sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

Café em excesso aumenta a chance de pressão alta em pessoas predispostas

O hábito de consumir mais de três xícaras de café por dia aumenta em até quatro vezes a chance de indivíduos geneticamente predispostos apresentarem níveis elevados de pressão arterial. A conclusão é de um estudo feito na Universidade de São Paulo (USP) e divulgado na revista Clinical Nutrition.

O estudo foi baseado em dados de 533 pessoas entrevistadas no Inquérito de Saúde do Município de São Paulo (ISA-Capital 2008), estudo de base populacional que abrange a área urbana da capital e avalia as condições de saúde dos moradores. Não foi observada associação significativa entre a bebida e os níveis de pressão arterial no caso de pessoas que consumiam até três xícaras ao dia.

“Esses achados destacam a importância de moderar o consumo de café para a prevenção da pressão alta, particularmente em indivíduos geneticamente predispostos a este fator de risco cardiovascular”, disse Andreia Machado Miranda, pós-doutoranda no Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública da USP (FSP-USP) e primeira autora do artigo, à Agência Fapesp.

Foram considerados como pressão arterial elevada valores acima de 140 por 90 milímetros de mercúrio (mmHg). Em um trabalho anterior, também feito com base nos dados do ISA-Capital 2008, Miranda havia observado que o consumo moderado de café (de uma a três xícaras diárias) tem efeito benéfico sobre alguns fatores de risco cardiovascular – particularmente a pressão arterial e os níveis sanguíneos de homocisteína, aminoácido relacionado com o surgimento de alterações nos vasos sanguíneos, infarto e acidente vascular cerebral (AVC). Nessa primeira análise, não foram incluídos os dados genéticos.

“Decidimos, no estudo mais recente, investigar se em indivíduos que apresentam fatores genéticos que predispõem à hipertensão o consumo de café teria influência nos níveis de pressão arterial”, disse Miranda.

Por meio de um questionário aplicado aos mais de 3 mil participantes, o ISA-Capital 2008 obteve dados sociodemográficos e de estilo de vida, como idade, sexo, raça, renda familiar per capita, atividade física e tabagismo. Também foram feitos dois recordatórios para avaliação do consumo alimentar e coleta de sangue para análises bioquímicas e extração de DNA para genotipagem. Foram ainda medidos, durante visita domiciliar feita por um técnico de enfermagem, o peso, a altura e a pressão arterial dos voluntários.

Uma amostra representativa de 533 adultos e idosos foi selecionada para as análises conduzidas na FSP-USP. Entre os critérios de inclusão estavam: a presença de informações sobre o consumo diário de café e sobre a presença ou não das variantes genéticas de risco para pressão elevada.

Com base em informações descritas na literatura científica, os pesquisadores identificaram no rol de dados disponíveis no ISA-Capital 2008 quatro polimorfismos (variantes dos genes estudados) capazes de indicar predisposição à hipertensão: CYP1A1 / CYP1A2 (rs2470893,rs2472297); CPLX3/ULK3 (rs6495122); e MTHFR (rs17367504).

Foi então criado um escore genético de risco que variava de zero a oito. Se o indivíduo fosse homozigótico dominante (nenhum alelo variante) obtinha a pontuação zero, se fosse heterozigótico (um alelo variante) obtinha a pontuação um e, caso fosse homozigótico recessivo (dois alelos variantes), dois. O escore final é obtido pela soma do número de alelos de risco dos quatro polimorfismos analisados.

O consumo de café foi dividido em três categorias: menos de uma xícara ao dia; de uma a três; e mais de três xícaras diárias.

“Fizemos uma análise de associação desses três fatores: escore genético de risco, consumo de café e valor da pressão arterial. Usando um método estatístico conhecido como regressão logística múltipla, incluímos outras variáveis de ajuste que poderiam influenciar o resultado, como idade, sexo, raça, tabagismo, consumo de bebidas alcoólicas, índice de massa corporal, atividade física e uso de medicação anti-hipertensiva”, explicou Miranda.

As análises estatísticas mostraram que, à medida que aumentava o escore de risco e a quantidade de café consumida, crescia também a chance de o indivíduo apresentar pressão alta. Nos voluntários com pontuação mais elevada e consumo diário superior a três xícaras, a chance de pressão alta foi quatro vezes maior que a de pessoas sem predisposição genética.

“Como a maior parte da população não tem ideia se é ou não predisposta a desenvolver hipertensão – para isso seria necessário sequenciar e analisar o genoma –, o ideal é que todos façam um consumo moderado de café que, ao que tudo indica, é benéfico à saúde do coração”, disse Miranda.

Segundo a pesquisadora, estudos recentes mostraram que consumir moderadamente a bebida pode ajudar a prevenir a calcificação da artéria coronária. O efeito benéfico é atribuído aos polifenóis, compostos bioativos encontrados em abundância no café. Já a ação sobre a pressão arterial, segundo Miranda, está relacionada à cafeína.

De acordo com as diretrizes mais recentes da American Heart Association, em indivíduos saudáveis o consumo moderado de café não aumenta o risco de doenças cardíacas e não está associado a prejuízos à saúde no longo prazo.

·        Desdobramentos

A pesquisa de doutorado de Miranda foi orientada pela professora da FSP-USP Dirce Marchioni. Agora, no pós-doutorado, o objetivo é avaliar o efeito do consumo de café em pacientes portadores de doença cardiovascular – particularmente a síndrome coronariana aguda, causada por obstrução na artéria coronária, que irriga o coração.

O grupo pretende analisar, durante quatro anos, os dados de acompanhamento de 1.085 pacientes que sofreram infarto agudo do miocárdio ou angina instável, foram atendidos no Hospital Universitário da USP e integram a coorte do estudo longitudinal Estratégia de Registro de Insuficiência Coronariana (Erico).

“A ideia é avaliar, ao longo dos anos, a influência do consumo de café na sobrevida desses pacientes”, disse Miranda.

Na avaliação de Marchioni, a pesquisa iniciada durante o doutorado de Miranda trouxe resultados relevantes. “O café se mostrou um importante contribuinte para a ingestão de polifenóis na população estudada e este composto bioativo tem sido associado a diversos benefícios à saúde. Ao investigarmos o consumo de café e sua associação com algumas condições de saúde, identificamos que o consumo moderado pode ser benéfico e, portanto, pode compor a dieta habitual, sempre evitando o exagero”, disse.

 

Ø  Café emagrece? Entenda mitos e verdades

 

Muita gente acredita que o consumo de café emagrece. Aliás, a cafeína – substância naturalmente presente no chá e no café preto, por exemplo – costuma fazer parte de suplementos que podem causar perda de peso, pois acelera o metabolismo e aumenta o gasto calórico. Mas será que tomar café emagrece mesmo? Confira!

·        Café contém estimulantes

Muitas substâncias que são biologicamente ativas encontradas nos grãos de café permanecem na bebida final (o café). Várias dessas substâncias influenciam o metabolismo de modo significativo:

  • Cafeína: principal estimulante do café.
  • Teobromina: principal estimulante do cacau; também encontrada em menor quantidade no café.
  • Teofilina: substância estimulante encontrada no cacau e no café; tem sido usada para tratar a asma.
  • Ácido clorogênico: Um dos principais compostos biologicamente ativos no café; pode ajudar a retardar a absorção de carboidratos.

A cafeína, a principal substância estimulante do café, tem sido considerada uma substância que emagrece.

·        Como a cafeína funciona

A cafeína bloqueia um neurotransmissor inibitório chamado adenosina, de modo que haja um aumento nos níveis de liberação de neurotransmissores como dopamina e norepinefrina. Esse processo faz com que a pessoa se sinta com “energia” e em maior estado de alerta.

Dessa forma, consumir uma xícara de café por dia ajuda a manter-se ativo quando, de outra forma, você se sentiria cansado. Além disso, essa bebida é, de fato, capaz de causar melhora no desempenho do exercício físico, e de atividades físicas, em 11–12%, em média.

O efeito estimulante da cafeína atua no sistema nervoso central, que envia sinais para as células de gordura, fazendo com que elas se quebrem, o que torna o café uma bebida que, de fato, emagrece.

Esse efeito é obtido com o aumento dos níveis sanguíneos do hormônio epinefrina.

·        O café aumenta a taxa metabólica

A taxa com que o organismo queima calorias em repouso é chamada de taxa metabólica de repouso (TMR).

Quanto maior a TMR da pessoa, mais facilmente ela emagrece. Estudos mostram que a cafeína pode aumentar a TMR em 3-11%, com doses maiores apresentando um efeito mais significativo.

Curiosamente, a maior parte do aumento do metabolismo é causada pela intensificação na queima de gordura. Mas, infelizmente, esse efeito é menor em pessoas obesas.

Um estudo mostrou que a cafeína aumentou a queima de gordura em até 29% em pessoas magras, enquanto o aumento em indivíduos obesos foi de 10%. O efeito também parece diminuir com a idade e é maior em indivíduos mais jovens.

Entretanto, se você está pensando em usar o café para emagrecer, é preciso levar em conta que seus efeitos tendem a diminuir com o uso em longo prazo. Isso porque o organismo pode se tornar tolerante à ação da cafeína.

·        Diminuição do apetite

Em contrapartida, mesmo que o café não faça com que você gaste mais calorias a longo prazo, ele ainda pode reduzir o apetite e ajudar a comer menos.

Em um estudo, a cafeína teve um efeito redutor do apetite em homens, mas não em mulheres, fazendo com que eles comessem menos em uma refeição após o consumo de cafeína. No entanto, outro estudo não mostrou efeito para os homens.

Mesmo que a cafeína possa acelerar o metabolismo a curto prazo, esse efeito é diminuído em bebedores de café em longo prazo devido à tolerância.

·        Café ajuda a emagrecer, mas modere no consumo

Se você tem intenção de tomar café porque acha que ele emagrece pode ser melhor alternar períodos de consumo e abstinência para evitar o desenvolvimento da tolerância.

Nesse caso, você pode alternar ciclos de duas semanas de consumo e duas semanas de abstinência. Entretanto, há muitas outras grandes razões para beber café, incluindo o fato de ele ser uma das maiores fontes de antioxidantes na dieta ocidental e gerar bem estar para o consumidor.

 

Fonte: Agencia Fapesp/eCycle 

 

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