Bolsonaro prova do próprio veneno e
descobre, com Marçal, que não detém o monopólio do fascismo
A disparada do
ex-coach Pablo Marçal na pesquisa Datafolha em São Paulo comprovou o que muitos
já começavam a intuir: a influência do ex-presidente Jair Bolsonaro na política
brasileira é cada vez menor. Isso já era óbvio pelo desempenho pífio de seu candidato
Alexandre Ramagem, na cidade do Rio de Janeiro, e ficou escancarado com a baixa
transferência de votos para o atual prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes. Mais
do que isso, Marçal comprovou de vez que é possível liderar o fascismo
tupiniquim sem a bênção do patriarca. Basta ser tão ou mais abjeto do que o
chamado "mito" – o que Marçal consegue ser sem muito esforço.
É isso que explica a
revolta de Jair e seus filhos com o ex-coach. Com a onda Marçal, eles já
começam a se ver como bagaços chupados da laranja mecânica do fascismo. Já tem
até bilionário, como Hélio Seibel, acionista da Klabin e da Leo Madeiras,
financiando abertamente a concorrência. Se fosse uma ação na bolsa de valores,
Jair Bolsonaro, incomível, imbrochável mas sobretudo INELEGÍVEL, estaria hoje
em queda livre. Ele não é mais necessário para a continuidade do fascismo.
Qualquer um, com apoio de bilionários e alguma capacidade de comunicação, pode
aparecer do nada prometendo acabar com o comunismo imaginário dos adversários.
A "ação Bolsonaro" ficou tão desvalorizada que periga até o
procurador-geral Paulo Gonet despertar do sono profundo e apresentar as
primeiras denúncias criminais contra o ex-presidente.
O fenômeno Marçal
também traz lições para o atual prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, do MDB.
Seu maior erro estratégico foi submeter sua campanha aos caprichos do
bolsonarismo. Aceitou um vice imposto pelo ex-presidente e rebaixou sua
campanha para receber o apoio de um político que está prestes a ser indiciado
por vários crimes. Tudo porque tinha medo de que Bolsonaro apoiasse o deputado
Ricardo Salles (PL-SP) para a prefeitura de São Paulo. Agora, em terceiro lugar
na disputa, ainda que o Datafolha aponte um possível empate técnico, Nunes terá
que fingir ser ainda mais bolsonarista – o que pode afundar ainda mais sua
campanha. Teria sido muito melhor para ele apostar na própria gestão, como
fazem por exemplo Eduardo Paes, no Rio de Janeiro, e João Campos, em Recife, em
vez de nacionalizar a disputa como se o paulistano estivesse diante de um
terceiro turno da disputa entre o presidente Lula e Bolsonaro.
Para Guilherme Boulos,
candidato do Psol com apoio do PT, a erosão do bolsonarismo pode ser uma boa
notícia, ainda que Marçal pareça ser um candidato mais perigoso e disruptivo.
Além de consolidar a transferência dos que votaram no PT em 2022, uma vez que
tem menos votos em São Paulo do que o presidente Lula registrou dois anos atrás
na cidade, ele deve começar a costurar desde já o apoio, no segundo turno, de
nomes como Tabata Amaral, do PSB, e de José Luiz Datena, do PSDB. A propósito,
o fiasco de ambos também simboliza a decadência, de um lado, do poder do
capital, que apoia Tabata, e de outro, da mídia tradicional, representada pelo
apresentador da Band.
A boa notícia, para o
Brasil, é que a franquia Bolsonaro poderá aos poucos desaparecer, a partir da
eventual derrota nas eleições municipais. A má notícia é a de que o fascismo
sempre se reinventa, com novos atores. E como todos os fascistas são "libertários"
a serviço do grande capital, eles não podem reclamar por terem perdido o
monopólio da canalhice. Bolsonaro perdeu tanto valor que já pode até ser preso.
• Família Bolsonaro teme perder São Paulo
e bolsonarismo para Marçal
O maior medo da
família Bolsonaro com Pablo Marçal deixou de ser sobre São Paulo. Perder São
Paulo seria ruim, mas o temor agora é que Marçal tome não só a maior cidade,
mas também os eleitores de Bolsonaro. E os predicados de Marçal para esse
eleitorado, na comparação com Bolsonaro, vão além de estar elegível.
Pablo Marçal tem uma
estratégia digital tão ou mais arrojada do que a criada por Carlos Bolsonaro
para o pai. Domina o método de criar mensagens de fácil compreensão para o
público com uma maestria superior à do ex-presidente.
Marçal também traz o
frescor de algo novo, sem apresentar ao eleitor os senões que o tempo
naturalmente trouxe para Bolsonaro e que, um a um, vem sendo superados pelo
eleitor que busca alguém na extrema direita.
Marçal hoje é o maior
risco para a campanha de Ricardo Nunes e também para Bolsonaro. Se ganhar, está
claro que não beijará a mão de Bolsonaro, tal qual faz Tarcísio de Freitas.
E o que fará em 2026?
Eleito este ano, poderá usar a prefeitura de trampolim para uma candidatura
presidencial. Derrotado este ano, poderá tentar o governo do estado, o Planalto
ou, num cenário de menos risco para a família, concorrer ao Senado, trazendo
problemas para os planos de Eduardo Bolsonaro.
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O pior é que o próprio
Bolsonaro alimentou o problema. Recebeu Marçal, elogiou, enviou sinais trocados
para a sua base — que, ao que tudo indica, parece estar encantada pelo coach a
ponto de deixar o ex-capitão de lado.
Marçal usa tática
bolsonarista e coloca em xeque liderança de Bolsonaro sobre sua própria base
A máxima de
Saint-Exupéry em “O pequeno príncipe” deveria ser levada mais a sério na
política. Ele escreveu: “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que
cativas”. Iniciar uma análise política com um livro associado a crianças e
misses parece adequado quando se aborda o crescimento eleitoral de um
personagem que se autointitula "ex-coach" e fez carreira na internet
com máximas de auto-ajuda.
Pablo Marçal (PRTB)
aproximou-se dos Bolsonaro, apropriou-se de seus métodos de intimidação de
adversários, radicalizou-os, explorou-os e agora coloca em xeque pela primeira
vez a capacidade de Jair Messias Bolsonaro (PL) de liderar a própria base na
maior capital do país.
Segundo a mais nova
pesquisa Datafolha, o ex-coach ultrapassou numericamente o candidato dos
Bolsonaro na eleição: Marçal aparece com 21%, Ricardo Nunes (MDB) tem 19%.
Trata-se de um empate técnico, dentro da margem de erro, mas o número é
suficiente para colocar o personagem mais estridente da disputa no primeiro
pelotão da eleição paulistana.
Importante observar
como serão as próximas semanas. Desde o início desta, como contei no Edição das
18 da última segunda-feira (19), na GloboNews, a campanha de Nunes passou a
observar claramente que Marçal estava conseguindo cooptar o eleitorado de Bolsonaro,
afastando-o do emedebista.
O ex-presidente, que
chegou a manifestar simpatia pelo ex-coach, mudou de estratégia. A pedido de
aliados, ele e os filhos deram declarações públicas de apoio a Nunes e contra
Marçal. Carlos Bolsonaro (PL-RJ) chegou a chamar o ex-coach de mentiroso. Eduardo
relatou sua proximidade com figuras mencionadas como da órbita do crime
organizado em SP, do PCC (Primeiro Comando da Capital).
Passo seguinte,
influencers muito ligados ao bolsonarismo raiz passaram a explorar críticas a
Marçal, buscando no subtexto classificá-lo como aventureiro. “Capitão, dessa
vez não vou seguir seu conselho. Vou de Marçal”, respondeu um seguidor. O
ex-coach classifica Nunes, do MDB, conservador, como "comunista". E é
aplaudido.
Marçal parece ter
detectado a necessidade de mais radicalismo que pulsa em parte da base
bolsonarista. Necessidade que fica explícita quando da análise das diversas
provas que estão nas investigações sobre a tentativa de golpe do 8 de janeiro.
Naquela ocasião, quando ficou claro que o levante não seria oficial, militares
que não aderiram à trama foram chamados de frouxos e covardes por auxiliares e
aliados do então presidente.
Esse vício por mais
radicalidade e total desprezo às regras do jogo foi identificado por Marçal,
que expõe-se de maneira que nem o próprio Bolsonaro ousou, fazendo acusações
graves em série e sem provas, de cunho pessoal, contra adversários.
O tempo vai revelar se
o "capitão" conseguirá retomar a nau que dirige, há cinco anos, seu
eleitor em São Paulo. Até aqui, Marçal mostrou-se efetivo em usar o feitiço
contra o feiticeiro e rachar o poder da voz de comando do ex-presidente.
• Pablo Marçal diz que discussão com
Bolsonaro é culpa de Carlos: "retardado mental"
O coach Pablo Marçal
(PRTB), candidato a prefeito de São Paulo, negou, na noite desta quinta-feira
(22), a existência de uma ruptura definitiva com Jair Bolsonaro (PL), segundo o
jornal O Globo. As especulações sobre o afastamento ganharam força após Bolsonaro,
em entrevista ao portal Metrópoles, criticar Marçal, afirmando que "falta
caráter" a ele. A declaração ocorreu no contexto das eleições municipais
de São Paulo, em que Bolsonaro tem demonstrado apoio ao atual prefeito, Ricardo
Nunes (MDB), que busca a reeleição.
Durante um evento com
empresários, Marçal respondeu de forma conciliadora, afirmando que as
divergências são comuns em períodos eleitorais e que, após o pleito, as
relações tendem a se normalizar. "Isso é discussão eleitoral. Depois que
passa a eleição, fica tudo certo", disse Marçal, em tom apaziguador.
Em sua fala, Marçal
sugeriu que Bolsonaro reconsidere a situação e até mesmo ofereceu abertura para
receber orientações do ex-mandatário. "Se falta caráter, ele pode me
ensinar, falar o que precisa. Eu respeito ele e estou à disposição para
aprender. Não tenho nenhum problema com o Bolsonaro", declarou.
Ainda sobre o
ocorrido, Marçal associou as críticas que recebeu a uma possível influência do
vereador Carlos Bolsonaro (PL), filho de Jair Bolsonaro, a quem chamou de
"retardado mental" durante conversa com jornalistas. No entanto,
Marçal afirmou que tenta preservar a relação com Carlos "em respeito ao
capitão".
Sobre o cenário
eleitoral, Marçal demonstrou otimismo ao comentar a recente pesquisa Datafolha,
que o coloca em empate técnico na liderança da disputa pela prefeitura de São
Paulo, ao lado de Ricardo Nunes e Guilherme Boulos (Psol). Ele atribuiu seu
crescimento nas intenções de voto à percepção dos eleitores de que ele se
tornou um "pesadelo" para seus adversários e expressou confiança de
que sua campanha ganhará ainda mais força com o apoio financeiro que espera
receber. Durante o evento, Marçal chegou a solicitar doações à plateia,
recebendo demonstrações de apoio.
• Carlos Bolsonaro declara apoio a Maria
Helena, do Novo, na disputa em São Paulo
O fim do monopólio no
mercado do fascismo político brasileiro, comprovado pela ascensão do ex-coach
Pablo Marçal, segue fraturando a extrema-direita tupiniquim. Na noite de ontem,
o vereador Carlos Bolsonaro, filho do ex-presidente Jair, declarou apoio a
Maria Helena, do Partido Novo, que tem 4% nas pesquisas.
"Diante de
entendível resistência ao tal do Nunes, mas não me referindo ao pessoal que tem
um projeto de poder e financeiro liderado por outro que nunca apresentou nada
para ser considerado de direita, por mim se colocando propositalmente COM APOIO
DE DETERMINADOS para tentar anular a direita construída a duras penas no país,
além de todas suas artemanhas cometidas diariamente, eu sinceramente,
consideraria a Maria Helena do Partido NOVO como uma possibilidade de voto,
visto que todos tem seus problemas, mas está se mostra de bom preparo e mais
afinidades CLARAS com a direita. É uma opinião. Cada um faz o que quer, além de
impedir o avanço da extrema-esquerda na pessoa do Boulos, SOLDADO DO LULA. Boa
noite a todos!", escreveu ele em seu X.
• Tabata aponta ligações de Marçal com o
tráfico de drogas
Candidata a prefeita
de São Paulo, a deputada federal Tabata Amaral (PSB) divulgou nas redes sociais
na noite desta quinta-feira (23) uma peça de campanha em que escancara as
ligações do ex-coach Pablo Marçal, também candidato a prefeito da capital paulista,
com o PCC (Primeiro Comando da Capital), a maior organização criminosa do
Brasil.
Tabata cita no vídeo
Renato Cariani, Leonardo Avalanche, André do Rap, 'Piauí', Valquito, Escobar,
Júlio César Pereira (o 'Gordão') e Francisco Chagas de Souza (o Coringa):
"tem uma figura que liga todos esses elementos", diz a candidata,
mostrando uma foto de Marçal em seguida.
• Folha diz que Marçal tem "conduta
abjeta"
O jornal Folha de S.
Paulo, que encomendou a pesquisa Datafolha sobre sucessão municipal em São
Paulo, publicou editorial sobre os resultados e a disparada do ex-coach Pablo
Marçal, que tem "conduta abjeta" segundo a publicação. "A
paisagem mudou na corrida pela Prefeitura de São Paulo. Após meses de calmaria
e previsibilidade, a mais recente pesquisa do Datafolha registra a ascensão de
um elemento inesperado, capaz de embolar a eleição na capital paulista e
adicionar um suspense até então inexistente na disputa deste ano", escreve
o jornal.
"Trata-se do
influenciador Pablo Marçal (PRTB), cuja conduta como candidato tem sido nada
menos que abjeta. Segundo o levantamento, Marçal saltou de 14% das intenções de
voto para 21% e alcançou a liderança, empatado com Guilherme Boulos (PSOL), que
oscilou de 22% para 23%, e Ricardo Nunes (MDB), que foi de 23% para 19%",
prossegue o editorialista.
"O autointitulado
ex-coach, com forte engajamento nas redes sociais e sem compromisso com o
debate de ideias, concorre com Nunes pelo posto de candidato mais forte da
direita para enfrentar Boulos, cujo principal padrinho é o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva (PT)", aponta ainda o jornal.
Fonte: Por Leonardo
Attuch, em Brasil 247/Metrópoles/g1
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