A paz é impossível, afirma o escritor marroquino
Tahar Ben Jelloun
Para não cair na
armadilha de um pessimismo inevitável, ligado à realidade das guerras em curso, à consciência de uma paz cada vez mais utópica, o
escritor Tahar Ben Jelloun deve ter desenvolvido, ao longo dos anos, um grande amor
pela vida.
Algo que, apesar de
tudo, permite que ele fale sobre coisas trágicas, mas também alegres, sobre
dramas e memórias, sobre mulheres e filmes amados: “É bom entrar em um café e
ouvir: ‘Bom dia, como vai? Tudo bem?’ Na França, não acontece mais,
enquanto na Itália, na Espanha e até mesmo
no Marrocos ainda é assim. Trocamos impressões, nos cumprimentamos,
conversamos”.
No Lido, no dia 28, no
primeiro dia do Festival de Cinema, Ben Jelloun, convidado do “Giornate
degli Autori” como presidente honorário do “BookCiak Azione!”,
discutirá com Luciana Castellina o tema “Cultura para a Paz”. O ponto
de partida é seu livro L'urlo (O grito, em tradução livre,
publicado pela La nave di Teseo), dedicado à necessidade de abrir um diálogo entre Israel e Palestina: “Será um diálogo absurdo”, diz o autor imediatamente, “a paz é
impossível”.
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Eis a entrevista.
·
Você perdeu a esperança?
Sou muito realista.
Acho que quem tem o poder faz o que quer, que nós somos apenas pobres
intelectuais, empenhados em falar sobre a paz, sabendo que, no momento,
não há como alcançá-la e que, enquanto isso, as pessoas, especialmente as que
vivem nas condições mais difíceis, continuam morrendo. Assistimos repetidamente
a cenas insuportáveis, crianças perdendo a vida, mortas nas casas bombardeadas onde encontraram refúgio, com as
mães tentando protegê-las. E, em tudo isso, sequer temos mais a permissão de
expressar nossa opinião.
·
Em que sentido?
Na França é
assim, na mídia hoje não se pode mais criticar a atuação dos israelenses e nem
mesmo falar sobre os mortos palestinos porque somos imediatamente acusados
de antissemitismo. Não existe o direito de chorar pelos mortos, e isso é
horrível. No início do conflito, escrevi para denunciar o Hamas e
suas ações e, ao fazer isso, perdi muitos amigos que me acusaram de compactuar
com o inimigo. Depois, escrevi contra Israel e perdi muitos outros. No momento,
sinto uma forte sensação de solidão e acho que falar sobre paz é loucura.
·
Você não vê nenhum
tipo de solução?
O único gesto real,
concreto, capaz de incidir sobre os fatos, poderia ser feito pelo Papa.
Ele poderia decidir ir a Gaza e se estabelecer lá, entre os
palestinos, entre eles também há muitos cristãos. Seria como dizer ‘agora
venham me bombardear’. O pobre Papa Francisco tem um ânimo doce e gentil, mas eles nunca lhe deixarão
fazer algo assim.
·
Como você avalia os
resultados das eleições francesas e o fato de que a afirmação de Marine Le Pen
foi evitada só por um pouco?
Quase metade do povo
francês está com a Frente Nacional, que é racista, extremista e fascista. De 40 milhões de
eleitores, 12 se expressaram a favor de Le Pen, e
esse é um número enorme. Temos que nos preparar, é preciso dizer
que Marine Le Pen apagou a herança racista de seu pai, mas os
militantes, os membros da Frente Nacional, continuam sendo racistas, como
mostram as muitas reportagens que os descrevem.
·
Como vê a situação
italiana?
Na Itália as
coisas são diferentes, a relação com a migração, por exemplo, é muito
diferente, a França teve o colonialismo, vocês não. É claro que há
uma herança fascista ligada a Mussolini,
mas não há a mesma ferocidade racista presente na França. Claro,
há Meloni, há a Liga, mas, como observador externo, parece-me que a
situação seja menos dramática.
·
O festival “BookCiak
Azione!” trata de transposições cinematográficas de livros. Você é a favor ou
contra?
Nunca gostei da ideia
de ver um de meus livros na tela. A literatura é uma coisa, o cinema é outra.
Nós, escritores, trabalhamos com as palavras, e os cineastas, com as imagens.
Acho que é um erro misturar as duas coisas. É possível se inspirar em uma
história, mas não ir além. Estou pensando no que Visconti fez
com Morte em Veneza e com O Leopardo, que são obras-primas, mas
também penso na sua versão desastrosa de O Estrangeiro, de Albert Camus, um verdadeiro massacre. Em suma, é melhor deixar os livros
para a literatura e o cinema para os roteiristas, são linguagens diferentes,
mesmo que pareçam semelhantes.
·
Qual é a sua relação
com o cinema?
Sou um cinéfilo. Vou
ao cinema desde os 14 anos, às vezes passava o dia todo lá. Agora assisto a
filmes em DVD, mesmo os antigos. Recentemente, revi A moça com a
valise, Claudia Cardinale era muito jovem, devia ter 24 anos, Jacques Perrin estava no filme, a história era magnífica.
·
Quais os autores
italianos que você prefere?
Vi todos os filmes
de Visconti, Antonioni, Rosi, Comencini e Scola,
que era meu amigo. O cinema italiano que prefiro é o da década de 1970, na
minha opinião o mais interessante, mas também gosto de autores atuais,
como Giuseppe Tornatore.
·
As mulheres são muito
presentes e importantes em seus romances. Como você vê o seu caminho de
emancipação?
Depende do país de que
estamos falando. Na França, o feminismo se tornou uma ideologia dominante, talvez com algum excesso de
censura, o que não me agrada muito. Infelizmente, somos todos espectadores de
um drama cotidiano que se chama feminicídio, e hoje, finalmente, violências e assédios estão sendo
denunciados, um resultado justo, que antes parecia distante. Mas há exageros,
às vezes alguém é culpado e, depois que a justiça seguiu seu curso, descobre-se
que era completamente inocente. Isso me deixa um pouco desconfortável. E, de
qualquer forma, hoje o relacionamento entre homens e mulheres é um pouco mais
difícil do que no passado.
Vou lhe dar um
exemplo: havia uma farmacêutica que eu visitava pontualmente para comprar meus
remédios. Ela era muito bonita, eu gostava de vê-la, de ter um relacionamento
humano com ela, nada mais. Quando mudei de bairro, fui me despedir e lhe
perguntei: ‘madame, desculpe-me, posso lhe dizer algo sem que me acuse
de assédio sexual?’ Ela disse que sim, um pouco desconfiada, eu lhe disse
que era realmente muito bonita e ela me agradeceu. Em resumo, acredito que nas
relações precisamos de um pouco de simplicidade.
·
Você nasceu em Fes, no
Marrocos, mora na França e viaja muito. Onde realmente se sente em casa?
Em Tânger, onde
fica a casa da minha infância, minhas raízes, é onde me sinto bem. Eu costumava
me sentir confortável na França, mas agora não tanto, se tornou um país
agressivo, mesmo na vida cotidiana, me parece que todos estão infelizes, e realmente
espero que a Itália não se torne assim.
¨ 'Quem quer que nos prejudique, nós o prejudicamos': Netanyahu
lança palavras duras ao Hezbollah
O premiê de Israel
comentou a escalada do conflito do país com o Hezbollah, que começou a atacar
posições israelenses após a morte de um dos líderes do grupo no Líbano.
O primeiro-ministro
israelense declarou neste domingo (25) que as Forças de Defesa de Israel (FDI)
conseguiram destruir milhares de foguetes lançados pelo movimento libanês
Hezbollah, destacando a capacidade de defesa de Tel Aviv.
"Esta manhã,
detectamos os preparativos do Hezbollah para atacar Israel", disse
Benjamin Netanyahu em um discurso citado pelo jornal israelense The Times of
Israel, acrescentando que "em consulta com o ministro da Defesa [Yoav
Gallant] e com o chefe do Estado-Maior das FDI [Herzi Halevi], instruímos as
FDI a agir proativamente para eliminar a ameaça".
"Estamos
determinados a fazer todo o possível para proteger nosso país [e] fazer com que
os moradores do norte voltem para suas casas em segurança, e seguimos uma regra
simples: quem quer que nos prejudique, nós o prejudicamos."
O Hezbollah anunciou
que havia lançado a primeira fase de sua resposta ao assassinato no final de
julho por Israel de seu comandante militar Fuad Shukr, em Beirute, Líbano.
Por sua vez, Tel Aviv
afirmou ter lançado ataques preventivos contra o território libanês para
impedir ataques que estavam sendo preparados contra Israel.
O Hezbollah disse ter
lançado 320 foguetes contra território israelense. De acordo com o movimento,
seus ataques atingiram 11 alvos militares no norte de Israel. Por sua vez, Tel
Aviv atacou as instalações do movimento com mais de 100 aviões de combate.
¨ Hezbollah diz que está pronto para usar mísseis balísticos de
alta precisão contra Israel
O grupo Hezbollah
informou neste domingo (25) que já está preparado para usar seus mísseis
balísticos e de alta precisão contra Israel se for necessário. A declaração é
do secretário-geral do movimento libanês, Hassan Nasrallah, em um discurso ao
vivo na TV Al-Manar.
"O Hezbollah não
tem a intenção de usar mísseis balísticos e de alta precisão contra Israel. Mas
eles podem ser usados no futuro", disse Nasrallah.
O primeiro-ministro
Benjamin Netanyahu afirmou que as forças israelenses realizaram um ataque
preventivo contra alvos do grupo e destruíram milhares de mísseis depois que a
inteligência detectou preparativos para um ataque ao território do país.
O Exército de Israel
informou que cerca de 100 aviões da força aérea participaram da operação para
destruir alvos e armas do Hezbollah.
Já ataque em massa do
movimento foi uma resposta ao recente assassinato do alto comandante do
movimento, Fouad Shukr, em um ataque aéreo israelense a um prédio residencial
nos subúrbios do sul de Beirute.
<><> Mais
de 320 foguetes contra o país
O movimentou lançou na
madrugada deste domingo mais de 320 foguetes contra o norte de Israel.
"Como parte da resposta inicial à agressão nos subúrbios ao sul de
Beirute, que levou à morte do comandante Fuad Shukr e de vários de nossos
respeitados cidadãos, os combatentes da Resistência Islâmica lançaram um grande
ataque aéreo usando UAVs [veículos aéreos não tripulados] nas profundezas da
entidade sionista", diz o comunicado.
Mais cedo, as Forças
de Defesa de Israel (FDI) atacaram o sul do Líbano, justificando ter detectado
a ofensiva em grande escala planejada pelo Hezbollah.
O Hezbollah informou
que completou a primeira fase de ataques retaliatórios contra Israel, atingindo
com sucesso 11 alvos militares.
¨ O que se sabe até agora
sobre o ataque de Israel no Líbano
O exército israelense
informou que está atacando alvos do Hezbollah no Líbano após detectar
movimentações para o lançamento de mísseis em direção a Israel.
O Hezbollah confirmou
que iniciou seu ataque no domingo com uma onda de mais de 320 foguetes e
drones, em resposta à morte de seu principal comandante, Fuad Shukr, em Beirute no mês
passado.
O grupo, com base no
Líbano, afirmou que atacou um "alvo militar especial identificado",
além de plataformas do Domo de Ferro, que é o
sistema de defesa antiaéreo do país, e outros locais em Israel, mas que a
resposta completa levaria algum tempo.
O Hezbollah alertou
que vários "alvos e quartéis inimigos" serão atacados, acrescentando
que o grupo "resistirá firmemente contra qualquer transgressão ou agressão
sionista" se civis forem atingidos.
A operação deste
domingo, segundo o grupo, foi concluída. Mas o Hezbollah alertou que novas
operações estão planejadas, sugerindo que a ofensiva ainda está longe de
terminar. "Nossa resposta será proporcional às agressões de Israel",
afirmou o grupo, destacando que está preparado para um confronto prolongado,
caso necessário.
"A punição será
muito severa e dura", afirmou o grupo.
O porta-voz das Forças
de Defesa de Israel (IDF), Daniel Hagari, afirmou que Israel "identificou
uma preparação extensa" por parte do Hezbollah para "disparar
contra" Israel, com o objetivo de atingir seus cidadãos.
"Estamos
eliminando ameaças contra a população israelense," disse Hagari,
acrescentando que dezenas de jatos militares estão atualmente "atacando
alvos em várias localidades no sul do Líbano."
Sirenes soaram no
norte de Israel, e todos os voos de passageiros de e para o principal aeroporto
internacional de Tel Aviv foram cancelados ou desviados.
Israel declarou estado
de emergência de 48 horas como medida de precaução.
Hagari também destacou
a importância da cooperação com as forças internacionais para monitorar a
situação e evitar uma escalada ainda maior do conflito, mas reiterou que Israel
não hesitará em agir de forma decisiva para proteger sua soberania e segurança.
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Mortes no Líbano
A Agência Nacional de
Notícias do Líbano (NNA), administrada pelo governo, forneceu detalhes sobre o
que chamou de "agressão aérea em grande escala" realizada por Israel
nesta manhã.
Segundo um
correspondente na cidade de Nabatieh, no sul do Líbano, aviões israelenses
atacaram o Castelo de Chqif, os arredores da cidade de Ain Qana, Kfar Fila,
Louaizeh, Bsalia e Kfar Melki.
Também foram alvos os
arredores das cidades de Sajd, Kfar Fila e Sarba, bem como a área de Bir Kalb.
O Ministério da Saúde
do Líbano informou que três pessoas foram mortas em áreas no sul do país após
Israel lançar ataques contra o Hezbollah.
O Hezbollah confirmou
a morte de um combatente do movimento xiita aliado Amal, que era natural da
cidade de Khiam, no sul do Líbano.
O grupo armado,
apoiado pelo Irã, não detalhou as circunstâncias da morte, mas a confirmação
ocorre após o Ministério da Saúde do Líbano informar que uma pessoa foi morta
depois que um ataque israelense atingiu um carro na mesma cidade.
Em um comunicado, o
Hezbollah declarou que Ayman Kamel Idriss morreu "enquanto cumpria seu
dever nacional e jihadista em defesa do Líbano e do sul do país."
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Líderes afirmam não querer guerra em larga escala
O exército de Israel
afirmou estar preparado para lutar em duas frentes: em Gaza e em sua fronteira
norte com o Líbano. "No entanto, o Hezbollah é um grupo mais forte do que
o Hamas", escreve o repórter da BBC Jon Donnison, baseado em Jerusalém.
"Estima-se que o
Hezbollah possua cerca de 150.000 foguetes, alguns capazes de atingir alvos em
todo o território israelense. Seus combatentes são bem treinados e melhor
equipados do que os do Hamas."
Líderes israelenses e
do Hezbollah afirmam não querer uma guerra em larga escala, mas ambos os lados
dizem estar preparados para isso.
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O que é o Hezbollah?
Nos últimos 10 meses,
Israel e Hezbollah têm trocado ataques ao longo da fronteira.
O Hezbollah é uma
organização muçulmana xiita com grande influência política e maior poderio
armado dentro do Líbano.
O grupo foi
estabelecido no começo dos anos 1980 pela potência regional xiita mais forte da
região, o Irã, com o objetivo de fazer oposição a Israel. Na época, as forças
israelenses haviam ocupado o sul do Líbano durante a guerra civil do país.
O Hezbollah participa
de eleições nacionais desde 1992 e se tornou uma das grandes forças políticas
do país.
Seu braço armado
realizou diversos ataques mortais contra forças israelenses e americanas no
Líbano. Quando Israel deixou o Líbano em 2000, o Hezbollah reivindicou para si
a responsabilidade.
Desde então, o
Hezbollah vem mantendo milhares de combatentes e um grande arsenal de mísseis
no sul do Líbano. O grupo segue combatendo a presença de Israel em zonas de
fronteiras contestadas.
Países ocidentais,
Israel, países do Golfo e da Liga Árabe classificam o Hezbollah como uma
organização terrorista.
Em 2006, Hezbollah e
Israel entraram abertamente em guerra, depois que o grupo realizou um ataque
com mortes do outro lado da sua fronteira.
Tropas israelenses
invadiram o sul do Líbano para tentar eliminar a ameaça do Hezbollah. No
entanto, o grupo sobreviveu e desde então aumentou o número de combatentes e
modernizou seu arsenal.
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Quem é o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah?
Sheikh Hassan
Nasrallah é um clérigo xiita que lidera o Hezbollah desde 1992. Ele teve papel
fundamental em transformar o grupo em uma força política e militar.
Ele possui laços
estreitos com o Irã e seu líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei.
A relação começou em
1981, quando o primeiro líder supremo do Irã, o aiatolá Ruhollah Khomeini, o
indicou como seu representante pessoal no Líbano.
Nasrallah não aparece
em público há anos, supostamente por temor de ser assassinado por Israel.
Mas ele segue sendo
reverenciado pelo Hezbollah, e profere discursos na televisão todas as semanas.
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Quão poderosas são as forças do Hezbollah?
O Hezbollah é um dos
grupos militarizados não-estatais mais armados do mundo. Ele é fundado e
financiado pelo Irã.
Nasrallah diz possuir
100 mil combatentes, mas avaliações independentes estimam que o número
verdadeiro varia entre 20 mil e 50 mil.
Muitos são combatentes
bem-treinados e com experiência de lutar na guerra civil da Síria.
Estima-se que o
Hezbollah tenha algo entre 120 mil e 200 mil foguetes e mísseis, de acordo com
a organização Center for Strategic and International Studies.
A maior parte do
arsenal é composta por foguetes de artilharia pequenos, não-guiados e de
superfície.
Acredita-se que o
grupo possui mísseis anti-aviões e antinavios, além de mísseis capazes de
atacar no interior do Israel, longe da fronteira.
Esse arsenal é muito
mais sofisticado do que o que o Hamas possuiria na Faixa de Gaza.
Fonte: Por Fulvia Caprara, no La Stampa -
tradução de Luisa Rabolini, para IHU/Sputnik Brasil/BBC News Brasil
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