Após reviravoltas, disputa entre Trump e
Kamala começa pra valer
As eleições americanas estão marcadas para 5 de novembro, mas muito antes disso, a campanha já foi marcada por fortes
emoções, incluindo um atentado contra Donald Trump e a troca na candidatura
democrata.
Em 13 de julho, o ex-presidente Trump foi atingido por um tiro na orelha direita
durante um comício na Pensilvânia. Levado
ao hospital, o republicano teve alta poucas horas depois.
O autor do atentado,
Thomas Matthew Crooks, foi morto no local. Um apoiador de Trump, Corey
Comperatore, também perdeu a vida ao ser atingido por um dos tiros disparados
por Crooks.
Cerca de uma semana
depois, em 21 de julho, o presidente Joe Biden, indicado a concorrer
pelos democratas, anunciou ter desistido de sua candidatura à reeleição.
Seu desempenho em um
debate contra Trump e outros episódios que colocaram em questão suas condições
de saúde geraram pressão para que Biden desistisse.
Ao anunciar ter
desistindo da reeleição, Biden logo indicou apoio ao nome de sua vice, Kamala
Harris, que já confirmou sua candidatura. Os democratas correram para que o
nome dela fosse ratificado rapidamente pelos delegados partidários, o que
ocorreu.
No início de
agosto, a candidatura da democrata foi oficializada e Tim Walz, governador de Minnesota, escolhido como candidato a vice.
Já Trump havia tido
sua candidatura oficializada em julho. Seu vice na chapa é J.D. Vance, senador por Ohio.
Na sexta-feira (23/8),
Robert F Kennedy Jr suspendeu sua candidatura independente para a presidência
dos EUA e disse que apoiará a campanha de Donald Trump.
Kennedy, de 70 anos,
foi um democrata durante a maior parte de sua vida. Descendente da dinastia
Kennedy, ele disse que os princípios que o levaram a deixar o partido agora o
compeliram a "dar meu apoio ao presidente Trump".
Trump, o candidato
republicano, disse que o endosso foi "muito bom... ele é um cara
ótimo", enquanto a rival democrata Kamala Harris disse que
"ganharia" o apoio dos eleitores de Kennedy.
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Com funcionam as
eleições presidenciais americanas
As eleições
presidenciais americanas, realizadas a cada quatro anos, são um processo longo
e complexo, que começa quase dois anos antes da votação, quando pré-candidatos
costumam formar comitês exploratórios para analisar suas chances na disputa e
arrecadar fundos para a campanha.
Diferentemente do
Brasil, onde há várias siglas importantes, nos Estados Unidos o sistema
político é dominado por apenas dois grandes partidos: Democrata e Republicano.
Candidatos de
agremiações menores ou independentes podem concorrer, mas não costumam ter
chance.
O sistema eleitoral
americano é descentralizado, a cargo de cada um dos 50 Estados. O calendário de
prévias se estende até o meio do ano, quando os escolhidos para representar
cada partido terão seus nomes oficializados em convenções nacionais.
Os eleitores
americanos não escolhem seus candidatos à Presidência de maneira direta. Nas
primárias, os votos elegem delegados partidários, que se comprometem em apoiar
o pré-candidato que venceu na votação dos eleitores naquele Estado.
Esses delegados irão
participar da convenção nacional de seu partido. O pré-candidato que receber os
votos da maioria dos delegados na convenção nacional será coroado como
candidato oficial do partido.
Na eleição geral, a
decisão também fica a cargo de delegados, que formam o chamado Colégio
Eleitoral, composto por 538 pessoas. Chega à Casa Branca o candidato que
receber pelo menos 270 votos (a maioria) do Colégio Eleitoral.
·
Os candidatos
A Constituição
determina que qualquer cidadão americano nascido nos Estados Unidos que tenha
no mínimo 35 anos e tenha vivido no país por pelo menos 14 anos pode concorrer
à Presidência.
A cada eleição,
centenas de pessoas preenchem o formulário da Comissão Federal Eleitoral (FEC,
na sigla em inglês) para disputar o cargo, muitas em tom de brincadeira e
outras de maneira séria, mas sem chances de irem adiante.
Apesar da facilidade
para se inscrever, disputar a Presidência americana para valer é tarefa
difícil. Candidatos que não são nomeados pelos dois grandes partidos enfrentam
diversos obstáculos para incluir seus nomes nas cédulas de votação.
As regras variam em
cada Estado, mas costumam exigir dezenas de milhares de assinaturas de
eleitores registrados. É comum que mesmo candidatos de partidos conhecidos, mas
que não fazem parte das duas siglas principais, enfrentem dificuldades para
aparecer nas cédulas de todos os 50 Estados.
No caso de democratas
e republicanos, a disputa para ser o representante do partido nas cédulas
costuma ser acirrada, e muitos dos que anunciaram ainda em 2023 sua intenção de
concorrer à nomeação já havia desistido antes mesmo do início das primárias.
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As pendências
judiciais de Trump
Na maioria dos anos
eleitorais, o suspense em torno das primárias é sobre que candidatos ganharão
ou perderão força ao longo da temporada. Neste ano, no entanto, uma das
principais questões se referia aos processos judiciais enfrentados por Donald
Trump.
Vários Estados
iniciaram esforços para barrar o nome de Trump das cédulas das primárias, sob a
acusação de que ele teria cometido insurreição após perder a eleição de 2020.
Trump não aceitou aquela derrota e, em 6 de janeiro de 2021, milhares de seus
apoiadores invadiram o Capitólio, sede do Congresso americano.
Em dois desses
Estados, Colorado e Maine, a Justiça estadual decidiu pela retirada do nome de
Trump das cédulas.
O ex-presidente
apelou, e a Suprema Corte do país anulou a decisão da Justiça do Colorado. A
sentença, que também vale para os outros Estados, liberou o republicano para
concorrer às eleições.
Mas essa disputa não
era o único problema legal de Trump. O ex-presidente enfrenta dezenas de
acusações em processos criminais.
Em maio, Trump foi
condenado em Nova York por falsificar registros comerciais para ocultar dinheiro pago à
estrela pornô Stormy Daniels e encobrir um suposto caso com a atriz.
Embora a condenação
possa ter um impacto político, legalmente não o impede de concorrer à
presidência.
Em julho, em uma
grande vitória para Trump, uma juíza da Flórida rejeitou o processo em que ele
foi acusado de levar documentos governamentais, muitos deles confidenciais,
para sua residência privada após deixar a Casa Branca e obstruir esforços do
governo para recuperar os papéis.
A juíza Aileen Cannon
deu razão ao argumento da defesa de Trump de que o caso devia ser derrubado por
conta da nomeação do promotor especial Jack Smith, o que violaria a Cláusula de
Nomeações da Constituição dos EUA.
Ainda cabe recurso da
promotoria contra a decisão da juíza.
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Primárias e caucus
Há dois tipos de
votação nas prévias que definem os candidatos de cada partido: primárias e
caucus. Os detalhes dessas prévias variam de acordo com a lei do Estado e com
cada partido, que pode determinar seu próprio calendário de votação.
As primárias seguem um
formato de votação tradicional, no qual os eleitores escolhem seu candidato por
meio de cédulas, em voto secreto, e são divididas em diferentes tipos.
Nas primárias
fechadas, os eleitores só podem votar em candidatos do partido em que forem registrados.
Nas abertas, podem votar independentemente do partido, mas apenas em uma das
primárias, não em ambas. Em outros Estados, podem votar nos candidatos dos dois
partidos.
Os caucus, como ocorre
em Iowa, seguem um formato diferente, que inclui reuniões políticas realizadas
em residências, escolas e outros prédios públicos, nas quais os eleitores
debatem sobre seus candidatos e temas eleitorais.
Ao fim das discussões,
os eleitores em cada uma dessas reuniões escolhem um candidato e os delegados,
que prometem apoiá-lo. Esses delegados participam de convenções nos condados,
nas quais são eleitos os delegados que irão às convenções estaduais, que por
sua vez definem os delegados que irão à convenção nacional.
Uma das críticas
feitas aos caucus é a de que exigem que os eleitores disponham de horas para
participar fisicamente dos debates, o que restringiria a participação no
processo.
Depois do caucus em
Iowa, a primeira primária do país aconteceu em New Hampshire.
O fato de Iowa e New
Hampshire, dois Estados pequenos, rurais e pouco representativos da população
do país, terem peso tão importante ao abrir a temporada de prévias é criticado
há anos.
Mas ambos defendem
arduamente suas posições e têm leis estaduais que determinam que suas votações
devem ocorrer antes das de outros Estados.
Neste ano, porém, o
Partido Democrata decidiu alterar seu calendário, colocando a Carolina do Sul
como a primeira primária, em 3 de fevereiro.
Mas New Hampshire não
seguiu a determinação, e manteve sua data de votação, contrariando a decisão do
partido.
Em reação, Biden
retirou seu nome das cédulas na primária de New Hampshire, mas os eleitores
ainda puderam votar no presidente escrevendo seu nome à mão.
A mudança de
calendário democrata também fez com que a prévia do partido em Iowa seguisse um
processo diferente, pelos correios, com resultado divulgado somente em março.
Uma das datas mais
importantes do calendário de prévias é a chamada Super Terça-Feira, quando
diversos Estados realizam votações simultâneas. Neste ano, aconteceu em 5 de
março, em mais de 10 Estados.
Um candidato com bom
desempenho na Super Terça pode assumir a liderança na disputa e, dependendo do
número de delegados conquistados, pode já garantir a nomeação antes mesmo da
convenção nacional.
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As convenções
nacionais
As regras sobre
quantos delegados cada candidato recebe variam dependendo do Estado e do
partido.
À medida que vencem as
primárias, os pré-candidatos vão aumentando sua contagem de delegados, e muitas
vezes alcançam a maioria necessária para a nomeação antes mesmo da convenção
nacional.
Durante as convenções,
os delegados do partido votam nos nomes escolhidos pelos eleitores de seus
Estados, oficializando a escolha do candidato a presidente. Os nomeados também
anunciam oficialmente o vice de sua chapa, muitas vezes escolhido entre os pré-candidatos
derrotados.
As convenções servem
ainda para salientar a agenda política de cada partido, e muitas vezes são
palco para que novas estrelas em cada partido ganhem projeção nacional.
·
Estados decisivos
A partir da
oficialização de seus nomes, os candidatos de cada partido se lançam na reta
final da campanha, que inclui viagens por todo o país e debates transmitidos
pela TV.
É comum que os Estados
americanos sejam fortemente democratas ou republicanos, e nesses locais os
candidatos do partido dominante costumam vencer sem problemas.
Mas em alguns Estados,
nenhum dos partidos tem maioria clara na preferência dos eleitores, o que os
torna mais competitivos e cruciais para uma vitória e faz com que sejam foco
importante das campanhas.
Esses Estados são
chamados de swing states, ou "Estados pêndulo", porque a
cada eleição podem pender para um lado diferente, elegendo um democrata ou um
republicano.
Neste ano, entre os
principais swing states estão Arizona, Carolina do Norte,
Geórgia, Michigan, Minnesota, Nevada, Pennsylvania e Wisconsin.
·
A votação
O voto é facultativo
nos Estados Unidos, e cidadãos com idade de 18 anos ou mais podem votar. Mais
de 158 milhões de pessoas votaram na eleição presidencial de 2020, o
equivalente a 62,8% da população em idade eleitoral.
A lei determina que as
eleições presidenciais sejam realizadas sempre "na terça-feira seguinte à
primeira segunda-feira de novembro", que neste ano cai no dia 5 de
novembro.
O dia de votação não é
feriado, mas os eleitores americanos têm outras opções além do comparecimento
às urnas na data marcada. Dependendo do Estado, podem antecipar seu voto ou até
votar pelo Correio.
Além do presidente e
do vice-presidente, neste ano os americanos também irão eleger governadores de
11 Estados e dois territórios e prefeitos de dezenas de cidades, além de outros
cargos estaduais e locais.
Também estão em
disputa todas as 435 cadeiras da Câmara dos Representantes (equivalente à
Câmara dos Deputados) e um terço das 100 vagas no Senado.
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O colégio eleitoral e
o voto popular
Assim como nas
primárias, também na eleição geral os americanos não elegem o presidente de
maneira direta. O voto vai para os chamados "eleitores", delegados
que formam o Colégio Eleitoral, responsável pela escolha do presidente.
"Você está
dizendo ao seu Estado em qual candidato deseja que o Estado vote na reunião do
Colégio Eleitoral", explica o site do governo dos Estados Unidos.
"Os Estados
utilizam os resultados das eleições gerais (também conhecidos como voto
popular) para nomear os seus 'eleitores'. O partido político estadual do
candidato vencedor seleciona os indivíduos que serão os eleitores."
O Colégio Eleitoral
tem 538 votos e, para ser o vencedor, um candidato precisa conquistar pelo
menos 270 votos. Se nenhum candidato conquistar os 270 votos, a decisão ficará
a cargo da Câmara dos Representantes.
O número de delegados
é proporcional ao tamanho da população do Estado. As regras variam, mas em 48
dos 50 Estados o vencedor leva todos os votos do Colégio Eleitoral daquele
Estado, mesmo que a vitória tenha sido por margem apertada.
Com isso, é possível
que um candidato vença o voto popular nacionalmente mas mesmo assim perca a
eleição. Isso aconteceu com Hillary Clinton em 2016.
É comum que o nome
projetado para ser o vencedor seja conhecido na própria noite da eleição, mas
às vezes isso leva mais tempo. O voto do Colégio Eleitoral, no entanto, só
ocorre em meados de dezembro.
Após essa etapa, os
votos são enviados dos Estados ao Congresso, em Washington, que faz a leitura e
contagem dos votos e certifica a vitória do eleito.
O novo presidente toma
posse no dia 20 de janeiro do ano seguinte à eleição.
Fonte: BBC News Brasil
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