sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

OTAN, Pacto de Xangai, AUKUS: o que caracteriza os tratados de defesa no século XXI?

Com a desintegração da União Soviética e o fim do Pacto de Varsóvia, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) perdeu seu motivo de existir. Mas não foi isso que aconteceu, e a aliança militar entrou no século XXI renovada, criando novos objetivos para justificar sua existência.

Entrevistado pelos jornalistas Melina Saad e Marcelo Castilho, apresentadores do Mundioka, podcast da Sputnik Brasil, o professor de geopolítica na Universidade do Estado do Mato Grosso (UEMG) e autor do livro "Geopolítica das Organizações de Cooperação em Defesa", Vinicius Modolo Teixeira, afirmou que as organizações de defesa passaram por transformações importantes nos últimos séculos.

Esses tratados de cooperação e defesa, aponta Teixeira, têm seu início nas antigas alianças militares, tipificação que "perde o sentido a partir da Guerra Fria". "Até a Segunda Guerra Mundial as características das alianças militares levavam em consideração o objetivo do conflito, da guerra: o inimigo comum. Findado o conflito, essas alianças tendiam a se desfazer."

"Já na Guerra Fria, essas alianças acabaram perdurando, se transformaram em organizações, como é o caso da OTAN, que é o exemplo clássico dessas organizações."

A partir do momento em que se formam enquanto organização, aponta, elas determinam novos objetivos em comum, não só o "combate a uma ameaça", mas também a construção de "forças conjuntas, e a divisão de custos de pesquisa e de construção de novas armas."

A padronização desses efetivos ao chamado "padrão OTAN" leva também à criação de um mercado comum de armamentos. "Você acaba padronizando todas as forças do continente europeu em um mesmo tipo de combustível, de pneu e até de softwares integrados." Segundo o pesquisador, isso que traz a questão econômica para dentro dessas organizações.

"Isso aí é um dos maiores interesses que Estados Unidos, França, Inglaterra e Alemanha têm. […] É um grande mercado consumidor."

Isso não quer dizer, no entanto, que todas as organizações de defesa existentes se baseiam nos mesmos porquês da OTAN, apenas que as alianças de defesa agora encontraram outros motivos para existir que não o inimigo em comum.

·        O Pacto de Xangai

Nesse sentido, o pesquisador destacou a Organização para Cooperação de Xangai, também conhecida como Pacto de Xangai, aliança de defesa surgida no mundo pós-Guerra Fria que inclui a Rússia e a China. A princípio, ela foi saudada por analistas como "um grande pacto contra a OTAN".

No entanto, não foi assim que ela acabou se configurando, apontou Teixeira. Diferentemente da organização militar ocidental, o Pacto de Xangai se constrói para combater forças extremistas, terroristas e separatistas, os "três grandes males que acabam atingindo as potências da Ásia Central".

Em 2001, quando o Pacto dos Cinco de Xangai (Cazaquistão, China, Quirguistão, Rússia e Tajiquistão) se torna a Organização para Cooperação de Xangai, novos membros e novos acordos são feitos, e seu caráter como uma força reorganizadora da Eurásia se consolida.

Como exemplo disso está a inclusão da Índia e do Paquistão, rivais geopolíticos, e as perspectivas de entrada do Afeganistão, governado pelo Talibã. "A intenção russo-chinesa é pacificar a Ásia Central, dar um instrumento de cooperação e também um ambiente de diálogo entre esses países."

"É uma tentativa de pacificar e de organizar a Ásia Central de modo que Rússia e China possam operar com tranquilidade dentro do seu território e entorno estratégico."

·        AUKUS: presença dos EUA no Pacífico

Temendo o crescimento da Índia e da China, os Estados Unidos inauguraram nos últimos anos a AUKUS, uma aliança militar tripartidária com a Austrália e o Reino Unido. Para Teixeira, essa união "demonstra esse câmbio dos Estados Unidos e do Reino Unido do Atlântico Norte para a região do Indo-Pacífico".

A AUKUS, explica, é uma revisão da ANZUS, composta pelos Estados Unidos, pela Austrália e pela Nova Zelândia, que acabou saindo do grupo nos anos 1980 após a consolidação de um governo que não queria o aporte de navios com armas nucleares em seu território.

"Então a Austrália vai se transformar neste grande porta-aviões estacionado ali na região do Indo-Pacífico", sublinhou.

Em contrapartida a essa permissão, a Austrália tem acesso a algumas regalias militares, como poder comprar bombardeiros B-21 e desenvolver seu próprio submarino de propulsão nuclear, ambos convencionalmente armados, uma vez que ela não poderá ter armas nucleares à sua disposição.

·        De quais organizações de defesa o Brasil faz parte?

Por aqui na América do Sul, revela o pesquisador, os esforços de integração acabam "sendo corroídos por interesses externos".

Dessas tentativas, Teixeira destaca o Conselho de Defesa Sul-Americano (CDS), órgão vinculado à União de Nações Sul-Americanas (Unasul), instituição supranacional que acabou sendo esvaziada em 2018 e tinha como objetivo "unir o Mercosul e a Comunidade Andina de maneira política e econômica".

"Desestruturar, desorganizar essas regiões também é um interesse das grandes potências, não permitir que elas se organizem, formem blocos e atuem conjuntamente para resistir às pressões."

Se uma organização de defesa como essa já existisse na época da Guerra das Malvinas, apontou Teixeira, é provável que seu rumo tivesse sido bem diferente. "Vários episódios durante a Guerra das Malvinas demonstram a fragilidade que os países da região têm contra um ataque de uma potência estrangeira", analisou.

É o caso da impossibilidade que a Argentina teve de obter armamentos e munições durante o conflito, uma vez que seus parceiros tradicionais se negaram a fornecer por serem aliados do Reino Unido. Um dos objetivos da Unasul e do CDS é justamente a criação de uma indústria de defesa conjunta com os demais países da região.

Outro exemplo de como uma maior integração regional teria trazido benefícios para a América do Sul é a questão de Essequibo: um conselho de defesa sul-americano ajudaria a "criar essa confiança entre os membros", afirma o especialista.

"Ao criar essa condição de que eles se sentissem seguros em um ambiente para dialogar, e de que os problemas da região fossem resolvidos nesse ambiente."

Em seu lugar, os país ressuscitaram o Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR) para mediar o conflito. Segundo Teixeira, isso demonstra a fragilidade da nossa integração geopolítica.

Criado em 1947, antes mesmo da OTAN, o tratado foi o "primeiro protótipo de uma organização de cooperação em defesa". Nele, os EUA previam a segurança hemisférica de toda a América "a partir de seus interesses".

No entanto o TIAR foi questionado e denunciado em diversos momentos, como durante a Guerra das Malvinas, quando a Argentina foi agredida pela Inglaterra. "Os países da Aliança Bolivariana já saíram do TIAR, a Venezuela não participa mais, o México denunciou o TIAR", exemplificou.

"Se nós tivéssemos a Unasul, o Conselho de Defesa Sul-Americano, essa crise recente teria sido resolvida dentro desse ambiente de diálogo. A ausência da Unasul propicia, aumenta essas tensões, sem ter um lugar para discussão."

·        O BRICS pode se tornar uma organização de defesa mútua?

Muitas das organizações internacionais de defesa não começaram necessariamente com esse intuito, adquirindo esse caráter com o decorrer do tempo. Para Teixeira, contudo, esse não é o caso do BRICS.

Mas isso não quer dizer que o BRICS deve se afastar das questões de defesa completamente. Com o objetivo de aumentar a integração e cooperação entre seus membros, o analista acredita que a plataforma possa auxiliar na difusão de tecnologias militares e no financiamento de novos armamentos, inclusive a partir do Novo Banco de Desenvolvimento.

"A partir do tratado ampliado agora do BRICS, englobando novos membros e fazendo financiamento de tecnologias que não são fornecidas por membros da OTAN", explica, "podemos ter ali algum acordo que passe a vigorar a questão da defesa como algo entranhado nesse grupo".

"Mas vir a ser uma organização de cooperação de defesa, isso pode levar algum tempo, e também teria que modificar os interesses naturais do bloco."

 

Ø  Pesquisa envia sinal preocupante a Kiev ao apontar ucranianos 'mais céticos' sobre direção do país

 

Os ucranianos estão cada vez mais céticos quanto à direção do seu país, de acordo com uma sondagem recente do think tank ucraniano Razumkov Center. A pesquisa foi baseada nas respostas de 2.000 adultos ucranianos entrevistados pessoalmente pelo Centro Razumkov, de 19 a 25 de janeiro.

No estudo publicado quarta-feira (7), cerca de 41% dos cidadãos disseram acreditar que a Ucrânia está se desenvolvendo "na direção certa", 38% na "direção errada" e 21% estavam indecisos.

Apesar da porcentagem dos que acreditam que o país está indo na direção certa ter o número mais elevado, o cenário é outro quando comparado à sondagem feita no ano passado com o mesmo tema, uma vez que 61% dos ucranianos disseram achar que a direção estava certa, ou seja, houve um declínio de 20% de 2023 para 2024.

Na maioria das vezes, os cidadãos relatam deterioração da situação (em comparação ao início de 2023) nas seguintes áreas: preços e tarifas 86% relataram deterioração, situação econômica do país (68%), estabilidade (64,5%), confiança no futuro (63,5%), bem-estar das suas famílias (58%), atitude dos cidadãos perante as autoridades (53%).

Cerca de 61% dos entrevistados notaram a deterioração da situação no país como um todo, relatou o estudo.

No entanto, uma maioria relativa dos inquiridos acredita que o governo tem um bom desempenho no combate ao crime, na proteção da lei e da ordem (45%) e na ajuda a grupos vulneráveis ​​da população (44,5%).

Mas 51% dos ucranianos acreditam que o governo tem um fraco desempenho no domínio da justiça social. Além disso, uma maioria relativa (46%) acredita que o governo faz um mau trabalho no apoio à economia e na restauração do parque habitacional em tempos de conflito (40%).

Esta quinta-feira (8) foi um dia importante para política e para as Forças Armadas ucranianas, visto que o presidente, Vladimir Zelensky, anunciou a mudança do comandante-em-chefe e escalou Aleksandr Syrsky para substituir Valery Zaluzhny.

No entanto, de acordo com o The Washington Post, o substituto de Zaluzhny deverá ser impopular entre as tropas ucranianas, uma vez que Syrsky é considerado por muitos como um comandante que manteve as forças sob fogo por tempo prolongado na cidade de Artyomovsk, no leste, quando a Ucrânia deveria ter se retirado, escreveu a mídia.

 

Ø  Em telefonema abrangente, Putin e Xi concordam em não aceitar pressão política e militar dos EUA

 

Na chamada relizada nesta quinta-feira (8), os presidentes resumiram o desenvolvimento da parceria abrangente e da interação estratégica sino-russa, reforçando a cooperação em nível multilateral internacional e a defesa da globalização econômica inclusiva.

Na conversa, Xi afirmou ao seu homólogo russo que os dois países deveriam buscar uma estreita coordenação estratégica a fim de defender a soberania, a segurança e os interesses de desenvolvimento de seus respectivos países, informou a agência Xinhua.

Xi também disse que ambos os lados precisam se opor resolutamente à interferência de forças externas nos assuntos internos dos países, ao mesmo tempo que devem cultivar novas dinâmicas de cooperação para manter a estabilidade das cadeias industrial e de abastecimento.

"A China e a Rússia resistiram juntas a muitos testes no passado e suas relações abraçam novas oportunidades de desenvolvimento no futuro […]. A China está pronta para reforçar a cooperação com a Rússia a nível multilateral internacional e defender a globalização econômica inclusiva", afirmou o líder chinês a Putin enquanto os dois concordaram em continuar com "contatos estreitos".

Sobre a interferência em assuntos internos, o assessor do Kremlin, Yuri Ushakov, disse que os presidentes comentaram a contenção de Pequim e Moscou por parte dos Estados Unidos.

"As partes expressaram rejeição mútua ao rumo dos EUA que visa interferir nos assuntos internos de outros Estados. Nossos países também não aceitam pressão política e militar norte-americana. E o mais importante, os líderes dos dois países entendem que os Estados Unidos estão praticamente a implementar uma política de dupla contenção da Rússia e da China", afirmou Ushakov em um comunicado emitido pelo Kremlin.

Ao discutir a situação na região da Ásia-Pacífico, o presidente russo reafirmou a sua posição de princípio sobre a questão de Taiwan, que consiste em apoiar a política de Uma Só China, relatou a leitura do Kremlin, acrescentando que as questões "da Ucrânia e da Faixa de Gaza foram abordadas brevemente".

Os líderes também expressaram disposição para promover projetos energéticos conjuntos, apesar das sanções, relatou o assessor.

"Foi discutido o progresso da implementação de grandes projetos conjuntos russo-chineses no setor energético [...] [os líderes] confirmaram a disponibilidade para novos trabalhos para promovê-los, apesar das tentativas dos países ocidentais de exercer pressão impondo sanções unilaterais ilegítimas."

Putin disse a Xi que "a cooperação russo-chinesa, em todas as esferas, alcançou resultados frutíferos no ano passado", observando que o comércio bilateral excedeu o alvo de US$ 200 bilhões (R$ 995 bilhões) antes do esperado e atingiu um recorde de US$ 227,7 bilhões (R$ 1,13 trilhão).

"Naturalmente, as questões de cooperação financeira também foram abordadas. Afirmou-se que mais de 90% dos acordos entre os nossos países já são realizados em rublos e yuans. Foi enfatizado que, para um maior desenvolvimento progressivo dos laços comerciais e de investimento, é importante continuar o trabalho conjunto para construir uma infraestrutura financeira que garanta pagamentos confiáveis", afirmou o Kremlin.

Por fim, Xi disse estar ciente de que a campanha eleitoral está em andamento na Rússia, e desejou uma "realização bem-sucedida das próximas eleições em março".

A ligação entre os líderes aconteceu antes do Ano Novo chinês, com Putin felicitando Xi pela chegada do novo ano.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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