Antonio Mello: ‘Aumenta número de golpes
financeiros na internet. Em SP, um golpista quer ser prefeito’
Enquanto aumenta o
número de golpes financeiros praticados na internet, na cidade de São Paulo há
um candidato a prefeito que é um golpista condenado exatamente por cometer esse
tipo de crimes, o autodeclarado coach Pablo Marçal.
O número de crimes
financeiros e golpes semelhantes ao
aplicado por Pablo Marçal, que usava de artifícios para roubar dados
especialmente de idosos com falsas notificações bancárias, levou o Ministério
da Justiça a assinar com a Febraban um acordo para tentar frear esse tipo de
crime.
“O enfrentamento do
aumento exponencial das fraudes, golpes e crimes cibernéticos demanda
verdadeira rede colaborativa, com entes públicos e privados dos mais diversos
setores. A atuação isolada dos agentes públicos e privados, ainda que combinada
com volumosos investimentos em tecnologia e mecanismo de proteção, não se
mostra suficiente, sendo fundamental um espaço de articulação institucional”,
diz a justificativa do projeto.
“Acredita-se que a
formação de um grupo de trabalho para tratar de ações de prevenção e combate a
fraudes, golpes e crimes cibernéticos será profícuo para todo o País, figurando
como catalisador para iniciativas e projetos em prol da população.”
<><> O
papel de Marçal na quadrilha de golpistas
Resumidamente, a
quadrilha de criminosos enviava spams para as vítimas, que forneciam seus dados
bancários. A partir daí, os golpistas aplicavam fraudes naqueles que caíam no
golpe.
Em sua defesa pública,
o coach alega que apenas "consertava computadores" para um amigo de
sua congregação religiosa e que não sabia que se tratava de um esquema
criminoso.
Marçal atuava na
primeira etapa do processo. Segundo a investigação da Polícia Federal, ele
fazia mais do que apenas a manutenção de máquinas para a quadrilha; também
operava um programa que selecionava vítimas para o envio dos spams.
Ele admitiu em
depoimento que operava o programa para reiniciar o envio de spam nos e-mails
das vítimas. Um agente da Polícia Federal afirmou em audiência que Marçal tinha
conhecimento das atividades ilegais da quadrilha e operava ativamente no
esquema.
Marçal foi condenado,
mas não cumpriu pena, que prescreveu, mas ele ainda permanece condenado pela
justiça.
• Pablo Marçal e a "Corrida
Maluca" à prefeitura de São Paulo. Por Ricardo Nêggo Tom
Quem foi criança nos
anos 80 vai se lembrar de um desenho animado chamado “Corrida Maluca”, cujos
competidores e seus carros, cada qual com sua excentricidade característica,
aceleravam loucamente em busca da vitória. Entre os motoristas “mais birutas do
mundo”, como anunciava o narrador da atração, estava Dick Vigarista, o piloto
do carro 00, também conhecido como “Máquina do mal”, um sujeito sem o menor
caráter que fazia de tudo para prejudicar os seus adversários, sempre contando
com a ajuda do seu fiel escudeiro Muttley, um cãozinho sem vergonha e nada
dócil. Ele criava armadilhas no trajeto, mudava as placas de sinalização da
pista, roubava gasolina dos carros adversários, fazia o diabo para se sagrar
vencedor, mas nunca conseguia.
A disputa pela
prefeitura de São Paulo, a maior cidade da federação, vem se desenrolando ao
estilo de uma corrida maluca, cujo vigarista não se chama Dick, mas sim Pablo,
que tem conseguido fazer seus adversários caírem em algumas arapucas produzidas
por sua mente diabólica. Começou abalando o psicológico de Tábata Amaral, a
Penélope Charmosa da corrida, ao culpar a sua família pela morte do pai da
candidata do PSB. Algo que apenas um vigarista que saiba mexer com a
inteligência emocional das pessoas pode fazer. Como todo “bom” coach, Dick
Marçal sabe como atingir o ponto fraco de seres humanos cheios de vaidade como
a apadrinhada de Jorge Paulo Lemann. Tabata, ainda que disfarce, não tira
Marçal da cabeça e acaba gravando uma peça de campanha ligando o seu oponente
ao tráfico de drogas. Algo que a Polícia Civil também fez, ao revelar uma
investigação contra os articuladores da campanha do farsante.
Sabendo que a corrida
será muito difícil para ele e sua máquina do mal precisa ser abastecida a cada
volta da disputa, Pablo vigarista lançou a maledicência de que dois candidatos
à prefeitura eram usuários de drogas e que ele iria provar. Ricardo Nunes, cuja
chapa abriga o ex-comandante da Rota, o Coronel Ricardo Mello Júnior, o mesmo
que um dia declarou que a PM não pode tratar os moradores da periferia da mesma
forma que trata os burgueses de Alphaville, se arvorou em providenciar um exame
toxicológico para se livrar de qualquer tipo de associação com uso de drogas. O
resultado do exame ninguém viu, mas o certo é que o candidato de Bolsonaro e
seu vice, podem ser comparados à Dupla Sinistra que guiava o Cupê Mal-Assobrado
da Corrida Maluca. Um veículo cheio de fantasmas, que mais parecia a junção de
um carro velho com uma torre de um castelo da Transilvânia, e que ocultava no
seu interior um dragão, uma serpente marinha, uma bruxa, entre muitas outras
criaturas. Um resumo perfeito do que representa a candidatura do atual prefeito
da cidade.
Guilherme Boulos é a
vítima preferencial de Dick Marçal. Todo trabalhado no antipetismo e no
anticomunismo, o candidato do PRTB tem no candidato do PSOL o alvo perfeito
para as suas artimanhas. A sinalização com o dedo no nariz, sugerindo que
Boulos seja usuário de cocaína e o exorcismo com uma carteira de trabalho,
tentando chamar alguém que tem uma carreira como docente, de vagabundo e
desocupado, chegaram a tirar o Professor Aéreo da Corrida Maluca do sério. A
bordo do seu Carro Mágico, o candidato de Lula é o único que pode rivalizar com
Pablo vigarista, tirando da cartola uma nova invenção, no caso de Boulos, um
argumento político, que desconstrua as ciladas armadas pelo competidor desleal.
O problema é que o psolista está adotando uma postura menos a esquerda do que
de costume, entendendo que o eleitor paulistano fará uma leitura menos radical
do seu projeto político, uma vez que ele ficou conhecido nacionalmente como
“invasor de terras” devido a sua ligação histórica com o MTST. Boulos chegou a
declarar que a democracia venezuelana não lhe agrada, talvez imaginando que irá
se descolar do rótulo de comunista que a extrema-direita lhe colocou.
Óbvio que Boulos nunca
foi comunista, e que ninguém da extrema-direita votará nele apenas por ele não
ter reconhecido Nicolás Maduro como presidente eleito. Porém, Dick Marçal
precisa manter acesa a chama da guerra contra a esquerda, em defesa da família
tradicional e do “projeto de Deus” que o fascismo acendeu no país. Há quem
acredite que o discurso de coah do vigarista, no qual ele promete ensinar o
povo a ser tão próspero quanto ele, seja o ponto chave do seu poder de
convencimento. Eu não concordo. Até porque, mesmo dentro do lumpesinato existem
pessoas um pouco mais despertas do que antes, ainda que esse despertar se dê na
simples revolta pela situação na qual se encontram. Para essas pessoas
absorverem integralmente o mirabolante discurso da prosperidade adquirida com
uma fórmula de sucesso proposto por Pablo vigarista, não será tão simples
assim. É mais fácil convencê-los de que Deus lhes dará, porque eles não irão
perguntar: “e se Deus não dá? Como é que vai ficar? ”, porque a revolta contra
Deus é proibida, é pecado e pode jogá-los num inferno ainda pior do que o que
eles já vivem na terra.
Quando penso que
toleramos a extrema-direita usar o nome de Deus para defender o seu projeto de
destruição social da nossa sociedade, me lembro do “Paradoxo da Tolerância”,
conceito defendido pelo filósofo austro-britânico Karl Popper, no qual ele nos
faz refletir sobre a tolerância ilimitada a partir do conceito de tolerância
estabelecido num regime democrático. Se eu não tolero o intolerante, eu não
posso defender a tolerância e nem a democracia. Seria uma armadilha filosófica
digna de um Dick Vigarista, se não nos atentarmos para algo muito mais complexo
que Popper nos faz perceber num trecho do seu livro “The Open Society and Its
Enemies”, onde ele escreve que "A tolerância ilimitada leva ao
desaparecimento da tolerância. Se estendermos a tolerância ilimitada mesmo aos
intolerantes, e se não estivermos preparados para defender a sociedade
tolerante do assalto da intolerância, então, os tolerantes serão destruídos e a
tolerância com eles. ” E como estamos
nos preparando para essa defesa, já que estamos tolerando o surgimento de outro
mito vigarista como salvador da pátria mãe tão distraída, na qual boa parte
dela não percebe que será subtraída por tenebrosas alianças políticas?
Pegando um gancho na
filosofia de Popper, eu diria que a tolerância ilimitada nos leva a
naturalização do absurdo, a romantização da barbárie e a extinção do caráter
humano em nossa sociedade. Não se tolera figuras como Bolsonaro, Marçal,
Malafaia, entre outros Dicks vigaristas e marmoteiros que estão tornando a
nossa convivência social cada vez mais difícil. Isso não é democracia, mas sim
permissividade com a picaretagem, com o charlatanismo, com a desonestidade e
com a intolerância. Que tipo de sociedade tolera que vigaristas enriquecem às
custas do sofrimento e da falta de consciência social dos mais vulneráveis? Uma
sociedade onde boa parte de seus membros mais vulneráveis se identificam com o
seu opressor. E porque há essa identificação? Por que a caça se apaixona pelo
caçador? Porque o Estado que deveria zelar pelo bem-estar coletivo, quando não
é permissivo com os vigaristas e intolerantes, está aliado a eles. De que
forma? Sucateando propositalmente a educação, impedindo que os mais vulneráveis
adquiram o conhecimento que poderia libertá-los das investidas de vigaristas e
farsantes como Marçal.
Essa corrida maluca
ainda terá fortes emoções, graças a tolerância ilimitada com a desonestidade de
um candidato que já foi condenado por integrar uma quadrilha que dava golpe em
bancos, que quase matou 32 pessoas levando o grupo ao alto de um pico para um
exercício de superação, e que prometeu fazer uma mulher cadeirante andar em
nome de Jesus, diante de uma plateia de tolerantes alienados pela religião. O
que ele promete é "ouro de tolo" que Raul Seixas já cantava nos anos
1970. A origem de sua fortuna é uma incógnita, mas uma coisa é certa. Caso
vença a corrida, ele não terá a menor tolerância com os perdedores. E a
sociedade de um modo geral vai perdendo um pouco mais.
• O amor e não Marçal é que pode derrotar
Boulos. Por Gilberto Maringoni
AS DUAS PESQUISAS
SOBRE A ELEIÇÃO paulistana divulgadas nesta semana mostram um quadro
preocupante. O dado mais evidente é que Pablo Marçal sequestrou a agenda da
disputa. A campanha pode se transformar num fla-flu entre quem é contra ou a
favor do ex-coach. Racional ou intuitivamente, ele conseguiu captar uma
insatisfação difusa no ar e transformá-la em impulso político. Uma insatisfação
que pode ser aparentada à situação de 2013, quando todos os indicadores
econômicos – PIB, emprego, renda etc. – apontavam para cima, até que um
Krakatoa social entrou em ebulição. O fascismo cresce não apenas em situações
de crise, mas em ambientes nos quais o descontentamento está nos subterrâneos
da vida social.
MAIS DO QUE TUDO,
Marçal radicaliza uma característica da extrema direita internacional nos
últimos anos, a de se colocar como rebelde em meio a um horizonte de
conformismo ou resignação geral. Isso gera engajamento militante, algo que não
se vê em outras campanhas. Por mais que a família Bolsonaro insista no apoio a
Ricardo Nunes, lhe falta exatamente essa viga mestra do neofascismo, a de se
apresentar como antissistema.
HÁ UMA TENSÃO nos
meios bolsonaristas. O “mito” quer empurrar para seus adeptos um político
fisiológico de velho estilo, enquanto suas bases se identificam com o pique
outsider de Marçal. Assim, é supérfluo debater quem o bolsonarismo reconhece
como seu, até porque não se sabe até aqui se existe algo como “o bolsonarismo”,
ou se estamos diante de uma manifestação neofascista de características novas e
muito mais agressivas e letais à democracia.
Marçal é o primeiro personagem extremista a se afastar da família
miliciana sem que seu chão político desabe (lembremos da ascensão e queda de
Joyce Hasselman e Alexandre Frota). Marçal é daqueles “contra tudo o que está
aí”, versão hardcore.
O CRESCIMENTO DE
MARÇAL tira votos de quem? Aqui entramos num terreno quase especulativo, pois
as duas pesquisas recentes apresentam resultados que nos dão poucas pistas. Na
Atlas-Intel, sua disparada de 11% para 16,3% entre 8 e 20 de agosto tem como
contrapartida as quedas de Boulos (33% para 18,5%) e de Ricardo Nunes (25% para
21,8%). Com alguma licença poética, podemos concluir que o extremista
canibalizou os dois da dianteira. Já o Datafolha mostra que Boulos fica onde
sempre esteve (23% para 22%) e Ricardo Nunes cai de 23% para 19%, entre 6/7 e
20/21 de agosto. Nesse período, Marçal salta de 14% para 21%. O quadro
tendencial é que queda de Nunes, estagnação de Boulos e decolagem de Marçal.
O MIX DE MILEI E
BUKELE conseguiu, com pouco esforço, empurrar seus oponentes para o lugar de
conformistas passivos. Nada é mais conservador na capital paulista do que
Ricardo Nunes, títere de Milton Leite, o poderoso presidente da Câmara, e
herdeiro dileto do fisiologismo malufista. Nessa situação, Guilherme Boulos, em
tese a esquerda radical, decidiu esvaziar seu lado combativo e se apresentar
como o defensor do amor. Ou do conformismo em versão fofa. O ex-líder do MTST
optou por infantilizar sua jornada com coraçõezinhos, pets, sorrisos em
qualquer situação, sapatênis e barba desenhada. O élan vital do promissor líder
do MTST de anos atrás se dissolve num figurino de tiozão do pavê a fazer
trocadilhos com o próprio nome.
NA CÂMARA DOS
DEPUTADOS, Boulos se revelou um deputado de baixo perfil, que jamais entra em
bolas divididas. Como líder da bancada de seu partido, buscou de toda maneira
deixar de lado críticas ou contestações às políticas do Executivo. O ápice foi
tentar esvaziar qualquer debate sobre o arcabouço fiscal e trabalhar para que o
PSOL não votasse contra a medida do PT, de claro viés antidesenvolvimentista e
antidistributivista. O acordo pelo apoio de Lula em São Paulo estava em pleno
andamento.
BOULOS QUASE NÃO TOCOU
em dois temas centrais para a cidade em que disputa a prefeitura. O primeiro
são os apagões provocados pela ENEL, empresa italiana de energia. De forma
inexplicável, foi para cima de Nunes, culpando-o pelo problema, até se dar conta
que a concessão é federal. Para investir contra a empresa, teria de exigir do
governo Lula a cassação da concessão. O presidente da República já decidiu
prorrogar as concessões que vencem entre 2025-30 (a partir das privatizações de
FHC) e jamais embarcaria num confronto com o mercado. Assim, o principal
candidato de oposição deixou de lado um grave problema de infraestrutura.
O SEGUNDO TEMA é a
destruição selvagem do tecido urbano da capital, ampliado pela revisão do Plano
Diretor, aprovado pela Câmara Municipal no início do ano. Cinco dos oito
vereadores do PT votaram a favor da proposta da prefeitura-Secovi (o sindicato
das empresas imobiliárias). A bancada do PSOL foi a única que fechou questão
contrária. O desmonte de bairros inteiros aumenta a impermeabilização do solo,
satura os sistemas hídricos e avança sobre áreas de mananciais. Uma nova
estação de chuvas fará estragos enormes. Com esse resultado, torna-se difícil
para o candidato do PSOL abrir baterias contra medidas apoiadas por agremiação
aliada.
SEM PODER ENFRENTAR
CONCRETAMENTE tais assuntos, Boulos se despolitiza. Entra aí a campanha no bom
e velho estilo PT: contrata-se um marqueteiro de nome (no caso, o de João
Dória), cria-se um slogan insosso, pretensamente simpático e transforma-se o
programa de governo numa peça de marketing, com temas simpáticos que podem ser
assumidos por qualquer um.
A CAMPANHA BOULOS OLIMPICAMENTE
ignorou o cenário que gerou condições para o surgimento de um aventureiro
extremista. Tudo daria certo, em tese, com o apoio de Lula. Vamos combinar:
Lula faz um governo mediano, sem marcas claras, recuado em relação às forças da
direita (militares, Faria Lima, Globo, centrão etc.) e capaz de passar o pano
para o golpismo latente na sociedade. Nomeia a fina flor da direita para a PGR,
para ministérios e para o STF (Cristiano Zanin) e toca a vida como se
estivéssemos em 2002-03. Tem a seu favor
um relativo controle da inflação, uma alta do emprego (de baixa qualidade e
baixos salários) e alardeia a memória do que foi seu segundo mandato, de
expansão de investimentos e crescimento econômico, em meio à crise de 2008. A
gestão atual tem no ajuste fiscal a todo custo sua pedra de toque.
O NÓ AGORA É COMO
ENFRENTAR o marginal Pablo Marçal. Boulos já demonstrou no debate do Estadão
não ter se preparado adequadamente para isso. Caiu em provocações e não
denunciou o fenômeno fascista.
Comportou-se como personagem de marketing, com frases de efeito e trocadilhos
ensaiados. Dias depois, o candidato do PSOL articulou-se com Ricardo Nunes e
José Luiz Datena para boicotarem o debate seguinte. Ainda não está claro se a
manobra foi exitosa. Boulos treinou para se opor a um quase-poste, como o atual
prefeito e trombou com o inesperado. Marçal deverá comparecer aos próximos
debates e ainda é incerta a presença do psolista.
DE TUDO, UMA COISA É
CERTA: a direção de campanha, pautada por slogans vazios e a tática do
não-enfrentamento se esgotou. Tábata Amaral assumiu com competência a linha de
frente antifascista, diante do espaço vago. Há pouco tempo para o candidato
progressista mudar o figurino, abandonar a marquetagem e chamar mais gente à
luta.
Fonte: Fórum/Brasil
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