Gaza: área
que se tornou último refúgio de 1 milhão de palestinos vive tensão com ataque
iminente de Israel
O
primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, ordenou
que os militares se preparem para evacuar os civis da cidade de Rafah, no sul
de Gaza, antes de uma ofensiva ampliada contra
o Hamas.
Cerca de
1,5 milhão de palestinos estão em Rafah em busca de refúgio das operações de
combate israelenses que acontecem no
resto de Gaza.
Os Estados Unidos alertaram
Israel que uma invasão de Rafah seria um "desastre", enquanto a União Europeia (UE) e
a Organização das Nações Unidas (ONU) expressaram preocupação sobre a operação.
Grupos de
ajuda humanitária dizem que não é possível evacuar todas as pessoas da cidade.
Na
sexta-feira (9/2), Netanyahu pediu que as autoridades militares e de segurança
de Israel "apresentem ao gabinete um plano combinado para evacuar a
população e destruir os batalhões" do Hamas.
"É
impossível alcançar o objetivo da guerra sem eliminar o Hamas e deixar quatro
batalhões do Hamas em Rafah. Pelo contrário, é claro que a intensa atividade em
Rafah exige que os civis evacuem as áreas de combate", acrescentou o
primeiro-ministro israelense em comunicado.
No início
desta semana, Netanyahu disse que ordenou às tropas que "se preparassem
para operações" em Rafah e que a "vitória total" de Israel sobre
o Hamas estava "a poucos meses de distância".
Ele fez os
comentários ao rejeitar os últimos termos de cessar-fogo propostos pelo
Hamas.
A BBC foi
informada de que os negociadores do Hamas estão deixando Cairo, a capital do
Egito, uma vez que as negociações entre os dois lados foram suspensas.
A maioria
das pessoas em Rafah foi deslocada pelos combates que ocorreram em outras
partes de Gaza. Boa parte delas vive em tendas.
Rafah é o
único ponto de passagem entre Gaza e o Egito.
Na
sexta-feira (9/2), o principal diplomata da UE, Josep Borrell, compartilhou nas
redes sociais: "Os relatos de uma ofensiva militar israelense em Rafah são
alarmantes. Ela teria consequências catastróficas, agravando a já terrível
situação humanitária e o insuportável custo civil."
No início
da semana, o secretário-geral da ONU, António Guterres, alertou sobre um
"pesadelo humanitário" na cidade.
"Eles
[os palestinos] vivem em abrigos improvisados superlotados, em condições
insalubres, sem água corrente, eletricidade e alimentos adequados",
reafirmou Guterres na quinta-feira (8/2).
"Fomos
claros ao condenar os atos horríveis do Hamas. Também fomos claros ao condenar
as violações do Direito Humanitário Internacional em Gaza."
O
porta-voz de Guterres, Stéphane Dujarric, acrescentou: "Estamos
extremamente preocupados com o destino dos civis em Rafah... Penso que o que
está claro é que as pessoas precisam ser protegidas, mas também não queremos
ver qualquer deslocamento forçado de pessoas."
Entretanto,
o chefe da agência da ONU para os refugiados palestinos, a UNRWA, disse que
havia "uma sensação de ansiedade e pânico crescente em Rafah".
"As
pessoas não têm a menor ideia para onde ir depois de Rafah", disse
Philippe Lazzarini a repórteres em Jerusalém.
"Qualquer
operação militar em grande escala ali só pode levar a uma camada adicional de
tragédia sem fim."
Ataques
aéreos israelenses em Gaza na sexta-feira deixaram pelo menos 15 pessoas,
incluindo oito vítimas em Rafah, afirmaram a autoridades do Ministério da Saúde
administrado pelo Hamas. Israel não confirma a ação ou os números.
Salem
El-Rayyes, jornalista autônomo que vive num campo para desalojados em Rafah,
disse que crianças estão entre os mortos. Segundo disse à agência Reuters, um
ataque aéreo atingiu uma casa e os corpos das vítimas "voaram do terceiro
andar".
Garda
al-Kourd, mãe de dois filhos que relata ter sido deslocada seis vezes durante a
guerra, disse que esperava um ataque israelense, mas tinha a expectativa de um
acordo de cessar-fogo.
"Se
eles vierem para Rafah, será o nosso fim. É como se estivéssemos à espera da
morte. Não temos outro lugar para ir", disse ela à BBC a partir da casa de
um familiar em Rafah, onde vive com outras 20 pessoas.
O chefe do
Conselho Norueguês para os Refugiados, Jan Egeland, disse à BBC que uma
operação israelense em Rafah — que chamou de "o maior campo de deslocados
do mundo" — seria uma catástrofe.
"Há
pessoas em suas frágeis coberturas de plástico. Elas estão brigando por comida.
Não há água potável. Há doenças epidêmicas e eles [as forças israelenses]
querem trazer uma guerra para este lugar", disse Egeland.
Grande
parte do norte e do centro de Gaza foi reduzida a ruínas pelos bombardeios
contínuos de Israel desde o início da guerra, em 7 de outubro.
Sem se
referir diretamente a Rafah, o presidente dos EUA, Joe Biden, disse na
quinta-feira (8/2) que as ações de Israel em Gaza foram "exageradas".
Ele usou o
mesmo termo — "exagerado" — no início da semana para se referir à
resposta do Hamas a um plano de trégua em Gaza em troca da libertação de
reféns.
O
porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, John Kirby, disse que os
militares israelenses têm uma "obrigação especial, ao conduzirem operações
lá ou em qualquer outro lugar, de garantir que estão levando em consideração a
proteção de vidas civis inocentes".
"As
operações militares neste momento seriam um desastre para essas pessoas e não é
algo que apoiaríamos", afirou ele.
O
porta-voz adjunto do Departamento de Estado dos EUA, Vedant Patel, endossou as
falas de Kirby, dizendo: “Nós [os EUA] não apoiaríamos a realização de algo
como isto sem um planejamento sério e crível”.
Questionado
pela BBC sobre para onde os refugiados em Rafah deveriam ir no caso de uma
operação, Patel disse que esta é uma das "perguntas legítimas que
acreditamos que os israelenses deveriam responder”.
Falando da
cidade israelense de Tel Aviv, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken,
disse que qualquer "operação militar que Israel empreenda precisa colocar
os civis em primeiro lugar... E isso é especialmente verdadeiro no caso de
Rafah".
É raro que
os EUA, um aliado-chave e apoiador militar de Israel, falem sobre quaisquer
fases futuras da ofensiva militar em Gaza — mas estes foram avisos claros.
Todo ano,
Washington envia cerca de US$ 3,8 bilhões (cerca de R$ 18 bilhões) em ajuda
militar a Israel — tornando este o país que recebe a maior fatia desse tipo de
financiamento americano.
Mais de
1,2 mil pessoas foram mortas durante os ataques do Hamas ao sul de Israel em 7
de outubro, segundo autoridades israelenses.
Mais de
27,9 mil palestinos acabaram mortos e pelo menos 67 mil foram feridos na guerra
lançada por Israel em resposta, de acordo com o Ministério da Saúde
administrado pelo Hamas.
Ø
Com mais de 28 mil palestinos mortos, Hamas
alerta sobre 'massacre iminente' em Rafah
O Hamas
alertou, neste sábado (10/02), que Israel está por cometer um “massacre” em
Rafah, no sul da Faixa de Gaza, região que faz fronteira com o Egito e por onde
1.4 milhão de palestinos, mais da metade dos 2,3 milhões totais, está abrigada.
Horas
antes, o primeiro-ministro de Israel Benjamin Netanyahu, que recentemente descartou a possibilidade de um cessar-fogo, havia ordenado aos militares para que evacuassem os civis
situados na cidade, sinalizando uma invasão terrestre na área.
De
sexta-feira (09/02) para este sábado, em questão de horas, pelo menos 28
palestinos em Rafah morreram em decorrência das operações israelenses, conforme
informaram as autoridades de Gaza.
A emissora
catari Al Jazeera relatou que, de acordo com o Hamas, o fato
do governo dos Estados Unidos não se posicionar nem tomar medidas sobre o
ataque israelense à região "não o isenta da responsabilidade pelas
consequências".
A conduta
mais recente de Israel não deixa claro para onde a maioria dos palestinos pode
fugir, uma vez que, como o norte e o centro da Faixa de Gaza já se encontram
ocupados pelas forças israelenses, só restaria atravessar a fronteira para o
Egito. No entanto, a entrada para o país vizinho só é permitida em casos
excepcionais, como por solicitações internacionais para processos de
repatriação.
Neste
sábado, o Ministério da Saúde de Gaza divulgou que o número de palestinos
mortos ultrapassou a marca dos 28 mil.
Desde 7 de
outubro, quando Israel endureceu suas operações militares no território
palestino em resposta à primeira ofensiva lançada pelo Hamas, pelo menos 28.064
habitantes na Faixa de Gaza morreram, enquanto outros 67.611 ficaram feridos.
“A
ocupação israelense cometeu 16 massacres contra famílias na Faixa de Gaza,
matando 117 e ferindo 152 nas últimas 24 horas”, afirmou a pasta.
Ø
‘Chega de punição coletiva’: Lula aumenta
repasses à agência para refugiados palestinos
O
presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) prometeu ampliar as doações e repasses financeiros à Agência das Nações
Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA), o órgão internacional que fornece ajuda humanitária aos palestinos em situação de refúgio na Faixa de Gaza.
O anúncio
dado pelo mandatário durante uma visita à Embaixada da Palestina, em Brasília,
na quinta-feira (08/02), foi divulgado pelo Palácio do Planalto no dia
seguinte.
“O Brasil
exorta a comunidade internacional a manter e reforçar suas contribuições para o
bom funcionamento das suas atividades. Meu governo fará aporte adicional de
recursos para a agência”, declarou Lula.
Por outro
lado, o presidente reforçou que as denúncias contra os funcionários da UNRWA
“precisam ser devidamente investigadas, mas não podem paralisá-la”.
“Chegou a
hora de pôr fim à catástrofe humanitária que se abateu sobre os mais de dois
milhões de palestinos que vivem em Gaza. Quase 30 mil pessoas morreram, a
maioria crianças, idosos e mulheres indefesas. Mais de 80% da população foi
realocada à força (…). Chega de punição coletiva”, acrescentou o petista.
Lula mencionou ‘punição coletiva’, o mesmo termo utilizado pelo próprio comissário-geral da
UNRWA, Phelippe Lazzarini, no momento em que diversos países passavam a
declarar suspensão de ajuda à agência da ONU.
Opera
Mundi consultou o Itamaraty sobre a definição do valor a ser repassado
pelo Brasil, mas até o fechamento desta reportagem não obteve resposta.
Os últimos
dados divulgados pelo órgão internacional revelam que o orçamento total de 2022
foi de US$ 1,17 bilhão. Os maiores doadores foram os membros da União Europeia,
que destinaram US$ 520 milhões, e os Estados Unidos, com US$ 344 milhões. O
Brasil enviou apenas US$ 75 mil.
·
Acusação israelense contra funcionários da
UNRWA
A decisão
do chefe de Estado brasileiro ocorre poucas semanas após Israel ter alegado que
alguns funcionários da agência da ONU participaram da primeira ofensiva lançada
pelo grupo de resistência palestina Hamas, em 7 de outubro.
A reação
da UNRWA junto com o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, foi
imediata. Em 26 de janeiro, as autoridades da ONU apoiaram a abertura de
investigações dentro da agência destinada a refugiados . Dos 12 funcionários
acusados, nove foram demitidos, dois ainda precisam ser identificados e um
morreu.
No
entanto, a denúncia israelense motivou diversos países ocidentais, incluindo os
principais doadores, como os Estados Unidos, a decidirem bloquear repasses à
UNRWA, o que gerou uma preocupação ainda maior por parte da agência, que vinha
relatando escassez de recursos básicos e apelando por mais auxílio
internacional.
Na
ocasião, o antigo porta-voz da agência da ONU para refugiados palestinos, Chris
Gunness, estranhou a situação e afirmou em “ataque político
coordenado”.
“Os
israelenses disseram que não podem vencer a guerra em Gaza a menos que a UNRWA
seja dissolvida. Que sinal mais claro você deseja?", questionou Gunness
sobre a denúncia de Israel.
Com 13 mil
funcionários ativos, a Agência da ONU de Assistência aos Refugiados Palestinos
é a principal organização que ajuda a população de Gaza em meio ao desastre
humanitário. No momento, mais de 2 milhões de habitantes, dos 2,3 milhões
totais, dependem do órgão para "pura sobrevivência", incluindo comida
e abrigo.
Fonte: BBC News Mundo/Opera Mundi
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