Kamala Harris: como campanha com propostas
vagas pode ajudá-la a vencer
O último mês, desde
que Kamala Harris lançou
sua campanha presidencial, tem sido um período sem precedentes na política
americana: nunca uma campanha eleitoral moderna passou da estagnação para uma
candidatura forte tão rapidamente.
Durante esse tempo, os
democratas organizaram uma convenção nacional elaborada, com vídeos promocionais bem produzidos, eventos políticos e
interlúdios musicais, tudo para promover a nova candidata.
Foi um teste notável
de habilidade para os agentes do partido, sob extrema pressão.
Ao longo de quatro
dias em Chicago – e nos comícios lotados que Harris realizou nas últimas
semanas – os contornos de sua estratégia de campanha começaram a se delinear.
E não é exatamente o
que se esperaria de uma vice-presidente em exercício que ocupou um cargo na
Casa Branca por três anos e meio.
Harris está se
esforçando para ser vista como a candidata da mudança nesta eleição. Alguém
que, como disse em seu discurso na convenção na quinta-feira (22/8), pode
"traçar um novo caminho para o futuro".
Essa estratégia surge
em parte da necessidade. Em todo o mundo, as democracias têm sido
abaladas pela insatisfação dos eleitores.
À medida que as
economias lutam para se recuperar da pandemia de covid-19, conflitos regionais
fervilham e tensões sobre imigração surgem, os incumbentes políticos têm
enfrentado eleitorados profundamente descontentes no Canadá, no Reino Unido, na
Alemanha e na Índia, entre outros.
Pesquisas indicavam
que o presidente Joe Biden, antes de abandonar
sua campanha de reeleição no mês passado, estava prestes a enfrentar desafios
semelhantes.
A vice-presidente
virou essa situação de cabeça para baixo.
Seu histórico e sua
história pessoal são um contraste acentuado com o atual presidente e com seu
oponente republicano.
Também ajuda o fato de
Harris estar concorrendo contra um ex-presidente que, embora também se
apresente como um candidato de mudança, tem seu próprio histórico, às vezes
controverso, às vezes impopular, na Casa Branca para defender.
"Esta eleição, eu
realmente acredito, é sobre duas visões muito diferentes para o futuro",
disse Kamala em um comício na Carolina do Norte na semana passada.
"A nossa voltada
para o futuro, e a outra voltada para o passado."
·
Por que propostas
vagas podem favorecer Harris
Na maior parte do
tempo, Harris tem evitado descrever em detalhes como seria sua presidência.
Há discursos sobre
unidade e um caminho além do partidarismo divisivo da América; um foco em
fortalecer a economia e reduzir os preços para os consumidores; e uma ênfase
significativa em direitos reprodutivos e aborto – um tema forte para os democratas.
Mas isso é vago. E
essa falta de clareza pode ser adequada para a campanha de Harris.
Ao ser, em grande
parte, um recipiente vazio de políticas, Kamala permitiu que diversos grupos
dentro do Partido Democrata projetassem suas esperanças e prioridades nela.
Se ela conseguir
manter todas essas peças juntas nos próximos meses, pode ser que ela vença.
Líderes trabalhistas
expressaram otimismo de que Harris se concentre na proteção dos sindicatos e em
questões econômicas fundamentais.
Ativistas climáticos
destacaram a legislação de energia limpa da administração Biden e esperam que a
candidata amplie esse esforço.
Líderes de direitos
civis preveem que a primeira mulher não branca a ser a candidata de um grande
partido avance a igualdade racial.
"A pergunta
fundamental que as pessoas fazem é: você está lutando por mim ou está lutando
por outra pessoa?", diz Tom Perez, que serviu como secretário de Trabalho
na administração Obama e tem sido conselheiro da Casa Branca de Biden.
"Acho que as
pessoas têm uma ideia bastante clara de que ela vai lutar pelos direitos de
todos, não apenas por certas pessoas em determinados lugares ou faixas de
renda, não apenas por pessoas de certas raças ou etnias, mas por todos."
Em outras palavras, a
falta de clareza nas políticas da vice-presidente permitiu que ela atraísse o
maior número possível de eleitores, em uma eleição onde cada eleitor indeciso
conta.
Foi rotulada por
alguns como uma campanha de "sensação" – baseada pelo menos em parte
em sentimentos e impressões gerais.
Na quarta-feira, a
ex-apresentadora de televisão, autora e celebridade internacional Oprah
Winfrey, que se identificou como "independente na política", disse
que Harris e seu companheiro de chapa Tim Walz eram os candidatos que
entregariam "decência e respeito".
"Estou convocando
todos vocês independentes, e vocês que estão indecisos", disse ela.
"Valores e caráter são o mais importante, na liderança e na vida."
Ao longo da semana,
uma série de republicanos – incluindo ex-ocupantes de cargos e apoiadores
de Donald Trump – também subiu
ao palco na convenção para promover Harris como a melhor opção para novembro.
"Harris vai
querer ser de centro-esquerda, não extrema esquerda", diz Chris Shays, um
ex-congressista republicano de Connecticut que compareceu à Convenção Democrata
deste ano.
De acordo com Shays, a
vice-presidente será puxada para o centro político americano porque é lá que a
nação está.
No entanto, a
estratégia de Harris não está isenta de riscos. Assim como os grupos democratas
estão projetando suas ideias na campanha da vice-presidente, seus oponentes
republicanos também estão.
E eles estão usando o
passado de Harris, com posições e declarações mais liberais – e às vezes
controversas – como evidência de que a falta de especificidade é apenas uma
máscara para uma agenda de esquerda.
"O discurso dela
foi o exemplo perfeito do que acontece quando você não tem soluções para
oferecer para os problemas que você colocou na porta dos americanos, então você
manipula e desvia", disse a campanha de Trump em uma declaração respondendo
ao discurso da vice-presidente na convenção.
Harris também tem
evitado grandes coletivas de imprensa e entrevistas mais incisivas com veículos
de imprensa tradicionais até agora – entrevistas que poderiam responsabilizá-la
por posições passadas e pressioná-la por mais detalhes sobre políticas.
Seu discurso na semana
passada abordando a economia foi uma das poucas ocasiões em que a
vice-presidente apresentou propostas novas e concretas.
Mas, nos últimos
quatro dias, alguns indícios de como Kamala governaria começaram a surgir.
Ela propôs um crédito
tributário de US$ 25 mil (cerca de R$137 mil) para cidadãos que queiram comprar
um imóvel pela primeira vez.
A candidata também
prometeu usar o poder do governo para reduzir o custo dos medicamentos vendidos
sob receita e punir a exploração de preços nos alimentos.
Ela apoiou uma
legislação bipartidária sobre imigração que foi bloqueada no Senado no início
deste ano.
Kamala também prometeu
lutar por uma lei federal que garantiria um direito básico ao aborto em todo os
EUA, anulando proibições estaduais conservadoras.
Para alguns
democratas, os detalhes até agora não são suficientes.
"Precisamos ouvir
algumas coisas reais sobre políticas públicas", diz Lewanna Tucker,
presidente do Partido Democrata no Condado de Fulton, Georgia.
"Ela precisa nos
mostrar um pouco mais o que está por trás das cortinas e falar sobre medidas
estruturais que serão tomadas."
Talvez detalhes mais
concretos de política não sejam necessários. Em um momento em que a política
americana é vista por grande parte do público americano como divisiva e tóxica,
pode haver benefício em construir uma campanha política não em torno de especificidades
políticas, mas sim uma campanha que apele à emoção.
Em 2008, Barack
Obama fez uma campanha bem-sucedida baseada
em esperança e mudança – o que não é exatamente a base de um plano claro.
"É um retorno a
um nível de esperança que não creio que tenhamos experimentado coletivamente
desde 2008", diz Yasmin Radjy, que dirige o grupo de organização de base
liberal Swing Left.
Ela diz que houve um
cansaço entre os voluntários da esquerda nos últimos oito anos, mas a mudança
para Kamala foi "como se um peso tivesse sido tirado dos ombros
deles".
A disposição dos
democratas em atacar o Projeto 2025 da Heritage Foundation – um plano
controverso para uma nova administração republicana que Trump e sua campanha
têm repetidamente desmentido – também revela os riscos de estar, mesmo que de
forma tangencial, associado a detalhes de governança.
Em seu discurso de
quinta-feira à noite, Harris prometeu superar as divisões partidárias e
encontrar um terreno comum compartilhado.
"Eu prometo ser
uma presidente para todos os americanos", disse ela.
"Vocês podem
sempre confiar em mim para colocar o país acima do partido e de mim
mesma."
Essas promessas não
são inéditas na política americana, é claro. Garantias semelhantes foram feitas
nas últimas décadas. Mas há algo diferente nesta candidata democrata e nesta
convenção democrata.
A quantidade de
estrelas desta semana – com aparições de Pink, Stevie Wonder e Lil Jon, entre
outros – e o forte apoio da campanha em conexões com a cultura pop, como
Charlie XCX (cantora britânica que batizou Harris com o termo em inglês brat, que vem sendo utilizado pela democrata em sua campanha),
sugerem que ela está tentando se posicionar como um movimento cultural, e não
político.
Ainda não se sabe se
essa será uma estratégia eficaz.
Mas, pelo menos por
enquanto, ela tirou o Partido Democrata da apatia e desespero do início de
julho e o colocou em um empate técnico com Trump e os republicanos, à medida
que se aproximam os meses finais cruciais desta campanha.
¨ Jornalista vaticina 'fim do império' após citar distanciamento
dos políticos dos EUA dos eleitores
Jon Jeter citou o foco
da candidata presidencial Kamala Harris na política externa como não ajudando
as possibilidades eleitorais dos democratas.
A classe política
americana é incapaz de atender ou até mesmo falar sobre as necessidades mais
urgentes dos eleitores, afirmou na sexta-feira (23) um jornalista em
declarações à Sputnik.
"A classe
política, Washington, DC, as pessoas dentro do Beltway – eles se distanciaram
cada vez mais das pessoas comuns como você e eu", disse Jon Jeter.
Jeter criticou o
discurso de aceitação de Kamala Harris, candidata presidencial do Partido
Democrata, durante o qual ela defendeu uma política externa agressiva,
retirando o foco das necessidades materiais dos americanos da classe
trabalhadora.
"Achei aquele
discurso ridículo e, se eu fosse um apostador, diria que ele perdeu a eleição
para os democratas em novembro", disse ele.
"Não sei quem ela
pensa que é seu público quando ataca [o presidente russo] Vladimir Putin."
Na opinião do
jornalista, "as pessoas de quem ela está dependendo para vencer esta
eleição, os negros e principalmente os homens negros, principalmente na
Filadélfia, em Detroit e em Milwaukee, não acho que eles se importem tanto com
[o líder norte-coreano] Kim Jong-un, com Vladimir Putin, com a ameaça da
China", mas "se preocupam muito com empregos, salários, redução da
dívida, coisas desse tipo".
Como exemplo, em
novembro de 2023 a agência norte-americana Bloomberg calculou o aumento no
custo de bens e serviços básicos nesse ano, descobrindo que o custo do gás
natural aumentou 29%, enquanto os custos de mantimentos e eletricidade subiram
25%.
"Esse foi um
discurso impressionante por sua falta de autoconsciência. O problema dos
democratas é que eles não respondem, não respondem de jeito nenhum à sua base,
aos sindicatos", avaliou o jornalista.
"É quase como se
tivéssemos entrado em uma Torre de Babel e saído do outro lado balbuciando. Nós
nem falamos mais a mesma língua. Essa é uma reviravolta desconcertante que só
posso atribuir ao fim do império", concluiu Jon Jeter.
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Títulos do Tesouro dos EUA já não são 'porto seguro', aponta mídia
norte-americana
Um estudo do banco
central dos EUA determinou que os títulos são "pouco diferentes da dívida
emitida por países como a Alemanha, Reino Unido ou França".
Uma nova pesquisa
apresentada na conferência anual de pesquisa da Reserva Federal (banco central
dos EUA) em Kansas City, no estado norte-americano de Wyoming, encontrou pontos
fracos nos títulos do Tesouro dos EUA, antes rotulados como títulos de "porto
seguro".
A pesquisa sugere que
esses títulos são "pouco diferentes da dívida emitida por países como a
Alemanha, Reino Unido, França ou mesmo grandes corporações", detalhou na
sexta-feira (23) a agência britânica Reuters.
Ela constatou que o
governo dos Estados Unidos tem desfrutado de um "privilégio
exorbitante" de contrair empréstimos em grande escala no mercado global,
apesar das crescentes lacunas no orçamento federal.
"Em resposta à
COVID-19, os investidores do Tesouro dos EUA parecem ter mudado para o modelo
de dívida de risco ao precificar os títulos do Tesouro", escreveu a
Reuters.
Os pesquisadores
descobriram que os investidores não estocaram títulos do Tesouro, o que teria
aumentado seu volume, mas reduziram os preços, como fizeram com os títulos de
outros países.
"No regime de
dívida de risco, as avaliações responderão aos choques de gastos do governo, o
que pode envolver grandes mudanças de rendimento nos mercados de títulos",
explicaram os pesquisadores.
Nesse ambiente,
indicam eles, "as compras de ativos em grande escala pelos bancos centrais
em resposta a um grande aumento nos gastos do governo têm implicações
indesejáveis nas finanças públicas". Além disso, "essas compras, que
fornecem suporte temporário aos preços, destroem o valor para os contribuintes,
mas subsidiam os detentores de títulos".
"Os decisores
políticos, incluindo os bancos centrais, devem internalizar essa mudança ao
avaliar se os mercados de títulos estão funcionando adequadamente",
concluíram os autores do estudo.
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Dívida dos EUA não para de crescer e supera US$ 35 trilhões, diz mídia
Como informou a mídia,
"há apenas quatro décadas, a dívida nacional girava em torno de US$ 907
bilhões", enquanto atualmente ela supera esse valor em dezenas de vezes.
A situação fiscal dos
EUA está mais perigosa e assustadora do que nunca, ameaçando a economia
americana e a próxima geração, avaliou o diretor-executivo da Fundação Peter G.
Peterson.
"Esse não é o
futuro que nenhum de nós deseja, e não é uma maneira de governar uma grande
nação como a nossa", disse Michael Peterson em declarações ao canal Fox
Business.
Citando números do
Departamento do Tesouro, ele referiu que a dívida nacional dos EUA chegou a US$
35 trilhões (R$ 192,04 trilhões).
"Em comparação,
há apenas quatro décadas, a dívida nacional girava em torno de US$ 907 bilhões
[R$ 4,98 trilhões]", noticiou em 28 de julho o Fox Business.
Somente em setembro de
2022, Biden aprovou quase US$ 4,8 trilhões (R$ 26,34 trilhões) em empréstimos,
incluindo US$ 1,85 trilhão (R$ 10,15 trilhões) para o American Bailout e US$
370 bilhões (R$ 2,03 trilhões) para o projeto de lei de infraestrutura bipartidário.
A situação é agravada pelos efeitos do aumento das taxas de juros no último ano
e meio, que aumentaram o custo do serviço da dívida nacional.
"De fato, os
pagamentos de juros sobre a dívida nacional devem ser a parte do orçamento
federal de maior crescimento nas próximas três décadas, de acordo com o CRFB
[Comitê para um Orçamento Federal Responsável, em inglês]", diz o Fox
Business.
Assim, acrescentou,
até 2032, os pagamentos deverão triplicar para US$ 1,4 trilhão (R$ 7,68
trilhões) e, até 2053, os pagamentos de juros deverão subir para US$ 5,4
trilhões (R$ 29,63 trilhões).
"Para colocar
isso em perspectiva, isso será mais do que os EUA gastam com a Previdência
Social, Medicare, Medicaid e todos os outros programas de gastos obrigatórios e
discricionários", destaca o canal.
Fonte: BBC News Mundo/Sputnik
Brasil
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