sexta-feira, 3 de maio de 2024

Escândalos da AfD causam divisão na extrema direita europeia

Partido de ultradireita alemão está sob pressão em meio a polêmicas que vão de pagamentos ilegais da Rússia a espião chinês. A pouco mais de um mês das eleições europeias, laços com seus aliados da UE estão em xeque.

A pouco mais de um mês das eleições para o Parlamento Europeu, em 9 de junho, o partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD) está fazendo uma promessa aos eleitores: lutar contra "restrições à soberania nacional e a redistribuição de riqueza e bens por meio de regulamentações da União Europeia (UE)". Em seu programa eleitoral, diz que pretende convencer outros partidos europeus a fim de atingir esse objetivo.

Mas depois de todos os escândalos envolvendo a AfD nos últimos meses, está cada vez mais difícil achar uma sigla na Europa que queira formar uma bancada com os ultradireitistas alemães. A lista de polêmicas inclui políticos suspeitos de receber fundos ilegais da Rússia, bem como um assessor acusado de espionagem para o regime autoritário da China.

Sobretudo, a relação com o partido de extrema direita francês Reunião Nacional (RN), liderado por Marine Le Pen, tem sido tensa há meses. Citando fontes internas do partido, o jornal suíço Neue Zürcher Zeitung reportou que o RN está considerando deixar o "Identidade e Democracia", grupo político de extrema direita dentro do Parlamento Europeu, após as eleições.

A extrema direita europeia e Putin

Os escândalos da AfD preocupam Le Pen e complicam seus planos de se tornar presidente da França. Afinal, vínculos com radicais, com o governo autocrático do presidente russo Vladimir Putin e com um espião chinês não se encaixam em sua estratégia presidencial. Em 2017, ela apareceu orgulhosamente ao lado de Putin e aceitou um empréstimo milionário de um banco com laços estreitos com o Kremlin.

Mas agora a direita francesa está buscando distância desses escândalos. E Le Pen fez questão de deixar isso claro à líder da AfD, Alice Weidel.

Em uma reunião entre as duas neste ano em Paris, a política francesa teria exigido um compromisso por escrito da alemã de nunca permitir que os supostos planos de expulsão de migrantes da Alemanha se tornassem parte do programa do partido.

Na Itália, a extrema direita também não parece querer ser associada à AfD. Em janeiro de 2024, a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, declarou que havia "diferenças irreconciliáveis" entre seu partido de extrema direita Irmãos da Itália e a sigla ultradireitista alemã.

Segundo a premiê, essa divergência tem a ver com as relações com a Rússia. Embora a pós-fascista Meloni seja considerada linha dura no que diz respeito à política interna e à migração, em termos de política externa ela é orientada para a aliança transatlântica com os Estados Unidos, ao contrário da AfD.

·        AfD busca se distanciar de polêmicas

A própria AfD está abalada com seus escândalos. No início da campanha eleitoral para o Parlamento Europeu, a liderança do partido ordenou que seu principal candidato, Maximilian Krah, não participasse do pleito. A lista de acusações, suspeitas e rumores que cercam o político se tornou longa demais: um assessor dele acabou de ser preso sob suspeita de espionagem para a China.

Segundo relatos da imprensa, Krah foi interrogado pelo FBI em Nova York sobre dinheiro procedente da Rússia. E a promotoria pública em Dresden, no leste da Alemanha, iniciou duas investigações preliminares contra ele por suspeita de pagamentos ilegais da Rússia e da China. Krah rejeita todas as acusações e prometeu cooperar com as autoridades de segurança.

O número dois da lista de candidatos da AfD também está em apuros. Petr Bystron também é suspeito de receber pagamentos ilegais da Rússia. A suspeita é ainda mais séria no caso dele: a imprensa divulgou gravações de áudio nas quais Bystron supostamente reclamava que o dinheiro foi pago em notas altas demais.

À medida que se espalham os escândalos, a liderança do partido é repreendida até dentro de suas próprias fileiras. Sylvia Limmer, atual eurodeputada da AfD, criticou que um político controverso com contatos na China tenha sido indicado como candidato principal: "As evidências eram suficientemente conhecidas", afirmou.

Sem fim à vista para os escândalos

Mas o fim dos escândalos da AfD parece estar longe. O ministro da Justiça alemão, Marco Buschmann, prevê novos casos de espionagem num futuro próximo: "Temos que assumir que haverá mais revelações nos próximos meses", disse ele à emissora de televisão ARD.

Além de Maximilian Krah e Petr Bystron, há outros membros controversos do partido na lista de campanha para as eleições europeias.

O promissor candidato Siegbert Droese, anos atrás, chegou a posar com a mão no coração em frente ao bunker conhecido como Wolfsschanze (toca do lobo), um quartel-general onde Adolf Hitler traçou planos para a guerra o Holocausto. Droese também já fez campanha com um carro da AfD que tinha como placa os símbolos típicos do o líder nazista.

¨      Marcha fundamentalista provoca repúdio na Alemanha

Membros da classe política alemã cobraram punições contra ativistas radicais islâmicos que saíram às ruas de Hamburgo para pedir instauração de “califado” no país.Membros da classe política da Alemanha pediram punições para radicais islâmicos que participaram de uma manifestação em Hamburgo no último fim de semana. Na ocasião, alguns participantes exibiram cartazes pedindo a instauração de um “califado” e a imposição da sharia (lei islâmica) na Alemanha.

A marcha foi convocada por um grupo chamado Muslim Interactiv, que é classificado como extremista pelo Departamento de Proteção da Constituição de Hamburgo, o serviço de inteligência local.

Nesta quarta-feira (01/05), o deputado Alexander Dobrindt, que lidera a bancada da conservadora União Social Cristã (CSU) no Parlamento da Alemanha, disse que ativistas como os que participaram da manifestação em Hamburgo deveriam enfrentar consequências legais e até perder a cidadania alemã.

“Qualquer um que queira introduzir a Sharia [lei islâmica rigorosa] na Alemanha e declarar um califado é um inimigo da nossa democracia”, disse Dobrindt, cujo partido faz oposição à coalizão governista do chanceler federal Olaf Scholz.

“O Estado deve enfrentá-los com consistência e rigor”, disse ele.

Dobrindt ainda exigiu penas de prisão para os “extremistas do califado”, bem como o cancelamento de benefícios sociais, a perda de autorizações de residência ou de dupla cidadania e a proibição de todas as organizações que queiram estabelecer um califado na Alemanha. “Na Alemanha, aplica-se o seguinte: o Estado de Direito, não a teocracia.”

·        O que os outros políticos disseram?

Já a ministra do Interior da Alemanha, Nancy Faeser, pediu à polícia que investigasse vigorosamente qualquer crime cometido durante a manifestação. “Nada de propaganda terrorista para o Hamas, nada de discurso de ódio dirigido aos judeus”, disse Faeser, que é filiada ao Partido Social-Democrata (SPD), a mesma legenda de Scholz. “Se crimes como esse ocorrerem, deve haver uma intervenção imediata e vigorosa nas manifestações.”

O chanceler federal Scholz, que já foi prefeito de Hamburgo, já havia defendido investigações em declaração divulgadas na segunda-feira (29/04).

“Todas as atividades islamistas que estão ocorrendo devem ser tratadas usando as possibilidades e opções disponíveis para nós sob o Estado de Direito”, disse Scholz.

O Ministro da Economia da Alemanha, o verde Robert Habeck, acusou a manifestação de questionar os princípios do Estado alemão. “Essa é uma manifestação que não se baseia na Constituição”, disse Habeck, que também é vice-chanceler da Alemanha.

O Ministro Federal da Justiça, o liberal Marco Buschmann, também comentou sobre a manifestação e escreveu na rede X na segunda-feira: “Qualquer pessoa que prefira um califado ao Estado da Lei Básica (Constituição alemã) é livre para emigrar”.

O secretário do Interior de Hamburgo, Andy Grote (SPD), por sua vez, disse: “Tal desfaçatez por parte de islamitas é insuportável e me causa repúdio”.

·        Como foi a manifestação?

A polícia disse que cerca de 1.100 pessoas participaram da manifestação em Hamburgo no último sábado (27/04). A marcha foi convocada por indivíduos com vínculos com a cena islâmica fundamentalista da região.

O pretexto inicial da manifestação – que recebeu inicialmente autorização das autoridades locais – foi reunir participantes para protestar contra supostas políticas islamofóbicas contra os muçulmanos na Alemanha. Mas durante a marcha vários participantes exibiram atitudes extremistas.

Oradores acusaram políticos alemães e a imprensa do país de propagarem “mentiras deslavadas” e “reportagens covardes” que supostamente rotularam todos os muçulmanos na Alemanha como radicais, tendo como pano de fundo a guerra de Israel contra o grupo Hamas em Gaza.

Mas, em meio à manifestação, era possível ver participantes exibindo cartazes com mensagens como “Alemanha: uma ditadura de valores” e “O califado é a solução”. Alguns oradores também defenderam a instauração de um “califado”.

Apesar disso, a manifestação, acompanhada por uma forte presença policial, transcorreu sem incidentes violentos.

Pelas leis alemãs, um banimento prévio desse tipo de manifestação apresenta complicações jurídicas, já que o Tribunal Constitucional Federal da Alemanha já deixou claro no passado que a Lei Básica alemã também concede liberdade de reunião aos “inimigos da liberdade”, desde que as manifestações não envolvam uma “atitude agressiva e combativa”.

De acordo com informações do Departamento de Proteção da Constituição (BfV) de Hamburgo, os responsáveis por solicitarem a autorização de registro da manifestação são próximas ao grupo Muslim Interactive, que é classificado como extremista.

O chefe de polícia de Hamburgo, Falk Schnabel, disse que os cartazes individuais serão examinados para apurar possíveis infrações criminais e afirmou que inicialmente não era possível banir a manifestação antecipadamente. ”É necessário que haja provas concretas de que ocorrerão crimes durante a manifestação.”

 

Fonte: Deutsche Welle

 

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