OTAN,
Pacto de Xangai, AUKUS: o que caracteriza os tratados de defesa no século XXI?
Com a
desintegração da União Soviética e o fim do Pacto de Varsóvia, a Organização do
Tratado do Atlântico Norte (OTAN) perdeu seu motivo de existir. Mas não foi
isso que aconteceu, e a aliança militar entrou no século XXI renovada, criando
novos objetivos para justificar sua existência.
Entrevistado
pelos jornalistas Melina Saad e Marcelo Castilho, apresentadores do Mundioka,
podcast da Sputnik Brasil, o professor de geopolítica na Universidade do Estado
do Mato Grosso (UEMG) e autor do livro "Geopolítica das Organizações de
Cooperação em Defesa", Vinicius Modolo Teixeira, afirmou que as
organizações de defesa passaram por transformações importantes nos últimos
séculos.
Esses
tratados de cooperação e defesa, aponta Teixeira, têm seu início nas antigas
alianças militares, tipificação que "perde o sentido a partir da Guerra
Fria". "Até a Segunda Guerra Mundial as características das alianças
militares levavam em consideração o objetivo do conflito, da guerra: o inimigo
comum. Findado o conflito, essas alianças tendiam a se desfazer."
"Já
na Guerra Fria, essas alianças acabaram perdurando, se transformaram em
organizações, como é o caso da OTAN, que é o exemplo clássico dessas
organizações."
A partir
do momento em que se formam enquanto organização, aponta, elas determinam novos
objetivos em comum, não só o "combate a uma ameaça", mas também a
construção de "forças conjuntas, e a divisão de custos de pesquisa e de
construção de novas armas."
A
padronização desses efetivos ao chamado "padrão OTAN" leva também à
criação de um mercado comum de armamentos. "Você acaba padronizando todas
as forças do continente europeu em um mesmo tipo de combustível, de pneu e até
de softwares integrados." Segundo o pesquisador, isso que traz a questão
econômica para dentro dessas organizações.
"Isso
aí é um dos maiores interesses que Estados Unidos, França, Inglaterra e
Alemanha têm. […] É um grande mercado consumidor."
Isso não
quer dizer, no entanto, que todas as organizações de defesa existentes se
baseiam nos mesmos porquês da OTAN, apenas que as alianças de defesa agora
encontraram outros motivos para existir que não o inimigo em comum.
·
O Pacto de Xangai
Nesse
sentido, o pesquisador destacou a Organização para Cooperação de Xangai, também
conhecida como Pacto de Xangai, aliança de defesa surgida no mundo pós-Guerra
Fria que inclui a Rússia e a China. A princípio, ela foi saudada por analistas
como "um grande pacto contra a OTAN".
No
entanto, não foi assim que ela acabou se configurando, apontou Teixeira.
Diferentemente da organização militar ocidental, o Pacto de Xangai se constrói
para combater forças extremistas, terroristas e separatistas, os "três
grandes males que acabam atingindo as potências da Ásia Central".
Em 2001,
quando o Pacto dos Cinco de Xangai (Cazaquistão, China, Quirguistão, Rússia e
Tajiquistão) se torna a Organização para Cooperação de Xangai, novos membros e
novos acordos são feitos, e seu caráter como uma força reorganizadora da
Eurásia se consolida.
Como
exemplo disso está a inclusão da Índia e do Paquistão, rivais geopolíticos, e
as perspectivas de entrada do Afeganistão, governado pelo Talibã. "A
intenção russo-chinesa é pacificar a Ásia Central, dar um instrumento de
cooperação e também um ambiente de diálogo entre esses países."
"É
uma tentativa de pacificar e de organizar a Ásia Central de modo que Rússia e
China possam operar com tranquilidade dentro do seu território e entorno
estratégico."
·
AUKUS: presença dos EUA no Pacífico
Temendo o
crescimento da Índia e da China, os Estados Unidos inauguraram nos últimos anos
a AUKUS, uma aliança militar tripartidária com a Austrália e o Reino Unido.
Para Teixeira, essa união "demonstra esse câmbio dos Estados Unidos e do
Reino Unido do Atlântico Norte para a região do Indo-Pacífico".
A AUKUS,
explica, é uma revisão da ANZUS, composta pelos Estados Unidos, pela Austrália
e pela Nova Zelândia, que acabou saindo do grupo nos anos 1980 após a
consolidação de um governo que não queria o aporte de navios com armas
nucleares em seu território.
"Então
a Austrália vai se transformar neste grande porta-aviões estacionado ali na
região do Indo-Pacífico", sublinhou.
Em
contrapartida a essa permissão, a Austrália tem acesso a algumas regalias
militares, como poder comprar bombardeiros B-21 e desenvolver seu próprio
submarino de propulsão nuclear, ambos convencionalmente armados, uma vez que
ela não poderá ter armas nucleares à sua disposição.
·
De quais organizações de defesa o Brasil
faz parte?
Por aqui
na América do Sul, revela o pesquisador, os esforços de integração acabam
"sendo corroídos por interesses externos".
Dessas
tentativas, Teixeira destaca o Conselho de Defesa Sul-Americano (CDS), órgão
vinculado à União de Nações Sul-Americanas (Unasul), instituição supranacional
que acabou sendo esvaziada em 2018 e tinha como objetivo "unir o Mercosul
e a Comunidade Andina de maneira política e econômica".
"Desestruturar,
desorganizar essas regiões também é um interesse das grandes potências, não
permitir que elas se organizem, formem blocos e atuem conjuntamente para
resistir às pressões."
Se uma
organização de defesa como essa já existisse na época da Guerra das Malvinas,
apontou Teixeira, é provável que seu rumo tivesse sido bem diferente.
"Vários episódios durante a Guerra das Malvinas demonstram a fragilidade
que os países da região têm contra um ataque de uma potência estrangeira",
analisou.
É o caso
da impossibilidade que a Argentina teve de obter armamentos e munições durante
o conflito, uma vez que seus parceiros tradicionais se negaram a fornecer por
serem aliados do Reino Unido. Um dos objetivos da Unasul e do CDS é justamente
a criação de uma indústria de defesa conjunta com os demais países da região.
Outro
exemplo de como uma maior integração regional teria trazido benefícios para a
América do Sul é a questão de Essequibo: um conselho de defesa sul-americano
ajudaria a "criar essa confiança entre os membros", afirma o
especialista.
"Ao
criar essa condição de que eles se sentissem seguros em um ambiente para
dialogar, e de que os problemas da região fossem resolvidos nesse
ambiente."
Em seu
lugar, os país ressuscitaram o Tratado Interamericano de Assistência Recíproca
(TIAR) para mediar o conflito. Segundo Teixeira, isso demonstra a fragilidade
da nossa integração geopolítica.
Criado em
1947, antes mesmo da OTAN, o tratado foi o "primeiro protótipo de uma
organização de cooperação em defesa". Nele, os EUA previam a segurança
hemisférica de toda a América "a partir de seus interesses".
No entanto
o TIAR foi questionado e denunciado em diversos momentos, como durante a Guerra
das Malvinas, quando a Argentina foi agredida pela Inglaterra. "Os países
da Aliança Bolivariana já saíram do TIAR, a Venezuela não participa mais, o
México denunciou o TIAR", exemplificou.
"Se
nós tivéssemos a Unasul, o Conselho de Defesa Sul-Americano, essa crise recente
teria sido resolvida dentro desse ambiente de diálogo. A ausência da Unasul
propicia, aumenta essas tensões, sem ter um lugar para discussão."
·
O BRICS pode se tornar uma organização de
defesa mútua?
Muitas das
organizações internacionais de defesa não começaram necessariamente com esse
intuito, adquirindo esse caráter com o decorrer do tempo. Para Teixeira,
contudo, esse não é o caso do BRICS.
Mas isso
não quer dizer que o BRICS deve se afastar das questões de defesa
completamente. Com o objetivo de aumentar a integração e cooperação entre seus
membros, o analista acredita que a plataforma possa auxiliar na difusão de
tecnologias militares e no financiamento de novos armamentos, inclusive a
partir do Novo Banco de Desenvolvimento.
"A
partir do tratado ampliado agora do BRICS, englobando novos membros e fazendo
financiamento de tecnologias que não são fornecidas por membros da OTAN",
explica, "podemos ter ali algum acordo que passe a vigorar a questão da
defesa como algo entranhado nesse grupo".
"Mas
vir a ser uma organização de cooperação de defesa, isso pode levar algum tempo,
e também teria que modificar os interesses naturais do bloco."
Ø
Pesquisa envia sinal preocupante a Kiev ao
apontar ucranianos 'mais céticos' sobre direção do país
Os
ucranianos estão cada vez mais céticos quanto à direção do seu país, de acordo
com uma sondagem recente do think tank ucraniano Razumkov Center. A pesquisa
foi baseada nas respostas de 2.000 adultos ucranianos entrevistados
pessoalmente pelo Centro Razumkov, de 19 a 25 de janeiro.
No estudo
publicado quarta-feira (7), cerca de 41% dos cidadãos disseram acreditar que a
Ucrânia está se desenvolvendo "na direção certa", 38% na
"direção errada" e 21% estavam indecisos.
Apesar da
porcentagem dos que acreditam que o país está indo na direção certa ter o
número mais elevado, o cenário é outro quando comparado à sondagem feita no ano
passado com o mesmo tema, uma vez que 61% dos ucranianos disseram achar que a
direção estava certa, ou seja, houve um declínio de 20% de 2023 para 2024.
Na maioria
das vezes, os cidadãos relatam deterioração da situação (em comparação ao
início de 2023) nas seguintes áreas: preços e tarifas 86% relataram
deterioração, situação econômica do país (68%), estabilidade (64,5%), confiança
no futuro (63,5%), bem-estar das suas famílias (58%), atitude dos cidadãos
perante as autoridades (53%).
Cerca de
61% dos entrevistados notaram a deterioração da situação no país como um todo,
relatou o estudo.
No
entanto, uma maioria relativa dos inquiridos acredita que o governo tem um bom
desempenho no combate ao crime, na proteção da lei e da ordem (45%) e na ajuda
a grupos vulneráveis da população (44,5%).
Mas 51%
dos ucranianos acreditam que o governo tem um fraco desempenho no domínio da
justiça social. Além disso, uma maioria relativa (46%) acredita que o governo
faz um mau trabalho no apoio à economia e na restauração do parque habitacional
em tempos de conflito (40%).
Esta
quinta-feira (8) foi um dia importante para política e para as Forças Armadas
ucranianas, visto que o presidente, Vladimir Zelensky, anunciou a mudança do
comandante-em-chefe e escalou Aleksandr Syrsky para substituir Valery Zaluzhny.
No
entanto, de acordo com o The Washington Post, o substituto de Zaluzhny deverá
ser impopular entre as tropas ucranianas, uma vez que Syrsky é considerado por
muitos como um comandante que manteve as forças sob fogo por tempo prolongado
na cidade de Artyomovsk, no leste, quando a Ucrânia deveria ter se retirado,
escreveu a mídia.
Ø
Em telefonema abrangente, Putin e Xi
concordam em não aceitar pressão política e militar dos EUA
Na chamada
relizada nesta quinta-feira (8), os presidentes resumiram o desenvolvimento da
parceria abrangente e da interação estratégica sino-russa, reforçando a
cooperação em nível multilateral internacional e a defesa da globalização
econômica inclusiva.
Na
conversa, Xi afirmou ao seu homólogo russo que os dois países deveriam buscar
uma estreita coordenação estratégica a fim de defender a soberania, a segurança
e os interesses de desenvolvimento de seus respectivos países, informou a
agência Xinhua.
Xi também
disse que ambos os lados precisam se opor resolutamente à interferência de
forças externas nos assuntos internos dos países, ao mesmo tempo que devem
cultivar novas dinâmicas de cooperação para manter a estabilidade das cadeias
industrial e de abastecimento.
"A
China e a Rússia resistiram juntas a muitos testes no passado e suas relações
abraçam novas oportunidades de desenvolvimento no futuro […]. A China está
pronta para reforçar a cooperação com a Rússia a nível multilateral
internacional e defender a globalização econômica inclusiva", afirmou o
líder chinês a Putin enquanto os dois concordaram em continuar com
"contatos estreitos".
Sobre a
interferência em assuntos internos, o assessor do Kremlin, Yuri Ushakov, disse
que os presidentes comentaram a contenção de Pequim e Moscou por parte dos
Estados Unidos.
"As
partes expressaram rejeição mútua ao rumo dos EUA que visa interferir nos
assuntos internos de outros Estados. Nossos países também não aceitam pressão
política e militar norte-americana. E o mais importante, os líderes dos dois
países entendem que os Estados Unidos estão praticamente a implementar uma
política de dupla contenção da Rússia e da China", afirmou Ushakov em um
comunicado emitido pelo Kremlin.
Ao
discutir a situação na região da Ásia-Pacífico, o presidente russo reafirmou a
sua posição de princípio sobre a questão de Taiwan, que consiste em apoiar a
política de Uma Só China, relatou a leitura do Kremlin, acrescentando que as
questões "da Ucrânia e da Faixa de Gaza foram abordadas brevemente".
Os líderes
também expressaram disposição para promover projetos energéticos conjuntos,
apesar das sanções, relatou o assessor.
"Foi
discutido o progresso da implementação de grandes projetos conjuntos
russo-chineses no setor energético [...] [os líderes] confirmaram a
disponibilidade para novos trabalhos para promovê-los, apesar das tentativas
dos países ocidentais de exercer pressão impondo sanções unilaterais
ilegítimas."
Putin
disse a Xi que "a cooperação russo-chinesa, em todas as esferas, alcançou
resultados frutíferos no ano passado", observando que o comércio bilateral
excedeu o alvo de US$ 200 bilhões (R$ 995 bilhões) antes do esperado e atingiu
um recorde de US$ 227,7 bilhões (R$ 1,13 trilhão).
"Naturalmente,
as questões de cooperação financeira também foram abordadas. Afirmou-se que
mais de 90% dos acordos entre os nossos países já são realizados em rublos e
yuans. Foi enfatizado que, para um maior desenvolvimento progressivo dos laços
comerciais e de investimento, é importante continuar o trabalho conjunto para
construir uma infraestrutura financeira que garanta pagamentos
confiáveis", afirmou o Kremlin.
Por fim,
Xi disse estar ciente de que a campanha eleitoral está em andamento na Rússia,
e desejou uma "realização bem-sucedida das próximas eleições em
março".
A ligação
entre os líderes aconteceu antes do Ano Novo chinês, com Putin felicitando Xi
pela chegada do novo ano.
Fonte:
Sputnik Brasil
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