terça-feira, 27 de agosto de 2024

Kamala Harris: como campanha com propostas vagas pode ajudá-la a vencer

O último mês, desde que Kamala Harris lançou sua campanha presidencial, tem sido um período sem precedentes na política americana: nunca uma campanha eleitoral moderna passou da estagnação para uma candidatura forte tão rapidamente.

Durante esse tempo, os democratas organizaram uma convenção nacional elaborada, com vídeos promocionais bem produzidos, eventos políticos e interlúdios musicais, tudo para promover a nova candidata.

Foi um teste notável de habilidade para os agentes do partido, sob extrema pressão.

Ao longo de quatro dias em Chicago – e nos comícios lotados que Harris realizou nas últimas semanas – os contornos de sua estratégia de campanha começaram a se delinear.

E não é exatamente o que se esperaria de uma vice-presidente em exercício que ocupou um cargo na Casa Branca por três anos e meio.

Harris está se esforçando para ser vista como a candidata da mudança nesta eleição. Alguém que, como disse em seu discurso na convenção na quinta-feira (22/8), pode "traçar um novo caminho para o futuro".

Essa estratégia surge em parte da necessidade. Em todo o mundo, as democracias têm sido abaladas pela insatisfação dos eleitores.

À medida que as economias lutam para se recuperar da pandemia de covid-19, conflitos regionais fervilham e tensões sobre imigração surgem, os incumbentes políticos têm enfrentado eleitorados profundamente descontentes no Canadá, no Reino Unido, na Alemanha e na Índia, entre outros.

Pesquisas indicavam que o presidente Joe Biden, antes de abandonar sua campanha de reeleição no mês passado, estava prestes a enfrentar desafios semelhantes.

A vice-presidente virou essa situação de cabeça para baixo.

Seu histórico e sua história pessoal são um contraste acentuado com o atual presidente e com seu oponente republicano.

Também ajuda o fato de Harris estar concorrendo contra um ex-presidente que, embora também se apresente como um candidato de mudança, tem seu próprio histórico, às vezes controverso, às vezes impopular, na Casa Branca para defender.

"Esta eleição, eu realmente acredito, é sobre duas visões muito diferentes para o futuro", disse Kamala em um comício na Carolina do Norte na semana passada.

"A nossa voltada para o futuro, e a outra voltada para o passado."

·        Por que propostas vagas podem favorecer Harris

Na maior parte do tempo, Harris tem evitado descrever em detalhes como seria sua presidência.

Há discursos sobre unidade e um caminho além do partidarismo divisivo da América; um foco em fortalecer a economia e reduzir os preços para os consumidores; e uma ênfase significativa em direitos reprodutivos e aborto – um tema forte para os democratas.

Mas isso é vago. E essa falta de clareza pode ser adequada para a campanha de Harris.

Ao ser, em grande parte, um recipiente vazio de políticas, Kamala permitiu que diversos grupos dentro do Partido Democrata projetassem suas esperanças e prioridades nela.

Se ela conseguir manter todas essas peças juntas nos próximos meses, pode ser que ela vença.

Líderes trabalhistas expressaram otimismo de que Harris se concentre na proteção dos sindicatos e em questões econômicas fundamentais.

Ativistas climáticos destacaram a legislação de energia limpa da administração Biden e esperam que a candidata amplie esse esforço.

Líderes de direitos civis preveem que a primeira mulher não branca a ser a candidata de um grande partido avance a igualdade racial.

"A pergunta fundamental que as pessoas fazem é: você está lutando por mim ou está lutando por outra pessoa?", diz Tom Perez, que serviu como secretário de Trabalho na administração Obama e tem sido conselheiro da Casa Branca de Biden.

"Acho que as pessoas têm uma ideia bastante clara de que ela vai lutar pelos direitos de todos, não apenas por certas pessoas em determinados lugares ou faixas de renda, não apenas por pessoas de certas raças ou etnias, mas por todos."

Em outras palavras, a falta de clareza nas políticas da vice-presidente permitiu que ela atraísse o maior número possível de eleitores, em uma eleição onde cada eleitor indeciso conta.

Foi rotulada por alguns como uma campanha de "sensação" – baseada pelo menos em parte em sentimentos e impressões gerais.

Na quarta-feira, a ex-apresentadora de televisão, autora e celebridade internacional Oprah Winfrey, que se identificou como "independente na política", disse que Harris e seu companheiro de chapa Tim Walz eram os candidatos que entregariam "decência e respeito".

"Estou convocando todos vocês independentes, e vocês que estão indecisos", disse ela. "Valores e caráter são o mais importante, na liderança e na vida."

Ao longo da semana, uma série de republicanos – incluindo ex-ocupantes de cargos e apoiadores de Donald Trump – também subiu ao palco na convenção para promover Harris como a melhor opção para novembro.

"Harris vai querer ser de centro-esquerda, não extrema esquerda", diz Chris Shays, um ex-congressista republicano de Connecticut que compareceu à Convenção Democrata deste ano.

De acordo com Shays, a vice-presidente será puxada para o centro político americano porque é lá que a nação está.

No entanto, a estratégia de Harris não está isenta de riscos. Assim como os grupos democratas estão projetando suas ideias na campanha da vice-presidente, seus oponentes republicanos também estão.

E eles estão usando o passado de Harris, com posições e declarações mais liberais – e às vezes controversas – como evidência de que a falta de especificidade é apenas uma máscara para uma agenda de esquerda.

"O discurso dela foi o exemplo perfeito do que acontece quando você não tem soluções para oferecer para os problemas que você colocou na porta dos americanos, então você manipula e desvia", disse a campanha de Trump em uma declaração respondendo ao discurso da vice-presidente na convenção.

Harris também tem evitado grandes coletivas de imprensa e entrevistas mais incisivas com veículos de imprensa tradicionais até agora – entrevistas que poderiam responsabilizá-la por posições passadas e pressioná-la por mais detalhes sobre políticas.

Seu discurso na semana passada abordando a economia foi uma das poucas ocasiões em que a vice-presidente apresentou propostas novas e concretas.

Mas, nos últimos quatro dias, alguns indícios de como Kamala governaria começaram a surgir.

Ela propôs um crédito tributário de US$ 25 mil (cerca de R$137 mil) para cidadãos que queiram comprar um imóvel pela primeira vez.

A candidata também prometeu usar o poder do governo para reduzir o custo dos medicamentos vendidos sob receita e punir a exploração de preços nos alimentos.

Ela apoiou uma legislação bipartidária sobre imigração que foi bloqueada no Senado no início deste ano.

Kamala também prometeu lutar por uma lei federal que garantiria um direito básico ao aborto em todo os EUA, anulando proibições estaduais conservadoras.

Para alguns democratas, os detalhes até agora não são suficientes.

"Precisamos ouvir algumas coisas reais sobre políticas públicas", diz Lewanna Tucker, presidente do Partido Democrata no Condado de Fulton, Georgia.

"Ela precisa nos mostrar um pouco mais o que está por trás das cortinas e falar sobre medidas estruturais que serão tomadas."

Talvez detalhes mais concretos de política não sejam necessários. Em um momento em que a política americana é vista por grande parte do público americano como divisiva e tóxica, pode haver benefício em construir uma campanha política não em torno de especificidades políticas, mas sim uma campanha que apele à emoção.

Em 2008, Barack Obama fez uma campanha bem-sucedida baseada em esperança e mudança – o que não é exatamente a base de um plano claro.

"É um retorno a um nível de esperança que não creio que tenhamos experimentado coletivamente desde 2008", diz Yasmin Radjy, que dirige o grupo de organização de base liberal Swing Left.

Ela diz que houve um cansaço entre os voluntários da esquerda nos últimos oito anos, mas a mudança para Kamala foi "como se um peso tivesse sido tirado dos ombros deles".

A disposição dos democratas em atacar o Projeto 2025 da Heritage Foundation – um plano controverso para uma nova administração republicana que Trump e sua campanha têm repetidamente desmentido – também revela os riscos de estar, mesmo que de forma tangencial, associado a detalhes de governança.

Em seu discurso de quinta-feira à noite, Harris prometeu superar as divisões partidárias e encontrar um terreno comum compartilhado.

"Eu prometo ser uma presidente para todos os americanos", disse ela.

"Vocês podem sempre confiar em mim para colocar o país acima do partido e de mim mesma."

Essas promessas não são inéditas na política americana, é claro. Garantias semelhantes foram feitas nas últimas décadas. Mas há algo diferente nesta candidata democrata e nesta convenção democrata.

A quantidade de estrelas desta semana – com aparições de Pink, Stevie Wonder e Lil Jon, entre outros – e o forte apoio da campanha em conexões com a cultura pop, como Charlie XCX (cantora britânica que batizou Harris com o termo em inglês brat, que vem sendo utilizado pela democrata em sua campanha), sugerem que ela está tentando se posicionar como um movimento cultural, e não político.

Ainda não se sabe se essa será uma estratégia eficaz.

Mas, pelo menos por enquanto, ela tirou o Partido Democrata da apatia e desespero do início de julho e o colocou em um empate técnico com Trump e os republicanos, à medida que se aproximam os meses finais cruciais desta campanha.

 

¨      Jornalista vaticina 'fim do império' após citar distanciamento dos políticos dos EUA dos eleitores

Jon Jeter citou o foco da candidata presidencial Kamala Harris na política externa como não ajudando as possibilidades eleitorais dos democratas.

A classe política americana é incapaz de atender ou até mesmo falar sobre as necessidades mais urgentes dos eleitores, afirmou na sexta-feira (23) um jornalista em declarações à Sputnik.

"A classe política, Washington, DC, as pessoas dentro do Beltway – eles se distanciaram cada vez mais das pessoas comuns como você e eu", disse Jon Jeter.

Jeter criticou o discurso de aceitação de Kamala Harris, candidata presidencial do Partido Democrata, durante o qual ela defendeu uma política externa agressiva, retirando o foco das necessidades materiais dos americanos da classe trabalhadora.

"Achei aquele discurso ridículo e, se eu fosse um apostador, diria que ele perdeu a eleição para os democratas em novembro", disse ele.

"Não sei quem ela pensa que é seu público quando ataca [o presidente russo] Vladimir Putin."

Na opinião do jornalista, "as pessoas de quem ela está dependendo para vencer esta eleição, os negros e principalmente os homens negros, principalmente na Filadélfia, em Detroit e em Milwaukee, não acho que eles se importem tanto com [o líder norte-coreano] Kim Jong-un, com Vladimir Putin, com a ameaça da China", mas "se preocupam muito com empregos, salários, redução da dívida, coisas desse tipo".

Como exemplo, em novembro de 2023 a agência norte-americana Bloomberg calculou o aumento no custo de bens e serviços básicos nesse ano, descobrindo que o custo do gás natural aumentou 29%, enquanto os custos de mantimentos e eletricidade subiram 25%.

"Esse foi um discurso impressionante por sua falta de autoconsciência. O problema dos democratas é que eles não respondem, não respondem de jeito nenhum à sua base, aos sindicatos", avaliou o jornalista.

"É quase como se tivéssemos entrado em uma Torre de Babel e saído do outro lado balbuciando. Nós nem falamos mais a mesma língua. Essa é uma reviravolta desconcertante que só posso atribuir ao fim do império", concluiu Jon Jeter.

<><> Títulos do Tesouro dos EUA já não são 'porto seguro', aponta mídia norte-americana

Um estudo do banco central dos EUA determinou que os títulos são "pouco diferentes da dívida emitida por países como a Alemanha, Reino Unido ou França".

Uma nova pesquisa apresentada na conferência anual de pesquisa da Reserva Federal (banco central dos EUA) em Kansas City, no estado norte-americano de Wyoming, encontrou pontos fracos nos títulos do Tesouro dos EUA, antes rotulados como títulos de "porto seguro".

A pesquisa sugere que esses títulos são "pouco diferentes da dívida emitida por países como a Alemanha, Reino Unido, França ou mesmo grandes corporações", detalhou na sexta-feira (23) a agência britânica Reuters.

Ela constatou que o governo dos Estados Unidos tem desfrutado de um "privilégio exorbitante" de contrair empréstimos em grande escala no mercado global, apesar das crescentes lacunas no orçamento federal.

"Em resposta à COVID-19, os investidores do Tesouro dos EUA parecem ter mudado para o modelo de dívida de risco ao precificar os títulos do Tesouro", escreveu a Reuters.

Os pesquisadores descobriram que os investidores não estocaram títulos do Tesouro, o que teria aumentado seu volume, mas reduziram os preços, como fizeram com os títulos de outros países.

"No regime de dívida de risco, as avaliações responderão aos choques de gastos do governo, o que pode envolver grandes mudanças de rendimento nos mercados de títulos", explicaram os pesquisadores.

Nesse ambiente, indicam eles, "as compras de ativos em grande escala pelos bancos centrais em resposta a um grande aumento nos gastos do governo têm implicações indesejáveis nas finanças públicas". Além disso, "essas compras, que fornecem suporte temporário aos preços, destroem o valor para os contribuintes, mas subsidiam os detentores de títulos".

"Os decisores políticos, incluindo os bancos centrais, devem internalizar essa mudança ao avaliar se os mercados de títulos estão funcionando adequadamente", concluíram os autores do estudo.

<><> Dívida dos EUA não para de crescer e supera US$ 35 trilhões, diz mídia

Como informou a mídia, "há apenas quatro décadas, a dívida nacional girava em torno de US$ 907 bilhões", enquanto atualmente ela supera esse valor em dezenas de vezes.

A situação fiscal dos EUA está mais perigosa e assustadora do que nunca, ameaçando a economia americana e a próxima geração, avaliou o diretor-executivo da Fundação Peter G. Peterson.

"Esse não é o futuro que nenhum de nós deseja, e não é uma maneira de governar uma grande nação como a nossa", disse Michael Peterson em declarações ao canal Fox Business.

Citando números do Departamento do Tesouro, ele referiu que a dívida nacional dos EUA chegou a US$ 35 trilhões (R$ 192,04 trilhões).

"Em comparação, há apenas quatro décadas, a dívida nacional girava em torno de US$ 907 bilhões [R$ 4,98 trilhões]", noticiou em 28 de julho o Fox Business.

Somente em setembro de 2022, Biden aprovou quase US$ 4,8 trilhões (R$ 26,34 trilhões) em empréstimos, incluindo US$ 1,85 trilhão (R$ 10,15 trilhões) para o American Bailout e US$ 370 bilhões (R$ 2,03 trilhões) para o projeto de lei de infraestrutura bipartidário. A situação é agravada pelos efeitos do aumento das taxas de juros no último ano e meio, que aumentaram o custo do serviço da dívida nacional.

"De fato, os pagamentos de juros sobre a dívida nacional devem ser a parte do orçamento federal de maior crescimento nas próximas três décadas, de acordo com o CRFB [Comitê para um Orçamento Federal Responsável, em inglês]", diz o Fox Business.

Assim, acrescentou, até 2032, os pagamentos deverão triplicar para US$ 1,4 trilhão (R$ 7,68 trilhões) e, até 2053, os pagamentos de juros deverão subir para US$ 5,4 trilhões (R$ 29,63 trilhões).

"Para colocar isso em perspectiva, isso será mais do que os EUA gastam com a Previdência Social, Medicare, Medicaid e todos os outros programas de gastos obrigatórios e discricionários", destaca o canal.

 

Fonte: BBC News Mundo/Sputnik Brasil

 

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