Mostra que funcionou a estratégia dele de polarizar com Boulos”, escreveu. “Mas ver esse candidato, ainda por cima de um partido que tem ligações com o PCC, com chances de ir ao segundo turno e se eleger é um escândalo, um perigo, uma catástrofe. Triste, muito triste, concluir que, mesmo depois de tudo o que passamos, esse pessoal não aprendeu nada”.

A mais recente pesquisa AtlasIntel, divulgada na quarta-feira (21), revelou ainda que a preferência dos eleitores bolsonaristas pelo candidato do PRTB aumentou desde junho, quando ele era a escolha de 26,9% das pessoas que votaram em Bolsonaro em 2022. Em agosto, esse número subiu para 41,8%.

•        Humilhado por Bolsonaro, Marçal revida e faz “revelação” sobre ex-presidente

O clima está tenso entre a fração paulista do bolsonarismo e o candidato à prefeitura de São Paulo Pablo Marçal. Tudo piorou na terça-feira (21) com a divulgação da pesquisa de intenção de votos Atlas Intel, que mostra um crescimento de 5 pontos do candidato do PRTB, o que acendeu a luz amarela na extrema direita.

Com o risco de Pablo Marçal avançar ainda mais sobre o eleitorado de Ricardo Nunes (MDB), que é o candidato do bolsonarismo, Eduardo Bolsonaro e outras figuras do referido campo voltaram a atacar Marçal.

No entanto, o roteiro ganhou um capítulo um tanto humilhante para Marçal na manhã desta quinta-feira (22), quando o candidato coach comentou em uma publicação do ex-presidente Jair Bolsonaro e levou uma baita invertida, que o deixou descompensado.

Além de cobrar R$ 100 mil de Jair Bolsonaro, Pablo Marçal fez uma publicação em seu perfil no Instagram onde insinua que o ex-presidente é usuário de cocaína, mesma tática que ele utiliza contra Guilherme Boulos (PSOL), seu adversário na disputa pela prefeitura de São Paulo.

A publicação de Pablo Marçal causou revolta entre bolsonaristas.

•        Marçal rasteja atrás de Bolsonaro, toma invertida e cobra doação de R$ 100 mil

O candidato a prefeito de São Paulo, Pablo Marçal (PRTB), foi rastejar atrás do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), na manhã desta quinta-feira (22), em um post do Instagram e tomou uma invertida.

No post, Bolsonaro citava supostos feitos de seu governo, quando Marçal comentou:

“Pra cima capitão. Como você disse: eles vão sentir saudades de nós.”

O ex-presidente, então, respondeu:

“Nós? Um abraço.”

A seguir, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL), também respondeu:

“Pablo Marçal, estranho. Em 2022 vc disse que a diferença entre Lula e Bolsonaro é que um deles tinha 1 dedo a menos. Só acordou agora? Tá parecendo até o Mourão...”

<><> Jogou doação na cara

Marçal, então, jogou na cara de Bolsonaro uma doação de R$ 100 mil que fez à campanha de Bolsonaro e pediu de volta o dinheiro:

“@jairmessiasbolsonaro isso mesmo!! Coloquei 100 mil reais na sua campanha pra presidente, te ajudei nas estratégias digitais, fiz você gravar mais de 800 vídeos no planalto. Entrei pra lista de investigados da PF por te ajudar. Se não existe o nós, seja mais claro. Entendo sua palavra ao Valdemar Costa Neto, mas a honra e a gratidão são frutos de um homem sensato. Todos os nossos desentendimentos foram resolvidos, almoçamos esses dias, você me deu a medalha e eu continuo te respeitando. Só não nos curvaremos a comunistas na eleição de São Paulo e se o capitão quiser me tirar do ‘nós’, me ajude devolvendo os 100 mil reais depositando na minha campanha aqui de prefeito a São Paulo pois não estou usando dinheiro público e não vou colocar o meu próprio dinheiro, pra não ser investigado mais uma vez. Se porventura o senhor não quiser ajudar na campanha, considere o Nós como correto! Abraços ?”

 

•        Maquiadora de esposa de Pablo Marçal pagou anúncio ilegal de campanha no Google

Um anúncio no Google que direciona para o site da campanha de Pablo Marçal, candidato do PRTB à prefeitura de São Paulo, foi pago por Talita Alves Trindade Vieira, maquiadora da esposa do coach.

O anúncio é crime eleitoral: a lei brasileira proíbe que terceiros paguem por publicidade eleitoral em nome de um candidato. Também é irregular porque o Google, em tese, proíbe anúncios políticos desde abril deste ano.

Na prática, no entanto, a big tech permitiu impulsionar – isto é, pagar para que a postagem seja vista por mais pessoas – o anúncio, o que privilegia Marçal frente a todos os outros candidatos nas plataformas do Google. “O anúncio vem na frente. Ele é programado para o algoritmo entender que aquilo é mais relevante do que qualquer coisa e entregar várias vezes”, disse Marie Santini, diretora do NetLab da Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, ao Intercept Brasil.

O Intercept Brasil e o Aos Fatos chegaram até a maquiadora a partir das informações que constam no centro de transparência de anúncios do Google.

O número de WhatsApp disponível no perfil do Instagram de Vieira para agendamentos é o mesmo número que foi declarado no cadastro da empresa e o endereço e o email informados em sua página no Facebook também batem com as informações da Receita Federal.

No Instagram de Talita Vieira, uma maquiadora de Barueri, é possível ver  sua relação com Pablo Marçal e esposa, Ana Carolina Marçal.

Vieira maquiou Ana Carolina no dia do casamento de seu irmão, em dezembro do ano passado. A maquiadora também publicou dois vídeos de uma palestra de Marçal em novembro de 2022 e janeiro deste ano.

O anúncio rodado por Talita no Google aparentemente promove a venda do Networking Pro, um dos cursos de Marçal. Só que, ao clicar nele, o usuário acessa  o site da campanha do candidato do PRTB.

A publicidade foi exibida depois do início da campanha eleitoral, entre os dias 16 e 20 de agosto. É o único anúncio pago por Talita que diz respeito a Pablo Marçal – os demais promovem cursos de outras pessoas e dois anunciam seu trabalho como maquiadora.

<><> Impulsionamento em nome de terceiros pode ser estratégia para burlar a lei

Não é a primeira vez que um terceiro impulsiona conteúdo político em nome de Marçal. Na semana passada, uma apuração do Aos Fatos identificou seis anúncios veiculados nas redes sociais da Meta pelo fisiculturista Renato Cariani, sócio de Marçal e réu por tráfico de drogas.

Encontramos outro caso, desta vez envolvendo uma pessoa de nome Geana Rosa Martins, que impulsionou três anúncios no Google que levam para o site da campanha do candidato. As peças foram veiculadas no mesmo período dos anúncios de Talita. Contudo, não conseguimos identificar qual a ligação desta pessoa com Pablo Marçal.

Uma norma de dezembro de 2019 do Tribunal Superior Eleitoral, o TSE,  proíbe esse tipo de propaganda. “Impulsionamento só pode do próprio [candidato] ou do partido”, explicou a coordenadora geral da Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político, Vania Aieta. A violação seria, a princípio, passível de multa, mas poderia virar uma ação na Justiça Eleitoral de abuso de poder de mídia a depender da quantidade de anúncios.

“Se houver algum indício de que as pessoas que estão fazendo isso recebem do candidato ou são orientadas pelo candidato, seria ainda mais grave”, disse a advogada eleitoralista Paula Bernardelli.

<><> Falha da plataforma em cumprir sua própria regra

Vale ressaltar que os anúncios foram veiculados porque o Google falhou em aplicar suas próprias regras. Em abril deste ano, a empresa anunciou que proibiria o impulsionamento de conteúdo político para cumprir com as regras do TSE.

As novas definições já valem para as eleições municipais de outubro deste ano. Segundo Bernardelli, é preciso considerar que a estratégia de impulsionamento em nome de terceiros pode ser uma forma de driblar a proibição estabelecida pelo Google.

À reportagem, o Google reiterou que atualizou a política de conteúdo político do Google Ads para não mais permitir a veiculação de anúncios políticos no Brasil. “Quando identificamos violações às nossas políticas, agimos imediatamente”, afirmou. Pelo centro de transparência de anúncios, não é possível checar se o Google realmente agiu sobre os anúncios identificados.

Também contatamos Talita Vieira e a assessoria de imprensa da campanha de Marçal, que não se posicionaram até o fechamento desta reportagem.

•        Influenciador mostra pagamento de Marçal por disparo de vídeos em massas

Um influenciador digital revelou nesta quarta-feira, 21, um comprovante de Pix vinculado a uma empresa de Pablo Marçal, candidato à Prefeitura de São Paulo pelo PRTB.

O pagamento de R$ 8.500, realizado pela Marçal Lançamento Digital, seria por postagens de vídeos do candidato em sua rede social, onde possui 118 mil seguidores.

Especialistas apontam que a ação pode constituir propaganda eleitoral irregular e potencial crime eleitoral, já que os pagamentos não foram declarados à Justiça Eleitoral. A prática pode representar abuso de poder econômico, o que poderia desequilibrar a competição eleitoral.

O Ministério Público Eleitoral já está ciente da situação e sugeriu a suspensão da candidatura de Marçal enquanto prossegue a investigação. Em caso de condenação, o ex-coach poderia ficar inelegível por oito anos.

Apesar das evidências, Marçal negou as acusações, descrevendo-as como “uma tentativa desesperada do bloco da esquerda, MDB, PSB, PT e PSOL, de tentar frear quem realmente vai vencer as eleições”. A declaração foi emitida em uma nota na última segunda-feira, 19.

Em contrapartida, vídeos publicados por Marçal confirmam a prática de remunerar por visualizações de vídeos. “É um campeonato no aplicativo onde você entra, se cadastra e aprende a fazer corte”, explicou o candidato, detalhando que os cortes dos vídeos podem variar entre quinze e quarenta e cinco segundos.

 

Fonte: Jornal GGN/Brasil 247/Fórum/The Intercept/O Cafezinho

 

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