João
Filho: ‘Entenda que está por trás da guerra entre Pablo Marçal e os Bolsonaros’
Nesta
semana, uma guerra entre os filhos de Bolsonaro e Pablo Marçal criou um
grande racha entre os reacionários. Essa é uma treta que vai muito além da
disputa pelas eleições municipais de São Paulo deste ano.
O
que está rolando é uma guerra fratricida pelo espólio político e eleitoral do
bolsonarismo, visando às próximas eleições presidenciais. Hoje, a maior pedra
no sapato da família Bolsonaro não é Lula nem o PT, mas Pablo Marçal, o coach
que até ontem era um fervoroso bolsonarista.
As
pesquisas mostram uma subida rápida e consistente de Marçal. Ele aparece
empatado tecnicamente em primeiro lugar com Boulos, do PSol, e o candidato de
Bolsonaro, Ricardo Nunes, do MDB.
O
coach está engolindo o eleitorado de Nunes e, ao que tudo indica, não será
simples reverter essa tendência. Hoje, Marçal tem mais votos entre os
eleitores de Bolsonaro e do governador Tarcísio de Freitas do que o
candidato apoiado por Bolsonaro.
Segundo o Datafolha, em
apenas três semanas o coach pulou de 29% para 44% entre os eleitores de
Bolsonaro, enquanto o prefeito caiu de 38% para 30%. Está se desenhando um
cenário em que o candidato de Bolsonaro ficará de fora do segundo turno na
capital do maior colégio eleitoral do país, algo que seria impensável há
algumas semanas.
- Ameaça à hegemonia dos Bolsonaros
É a
primeira vez que a hegemonia de Bolsonaro dentro da direita está sendo
ameaçada. Marçal tem grande potencial para assumir o berrante e passar a tocar
o gado que hoje é comandado pelo ex-presidente.
O
candidato coach tem grande apelo entre uma fração do bolsonarismo que é menos
apegada às questões morais e mais às relativas ao sucesso pessoal.
Vivemos
a era do coachismo, do empreendedorismo de palco e das apostas
digitais. Há uma massa com celular na mão intoxicada por essas patifarias dos
nossos tempos.
Bolsonaro
representou bem esse grupo até agora, já que alimentar uma paranóia
anticomunista é uma premissa básica de quem cultua a prosperidade individual em
detrimento do coletivo.
Mas
a sua imagem está mais atrelada à defesa da moral e dos bons costumes. É um
ex-militar conservador, religioso, que não está conectado com o capitalismo na
era digit
O
coach dialoga melhor com esse público e sabe exatamente como conquistar as
mentes e corações dessas pessoas. São anos em cima do palco falando frases
motivacionais vazias para um público incauto.
Ele
conhece o caminho das pedras. Marçal conseguiu consolidar a imagem do cristão
self made man, o homem simples de Goiás que virou um empresário milionário e
que dedica a sua vida a ensinar os outros a vencer na vida como
ele.
Este
racha não acontece só entre o eleitorado. Muitos políticos bolsonaristas em São
Paulo já abandonaram Nunes para
apoiar Marçal. Lideranças de partidos da base de Bolsonaro se recusaram a
demonstrar apoio público ao candidato de Bolsonaro.
O
secretário de Segurança Pública do Estado, Guilherme Derrite, não se acanhou em trocar afagos públicos com Marçal pelas redes sociais. Nomes relevantes do bolsonarismo
já não estão obedecendo às ordens do capitão. A crise é grande e só está
começando.
A
constatação de que Bolsonaro está perdendo influência sobre o eleitorado e
sobre sua base está tirando o sono de Eduardo e Carlos Bolsonaro, que
intensificaram os ataques contra Marçal nas redes sociais.
Nos
diálogos que travaram publicamente, é possível identificar pelos comentários
que há uma parcela significativa de bolsonaristas irritados com a família
Bolsonaro por não apoiar Marçal.
Há
entre eles a impressão de que Marçal é um homem com mais coragem para enfrentar
o “sistema”, enquanto Bolsonaro e seus filhos seriam uns frouxos por apoiar um
candidato considerado pouco bolsonarista.
Marçal
identificou essa vulnerabilidade e tem explorado isso ao passar a citar com
frequência o nome de Valdemar da Costa Neto. A aliança com o homem que tem a
chave do cofre do milionário PL representa o que seria para eles uma
capitulação de Bolsonaro ao “sistema”.
No
Twitter, por exemplo, há uma enxurrada de
postagens de perfis bolsonaristas defendendo Marçal e criticando a aliança do
ex-presidente com Nunes e Valdemar. Para pelo menos metade dos bolsonaristas, o
candidato coach pode ser o Bolsonaro que vai dar certo. A imagem do mito
desgastou e a adoração por ele já não é mais a mesma.
- Pior que Bolsonaro
O
fato é que Marçal pode ser pior que Bolsonaro. Ele parece ter um fervor
antidemocrático bem maior que o do ex-presidente, que passou a vida inteira no
parlamento como um parasita muito bem acomodado ao “sistema”.
Diferente
de Bolsonaro, o candidato coach é o verdadeiro outsider da política. Não tenho
dúvidas de que como político eleito, Marçal pode oferecer um risco ainda maior
para as instituições.
Ele
é pior e mais radical que Bolsonaro, com forte tendência a ser um radical no
nível de Nayib Bukele, o extremista de direita que preside El Salvador. Ambos
são jovens, populares, bem sucedidos, com discurso anticorrupção e antenados
com o mundo digital e das redes sociais.
Até
a estética entre eles é parecida. É a extrema direita de boné. As atrocidades
que Bukele faz contra os direitos humanos e contra as instituições democráticas
são muito piores que as feitas por Bolsonaro no Brasil. Marçal é um ditador em
construção e as condições materiais para ele virar o próximo líder nacional dos
extremistas estão dadas.
Haveria
a possibilidade do TRE cassar a candidatura de Marçal, já que ele vem
descumprindo sistematicamente as regras eleitorais. Mas pelo
andar da carruagem, essa é uma possibilidade bastante remota.
Marçal
inventou que Guilherme Boulos é usuário de cocaína e quase nada aconteceu. Pelo
contrário, na última quinta-feira, a justiça decidiu suspender duas decisões
que haviam concedido ao psolista um direito de resposta nas redes sociais do
candidato coach. Mas ele não está nem aí para isso, pois sabe que o tribunal é
lento, as multas irrisórias e as punições brandas. A justiça tem deixado Marçal
à vontade para vandalizar a campanha.
Ganhando
ou perdendo a eleição em São Paulo, o coach sairá vitorioso dela. Se for
cassado pela justiça eleitoral, também. Quaisquer que sejam os desdobramentos,
Marçal sairá dessa disputa com um base eleitoral relevante, projeção nacional e
com um nome bem construído para as eleições presidenciais de 2026.
A
inelegibilidade de Bolsonaro criou um vácuo na extrema direita e Marçal
desponta como um dos favoritos para ocupá-lo.
É
deprimente constatar que um homem condenado por participar
de uma quadrilha que dava golpes bancários esteja na liderança da disputa da
prefeitura da maior cidade da América Latina.
Pior
que isso: os articuladores da sua campanha eleitoral são investigados por ligação com o PCC. É
deprimente, mas não é estranho. Como vimos nos últimos anos, a moral e os bons
costumes da extrema direita no Brasil moram apenas no discurso. Na prática,
eles são movidos por golpes, sejam eles os de Estado ou os bancários.
¨
Marçal sem redes
dispara: “Acorda, Bolsonaro” e “Tarcísio, toma tipo de homem”
O
coach Pablo Marçal (PRTB), um condenado por integrar uma quadrilha de fraude a
bancos que agora surge como principal personagem na disputa pela Prefeitura de
São Paulo, reagiu de maneira explosiva à decisão da Justiça Eleitoral de tirar do ar todos os seus
perfis em redes sociais por estarem monetizando em cima de cortes de falas do candidato. Irado com a decisão que poderia
significar um travamento total e absoluto de sua comunicação no pleito,
ele, que já havia rachado a extrema direita, partiu para cima do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e do
governador paulista Tarcísio de Freitas (Republicanos).
“Você
é um cara que a gente sempre acreditou ser livre. Você prometeu para nós a
liberdade nesse país e está curvando sua cabeça, capitão? Foi isso que você
aprendeu no Exército do Brasil, capitão? Acorda Bolsonaro, acorda”, disse
Marçal num vídeo gravado de improviso para seus seguidores após a determinação
do juiz eleitoral Antonio Maria Patiño Zorz.
Desafiando
abertamente o poder de Bolsonaro e das principais e mais poderosas figuras de
seu entorno extremista, as faíscas do coach foram disparadas também em direção
ao chefe do Executivo de São Paulo.
“Tarcísio,
governador de São Paulo, toma tipo de homem, você é militar, não se curva para
esses comunistas", disse. "Governador, você vai pagar caro se você
tocar naquilo que Deus mandou. Eu estou te dando um recado, cuidado com o que
você tá fazendo em Brasília”, atacou o candidato do PRTB.
Marçal,
no vídeo, deu ainda comandos claros para seus fanáticos seguidores nas redes
sociais, numa tentativa de fazer seu nome ascender ainda mais no ambiente
digital depois da ordem para retirar do ar seus perfis.
“Quero
pedir pra todos vocês, agora, que gravem vídeos nos Instagram de vocês, no
YouTube de vocês, todo mundo grave vídeo e posta assim ó, Marçal Prefeito de
São Paulo e coloca assim ó, vão derrubar as redes do Marçal. Coloca pressão,
porque o sistema inteiro se assusta. Presta bem atenção, pra quem tá chegando
aqui agora. Toda perseguição acelera o processo. Então, ai de vocês que não
entendem isso, por favor, cumpra a decisão que acabou de sair na liminar,
derruba as minhas redes sociais, vocês vão ver eu aparecer até dentro da sua
geladeira”, pediu ele.
¨
Marçal repete
Bolsonaro e faz chacota com decisão que suspendeu redes
Em
vídeo publicado no X na manhã deste sábado (24), Pablo Marçal (PRTB) repetiu um
termo usado por Jair Bolsonaro (PL) para atacar Alexandre de Moraes em 7 de
setembro de 2021 e fez chacota da decisão do juiz eleitoral Antonio Maria
Patiño Zorz que suspendeu os perfis do ex-coach nas redes
sociais até o final da campanha.
Mostrando
uma camisa onde está escrito "não vai ter 2º turno" com o símbolo de
hashtag - para ser propagado nas redes sociais -, o ex-coach fez ameaças e
classificou como "canalhas" aqueles que consideram fazer parte do
"sistema".
"Vocês
não dão conta de ganhar no voto, o povo já cansou de vocês, vocês são canalhas
e aqui ninguém vai curvar a cabeça para vocês. Vai ser o povo contra vocês,
sistema", disse com o dedo em riste, em tom de ameaça.
Em
seguida, Boulos fez troça sobre o número de seguidores que atingiu nas redes
sociais.
"Hoje
que acabei de comemorar 13 milhões [de seguidores], o número do azar. 13
milhões de seguidores, eles vão derrubar minhas redes sociais", ironizou
sobre o número do PT.
¨
Juiz cita
"desenfreada busca de 'likes' em troca de vantagens econômicas
Na
ação em que determinou a suspensão até o final das
eleições de todas as redes sociais de Pablo Marçal (PRTB), Antonio Maria Patiño Zorz, juiz da 1ª Zona
Eleitoral da capital paulista, afirma que há "lastro concreto" nas
denúncias sobre a milícia digital, que reúne cerca de 4 mil membros em um grupo
do Discord, para fazer cortes e propagar vídeos e conteúdos do ex-coach nas
redes sociais em troca de pagamentos ilegais durante o período eleitoral.
"Atente-se
que a postura do requerido Pablo fideliza e desafia seguidores, que o seguem
numa desenfreada busca de "likes" em troca de vantagens econômicas.
Diz o requerido que 'ensina a ganhar' dinheiro ao usuário, mas a sua imagem e
'cortes' chegam a um sem número de pessoas, num espantoso movimento
multiplicador e sem fim", diz Patiño Zorz na sentença.
O
magistrado ainda solicita ao Ministério Público Eleitoral uma investigação
irrestrita "para se identificar eventualmente a fonte do pagamento desses
'cortes' e apurar suposta configuração de ilícitos eleitorais cíveis e
criminais" cometido por Pablo Marçal e sua equipe.
Ele
ainda ressalta que a suspensão visa dar "paridade de armas" aos
candidatos à prefeitura de São Paulo e cita "uma arquitetura aprofundada e
consistente" montada pelo ex-coach e que está sendo usada nas eleições com
o abuso de poder econômico.
"E
interessante notar e estabelecer, como bem frisado no petitório, que não há
transparência de onde provém o "quantum" destinado aos vitoriosos do
campeonato. Conste que há documento demonstrando que um dos pagamentos proveio
de uma das empresas pertencentes ao requerido Pablo, o que pode configurar uma
série de infrações", afirma.
"Notadamente
o poderio econômico aqui estabelecido pelo requerido Pablo suporta
e reitera um contínuo dano e o faz, aparentemente, em total confronto com a
regra que deve cercar um certame justo e proporcional", emenda.
O
magistrado ainda determina que "seja suspensa de imediato as atividades
ligadas ao candidato na plataforma ‘Discord’ (a comunidade que o candidato
mantém naquela plataforma) a fim de impedir que haja a remuneração a pessoas
que divulgam conteúdo do candidato até o final das eleições, devendo ser
intimado o requerido Pablo Marçal para cumprir essa obrigação de não
fazer".
<><> Implosão da milícia digital
A
ação movida pelo PSB, que tem Tabata Amaral como candidata a prefeita, já havia
causado causou pânico na milícia digital que o ex-coach mantém em um grupo no
Discord intitulado "Cortes do Marça".
Entre
os integrantes do grupo, a informação caiu como uma bomba. Já a campanha vê a
possibilidade de uma sentença judicial implodir a estrutura que levou o
ex-coach ao segundo lugar da disputa à prefeitura na capital paulista,
crescendo 7 pontos e chegando a 21% das intenções de votos, segundo o Datafolha
- atrás de Guilherme Boulos (PSOL), que lidera com 23%.
Reportagem
da coluna Painel, da Folha de S.Paulo, mostra que os participantes do grupo de
Marçal estavam desesperados com a possibilidade do fim da remuneração.
"Verdade
que o campeonato de cortes do Pablo Marçal vai acabar? Ou é só
abobrinha?", perguntou um integrante de nome David. "Mas e se for
tirar ele como foi em 2022?", emendou outro participante, identificado
como Zyan.
Em
2022, Marçal teve o registro de candidatura cassado justamente por abuso de
poder econômico. Com R$ 195 milhões declarados de patrimônio ao Tribunal
Superior Eleitoral (TSE), o ex-coach também foi investigado por usar verba do
fundo partidário para pagar o aluguel de jatinhos da própria empresa, usados
por ele na campanha de 2022.
Um
administrador do grupo prometeu aos membros que a premiação "não vai
acabar, não". No entanto, a resposta teria sido insuficiente e a
desconfiança continuou.
"Alguém
sabe dizer se podemos fazer cortes dos vídeos do Marçal das reportagens
referente a candidatura a prefeitura de SP? Não quero prejudicar...caso não
possa", disse uma participante, segundo a Folha.
Neste
sábado (24), a decisão do juiz Antonio Maria Patiño Zorz confirmou as previsões
dos membros da milícia digital.
A
defesa de Pablo Marçal ainda não se pronunciou sobre a decisão, que pode ser
contestada no Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP).
Fonte:
The Intercept/Fórum
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