sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

Quem é mais culpado pela Guerra Fria, os EUA ou a URSS?

Determinar culpa em guerras é sempre problemático.

O culpado é sempre o perdedor, enquanto for, é claro.

Mas, no caso, a resposta são os EUA.

A URSS não tinha interesse algum no conflito, sua política externa era a busca de uma coexistência pacífica.

O próprio Stalin era acusado pela esquerda de ter concebido, e submetido todo o movimento Comunista internacional – a extinção da III Internacional é o exemplo cabal –, à ideia de "socialismo em um só país", de cooperação com o mundo Capitalista.

O que a União Soviética procurava eram fronteiras seguras. Sabia que o Ocidente Capitalista desde 1917, com o suporte aos Brancos e a intervenção militar de mais de uma dezena de forças expedicionárias estrangeiras, procurava, tanto impedir a emergência de uma potência continental européia contrária quanto destruir a experiência socialista.

À Alemanha foi permitido armar-se impunemente e suas agressões toleradas com o claro intuito de jogar as forças nazistas contra a URSS. A retirada quase pacífica dos exércitos britânicos e a rendição disfarçada da França eram claros sinais do que estava por vir. Esperavam que Alemanha e União Soviética se destruíssem mutuamente enquanto aguardavam, seguros e intocados, a hora de recolher o botim.

A URSS se propunha a se retirar de todos os territórios ocupados durante a II GG mediante garantias de neutralidade. Ocupar o Leste Europeu não lhe trazia vantagens, apenas despesas e problemas políticos. Onde essas garantias puderam ser estabelecidas, Áustria, Finlândia etc. e mesmo o caso mais elucidativo, a Grécia, onde os socialistas estavam próximos de vencer a guerra civil, isso até serem abandonados pelos soviéticos e verem o outro lado ser fortemente apoiado pelos britânicos, se retiraram.

A tolerância com a Iugoslávia de Tito é outro exemplo. Essa só pode ser destruída após o fim da Guerra Fria. Deixou de ser útil.

Os EUA garantiram, ou melhor compraram, a lealdade do Ocidente Europeu com o Plano Marshall, financiado com capitais extraídos da América Latina, enriquecida com a guerra, ou com uma política de suporte dissimulado aos regimes fascistas da península ibérica, o "amigo americano" de Franco e Salazar.

No Leste Europeu sob controle soviético provocaram, com promessas de extensão do Plano Marshall, revoltas internas. As "revoluções coloridas" da época.

Na França inventaram um general vitorioso, De Gaulle, para barrar a força do Partido Comunista Francês. Na Itália, a corrupção e a máfia, e o Vaticano, asseguraram, com o "compromisso histórico", a impossibilidade de vitória eleitoral do Partido Comunista Italiano.

A partir de Berlim, tentaram desestabilizar a Alemanha Oriental e a seguir, alcançar a Polônia, porta de entrada do território soviético.

O cerco e a corrida arnamentista bloqueavam qualquer possibilidade de investimentos sociais. O objetivo era produzir, estratégia até hoje empregada, descontentamento político interno.

Mas o surpreendente foi que a pá de cal não veio diretamente disso, mas de outro país socialista: a China.

 

       O que teria acontecido se os japoneses não tivessem atacado os chineses durante a Segunda Guerra Mundial, mas concentrado suas forças aos americanos?

 

Os japoneses não estavam interessados nos EUA.

Eram os EUA que estavam incomodados com o Japão.

A questão era que os EUA queriam impedir a expansão Imperialista do Capitalismo japonês, que era exatamente calcada no controle da China.

A China era para o Japão o que a África era para a Europa Ocidental, a Índia para a Grã-Bretanha, a América Latina para os EUA, o Leste Europeu para a Alemanha: seu Lebensraum.

A Guerra Russo-japonesa foi motivada pela necessidade de expulsar um concorrente da área.

Pearl Harbor é uma tentativa de reproduzir a mesma tática. Um ataque de surpresa para destruir o poder militar de um inimigo superior e obter uma paz vantajosa.

Só que pouco inteligente. As condições eram completamente diferentes.

A Rússia, desde sempre, contava com a animosidade do Imperialismo Ocidental, ou seja, não só iria lutar sozinha como ainda seria embargada por todos os meios.

O fascismo japonês esperava que funcionasse do mesmo modo com os EUA. Que a Alemanha nazista faria papel semelhante ao do Imperialismo Ocidental drenando os recursos dos EUA.

Isso também ajuda a explicar o porquê do Japão não atacar a URSS. Não desejava facilitar a vida dos EUA na Europa. Uma Alemanha prematuramente vitoriosa liberaria recursos dos Imperialistas Ocidentais para serem aplicados na Ásia.

Se não existisse Capitalismo japonês, não existiria Imperialismo, não existiria invasão da China, e não existiria conflito com os EUA.

 

       O Nazismo existiu porque a Alemanha perdeu na 1º Guerra Mundial? Como ele se formou?

 

Basicamente sim.

O Fascismo, o Nazismo é um tipo específico de Fascismo, é a forma que o Capitalismo radicalizado toma. Sob a pressão da rebelião do Proletariado, e da possibilidade iminente de Revolução, o Capitalismo "manda às favas os escrúpulos" Liberais e apela para todo e qualquer meio ao seu alcance.

Então o Nazismo é produto da Crise Capitalista do início do século XX, iniciada no final do século XIX e que redundou na quebra da bolsa de Nova Iorque em 1929. O mundo esteve à beira de uma Revolução proletária mundial. Nos países mais afetados pela revolta popular o Fascismo se instalou como única forma de enfrentamento da ameaça. A URSS é onde o resultado foi outro.

A Alemanha era talvez a mais atingida. De grande potência se viu reduzida à miséria. Na economia, transformada em colônia pelas dívidas de guerra. Na política mundial, com todas as potências interessadas em sua destruição. E contando com um Proletariado politicamente educado, organizado e combativo. A ameaça do exemplo bem sucedido e o rápido desenvolvimento URSS acrescentou mais lenha àquela fogueira. Se a Alemanha se tornasse Socialista a Europa, quiçá o mundo, seguiria o mesmo caminho. Por isso lá se instalou o Fascismo mais feroz. O tamanho do perigo deu o tom da reação.

Respondendo a pergunta: a crise Capitalista levou à I GG, que produziu a grande crise alemã e que também criou a ameaça soviética. E isso tudo levou ao Nazismo. A Alemanha, apesar do desejo de muitos, tanto na I GG quanto na II GG, não podia ser destruída, ou mesmo enfraquecida. Era um luxo que o Capitalismo não podia permitir à Geopolítica.

 

       Se a Alemanha nazista tivesse continuado em 1940/41 ao derrotar a Grã-Bretanha (operação Sealion) e não ter como alvo a Rússia, eles poderiam ter feito isso?

 

Mesmo desconsiderando que o objetivo sempre era o leste da Europa e nunca a França e muito menos as ilhas britânicas, a Alemanha não tinha minimamente os meios para que o Unternehmen Seelöwe pudesse ter funcionado.

Devido a uma ordem (idiota) de Hitler a Luftwaffe não obteve a superioridade aérea sobre o espaço aéreo britânico. Pois quando a RAF já estava quase sem aeródromos funcionais. O cabo bohemio mandou bombardear Londres, pois a RAF tinha conseguido mandar umas bombas para Berlim em 1940. Este desvio de forças deu a oportunidade à RAF de recuperar forças e recuperar os seus aeródromos muito castigados. E lá se foi a possibilidade de conseguir eventualmente a superioridade aérea.

Uma invasão por mar é extremamente difícil e requer muito, mas muitíssimo material. Mesmo os aliados, e apesar de muita insistência de Stalin, só em 1944 tinham a capacidade de o fazer na Normandia. Antes disto fugiram sempre de rabo a seringa, e optaram por alvos mais fáceis, como o norte de África (1942 Operation Torch) e Sizilia (1943 Operation Husky). Só em 1944 se viam capazes de enfrentar directamente a Alemanha, já bem enfraquecida. Usaram 6400 barcos e desembarcaram em 15 dias 104.000 toneladas de material, incluindo 54.000 viaturas e 850.000 homens. A Alemanha, nunca teve uma capacidade semelhante para fazer algo semelhante.

 

       É verdade que Hitler tentou fazer a paz várias vezes com os britânicos, mas Churchill rejeitou todas as propostas?

 

Hitler propôs paz várias vezes, mas foi rejeitado, pela mesma razão, todas as vezes.

Parte integrante de cada oferta alemã era que Hitler ficasse com seus ganhos, incluindo a conquista da Polônia, os Países Baixos (Bélgica, Holanda, Luxemburgo) e a França.

A Grã-Bretanha disse repetidamente que só faria as pazes se as forças alemãs se retirassem daquelas terras que haviam assumido o controle pela força, incluindo Polônia, Países Baixos e França.

Nenhum dos lados recuaria das suas demandas.

Hitler, tendo conquistado seus vizinhos, queria esses países como conquistas adicionadas ao Reich ou como satélites sob controle alemão. Ele declarou abertamente em Mein Kampf e em discursos que pretendia promover a Lebensraum para a Alemanha no leste.

A Grã-Bretanha, tendo entrado na guerra para impedir a conquista da Polônia, queria que a Alemanha renunciasse às suas conquistas. Os britânicos temiam, na minha opinião, que a promessa de Hitler de não realizar mais conquistas não era totalmente confiável, com base em suas ações anteriores ao início da guerra. Eles ouviram essas promessas antes, e Hitler sempre as quebrou. Os britânicos não acreditariam mais nele.

Hitler não mudaria suas demandas. Os britânicos não negociariam se os alemães não estivessem dispostos a conceder algo em troca - não é assim que as negociações funcionam.

 

Fonte: Quora

 

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