terça-feira, 27 de agosto de 2024

A paz é impossível, afirma o escritor marroquino Tahar Ben Jelloun

Para não cair na armadilha de um pessimismo inevitável, ligado à realidade das guerras em curso, à consciência de uma paz cada vez mais utópica, o escritor Tahar Ben Jelloun deve ter desenvolvido, ao longo dos anos, um grande amor pela vida.

Algo que, apesar de tudo, permite que ele fale sobre coisas trágicas, mas também alegres, sobre dramas e memórias, sobre mulheres e filmes amados: “É bom entrar em um café e ouvir: ‘Bom dia, como vai? Tudo bem?’ Na França, não acontece mais, enquanto na Itália, na Espanha e até mesmo no Marrocos ainda é assim. Trocamos impressões, nos cumprimentamos, conversamos”.

No Lido, no dia 28, no primeiro dia do Festival de Cinema, Ben Jelloun, convidado do “Giornate degli Autori” como presidente honorário do “BookCiak Azione!”, discutirá com Luciana Castellina o tema “Cultura para a Paz”. O ponto de partida é seu livro L'urlo (O grito, em tradução livre, publicado pela La nave di Teseo), dedicado à necessidade de abrir um diálogo entre Israel e Palestina: “Será um diálogo absurdo”, diz o autor imediatamente, “a paz é impossível”.

<><> Eis a entrevista.

·        Você perdeu a esperança?

Sou muito realista. Acho que quem tem o poder faz o que quer, que nós somos apenas pobres intelectuais, empenhados em falar sobre a paz, sabendo que, no momento, não há como alcançá-la e que, enquanto isso, as pessoas, especialmente as que vivem nas condições mais difíceis, continuam morrendo. Assistimos repetidamente a cenas insuportáveis, crianças perdendo a vida, mortas nas casas bombardeadas onde encontraram refúgio, com as mães tentando protegê-las. E, em tudo isso, sequer temos mais a permissão de expressar nossa opinião.

·        Em que sentido?

Na França é assim, na mídia hoje não se pode mais criticar a atuação dos israelenses e nem mesmo falar sobre os mortos palestinos porque somos imediatamente acusados de antissemitismo. Não existe o direito de chorar pelos mortos, e isso é horrível. No início do conflito, escrevi para denunciar o Hamas e suas ações e, ao fazer isso, perdi muitos amigos que me acusaram de compactuar com o inimigo. Depois, escrevi contra Israel e perdi muitos outros. No momento, sinto uma forte sensação de solidão e acho que falar sobre paz é loucura.

·        Você não vê nenhum tipo de solução?

O único gesto real, concreto, capaz de incidir sobre os fatos, poderia ser feito pelo Papa. Ele poderia decidir ir a Gaza e se estabelecer lá, entre os palestinos, entre eles também há muitos cristãos. Seria como dizer ‘agora venham me bombardear’. O pobre Papa Francisco tem um ânimo doce e gentil, mas eles nunca lhe deixarão fazer algo assim.

·        Como você avalia os resultados das eleições francesas e o fato de que a afirmação de Marine Le Pen foi evitada só por um pouco?

Quase metade do povo francês está com a Frente Nacional, que é racista, extremista e fascista. De 40 milhões de eleitores, 12 se expressaram a favor de Le Pen, e esse é um número enorme. Temos que nos preparar, é preciso dizer que Marine Le Pen apagou a herança racista de seu pai, mas os militantes, os membros da Frente Nacional, continuam sendo racistas, como mostram as muitas reportagens que os descrevem.

·        Como vê a situação italiana?

Na Itália as coisas são diferentes, a relação com a migração, por exemplo, é muito diferente, a França teve o colonialismo, vocês não. É claro que há uma herança fascista ligada a Mussolini, mas não há a mesma ferocidade racista presente na França. Claro, há Meloni, há a Liga, mas, como observador externo, parece-me que a situação seja menos dramática.

·        O festival “BookCiak Azione!” trata de transposições cinematográficas de livros. Você é a favor ou contra?

Nunca gostei da ideia de ver um de meus livros na tela. A literatura é uma coisa, o cinema é outra. Nós, escritores, trabalhamos com as palavras, e os cineastas, com as imagens. Acho que é um erro misturar as duas coisas. É possível se inspirar em uma história, mas não ir além. Estou pensando no que Visconti fez com Morte em Veneza e com O Leopardo, que são obras-primas, mas também penso na sua versão desastrosa de O Estrangeiro, de Albert Camus, um verdadeiro massacre. Em suma, é melhor deixar os livros para a literatura e o cinema para os roteiristas, são linguagens diferentes, mesmo que pareçam semelhantes.

·        Qual é a sua relação com o cinema?

Sou um cinéfilo. Vou ao cinema desde os 14 anos, às vezes passava o dia todo lá. Agora assisto a filmes em DVD, mesmo os antigos. Recentemente, revi A moça com a valise, Claudia Cardinale era muito jovem, devia ter 24 anos, Jacques Perrin estava no filme, a história era magnífica.

·        Quais os autores italianos que você prefere?

Vi todos os filmes de Visconti, Antonioni, Rosi, Comencini e Scola, que era meu amigo. O cinema italiano que prefiro é o da década de 1970, na minha opinião o mais interessante, mas também gosto de autores atuais, como Giuseppe Tornatore.

·        As mulheres são muito presentes e importantes em seus romances. Como você vê o seu caminho de emancipação?

Depende do país de que estamos falando. Na França, o feminismo se tornou uma ideologia dominante, talvez com algum excesso de censura, o que não me agrada muito. Infelizmente, somos todos espectadores de um drama cotidiano que se chama feminicídio, e hoje, finalmente, violências e assédios estão sendo denunciados, um resultado justo, que antes parecia distante. Mas há exageros, às vezes alguém é culpado e, depois que a justiça seguiu seu curso, descobre-se que era completamente inocente. Isso me deixa um pouco desconfortável. E, de qualquer forma, hoje o relacionamento entre homens e mulheres é um pouco mais difícil do que no passado.

Vou lhe dar um exemplo: havia uma farmacêutica que eu visitava pontualmente para comprar meus remédios. Ela era muito bonita, eu gostava de vê-la, de ter um relacionamento humano com ela, nada mais. Quando mudei de bairro, fui me despedir e lhe perguntei: ‘madame, desculpe-me, posso lhe dizer algo sem que me acuse de assédio sexual?’ Ela disse que sim, um pouco desconfiada, eu lhe disse que era realmente muito bonita e ela me agradeceu. Em resumo, acredito que nas relações precisamos de um pouco de simplicidade.

·        Você nasceu em Fes, no Marrocos, mora na França e viaja muito. Onde realmente se sente em casa?

Em Tânger, onde fica a casa da minha infância, minhas raízes, é onde me sinto bem. Eu costumava me sentir confortável na França, mas agora não tanto, se tornou um país agressivo, mesmo na vida cotidiana, me parece que todos estão infelizes, e realmente espero que a Itália não se torne assim.

 

¨      'Quem quer que nos prejudique, nós o prejudicamos': Netanyahu lança palavras duras ao Hezbollah

O premiê de Israel comentou a escalada do conflito do país com o Hezbollah, que começou a atacar posições israelenses após a morte de um dos líderes do grupo no Líbano.

O primeiro-ministro israelense declarou neste domingo (25) que as Forças de Defesa de Israel (FDI) conseguiram destruir milhares de foguetes lançados pelo movimento libanês Hezbollah, destacando a capacidade de defesa de Tel Aviv.

"Esta manhã, detectamos os preparativos do Hezbollah para atacar Israel", disse Benjamin Netanyahu em um discurso citado pelo jornal israelense The Times of Israel, acrescentando que "em consulta com o ministro da Defesa [Yoav Gallant] e com o chefe do Estado-Maior das FDI [Herzi Halevi], instruímos as FDI a agir proativamente para eliminar a ameaça".

"Estamos determinados a fazer todo o possível para proteger nosso país [e] fazer com que os moradores do norte voltem para suas casas em segurança, e seguimos uma regra simples: quem quer que nos prejudique, nós o prejudicamos."

O Hezbollah anunciou que havia lançado a primeira fase de sua resposta ao assassinato no final de julho por Israel de seu comandante militar Fuad Shukr, em Beirute, Líbano.

Por sua vez, Tel Aviv afirmou ter lançado ataques preventivos contra o território libanês para impedir ataques que estavam sendo preparados contra Israel.

O Hezbollah disse ter lançado 320 foguetes contra território israelense. De acordo com o movimento, seus ataques atingiram 11 alvos militares no norte de Israel. Por sua vez, Tel Aviv atacou as instalações do movimento com mais de 100 aviões de combate.

¨      Hezbollah diz que está pronto para usar mísseis balísticos de alta precisão contra Israel

O grupo Hezbollah informou neste domingo (25) que já está preparado para usar seus mísseis balísticos e de alta precisão contra Israel se for necessário. A declaração é do secretário-geral do movimento libanês, Hassan Nasrallah, em um discurso ao vivo na TV Al-Manar.

"O Hezbollah não tem a intenção de usar mísseis balísticos e de alta precisão contra Israel. Mas eles podem ser usados no futuro", disse Nasrallah.

O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu afirmou que as forças israelenses realizaram um ataque preventivo contra alvos do grupo e destruíram milhares de mísseis depois que a inteligência detectou preparativos para um ataque ao território do país.

O Exército de Israel informou que cerca de 100 aviões da força aérea participaram da operação para destruir alvos e armas do Hezbollah.

Já ataque em massa do movimento foi uma resposta ao recente assassinato do alto comandante do movimento, Fouad Shukr, em um ataque aéreo israelense a um prédio residencial nos subúrbios do sul de Beirute.

<><> Mais de 320 foguetes contra o país

O movimentou lançou na madrugada deste domingo mais de 320 foguetes contra o norte de Israel. "Como parte da resposta inicial à agressão nos subúrbios ao sul de Beirute, que levou à morte do comandante Fuad Shukr e de vários de nossos respeitados cidadãos, os combatentes da Resistência Islâmica lançaram um grande ataque aéreo usando UAVs [veículos aéreos não tripulados] nas profundezas da entidade sionista", diz o comunicado.

Mais cedo, as Forças de Defesa de Israel (FDI) atacaram o sul do Líbano, justificando ter detectado a ofensiva em grande escala planejada pelo Hezbollah.

O Hezbollah informou que completou a primeira fase de ataques retaliatórios contra Israel, atingindo com sucesso 11 alvos militares.

¨      O que se sabe até agora  sobre o ataque de Israel no Líbano

O exército israelense informou que está atacando alvos do Hezbollah no Líbano após detectar movimentações para o lançamento de mísseis em direção a Israel.

O Hezbollah confirmou que iniciou seu ataque no domingo com uma onda de mais de 320 foguetes e drones, em resposta à morte de seu principal comandante, Fuad Shukr, em Beirute no mês passado.

O grupo, com base no Líbano, afirmou que atacou um "alvo militar especial identificado", além de plataformas do Domo de Ferro, que é o sistema de defesa antiaéreo do país, e outros locais em Israel, mas que a resposta completa levaria algum tempo.

O Hezbollah alertou que vários "alvos e quartéis inimigos" serão atacados, acrescentando que o grupo "resistirá firmemente contra qualquer transgressão ou agressão sionista" se civis forem atingidos.

A operação deste domingo, segundo o grupo, foi concluída. Mas o Hezbollah alertou que novas operações estão planejadas, sugerindo que a ofensiva ainda está longe de terminar. "Nossa resposta será proporcional às agressões de Israel", afirmou o grupo, destacando que está preparado para um confronto prolongado, caso necessário.

"A punição será muito severa e dura", afirmou o grupo.

O porta-voz das Forças de Defesa de Israel (IDF), Daniel Hagari, afirmou que Israel "identificou uma preparação extensa" por parte do Hezbollah para "disparar contra" Israel, com o objetivo de atingir seus cidadãos.

"Estamos eliminando ameaças contra a população israelense," disse Hagari, acrescentando que dezenas de jatos militares estão atualmente "atacando alvos em várias localidades no sul do Líbano."

Sirenes soaram no norte de Israel, e todos os voos de passageiros de e para o principal aeroporto internacional de Tel Aviv foram cancelados ou desviados.

Israel declarou estado de emergência de 48 horas como medida de precaução.

Hagari também destacou a importância da cooperação com as forças internacionais para monitorar a situação e evitar uma escalada ainda maior do conflito, mas reiterou que Israel não hesitará em agir de forma decisiva para proteger sua soberania e segurança.

<><> Mortes no Líbano

A Agência Nacional de Notícias do Líbano (NNA), administrada pelo governo, forneceu detalhes sobre o que chamou de "agressão aérea em grande escala" realizada por Israel nesta manhã.

Segundo um correspondente na cidade de Nabatieh, no sul do Líbano, aviões israelenses atacaram o Castelo de Chqif, os arredores da cidade de Ain Qana, Kfar Fila, Louaizeh, Bsalia e Kfar Melki.

Também foram alvos os arredores das cidades de Sajd, Kfar Fila e Sarba, bem como a área de Bir Kalb.

O Ministério da Saúde do Líbano informou que três pessoas foram mortas em áreas no sul do país após Israel lançar ataques contra o Hezbollah.

O Hezbollah confirmou a morte de um combatente do movimento xiita aliado Amal, que era natural da cidade de Khiam, no sul do Líbano.

O grupo armado, apoiado pelo Irã, não detalhou as circunstâncias da morte, mas a confirmação ocorre após o Ministério da Saúde do Líbano informar que uma pessoa foi morta depois que um ataque israelense atingiu um carro na mesma cidade.

Em um comunicado, o Hezbollah declarou que Ayman Kamel Idriss morreu "enquanto cumpria seu dever nacional e jihadista em defesa do Líbano e do sul do país."

<><> Líderes afirmam não querer guerra em larga escala

O exército de Israel afirmou estar preparado para lutar em duas frentes: em Gaza e em sua fronteira norte com o Líbano. "No entanto, o Hezbollah é um grupo mais forte do que o Hamas", escreve o repórter da BBC Jon Donnison, baseado em Jerusalém.

"Estima-se que o Hezbollah possua cerca de 150.000 foguetes, alguns capazes de atingir alvos em todo o território israelense. Seus combatentes são bem treinados e melhor equipados do que os do Hamas."

Líderes israelenses e do Hezbollah afirmam não querer uma guerra em larga escala, mas ambos os lados dizem estar preparados para isso.

<><> O que é o Hezbollah?

Nos últimos 10 meses, Israel e Hezbollah têm trocado ataques ao longo da fronteira.

O Hezbollah é uma organização muçulmana xiita com grande influência política e maior poderio armado dentro do Líbano.

O grupo foi estabelecido no começo dos anos 1980 pela potência regional xiita mais forte da região, o Irã, com o objetivo de fazer oposição a Israel. Na época, as forças israelenses haviam ocupado o sul do Líbano durante a guerra civil do país.

O Hezbollah participa de eleições nacionais desde 1992 e se tornou uma das grandes forças políticas do país.

Seu braço armado realizou diversos ataques mortais contra forças israelenses e americanas no Líbano. Quando Israel deixou o Líbano em 2000, o Hezbollah reivindicou para si a responsabilidade.

Desde então, o Hezbollah vem mantendo milhares de combatentes e um grande arsenal de mísseis no sul do Líbano. O grupo segue combatendo a presença de Israel em zonas de fronteiras contestadas.

Países ocidentais, Israel, países do Golfo e da Liga Árabe classificam o Hezbollah como uma organização terrorista.

Em 2006, Hezbollah e Israel entraram abertamente em guerra, depois que o grupo realizou um ataque com mortes do outro lado da sua fronteira.

Tropas israelenses invadiram o sul do Líbano para tentar eliminar a ameaça do Hezbollah. No entanto, o grupo sobreviveu e desde então aumentou o número de combatentes e modernizou seu arsenal.

<><> Quem é o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah?

Sheikh Hassan Nasrallah é um clérigo xiita que lidera o Hezbollah desde 1992. Ele teve papel fundamental em transformar o grupo em uma força política e militar.

Ele possui laços estreitos com o Irã e seu líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei.

A relação começou em 1981, quando o primeiro líder supremo do Irã, o aiatolá Ruhollah Khomeini, o indicou como seu representante pessoal no Líbano.

Nasrallah não aparece em público há anos, supostamente por temor de ser assassinado por Israel.

Mas ele segue sendo reverenciado pelo Hezbollah, e profere discursos na televisão todas as semanas.

<><> Quão poderosas são as forças do Hezbollah?

O Hezbollah é um dos grupos militarizados não-estatais mais armados do mundo. Ele é fundado e financiado pelo Irã.

Nasrallah diz possuir 100 mil combatentes, mas avaliações independentes estimam que o número verdadeiro varia entre 20 mil e 50 mil.

Muitos são combatentes bem-treinados e com experiência de lutar na guerra civil da Síria.

Estima-se que o Hezbollah tenha algo entre 120 mil e 200 mil foguetes e mísseis, de acordo com a organização Center for Strategic and International Studies.

A maior parte do arsenal é composta por foguetes de artilharia pequenos, não-guiados e de superfície.

Acredita-se que o grupo possui mísseis anti-aviões e antinavios, além de mísseis capazes de atacar no interior do Israel, longe da fronteira.

Esse arsenal é muito mais sofisticado do que o que o Hamas possuiria na Faixa de Gaza.


Fonte: Por Fulvia Caprara, no
La Stampa - tradução de Luisa Rabolini, para IHU/Sputnik Brasil/BBC News Brasil

 

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