Para
aliciar militares ao golpe, Braga Netto pressionou e “ofereceu cabeças”
Os
militares que se opuseram ou não se manifestaram a favor do intento de um golpe
de Estado por Jair Bolsonaro foram pressionados. O general Braga Netto, então
ministro da Casa Civil, afirmou que ofereceria a “cabeça” de militares que não
se posicionassem pelo golpe.
Os
investigadores informam que obtiveram provas de “tratativas com militares de
alta patente para aderirem a empreitada criminosa” de um decreto de golpe de
Estado para impedir a posse de Lula.
Ao mesmo
tempo, militares que “estavam resistindo às investidas golpistas” foram alvos
de “ataques pessoais” e atuação de militares superiores para retirar suas
credibilidades.
• As mensagens
Mensagens
de WhatsApp reveladas pelos investigadores na pela judicial mostram que o
ex-ministro da Casa Civil, Walter Braga Netto, atuou incisivamente para incitar
membros das Forças Armadas à aderirem ao golpe.
Aos
militares que não apoiassem o golpe, Braga Netto pediu que fosse oferecida “a
cabeça”, expressão que detona a pressão ou perseguição que seria feita contra o
militar.
Nas
mensagens, ele critica e ameaça perseguição ao general Freire Gomes, então
comandante do Exército, ao Tenente-Brigadeiro Baptista Júnior, então comandante
da Aeronáutica, e ao atual comandante do Exército, Tomás Miguel Miné Ribeiro
Paiva.
• “Apaguei essa parada”; “Não combinamos
de apagar?”, diz o braço-direito de Mauro Cid em diálogo
No
despacho do ministro Alexandre Moraes, que o GGN teve acesso, informações
obtidas pela Polícia Federal (PF) mostram que o coronel Correa Neto atuava como
“homem de confiança” de Mauro Cid, realizando tarefas fora do Palácio do
Alvorada, que o ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro não poderia
desempenhar.
O então
assistente do comandante militar do sul teve participação ativa na organização
de uma reunião que ocorreu em novembro, 28, e contou com a presença de oficiais
com formação em forças especiais e assistentes dos generais supostamente
aliados na execução do golpe.
“Os
diálogos encontrados no celular de Mauro Cid demonstram que Correa Neto intermediou
o convite para a reunião e selecionou apenas os militares formados no curso de
Forças Especiais (Kids Pretos), o que demonstra planejamento minucioso para
utilizar, contra o próprio Estado brasileiro, as técnicas militares para
consumação do Golpe de Estado”, consta nos autos.
Os
militares que estavam indecisos em compactuar com o plano golpista foram,
inclusive, citados no programa “PINGO NOS IS”, pelo blogueiro Paulo Renato de
Oliveira Figueiredo Filho, fato que comprova o uso da mídia da extrema-direita
para auxiliar no golpe.
Os
diálogos demonstram ainda que Correa Neto sabia quem seria exposto
publicamente, porque no dia da reunião, ele chegou a enviar a Mauro Cid a
minuta intitulada “CARTA AO COMANDANTE DO EXÉRCITO DE OFICIAIS SUPERIORES DA
ATIVA DO EXÉRCITO BRASILEIRO”. Ao que tudo indica, o documento foi discutido na
reunião e utilizado como instrumento de pressão ao então Comandante do
Exército, General Freire Gomes.
Na
tentativa de eliminar rastros, após o envio da carta, Mauro Cid pediu a Correa
Neto que enviasse as observações. No entanto, a resposta do colega foi: “Porra
irmão. Apaguei essa parada”; “Não combinamos de apagar?”.
Bolsonaro editou decreto de golpe e
apresentou às Forças Armadas, mostram mensagens
Jair
Bolsonaro não só sabia da minuta do decreto de um golpe de Estado, como editou,
pediu para ajustar o texto, estabelecendo a prisão do então presidente do
Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, e realização de novas
eleições no país. Ainda, Bolsonaro apresentou sua versão de um decreto de golpe
de Estado aos comandantes das Forças Armadas, em novembro de 2022.
É o que
revelam as mensagens apreendidas e obtidas com a delação premiada de Mauro Cid,
ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, na Operação Tempus Veritatis, deflagrada
nesta quinta-feira (08).
Os
policiais comprovaram a existência de um documento que se transformaria em
decreto do então presidente Jair Bolsonaro com medidas de exceção, permitindo a
decretação de prisão de autoridades do Poder Judiciário e a realização de novas
eleições.
Segundo a
peça judicial, Jair Bolsonaro convocou reuniões com membros do governo e
militares para discutir esse decreto de exceção.
As
propostas de decreto que possibilitariam o golpe de Estado foram apresentadas
por Filipe Martins, então assessor especial para assuntos internacionais de
Jair Bolsonaro, e Amauri Feres Saad, advogado citado como “mentor” da minuta de
golpe encontrada na casa de Anderson Torres. O tal decreto previa,
inicialmente, a prisão de autoridades, incluindo os ministros do Supremo
Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes e o então presidente
do Senado, Rodrigo Pacheco.
De acordo
com a PF, foi o então presidente Jair Bolsonaro quem pediu que fossem
“realizadas alterações” no decreto de golpe, retirando os pedidos de prisão de
Gilmar e Pacheco, mas mantendo a determinação de prisão de Alexandre de Moraes
e a realização de novas eleições.
A
Procuradoria-Geral da República (PGR) aponta nas investigações em curso que, em
novembro de 2022, Filipe entregou a Bolsonaro um decreto de golpe e o
ex-mandatário fez alterações no documento:
“Jair
Bolsonaro teria lido e solicitado que Filipe alterasse as ordens contidas na
minuta. O representado, então, retomou alguns dias depois ao Palácio da
Alvorada, acompanhado do referido jurista, com o documento alterado, conforme
as diretrizes dadas”, escreve a PGR.
Em
seguida, a Procuradoria narra que Bolsonaro concordou com os novos termos apresentados
no decreto de golpe e convocado os comandantes das Forças Armadas, no mesmo
dia, para “apresentar-lhes a minuta e pressioná-los a aderir ao golpe de
Estado”.
• Assessores elaboram decreto e articulam
com militares
Na página
29 da petição judicial, são anexas mensagens de WhatsApp do coronel do Exército
Bernardo Romão Correa Neto, à época assistente do Comandante Militar do Sul e
pessoa de confiança de Mauro Cid, e que foi alvo hoje de prisão preventiva,
sobre reuniões de elaboração do decreto do golpe.
No dia 9
de dezembro de 2022, Correa Neto perguntou ao ex-ajudante de ordens de
Bolsonaro, Mauro Cid: “E aí, vai ou não vai?”, em referência às tratativas para
o golpe junto a militares. O então assessor de Bolsonaro respondeu: “Dia a
dia…”, seguido de: “As coisas estão sendo construídas.”
Correa
Neto então questionou o teor da reunião da minuta do golpe: “O papo foi bom?”.
“Dia a dia vai chegar dia 12 kkkkkk”, comentou. Dia 12 de dezembro de 2022
ocorria a diplomação do presidente recém eleito Luiz Inácio Lula da Silva.
“Ainda não
acabou [o papo]”, disse Mauro Cid. “Mas ele [algum militar] quer fazer…. Desde
que o Pr [presidente] assine”, continuou.
• Bolsonaro ajusta o decreto de golpe
Na página
99 da peça judicial, são anexas mensagens do assessor de Bolsonaro Mauro Cid ao
general Marco Antônio Freire Gomes, então comandante do Exército, no qual
relatava que o então presidente estava redigindo e ajustando o decreto de golpe
e buscando respaldo de militares.
“Boa
tarde, General! Só para atualizar o senhor que vem acontecendo é o seguinte. O
presidente tem recebido várias pressões para tomar uma medida mais, mais
pesada, onde ele, obviamente, utilizando as Forças, né?”, introduz Mauro Cid ao
general.
Depois de
narrar que Bolsonaro tem recebido pressões, continuou: “O que ele [Jair
Bolsonaro] fez hoje de manhã? Ele enxugou o decreto né? Aqueles considerandos
que o senhor viu e enxugou o decreto, fez um decreto muita mais, é, resumido,
né?”.
Na cena do crime: Bolsonaro foi gravado
cobrando adesão de ministros ao golpe
O
ex-presidente Jair Bolsonaro foi gravado coagindo ministros de Estado a
embarcar no plano de golpe que se desenhava ainda em julho de 2022, antes mesmo
do pleito eleitoral que acabou com a vitória de Lula nas urnas.
A
gravação, obtida pela Polícia Federal em um dos computados do ex-ajudante de
ordens Mauro Cid, coloca Bolsonaro na cena do crime, ou seja, mostra que o
ex-presidente participou ativa e pessoalmente das articulações para se manter
no poder.
O vídeo
registra falas de Jair Bolsonaro cobrando que seus ministros participem da
frente de ataques às urnas eletrônicas e aos ministros do Tribunal Superior
Eleitoral – Alexandre de Moraes, Edson Fachin e Luís Roberto Barroso. O
ex-presidente acusou os ministros de terem preparado a vitória de Lula no TSE.
Em trechos
do discurso de Bolsonaro, aos quais o GGN teve acesso, o ex-presidente prevê
que será derrotado nas urnas por Lula e diz que não vai esperar chegar 2024
para se arrepender de ter tomado alguma providência para evitar a mudança de
governo.
“( … ) nós
vamos esperar chegar 23, 24, pra se foder? (…) Por que que não tomei
providência lá trás? E não é providência de força não, caralho! Não é dar tiro!
Ô, Paulo Sérgio [Nogueira, ministro da Defesa], ‘vou botar a tropa na rua,
tocar fogo aí, metralhar’. Não é isso, porra!”
Bolsonaro,
então, explica o que quer de seus ministros: que eles propagem teorias
conspiratórias contra as urnas e o processo eleitoral, atacando a credibilidade
do TSE e seus ministros. A ideia era fomentar o discurso de que a vitória de
Lula seria uma fraude.
“E eu
tenho falado com os meus 23 ministros. Nós não podemos esperar chegar 23, olhar
para trás e falar: ‘o que que nós não fizemos para o Brasil chegar à situação
de hoje em dia?’ Nós temos que nos expor. Cada um de nós. Não podemos esperar
que outros façam por nós. Não podemos nos omitir. Nos calar. Nos esconder. Nos
acomodar. Eu não posso fazer nada sem vocês”, disse.
Para
convencer os ministros, Bolsonaro emplacou uma afirmou que recebeu informações
sigilosas dando conta de que o narcotráfico internacional injetou recursos na
campanha do partido de Lula e que, por isso, o petista reunia as melhores
condições de vencer a corrida presidencial em 2022. Na gravação, Bolsonaro
repete algumas vezes que será derrotado nas urnas em outubro. Ele chegou a
dizer, inclusive, que o próprio TSE já tinha o resultado pronto.
“Porque os
cara tão preparando tudo, pô! Pro Lula ganhar no primeiro turno, na fraude. Vou
mostrar como e porquê. Alguém acredita aqui em Fachin, Barroso, Alexandre de
Moraes? Acredita que eles são pessoas isentas, tão preocupado em fazer justiça,
seguir a Constituição?”
A reunião
ocorreu no dia 5 de julho de 2022, na pré-campanha eleitoral. Segundo a Polícia
Federal, o encontro teve como finalidade “cobrar dos presentes conduta ativa na
promoção da ilegal desinformação e ataques à Justiça Eleitoral.”
Ainda na
visão da PF, Bolsonaro “coagiu” os “ministros e todos os presentes, para que
aderissem à ilícita desinformação apresentada.”
“Daqui pra
frente, quero que todo ministro fale o que eu vou falar aqui, e vou mostrar. Se
o ministro não quiser falar, ele vai vir falar pra mim porque que ele não quer
falar. Se apresentar onde eu estou errado, eu topo. Agora, se não tiver
argumento pra me demover do que eu vou mostrar, não vou querer papo com esse
ministro. Tá no lugar errado. Se tá achando que eu vou ter 70% dos votos e vou
ganhar como ganhei em 2018, o cara tá no lugar errado.”
Na
reunião, Bolsonaro ainda antecipou que havia convocado a famigerada reunião com
embaixadores para disseminar seus ataques às urnas. Segundo ele, a intenção era
repassar à mídia internacional o que estava acontecendo no Brasil, com a
possibilidade de fraude nas urnas, uma acusação que jamais foi provada.
A Polícia
Federal cumpriu nesta quinta (8) a fase ostensiva da operação Tempus Veritatis,
que apura a organização criminosa que desenhou o golpe de Estado que visava
manter Bolsonaro no poder. Ex-assessores de Bolsonaro foram presos e outros
aliados, alvos de busca e apreensão, inclusive membros do primeiro escalão de
seu governo, como os generais Braga Netto (ex-Casa Civil) e Augusto Heleno
(ex-GSI). Bolsonaro foi alvo de um pedido para entregar passaporte e evitar
contato com outros investigados.
Fonte:
Jornal GGN
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