sábado, 24 de agosto de 2024

Bolsonaro prova do próprio veneno e descobre, com Marçal, que não detém o monopólio do fascismo

A disparada do ex-coach Pablo Marçal na pesquisa Datafolha em São Paulo comprovou o que muitos já começavam a intuir: a influência do ex-presidente Jair Bolsonaro na política brasileira é cada vez menor. Isso já era óbvio pelo desempenho pífio de seu candidato Alexandre Ramagem, na cidade do Rio de Janeiro, e ficou escancarado com a baixa transferência de votos para o atual prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes. Mais do que isso, Marçal comprovou de vez que é possível liderar o fascismo tupiniquim sem a bênção do patriarca. Basta ser tão ou mais abjeto do que o chamado "mito" – o que Marçal consegue ser sem muito esforço.

É isso que explica a revolta de Jair e seus filhos com o ex-coach. Com a onda Marçal, eles já começam a se ver como bagaços chupados da laranja mecânica do fascismo. Já tem até bilionário, como Hélio Seibel, acionista da Klabin e da Leo Madeiras, financiando abertamente a concorrência. Se fosse uma ação na bolsa de valores, Jair Bolsonaro, incomível, imbrochável mas sobretudo INELEGÍVEL, estaria hoje em queda livre. Ele não é mais necessário para a continuidade do fascismo. Qualquer um, com apoio de bilionários e alguma capacidade de comunicação, pode aparecer do nada prometendo acabar com o comunismo imaginário dos adversários. A "ação Bolsonaro" ficou tão desvalorizada que periga até o procurador-geral Paulo Gonet despertar do sono profundo e apresentar as primeiras denúncias criminais contra o ex-presidente.

O fenômeno Marçal também traz lições para o atual prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, do MDB. Seu maior erro estratégico foi submeter sua campanha aos caprichos do bolsonarismo. Aceitou um vice imposto pelo ex-presidente e rebaixou sua campanha para receber o apoio de um político que está prestes a ser indiciado por vários crimes. Tudo porque tinha medo de que Bolsonaro apoiasse o deputado Ricardo Salles (PL-SP) para a prefeitura de São Paulo. Agora, em terceiro lugar na disputa, ainda que o Datafolha aponte um possível empate técnico, Nunes terá que fingir ser ainda mais bolsonarista – o que pode afundar ainda mais sua campanha. Teria sido muito melhor para ele apostar na própria gestão, como fazem por exemplo Eduardo Paes, no Rio de Janeiro, e João Campos, em Recife, em vez de nacionalizar a disputa como se o paulistano estivesse diante de um terceiro turno da disputa entre o presidente Lula e Bolsonaro.

Para Guilherme Boulos, candidato do Psol com apoio do PT, a erosão do bolsonarismo pode ser uma boa notícia, ainda que Marçal pareça ser um candidato mais perigoso e disruptivo. Além de consolidar a transferência dos que votaram no PT em 2022, uma vez que tem menos votos em São Paulo do que o presidente Lula registrou dois anos atrás na cidade, ele deve começar a costurar desde já o apoio, no segundo turno, de nomes como Tabata Amaral, do PSB, e de José Luiz Datena, do PSDB. A propósito, o fiasco de ambos também simboliza a decadência, de um lado, do poder do capital, que apoia Tabata, e de outro, da mídia tradicional, representada pelo apresentador da Band.

A boa notícia, para o Brasil, é que a franquia Bolsonaro poderá aos poucos desaparecer, a partir da eventual derrota nas eleições municipais. A má notícia é a de que o fascismo sempre se reinventa, com novos atores. E como todos os fascistas são "libertários" a serviço do grande capital, eles não podem reclamar por terem perdido o monopólio da canalhice. Bolsonaro perdeu tanto valor que já pode até ser preso.

 

•        Família Bolsonaro teme perder São Paulo e bolsonarismo para Marçal

O maior medo da família Bolsonaro com Pablo Marçal deixou de ser sobre São Paulo. Perder São Paulo seria ruim, mas o temor agora é que Marçal tome não só a maior cidade, mas também os eleitores de Bolsonaro. E os predicados de Marçal para esse eleitorado, na comparação com Bolsonaro, vão além de estar elegível.

Pablo Marçal tem uma estratégia digital tão ou mais arrojada do que a criada por Carlos Bolsonaro para o pai. Domina o método de criar mensagens de fácil compreensão para o público com uma maestria superior à do ex-presidente.

Marçal também traz o frescor de algo novo, sem apresentar ao eleitor os senões que o tempo naturalmente trouxe para Bolsonaro e que, um a um, vem sendo superados pelo eleitor que busca alguém na extrema direita.

Marçal hoje é o maior risco para a campanha de Ricardo Nunes e também para Bolsonaro. Se ganhar, está claro que não beijará a mão de Bolsonaro, tal qual faz Tarcísio de Freitas.

E o que fará em 2026? Eleito este ano, poderá usar a prefeitura de trampolim para uma candidatura presidencial. Derrotado este ano, poderá tentar o governo do estado, o Planalto ou, num cenário de menos risco para a família, concorrer ao Senado, trazendo problemas para os planos de Eduardo Bolsonaro.

Play Video

O pior é que o próprio Bolsonaro alimentou o problema. Recebeu Marçal, elogiou, enviou sinais trocados para a sua base — que, ao que tudo indica, parece estar encantada pelo coach a ponto de deixar o ex-capitão de lado.

Marçal usa tática bolsonarista e coloca em xeque liderança de Bolsonaro sobre sua própria base

A máxima de Saint-Exupéry em “O pequeno príncipe” deveria ser levada mais a sério na política. Ele escreveu: “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”. Iniciar uma análise política com um livro associado a crianças e misses parece adequado quando se aborda o crescimento eleitoral de um personagem que se autointitula "ex-coach" e fez carreira na internet com máximas de auto-ajuda.

Pablo Marçal (PRTB) aproximou-se dos Bolsonaro, apropriou-se de seus métodos de intimidação de adversários, radicalizou-os, explorou-os e agora coloca em xeque pela primeira vez a capacidade de Jair Messias Bolsonaro (PL) de liderar a própria base na maior capital do país.

Segundo a mais nova pesquisa Datafolha, o ex-coach ultrapassou numericamente o candidato dos Bolsonaro na eleição: Marçal aparece com 21%, Ricardo Nunes (MDB) tem 19%. Trata-se de um empate técnico, dentro da margem de erro, mas o número é suficiente para colocar o personagem mais estridente da disputa no primeiro pelotão da eleição paulistana.

Importante observar como serão as próximas semanas. Desde o início desta, como contei no Edição das 18 da última segunda-feira (19), na GloboNews, a campanha de Nunes passou a observar claramente que Marçal estava conseguindo cooptar o eleitorado de Bolsonaro, afastando-o do emedebista.

O ex-presidente, que chegou a manifestar simpatia pelo ex-coach, mudou de estratégia. A pedido de aliados, ele e os filhos deram declarações públicas de apoio a Nunes e contra Marçal. Carlos Bolsonaro (PL-RJ) chegou a chamar o ex-coach de mentiroso. Eduardo relatou sua proximidade com figuras mencionadas como da órbita do crime organizado em SP, do PCC (Primeiro Comando da Capital).

Passo seguinte, influencers muito ligados ao bolsonarismo raiz passaram a explorar críticas a Marçal, buscando no subtexto classificá-lo como aventureiro. “Capitão, dessa vez não vou seguir seu conselho. Vou de Marçal”, respondeu um seguidor. O ex-coach classifica Nunes, do MDB, conservador, como "comunista". E é aplaudido.

Marçal parece ter detectado a necessidade de mais radicalismo que pulsa em parte da base bolsonarista. Necessidade que fica explícita quando da análise das diversas provas que estão nas investigações sobre a tentativa de golpe do 8 de janeiro. Naquela ocasião, quando ficou claro que o levante não seria oficial, militares que não aderiram à trama foram chamados de frouxos e covardes por auxiliares e aliados do então presidente.

Esse vício por mais radicalidade e total desprezo às regras do jogo foi identificado por Marçal, que expõe-se de maneira que nem o próprio Bolsonaro ousou, fazendo acusações graves em série e sem provas, de cunho pessoal, contra adversários.

O tempo vai revelar se o "capitão" conseguirá retomar a nau que dirige, há cinco anos, seu eleitor em São Paulo. Até aqui, Marçal mostrou-se efetivo em usar o feitiço contra o feiticeiro e rachar o poder da voz de comando do ex-presidente.

•        Pablo Marçal diz que discussão com Bolsonaro é culpa de Carlos: "retardado mental"

O coach Pablo Marçal (PRTB), candidato a prefeito de São Paulo, negou, na noite desta quinta-feira (22), a existência de uma ruptura definitiva com Jair Bolsonaro (PL), segundo o jornal O Globo. As especulações sobre o afastamento ganharam força após Bolsonaro, em entrevista ao portal Metrópoles, criticar Marçal, afirmando que "falta caráter" a ele. A declaração ocorreu no contexto das eleições municipais de São Paulo, em que Bolsonaro tem demonstrado apoio ao atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB), que busca a reeleição.

Durante um evento com empresários, Marçal respondeu de forma conciliadora, afirmando que as divergências são comuns em períodos eleitorais e que, após o pleito, as relações tendem a se normalizar. "Isso é discussão eleitoral. Depois que passa a eleição, fica tudo certo", disse Marçal, em tom apaziguador.

Em sua fala, Marçal sugeriu que Bolsonaro reconsidere a situação e até mesmo ofereceu abertura para receber orientações do ex-mandatário. "Se falta caráter, ele pode me ensinar, falar o que precisa. Eu respeito ele e estou à disposição para aprender. Não tenho nenhum problema com o Bolsonaro", declarou.

Ainda sobre o ocorrido, Marçal associou as críticas que recebeu a uma possível influência do vereador Carlos Bolsonaro (PL), filho de Jair Bolsonaro, a quem chamou de "retardado mental" durante conversa com jornalistas. No entanto, Marçal afirmou que tenta preservar a relação com Carlos "em respeito ao capitão".

Sobre o cenário eleitoral, Marçal demonstrou otimismo ao comentar a recente pesquisa Datafolha, que o coloca em empate técnico na liderança da disputa pela prefeitura de São Paulo, ao lado de Ricardo Nunes e Guilherme Boulos (Psol). Ele atribuiu seu crescimento nas intenções de voto à percepção dos eleitores de que ele se tornou um "pesadelo" para seus adversários e expressou confiança de que sua campanha ganhará ainda mais força com o apoio financeiro que espera receber. Durante o evento, Marçal chegou a solicitar doações à plateia, recebendo demonstrações de apoio.

•        Carlos Bolsonaro declara apoio a Maria Helena, do Novo, na disputa em São Paulo

O fim do monopólio no mercado do fascismo político brasileiro, comprovado pela ascensão do ex-coach Pablo Marçal, segue fraturando a extrema-direita tupiniquim. Na noite de ontem, o vereador Carlos Bolsonaro, filho do ex-presidente Jair, declarou apoio a Maria Helena, do Partido Novo, que tem 4% nas pesquisas.

"Diante de entendível resistência ao tal do Nunes, mas não me referindo ao pessoal que tem um projeto de poder e financeiro liderado por outro que nunca apresentou nada para ser considerado de direita, por mim se colocando propositalmente COM APOIO DE DETERMINADOS para tentar anular a direita construída a duras penas no país, além de todas suas artemanhas cometidas diariamente, eu sinceramente, consideraria a Maria Helena do Partido NOVO como uma possibilidade de voto, visto que todos tem seus problemas, mas está se mostra de bom preparo e mais afinidades CLARAS com a direita. É uma opinião. Cada um faz o que quer, além de impedir o avanço da extrema-esquerda na pessoa do Boulos, SOLDADO DO LULA. Boa noite a todos!", escreveu ele em seu X.

•        Tabata aponta ligações de Marçal com o tráfico de drogas

Candidata a prefeita de São Paulo, a deputada federal Tabata Amaral (PSB) divulgou nas redes sociais na noite desta quinta-feira (23) uma peça de campanha em que escancara as ligações do ex-coach Pablo Marçal, também candidato a prefeito da capital paulista, com o PCC (Primeiro Comando da Capital), a maior organização criminosa do Brasil.

Tabata cita no vídeo Renato Cariani, Leonardo Avalanche, André do Rap, 'Piauí', Valquito, Escobar, Júlio César Pereira (o 'Gordão') e Francisco Chagas de Souza (o Coringa): "tem uma figura que liga todos esses elementos", diz a candidata, mostrando uma foto de Marçal em seguida.

•        Folha diz que Marçal tem "conduta abjeta"

O jornal Folha de S. Paulo, que encomendou a pesquisa Datafolha sobre sucessão municipal em São Paulo, publicou editorial sobre os resultados e a disparada do ex-coach Pablo Marçal, que tem "conduta abjeta" segundo a publicação. "A paisagem mudou na corrida pela Prefeitura de São Paulo. Após meses de calmaria e previsibilidade, a mais recente pesquisa do Datafolha registra a ascensão de um elemento inesperado, capaz de embolar a eleição na capital paulista e adicionar um suspense até então inexistente na disputa deste ano", escreve o jornal.

"Trata-se do influenciador Pablo Marçal (PRTB), cuja conduta como candidato tem sido nada menos que abjeta. Segundo o levantamento, Marçal saltou de 14% das intenções de voto para 21% e alcançou a liderança, empatado com Guilherme Boulos (PSOL), que oscilou de 22% para 23%, e Ricardo Nunes (MDB), que foi de 23% para 19%", prossegue o editorialista.

"O autointitulado ex-coach, com forte engajamento nas redes sociais e sem compromisso com o debate de ideias, concorre com Nunes pelo posto de candidato mais forte da direita para enfrentar Boulos, cujo principal padrinho é o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)", aponta ainda o jornal.

 

Fonte: Por Leonardo Attuch, em Brasil 247/Metrópoles/g1

 

Nenhum comentário: