sábado, 10 de fevereiro de 2024

PF tem vídeo de reunião em que Bolsonaro e auxiliares trocam falas golpistas

As investigações da Polícia Federal apontam que em 5 de julho de 2022 houve uma reunião da "alta cúpula" do governo com a "finalidade de cobrar dos presentes conduta ativa na promoção da ilegal desinformação e ataques à Justiça Eleitoral".

Na reunião, o então presidente Jair Bolsonaro diz que as pesquisas estavam certas e que provavelmente Lula ganharia a eleição. O então chefe do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, diz que, para "virar a mesa", tem que ser "antes da eleição". E o então ministro da Defesa, paulo Sérgio Nogueira, declara guerra ao TSE (veja mais abaixo).

A Polícia Federal encontrou um vídeo da reunião em um computador apreendido na casa do ex-ajudante de ordens, Mauro Cid.

Estavam presentes:

•        Jair Bolsonaro (então presidente da República)

•        Anderson Torres (então ministro da Justiça)

•        Augusto Heleno (então ministro do Gabinete de Segurança Institucional)

•        Paulo Sérgio Nogueira (então ministro da Defesa)

•        Mário Fernandes (então servidor da Secretaria-Geral da Presidência)

•        Walter Braga Netto (candidato a vice na chapa de Bolsonaro)

Esta reunião ficou marcada por explicitar a organização do clã bolsonarista para criar estratégias para deslegitimar a eleição do presidente Lula e enfraquecer o sistema eleitoral e as urnas eletrônicas.

No começo da fala, o ex-presidente Jair Bolsonaro afirma que os ministros precisam ajudá-lo na campanha para reeleição que se iniciaria em agosto.

"E eu tenho falado com os meus 23 ministros. Nós não podemos esperar chegar 23, olhar para trás e falar: o que que nós não fizemos para o Brasil chegar à situação de hoje em dia? Nós temos que nos expor. Cada um de nós. Não podemos esperar que outros façam por nós. Não podemos nos omitir. Nos calar. Nos esconder. Nos acomodar. Eu não posso fazer nada sem vocês. E vocês também patinam sem o Executivo", falou Bolsonaro.

Em seguida, Bolsonaro intima os ministros a difundirem informações fraudulentas como tentativa de reverter a situação na disputa eleitoral.

“Daqui pra frente, quero que todo ministro fale o que eu vou falar aqui, e vou mostrar. Se o ministro não quiser falar, ele vai vir falar para mim por que ele não quer falar”, afirmou.

Em um dos trechos, o ex-presidente admite que Lula venceria as eleições no primeiro turno e que as pesquisas eleitorais, questionadas por ele, estavam corretas.

"E a gente vê que o Datafolha continua ... é ... mantendo a posição de 45% e, por vezes, falando que o Lula ganha no primeiro turno. Eu acho que ele ganha, sim. As pesquisas estão exatamente certas. De acordo com os números que estão dentro dos computadores do TSE”, disse Bolsonaro.

Nesta mesma reunião, Bolsonaro conta para os envolvidos sobre a ideia de convocar embaixadores para apontar fraudes no sistema eleitoral brasileiro. Foi por conta dessa reunião, com falsas afirmações sobre as urnas eletrônicas, que o ex-presidente ficou inelegível pelo TSE.

“Vou fazer uma reunião quinta-feira com embaixadores, semana que vem. Vou convidar autoridades do Judiciário para outra reunião, para mostrar o que está acontecendo”, bradou.

Bolsonaro já foi condenado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) à inelegibilidade e não poderá disputar eleições até 2030. Os ministros do tribunal entenderam que ele cometeu abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação ao espalhar informações falsas sobre o sistema eleitoral em uma reunião com embaixadores.

•        Espalhar desinformação

A PF destaca que o então presidente da República deixa claro que exigiria dos ministros, "em total desvio de finalidade das funções do cargo", que replicassem em suas áreas "todas as desinformações e notícias fraudulentas quanto à lisura do sistema de votação, com uso da estrutura do Estado brasileiro para fins ilícitos e dissociados do interesse público."

“Se apresentar onde eu estou errado eu topo. Agora, se não tiver argumento pra me demover do que eu vou mostrar, não vou querer papo com esse ministro. Está no lugar errado. Se está achando que eu vou ter 70% dos votos e vou ganhar como ganhei em 2018, e vou prova, o cara está no lugar errado”, diz a transcrição feita pelos investigadores e apresentada ao STF.

Em outro ponto da reunião, Bolsonaro propõe que os presentes participassem da redação de um documento que afirmasse ser impossível “definir a lisura das eleições” e incluísse elementos externos, como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).

"Quem responde pela CGU vai, quem responde pelas Forças Armadas aqui... É botar algo escrito, tá? Pedir à OAB. A OAB vai dar credibilidade pra gente, tá? Polícia Federal, uma nota conjunta com vocês, com vocês todos [dizendo/ que até o presente momento dadas as condições de se definir a lisura das eleições, são simplesmente impossíveis de ser atingidas. E o pessoal assina embaixo”, transcreve a PF.

•        Augusto Heleno: 'Se tiver de virar a mesa, é antes das eleições'

Um dos participantes da reunião, seguindo a PF, foi o então ministro do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno -- também alvo de busca e apreensão na operação desta quinta-feira.

Segundo os investigadores, Heleno chegou a começar a discutir a infiltração de agentes da Abin nas campanhas eleitorais, mas Bolsonaro interrompeu o tema para que conversassem sobre o assunto “em particular”.

Em outro ponto, a PF transcreve uma fala de Heleno em que ele ressalta que “se tiver que virar a mesa é antes das eleições” e que seria necessário “agir contra determinadas instituições e contra determinadas pessoas".

“Então, o que tiver que ser feito tem que ser feito antes das eleições. Se tiver que dar soco na mesa, é antes das eleições. Se tiver que virar a mesa, é antes das eleições (...) Eu acho que as coisas têm que ser feitas antes das eleições. E vai chegar a um ponto em que nós não vamos poder mais falar. Nós vamos ter que agir. Agir contra determinadas instituições e contra determinadas pessoas. Isso pra mim é muito claro”, transcreve a PF.

•        Anderson Torres

O documento também apresenta falas de outros investigados que participavam da reunião, como o então ministro da Justiça, Anderson Torres, que menciona a Bolívia como argumento para pedir uma ação mais forte do grupo.

"Tem muitos aqui que eu não sei nem se tem estrutura pra ouvir o que a gente tá falando aqui. Com todo o respeito a todos. Mas eu queria começar por uma frase que o presidente colocou aqui, que eu acho muito verdadeira. E o exemplo da Bolívia é o grande exemplo pra todos nós. Senhores, todos vão se f(...)er! Eu quero deixar bem claro isso",, diz a transcrição.

Os investigadores destacam que Anderson Torres repetiu argumentos falaciosos sobre possíveis irregularidades nas urnas, alegando que a Polícia Federal já havia apontado em anos anteriores possíveis melhorias ao sistema que não foram feitas. E por fim, destaca a PF, Torres teria dito que a PF “atuaria de forma mais incisiva”.

“O Diretor Geral da Polícia Federal montou um grupo de policiais federais. E agora uma equipe completa. Não só com peritos. Mas com delegados, com peritos, com agentes pra poder acompanhar, realmente, o passo a passo das eleições pra poder fazer os questionamentos necessários que têm que ser feitos, e não só as observações.(...) A gente vai atuar de uma forma mais incisiva. Já estamos atuando”, transcreve a PF.

•        Paulo Sérgio Nogueira

Durante momento de fala, o ex-ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, afirmou que o Tribunal Superior Eleitoral seria o “inimigo” do grupo bolsonarista e que na “guerra” traçada, eles deveriam “romper” a linha de contato, numa analogia para atacar o tribunal.

"O que eu sinto nesse momento é apenas na linha de contato com o inimigo. Eu vou romper aqui e iniciar minha operação. Eu vejo as Forças Armadas e o Ministério da Defesa nessa linha de contato. Nós temos que intensificar e ajudar nesse sentido, pra que a gente não fique sozinho no processo", afirmou.

O ex-ministro ainda faz coro às acusação infundadas contra o TSE.

“Pra encerrar, eu estou realizando reuniões com os comandantes de Força quase que semanalmente. Esse cenário, nós estudamos, nós trabalhamos. Nós temos reuniões pela frente, decisivas pra gente ver o que pode ser feito, que ações poderão ser tomadas pra que a gente possa ter transparência, segurança, condições de auditoria e que as eleições se transcorram da forma como a gente sonha. E o senhor, com o que a gente vê no dia a dia, tenhamos o êxito de reelegê-lo e esse é o desejo de todos nós”, finalizou.

 

       PF encontra na sede do PL documento com argumentos para decretação do estado de sítio

A Polícia Federal encontrou nesta quinta-feira (8), dentro da sede do PL, em Brasília, documento que defende e anuncia a decretação de um estado de sítio e da garantia da lei e da ordem no país.

Segundo apuração do colunista Valdo Cruz, o documento foi encontrado na sala de Jair Bolsonaro na sede do partido.

O papel foi encontrado durante operação para apurar o envolvimento de Bolsonaro, militares e ex-ministros num suposto plano para dar um golpe de Estado no fim de 2022 e evitar a eleição de Lula como presidente. O documento não está assinado.

Segundo fontes ouvidas, trata-se de uma espécie de discurso, por escrito, que sustenta que a ruptura do Estado Democrático de Direito estaria “dentro das quatro linhas da Constituição”, expressão muito usada por Bolsonaro em atos e discursos públicos quando presidente.

O colunista Valdo Cruz teve acesso ao documento. Ele cita até Aristoteles e diz que a resistência a “leis injustas” é um “princípio do Iluminismo”. O texto é apócrifo —ou seja, sem autenticidade comprovada.

“Afinal, diante de todo o exposto, e para assegurar a necessária restauração do Estado Democrático de Direito no Brasil, jogando de forma incondicional dentro das quatro linhas, com base em disposições expressas da Constituição Federal de 1988, declaro o estado de Sítio e, como ato contínuo, decreto operação de garantia da lei e da ordem”, diz o parágrafo final.

A PF realizou nesta quinta a mais ampla operação para desvelar a participação de ex-integrantes do governo, civis e militares, e também de aliados políticos de Bolsonaro na tentativa de golpe que culminou com a invasão dos Três Poderes em Brasília, em 8 de janeiro de 2023.

Os generais Braga Netto e Augusto Heleno estão entre os mais de 30 alvos da operação e aparecem nos registros da ação como defensores da ruptura.

Em um dos diálogos captados pela PF, Braga Netto chega a chamar o general Freire Gomes, ex-comandante do Exército, de “cagão” por não ter aderido ao plano golpista e ordena que militantes radicais cerquem a casa do militar, à época à frente da instituição militar.

Já Heleno foi gravado pelo próprio grupo de Bolsonaro em uma reunião, em julho de 2022, dizendo que uma “virada de mesa, um soco na mesa” teria que ser feito antes da disputa eleitoral. “Depois não vai ter VAR”, ele avaliou.

Como informou o blog de Daniela Lima, a PF também afirma que havia uma minuta golpista que pedia a prisão dos ministros Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, do STF, e do presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco.

O documento, dizem os investigadores no processo que dá base ao caso, foi discutido com Bolsonaro, que determinou a retirada dos nomes de Mendes e Pacheco, mas manteve a ordem de prisão de Moraes e a determinação de novas eleições. Na ocasião, ele já havia sido derrotado por Luiz Inácio Lula da Silva.

A operação deflagrada nesta quinta foi embasada por uma decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Bolsonaro teve o passaporte apreendido pela PF e foi proibido de falar com investigados.

Segundo a PF, os investigados se uniram para disseminar notícias falsas sobre o sistema eleitoral brasileiro, com objetivo de criar condições para uma intervenção militar que mantivesse Bolsonaro no poder.

Bolsonaro foi declarado inelegível até 2030 pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que condenou o ex-presidente por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação ao questionar o sistema eleitoral. Bolsonaro também é alvo de outras investigações no STF.

 

Fonte: g1

 

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