sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

Marinha Brasileira pode ser pega no fogo cruzado entre houthis e EUA no mar Vermelho?

Liderança da Marinha Brasileira em operação naval no mar Vermelho desperta preocupação, em função das hostilidades abertas entre forças ocidentais e o grupo iemenita houthi na região. A Sputnik Brasil conversou com a força e analistas para saber quais os riscos que os brasileiros correm ao navegar nessas águas turbulentas.

A Marinha do Brasil assumiu o comando de operação naval multinacional no mar Vermelho, em meio a conflito aberto entre forças dos EUA e do Reino Unido contra o grupo iemenita houthi.

A área do golfo de Áden e do mar Vermelho encontra-se desestabilizada, em função da ofensiva militar israelense na Faixa de Gaza. Em resposta ao que considera uma agressão contra o povo palestino, o grupo houthi ataca navios militares e mercantes de EUA, Israel e aliados na região.

A eclosão de conflito naval aberto prejudica a economia global, uma vez que a região responde por cerca de 15% do tráfego marítimo comercial internacional. Desde o início das hostilidades, houve redução do tráfego de contêineres na região, aumentando o custo e, consequentemente, o preço dos bens no bolso do consumidor.

Nesse contexto complicado, a Marinha do Brasil assume a liderança da operação naval chamada CTF-151 no mar Vermelho, no âmbito das Forças Marítimas Combinadas (FMC). O contra-almirante Antonio Braz de Souza representará a Marinha do Brasil durante o mandato e ficará a cargo das operações.

"As Forças Marítimas Combinadas é uma parceria marítima multinacional [...], que visa combater a ação de atores não estatais ilícitos em alto mar e promover segurança e estabilidade em milhões de milhas quadradas de águas internacionais", disse a analista de Defesa pela UFRJ e pesquisadora de Oriente Médio e Norte da África da Escola de Guerra Naval, Vitória França, à Sputnik Brasil.

O mar Vermelho não é o único foco das FMC, que também conduz operações no golfo Pérsico, estreito de Bab el-Mandeb, golfo da Somália e oceano Índico.

"A força-tarefa tem como pilar o combate ao narcotráfico, do contrabando de pessoas, da pirataria, além de buscar incentivar a cooperação regional segura e promover um ambiente marítimo livre de atividades ilícitas", relatou França. "Quando solicitado, os meios das FMC no mar também respondem a crises ambientais e humanitárias."

A força-tarefa conta com cerca de 41 países-membros, dos quais não fazem parte potências como China e Rússia. Apesar das boas intenções, a liderança da Marinha do Brasil em um contexto de altas tensões no Oriente Médio preocupa.

Como a força-tarefa é liderada por almirante norte-americano e tem boa parte de suas necessidades operacionais supridas pela base naval dos EUA no Bahrein, não fica claro se o Brasil poderia ser visto como tomando um dos lados do conflito entre houthis e forças ocidentais.

"A CMF é comandada por um vice-almirante da Marinha dos EUA, que também atua como comandante do Comando Central da Marinha dos EUA [NAVCENT] e da 5ª Frota da Marinha dos EUA [todos os três comandos localizados na Atividade de Apoio Naval dos EUA no Bahrein]", explicou França.

Além disso, as rotineiras altercações entre coalisão chefiada pelos EUA e o grupo houthi colocam em xeque a segurança do pessoal brasileiro envolvido na CTF-151. Para França, no entanto, as tarefas da Marinha nesta força-tarefa são "mais de inteligência do que de campo, propriamente dito".

"A missão atua através do recolhimento e partilha de informações; fornecendo para efeitos da informação e das comunicações estratégicas e conduzindo atividades a fim de contribuir para a dissuasão de atores não estatais", disse a especialista da Escola de Guerra Naval.

Segundo ela, o "comando brasileiro fica alocado na base das FMC no Bahrein e por isso, fica responsável pelo teor estratégico da missão". Portanto, o "risco de combate é baixo".

"O contingente brasileiro na CFT-151 fica em terra, na base do Bahrein. Isto implica que, a Marinha do Brasil não está diretamente na faixa dos ataques houthis no mar Vermelho", ressaltou França. "Entretanto, o Bahrein é considerado um grande aliado dos Estados Unidos no Oriente Médio e, devido a isso, os membros da Marinha devem estar sempre em alerta."

Por outro lado, de acordo com normas do Conselho de Segurança da ONU, que regem a operação, os navios da CTF-151 podem engajar em operações de autodefesa, e mesmo reagir para proteger embarcações de seus país.

Em comunicação à Sputnik Brasil, a Marinha Brasileira lembra que "os elementos subordinados às FMC, como a CTF-151, não podem participar em conflitos armados", amainando temores de que militares brasileiros sejam pegos no fogo cruzado.

O Brasil, no entanto, não mobilizará embarcações próprias para a operação, uma vez que sua frota não está em condições de empreender essa tarefa.

"Vemos que o Brasil tem sérios problemas de projeção de poder, devido a diversos desinvestimentos no setor de defesa", disse o professor de Ciências Políticas da Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP), Antonio Henrique Lucena Silva, à Sputnik Brasil. "O Brasil tem um gasto alto com defesa, se olharmos para o orçamento do Ministério da Defesa, mas em grande medida é para pagamento de pessoal."

E é justamente com pessoal que a Marinha contribuirá para a operação multinacional, já que o orçamento "para compra de material bélico é muito baixo, assim como para investimentos", lamentou o especialista.

Por outro lado, a participação na operação garante experiência às tropas brasileiras, que podem ser adestradas em um cenário bélico real.

"O Brasil ganha experiência. É um investimento, porque estamos adestrando tropas, marinheiros e podemos ter algum ganho de capacidade operacional", disse Lucena Silva.

O baixo engajamento da Marinha do Brasil em guerras interestatais é compensado pela participação em missões multinacionais e missões de paz, como destaque para a Força-Tarefa Marítima da Força Interina das Nações Unidas no Líbano (UNIFIL), que ficou anos sobre o comando brasileiro.

"Esse tipo de operação faz com que o Brasil se mantenha antenado com as práticas de ações internacionais no combate à pirataria, terrorismo e ver o que os outros países estão fazendo", considerou Lucena Silva.

Para o especialista, a ação brasileira na CFC-151 garante que o país "passe a imagem de país responsável, preocupado com problemáticas relevantes", como a manutenção da segurança das rotas comerciais.

A especialista da Escola de Guerra Naval, Vitória França, concorda, e acrescenta que a missão "pode demonstrar a importância naval brasileira e colocar o país em uma posição de força no cenário internacional".

A Marinha Brasileira ainda considerou que uma boa performance dos brasileiros na força-tarefa pode ter efeito dissuasório contra potenciais adversários.

"Um bom desempenho dos militares da Marinha do Brasil integrantes da CTF 151, evidenciando seus elevados níveis de profissionalismo, formação e capacidade, pode contribuir para a dissuasão de iniciativas hostis contra o Brasil", considerou a força-tarefa em comunicação à Sputnik Brasil.

No entanto, as águas do mar Vermelho seguem bastante turbulentas. Na terça-feira (6), o grupo houthi afirmou ter realizado ataque com mísseis contra dois navios mercantes na região, de posse norte-americana e britânica, conforme reportou a Al Jazeera.

As operações contra "navios israelenses ou que se dirigem aos portos da Palestina ocupada" devem continuar, "até que o cerco seja levantado e a agressão contra o povo palestino na Faixa de Gaza seja interrompida", alertou o porta-voz militar do grupo houthi, general de brigada Yahya Saree.

 

Ø  Estados-membros da UE chegam a acordo sobre missão para proteger navios mercantes no mar Vermelho

 

Os Estados-membros da União Europeia (UE) chegaram a um acordo sobre os detalhes essenciais da missão marítima conjunta no mar Vermelho para proteger os navios mercantes contra ataques houthis, informou nesta quinta-feira (8) a agência de notícias alemã RND, citando fontes familiarizadas com a matéria.

A missão terá natureza defensiva, e sua tarefa será proteger a navegação civil na região. Os Estados-membros da UE realizaram uma votação antecipada à reunião dos ministros das Relações Exteriores do bloco, marcada para o dia 19, informou a RND.

O próximo passo será a elaboração de planos precisos para a operação, incluindo a atribuição de tarefas específicas, bem como a determinação do tamanho da zona operacional e das áreas do mar Vermelho em que os navios serão escoltados.

A última etapa será definir a data de lançamento, fase que deve ser alcançada também antes da reunião ministerial em Bruxelas. Neste momento, Alemanha, França, Itália e Países Baixos pretendem participar da missão. Os Países Baixos enviaram seus navios ao mar Vermelho há alguns dias, e a fragata alemã Hessen partiu hoje (8) cedo.

Os houthis prometeram, em novembro de 2023, atacar quaisquer navios associados a Israel até que sejam suspensas as ações militares na Faixa de Gaza. Isso levou o secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, a anunciar a criação de uma operação multinacional para garantir a navegação no mar Vermelho. Posteriormente, Estados Unidos e Reino Unido lançaram grandes ataques contra posições houthis, em uma tentativa de degradar a capacidade dos rebeldes de atingir navios comerciais.

 

Ø  Coreia do Norte abole leis de cooperação econômica com Coreia do Sul em meio às tensões na região

 

Menos de um mês depois que as agências de cooperação entre a Coreia do Sul e a Coreia do Norte foram abolidas por Pyongyang, chegou a vez de as respectivas leis serem revogadas.

A Coreia do Norte aboliu as leis sobre a cooperação econômica intercoreana, informou na quinta-feira (8) a agência norte-coreana KCNA.

A decisão, tomada em uma reunião plenária do Comitê Permanente da Assembleia Popular Suprema de quarta-feira (7), aboliu a lei sobre cooperação econômica intercoreana, a lei sobre a zona especial para excursões internacionais ao Monte Kumgang e os regulamentos para sua aplicação, bem como os acordos sobre cooperação econômica intercoreana, escreve a mídia.

A iniciativa ocorre menos de um mês depois que Pyongyang decidiu desmantelar as agências que lidam com assuntos intercoreanos, como o Comitê Nacional para a Reunificação Pacífica da Pátria, uma agência encarregada da cooperação econômica nacional, e uma agência que lida com o projeto turístico do Monte Kumgang.

A lei sobre cooperação econômica intercoreana, adotada em 2005, é considerada uma estrutura embrionária dessa cooperação, enquanto a lei sobre a zona especial no Monte Kumgang, adotada em 2011, regula os investimentos na área pela Coreia do Sul e outras entidades estrangeiras.

Kim Jong-un, líder supremo da Coreia do Norte, definiu no final do último ano os laços intercoreanos como relações entre "dois Estados hostis um ao outro" e prometeu "suprimir" toda a Coreia do Sul no caso de uma emergência.

O Ministério da Unificação da Coreia do Sul comentou que Seul não tem um plano de resposta atualmente, e que os acordos de cooperação econômica intercoreana não se tornam inválidos com "a decisão unilateral" da Coreia do Norte, escreve na quinta-feira (8) a agência sul-coreana Yonhap.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

Nenhum comentário: