PF joga
por terra estratégia de aliados de Bolsonaro de isolar ex-presidente da 'cena
do crime'
As
investigações da Polícia Federal jogam por terra a estratégia do entorno de
Jair Bolsonaro de isolar o ex-presidente das tratativas para tentar um golpe de
Estado durante 2022.
Desde o
início das investigações, assessores de Bolsonaro, incluindo o próprio Mauro
Cid, tentaram blindar Bolsonaro ao dizer que “um monte de maluco” pedia golpe -
mas que Bolsonaro só ficava escutando e “mandava tirar dali”.
As
transcrições dos vídeos divulgados pela investigação desta quinta demolem essa
versão. Não apenas Bolsonaro não ficou ouvindo como foi quem falou e conduziu
parte do “esquenta” do golpe.
A
estratégia de Bolsonaro sempre foi dizer que seus auxiliares, das joias
sauditas ao cartão de vacinação, tinham autonomia.
Para a PF,
não é possível adotar essa estratégia no caso da tentativa de golpe por um fato
simples: Bolsonaro está na cena do crime e, gravado, dá o comando e ordens para
seus ministros - que, de forma chocante, não reagem. Pelo menos nos trechos
divulgados até aqui.
No entorno
bolsonarista, o clima é de derrota principalmente por isso: não vai dar mais
para terceirizar a responsabilidade para um de seus subordinados com o próprio
presidente na sala ministerial dando o roteiro do que era preciso fazer para,
como disse Heleno, “virar a mesa”.
Com o
avanço das investigações, a PF pretende encerrar essa fase do caso até o meio
do ano.
• Delação de Cid
A PF vai
chamar novamente o ex-ajudante de ordens Mauro Cid para questioná-lo sobre o
vídeo, Braga Netto, Heleno, financiamento em quartéis e participação da Agência
Brasileira de Inteligência (Abin) .
Segundo
apuração, ele não havia detalhado aos investigadores informações relevantes e
decisivas descobertas pela PF. Caso omita ou minta fatos criminosos, Cid corre
risco de perder benefícios de sua delação premiada.
A PF quer
saber também se o vídeo foi gravado com anuência de Bolsonaro ou foi um ato
isolado de Cid. Isso também está em investigação.
• Cid vai depor de novo e perderá
benefícios se mentir
A Polícia
Federal vai chamar novamente o ex-ajudante de ordens Mauro Cid para prestar
esclarecimentos sobre os novos fatos descobertos nas investigações sobre
tentativa de golpe após as eleições de 2022. Cid deve ser questionado sobre
vídeo da reunião que foi obtido pela PF e esclarecer a participação de aliados
de primeira ordem de Bolsonaro, como Braga Netto e general Augusto Heleno.
Outro tema
que deve ser apurado pelos investigadores é o financiamento de ações golpistas
em frente aos quartéis e a participação da Agência Brasileira de Inteligência
(Abin) nessa movimentação.
Segundo
apuração, ele não havia detalhado aos investigadores informações relevantes e
decisivas descobertas pela PF. Caso omita ou minta fatos criminosos, Cid corre
risco de perder benefícios de sua delação premiada.
A PF quer
saber também se o vídeo foi gravado com anuência de Bolsonaro ou foi um ato
isolado de Cid. Isso também está em investigação.
• Para PF, Bolsonaro incentivou
desinformação ilegal
O vídeo da
reunião do dia 05 de julho de 2022, convocada pelo então presidente Jair
Bolsonaro (PL) e com a presença de ministros, em ano eleitoral, é considerado
uma convocação à desinformação criminosa.
A
avaliação é de investigadores que atuam na apuração sobre as milícias digitais
– inquérito que levou à operação desta última quinta-feira (8) e que mirou
Bolsonaro, militares e pessoas ligadas ao ex-presidente.
Segundo a
investigação, "a reunião também teve como finalidade cobrar dos presentes
conduta ativa na promoção da ilegal desinformação e ataques à Justiça
Eleitoral: promoção e a difusão, em cada uma de suas respectivas áreas,
desinformações quanto à lisura do sistema de votação, utilizando a estrutura do
Estado brasileiro para fins ilícitos e desgarrados do interesse público".
Ainda
segundo a PF, "essa narrativa serviu, como um dos elementos essenciais,
para manter mobilizadas as manifestações em frente às instalações militares,
após a derrota eleitoral e, com isso, dar uma falsa percepção de apoio popular,
pressionando integrantes das Forças Armadas a aderirem ao Golpe de Estado em
andamento"
Todos os
participantes da reunião, considerada prova fundamental na operação, são
investigados:
1. Jair Bolsonaro;
2. Anderson Torres, ex-ministro da Justiça;
3. Augusto Heleno, ex-ministro do GSI;
4. Paulo Sergio Nogueira, ex-ministro da
Defesa;
5. Mário Fernandes, então chefe-substituto
da Secretaria-Geral da Presidência da República;
6. Braga Netto, ex-ministro-chefe da Casa
Civil e futuro candidato a vice-presidente da República.
Investigados contavam com 'kids pretos'
para dar golpe
Militares
e auxiliares do entorno mais próximo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL)
convocaram reuniões com militares "kids pretos" — também chamados de
"forças especiais" (FE) — para atuarem em atos antidemocráticos,
ajudando os golpistas. É o que apontam as investigações da Polícia Federal
(PF), que deflagrou nesta quinta-feira (8) uma operação contra o ex-presidente,
seus ex-assessores e ex-ministros.
Segundo
fontes da investigação ouvidas pela TV Globo, dos 22 alvos, pelo menos oito são
kids pretos:
• Marcelo Câmara, coronel do Exército
citado em investigações como a dos presentes oficiais vendidos pela gestão
Bolsonaro e a das supostas fraudes nos cartões de vacina da família Bolsonaro;
• Rafael Martins, major das Forças
Especiais do Exército;
• Bernardo Romão Corrêa Netto, coronel do
Exército;
• Braga Netto, ex-ministro da Defesa e
candidato a vice de Bolsonaro em 2022;
• Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete
de Segurança Institucional (GSI);
• Cleverson Ney Magalhães, coronel do
Exército e ex-oficial do Comando de Operações Terrestres;
• Guilherme Marques Almeida, coronel do
Exército e ex-oficial do Comando de Operações Terrestres;
• Sergio Ricardo Cavaliere de Medeiros,
major do Exército.
Kids
pretos são militares da ativa ou da reserva do Exército, especialistas em
operações especiais. Eles são treinados para participar de missões com alto
grau de risco e sigilo. O trabalho inclui operações de guerra irregular —
terrorismo, guerrilha, insurreição, movimentos de resistência, insurgência.
Além
disso, os kids pretos são preparados para situações que envolvem sabotagem,
operações de inteligência, planejamento de fugas e evasões. Segundo o Exército,
atualmente o grupo tem um efetivo aproximado de 2,5 mil militares.
Conforme
documento divulgado pela PF, o entorno de Bolsonaro discutiu com o
ex-presidente medidas antidemocráticas para reverter o resultado das eleições
de 2022, incluindo o "emprego de técnicas e militares com formação em
Forças Especiais [kids pretos] para os atos direcionados à execução do golpe de
Estado".
Ainda
segundo a PF, reuniões eram feitas por integrantes do governo e militares da
ativa para:
• Encaminhar orientações aos manifestantes
de como agirem;
• Mostrar locais de atuação;
• Financiar e respaldar ações dos
manifestantes, por meio da Forças Armadas.
"Os
fatos identificados indicam, ainda, a possível arregimentação de militares com
formação em forças especiais para atuarem no cenário de interesse, ou seja, nas
manifestações golpistas", destaca o documento.
• Como é o treinamento dos 'kids pretos'?
De acordo
com o Exército, a nomenclatura "kid preto" é um apelido informal
atribuído aos militares de Operações Especiais do Exército Brasileiro, pelo
fato de usarem um gorro preto. O processo seletivo para as Forças de Operações
Especiais é realizado entre militares voluntários que realizam curso de Ações
de Comandos e de Forças Especiais, segundo o Exército.
Como parte
do treinamento, os militares aprendem a atuar em missões com alto grau de risco
e sigilo, como em operações de guerra irregular — terrorismo, guerrilha,
insurreição, movimentos de resistência, insurgência. Além disso, são preparados
para situações que envolvam sabotagem, operações de inteligência, planejamento
de fugas e evasões.
Ainda de
acordo com o Exército, os kids pretos podem atuar em todo o território
nacional. No entanto, a corporação afirma que as tropas especiais só são
empregadas por ordem do Comando do Exército, sob coordenação do Comando de
Operações Especiais.
"Sempre
com base em um arcabouço legal, respeitando regras de engajamento previstas
para a sua atuação operacional”, disse o Exército em nota enviada ao g1.
• 'Kids pretos' teriam facilitado entrada
de golpistas no Congresso
Veja ação
no 08/01 que PF suspeita ter sido orientada por 'kids pretos' do Exército
Imagens
dos atos terroristas em Brasília, no dia 8 de janeiro de 2023, mostram o
momento em que golpistas invadiram e vandalizaram o Congresso Nacional, o
Supremo Tribunal Federal (STF) e o Palácio do Planalto.
A TV Globo
apurou que uma frente da investigação da PF busca identificar supostos
integrantes das Forças Especiais do Exército, os chamados "kid
pretos", que teriam dado início às invasões às sedes dos Três Poderes.
Nos
vídeos, é possível ver que homens com o rosto coberto por balaclavas e usando
luvas retiraram as grades da escotilha do Congresso Nacional. Em um outro
momento, eles usaram gradis para ajudar os invasores a sair de dentro do prédio
– além de uma mangueira para jogar água e dispersar o gás das bombas de efeito
moral.
No
inquérito da Polícia Federal, existem vários depoimentos de vândalos presos
relatando a ação de indivíduos de balaclavas e luvas ajudando e incentivando os
demais a entrarem no prédio.
Segundo os
depoimentos, eles chamaram os invasores depois de abrirem as escotilhas de
acesso ao teto do Congresso. A subida até lá só teria sido possível por causa
de uma escada feita com gradis amarrados.
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O que dizem os alvos
• Marcelo Câmara, coronel do Exército
"Meu
cliente está preso e ter acesso aos autos é fundamental para que possamos tomar
as providências cabíveis", afirmou o advogado Eduardo Kuntz.
• Bernardo Romão Corrêa Netto, coronel do
Exército
"O
Centro de Comunicação Social do Exército informa que o referido militar
encontra-se realizando curso nos EUA, no período de 2023 a 2025, para o qual
foi designado em 2021. Tão logo foi publicada a decisão judicial, foram tomadas
as providências para retorno do militar ao Brasil", informou o Exército,
em nota.
Fonte: g1
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