segunda-feira, 26 de agosto de 2024

Antonio Mello: Que Argentina nasceu após 9 meses do governo Milei?

Eleito por um misto de desespero e última esperança de boa parte do povo argentino, o presidente bufão Javier Milei passou como um furacão sobre o país em nove meses de seu governo.

Cansado de ver fracassarem soluções paliativas em meio a uma crise constante do neoliberalismo no país, o povo argentino resolveu apostar alto num homem que confessadamente diz ser aconselhado pela alma de seu cachorro morto e três de seus clones.

Milei prometeu ao país que varreria a classe política e acabaria com a presença do Estado na economia, o que segundo ele eram as causas de todos os males do país.

E cumpriu o que prometera. Desde 10 de dezembro do ano passado, quando tomou posse e editou um pacotaço de mais de 600 medidas, Milei tirou todos os subsídios das tarifas de água, gás, luz, transporte público e serviços essenciais. Liberou o aumento de preços dos aluguéis, que passaram a ser regidos apenas pelas leis do Mercado, assim como toda a economia argentina.

Desde que assumiu o cargo, Milei cortou pensões e salários públicos, interrompeu quase todos os projetos de infraestrutura pública, desvalorizou o peso em mais de 50% e eliminou os controles de preços de tudo, desde leite até contas de telefone celular.

Gasto público zero. Assim acabariam com a inflação, que estava em quase 150% ao ano.

E deu certo. A inflação cedeu, os juros começaram a cair, o país conseguiu um empréstimo no FMI de US$ 800 milhões e está reivindicando ainda mais. Conseguiu no primeiro trimestre deste ano um superávit primário (quando as receitas do governo são maiores que as despesas), o primeiro desde 2008. A economia se recupera aparentemente.

Mas a que custo? E a vida do argentino?

<><> Nove meses de governo Milei 

O jornalista Rogério Tomaz resumiu num post na rede X a consequência dos nove meses do governo Milei para o povo argentino.

  •  73,3% de pobreza
  •  7,8 milhões de novos pobres
  •  9.153 fábricas fechadas
  •  655 mil empregos destruídos
  •  91,95% de inflação
  •  Queda de 3,2% do PIB no 1º semestre
  •  Menor consumo de carne desde 1920

<><> Valeu a pena?

Os argentinos ainda continuam apostando em Milei. Sua popularidade está em 52%. A principal causa disso: a queda da inflação. Apostam num "aperto necessário" à espera de melhores dias no futuro. Em meio ao aumento da miséria.

Mas a inflação tem voltado a aumentar, o que significa más notícias para o país. E para Milei.

¨      Disputa de poder no círculo íntimo de Milei gera tensão em Buenos Aires e enfraquece governo

Desde o começo de sua presidência, até mesmo durante a campanha, Javier Milei é caracterizado como um político que tem um círculo íntimo minúsculo, quase impenetrável, no qual se apoia para tomar suas principais decisões de governo.

Fontes da Casa Rosada disseram ao jornal O Globo que esse círculo, atualmente, é constituído por apenas duas pessoas: a secretária-geral da Presidência, Karina Milei, irmã do presidente, e o estrategista Santiago Caputo, que não tem cargo, mas acumula cada vez mais poder no governo argentino.

De acordo com a mídia, nas últimas duas semanas, Karina e Caputo expuseram nas redes sociais sua guerra interna, gerando um clima de tensão pelas consequências negativas que a disputa poderia ter para a administração argentina.

"Os dois estão construindo uma estrutura de poder e o crescimento de Caputo incomoda Karina. A falta de experiência política deste governo fica evidente quando os dois principais assessores do presidente não conseguem esconder uma tensão interna, expondo, assim, uma fragilidade institucional", comentou o jornalista Julián Alvez, do jornal El Cronista, que cobre diariamente os movimentos na Casa Rosada.

Nos últimos meses, relata a mídia, Caputo desembarcou com seus colaboradores em organismos do Estado como a Agência Federal de Inteligência (AFI), a Receita Federal local (AFIP), e a companhia estatal de petróleo YPF, entre outras áreas do governo.

Sempre com o aval do presidente, o estrategista conseguiu a nomeação de funcionários amigos, e, assim, acesso aos recursos econômicos administrados por cada um dos organismos que passou a, indiretamente, controlar, diz a mídia.

Já o poder de Karina Milei é, assegura o jornalista e escritor Juan Luis González, biógrafo não autorizado do presidente, "impossível de ser desafiado". As jogadas de Caputo, acrescentou o escritor, "estão fadadas ao fracasso".

Um dos exemplos desse "poder" foi o fato de Milei viajar para cúpula do G7 na Itália apenas com a irmã.

"Até a chegada de Caputo, a irmã do presidente estava acostumada a ter empregados. Com Caputo selou uma sociedade por conveniência. Mas com os irmãos Milei é sempre assim, quando alguém cresce, passa a ser visto como ameaça e rapidamente é excluído", apontou González, citado pelo Globo.

O jornal ainda afirma que o novo conflito no governo argentino se soma a outro que existe desde o primeiro dia de gestão de Milei, entre o presidente e sua vice, Victoria Villarruel, vista com desconfiança pelo chefe de Estado e por Karina.

A relação entre ambos é bastante similar a que tiveram o ex-presidente Alberto Fernández e sua vice, Cristina Kirchner, com a diferença de que Villarruel tem menos poder que Kirchner, "e a única coisa que consegue com suas jogadas contra o presidente é incomodar um pouco", escreve a mídia.

"O conflito entre Karina e Caputo é preocupante, porque poderia abrir a porta para uma crise maior. Ele mostra um governo dividido, e profundamente improvisado. [...] a economia está mais estável, mas muitos problemas continuam sem serem resolvidos. Se Milei não conseguir melhorar de forma consistente a situação econômica, os problemas podem aumentar. Nesse caso, um governo dominado por tensões internas seria catastrófico", explicou Juan Negri, doutor e mestre em Ciência Política da Universidade Torcuato Di Tella, localizada em Buenos Aires.

Gónzalez acrescenta que "Karina e Javier são pessoas muito solitárias, e com grandes ambições. Para quem observou seus movimentos nos últimos anos, é impressionante ver como pessoas que eram muito próximas de ambos foram ejetadas das estruturas de poder por desconfiança. Ambos são paranoicos", frisou o biógrafo.

 

¨      Militares bolivianos reconhecem participação na tentativa de golpe de Estado frustrada em junho

Seis integrantes das Forças Armadas da Bolívia admitiram nesta sexta-feira (23) responsabilidade no movimento de 26 de junho, quando vários chefes militares tentaram derrubar o presidente Luis Arce.

Dois meses após o fracassado golpe de Estado militar, o governo de Luis Arce continua com as investigações sobre 30 pessoas, entre civis e militares, das quais 11 estão na prisão.

Ao todo, cinco dos militares detidos solicitaram à Promotoria a realização de um julgamento abreviado para reconhecer participação nos atos na Praça Murillo, em 26 de junho.

O Ministério do Governo informou à Sputnik que as investigações continuam e estão próximas de serem concluídas. Garantiram que nas próximas semanas haverá novidades sobre o caso, cujo principal responsável até o momento é o ex-comandante-geral do Exército, Juan José Zuñiga.

Reymi Ferreyra foi ministro da Defesa durante o governo de Evo Morales (2006-2019). Em entrevista à Sputnik, compartilhou suas impressões sobre o ocorrido no dia 26 de junho. Ele lembrou que, em um primeiro momento, acreditou que o ato fosse um protesto, "uma bravata dos militares para evitar a mudança do comandante do Exército".

"Mas havia evidentemente um plano para tomar o poder. Havia todo um movimento prévio, que não chegou a se concretizar", disse o ex-ministro, ao afirmar que o estopim do particular da tentativa de golpe foi a destituição do comandante do Exército, que na época era Zuñiga.

Nos dias que precederam o golpe falho, o então general Zuñiga concedeu várias entrevistas nas quais afirmava que o ex-presidente Morales não poderia mais se candidatar. Afirmou que se o atual presidente do Movimento ao Socialismo (MAS) continuasse tentando se candidatar novamente, seria detido.

Essas declarações foram interpretadas pelo governo de Arce como uma intromissão nos assuntos políticos do chefe militar, o que levou à sua remoção horas antes de dezenas de militares e tanques ocuparem a central Praça Murillo. Um dos veículos foi usado para derrubar a porta do Palácio Quemado, onde funciona o órgão do Poder Executivo.

<><> Queda da tese do autogolpe

Diante das evidências coletadas nos últimos meses, Ferreyra afirmou:

"Não concordo nem é racional pensar que tenha sido um autogolpe. É ilógico. De nenhuma forma seria conveniente para o governo manter esse tipo de conduta. O que menos o presidente Arce precisa é enfrentar uma política de desestabilização para promover a mudança do seu próprio governo".

O ex-ministro comentou que uma das linhas investigativas passa por esclarecer o papel de um grupo interno formado por vários chefes militares: "O movimento que ocorreu parece ter suas raízes em um grupo muito limitado, os Pachajchos, uma espécie de camarilha dentro das Forças Armadas".

Zuñiga foi identificado como um dos líderes desse grupo, que, segundo o ex-presidente Morales, foi criado em 2015 para realizar espionagem ilegal sobre funcionários do governo e outros cidadãos do país.

De acordo com um artigo publicado naquele ano pelo jornal El Deber, Zuñiga, na época chefe do Estado-Maior do Exército, reconheceu a existência dos Pachajchos:

"O grupo é composto por excelentes oficiais, suboficiais e sargentos que trabalham no Estado-Maior. Eles também são vítimas de mentiras e calúnias. Eles trabalham pela pátria, pela instituição".

<><> Leitura errada dos militares

Segundo Ferreyra, os militares não tinham dúvidas de que triunfariam em seu movimento golpista:

"Evidentemente, cometeram um erro de cálculo. Eles exageraram ao avaliar a fraqueza do governo e sobrevalorizavam a possibilidade de que a oposição os apoiasse". Mas "para surpresa deles, nenhum setor nem nenhum opositor os apoiou. Esse fato os desorientou totalmente. Eles acreditavam que aconteceria o mesmo que em 2019 [quando Morales foi derrubado]. Naquela época, amplos setores civis apoiaram as Forças Armadas. Desta vez, isso não ocorreu".

O ex-ministro lembrou que durante o governo de Morales funcionava a Escola de Comando Anti-imperialista, cujos alunos eram chefes militares, "com a ideia de que o povo nunca mais fosse vítima de seus próprios militares, submetidos a interesses de transnacionais ou governos estrangeiros".

Com as mudanças de governo, essa escola foi fechada. "A mentalidade reacionária e conservadora permanece nas Forças Armadas. É o que demonstrou este movimento", considerou Ferreyra.

No dia 1º de agosto, as Forças Armadas anunciaram a demissão definitiva de cinco altos comandantes militares devido à sua participação no golpe fracassado. A eles foram retirados o grau, as honras, os uniformes e todos os direitos a receber qualquer pagamento da instituição militar.

Além de Zuñiga, foram afastados o vice-almirante Juan Arnez, ex-comandante da Armada; o general Marcelo Zegarra, ex-comandante da Aeronáutica; o general Juan Mario Paulsen, ex-inspector-geral do Exército; e o general Franz Ordoñez, ex-chefe do Departamento Terceiro de Operações do Exército.

 

¨      López Obrador adverte embaixador 'desrespeitoso' dos EUA para 'não se intrometer no México'

O embaixador de Washington no México se comportou desrespeitosamente ao criticar os planos mexicanos de reformar seu judiciário, disse o presidente Andrés Manuel López Obrador (AMLO), na sexta-feira (24).

O México não aceita interferência estrangeira em seus assuntos, disse López Obrador, depois que o embaixador norte-americano, Ken Salazar, alertou que a proposta do governo de eleger juízes é uma ameaça à sua democracia.

"Ultimamente, houve atos de desrespeito, como esta declaração infeliz e imprudente feita pelo embaixador Ken Salazar ontem [22], e uma nota diplomática de condenação já foi emitida", disse o presidente mexicano durante sua entrevista coletiva diária, citada pela Bloomberg.

Na quinta-feira (22), Salazar disse que os cartéis de drogas terão mais facilidade para se infiltrar no judiciário mexicano se um plano para que todos os juízes sejam eleitos por voto popular for aprovado, uma medida que o governo cessante de López Obrador está discutido no Congresso.

AMLO, como o presidente mexicano é conhecido, rejeitou os argumentos e disse que a reforma impedirá que o crime organizado domine o judiciário.

"Se os juízes forem eleitos, que é o que estamos propondo, poderemos limpar o judiciário da corrupção, e esses juízes saberão que representam o povo, a nação, e que sua função é fazer justiça", disse o presidente.

Salazar também disse que a reforma pode minar a confiança no sistema jurídico mexicano e ameaçar as relações comerciais.

O governo mexicano anunciou que enviou uma nota diplomática dizendo que os comentários dos EUA "representam uma interferência inaceitável, uma violação da soberania do México".

 

¨      Países amazônicos criam Centro de Cooperação Policial Internacional para proteger a floresta

A Polícia Federal brasileira participou nesta sexta-feira (23) do encontro com os representantes dos países-membros da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), na sede da organização em Brasília.

O evento teve por objetivo a apresentação do "Plano AMAS: Amazônia, Segurança e Soberania", com foco no fortalecimento do Sistema de Segurança Pública para Amazônia Legal e a implementação do Centro de Cooperação Policial Internacional da Amazônia (CCPI-Amazônia), uma iniciativa estratégica da Polícia Federal do Brasil.

O Plano AMAS foi desenvolvido pela Polícia Federal brasileira em parceria com forças estaduais, é fundamental para alcançar essa meta.

As principais áreas de atuação do plano serão no combate ao desmatamento, ao garimpo ilegal e a outros crimes ambientais, além de mitigar os desafios gerados pelo crime organizado na região.

O CCPI-Amazônia, segundo a entidade, reunirá representantes das secretarias de segurança pública dos nove estados da Amazônia Legal, além da Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP) e da Polícia Rodoviária Federal (PRF), sob a coordenação da Polícia Federal, que assumiu a responsabilidade pela implementação e direção do centro.

A OTCA informou ainda que o centro permitirá a troca de técnicas e doutrinas avançadas, como imageamento por satélite e projetos colaborativos; o compartilhamento de informações e inteligência para o combate a crimes ambientais; além da colaboração em operações conjuntas e na troca de provas entre entidades, com o objetivo de enfrentar o crime organizado e proteger o bioma amazônico.

O Plano AMAS inclui estratégias governamentais para zerar o desmatamento ilegal, com ações coordenadas pela Polícia Federal e outras instituições. O Brasil assumiu o compromisso de zerar o desmatamento ilegal na região até 2030, conforme acordado na COP27, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2022.

Também são descritos eixos estratégicos de atuação que incluem o fortalecimento das estruturas de governança, a modernização normativa, o reaparelhamento das instituições e a ampliação dos recursos aéreos e fluviais.

<><> OTCA

Criada em 1995, a OTCA é uma organização intergovernamental composta por Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela, países que possuem o bioma Amazônia.

A entidade é o único bloco socioambiental de países dedicado à Amazônia e coordena os procedimentos do Tratado de Cooperação Amazônica (TCA).

O TCA foi assinado pelos países amazônicos em julho de 1978, com o objetivo de promover o desenvolvimento harmônico da região com ações conjuntas para gerar "resultados equitativos e mutuamente benéficos para alcançar o desenvolvimento sustentável" do território. Como parte do tratado, os países-membros assumiram o compromisso comum para a preservação do meio ambiente e o uso racional dos recursos naturais da Amazônia.

A emenda ao TCA foi aprovada em 1998. A Secretaria Permanente foi estabelecida em Brasília em dezembro de 2002 e instalada definitivamente em março de 2003.

 

Fonte: Fórum/Sputnik Brasil

 

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