sábado, 10 de fevereiro de 2024

As dúvidas sobre capacidade mental de Biden em relatório de conselho especial nos EUA

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, criticou uma investigação que revelou que ele lidou mal com arquivos ultrassecretos do governo e que concluiu que ele tinha dificuldade para se lembrar de eventos importantes de sua vida.

Em uma coletiva de imprensa marcada de última hora na noite de quinta-feira (8/2), Biden insistiu: "Minha memória está boa".

Ele rebateu a uma alegação que afirmava que ele não conseguia se lembrar de quando seu filho morreu, dizendo: "Como diabos ousam citar isso?"

O inquérito descobriu que Biden "reteve e divulgou intencionalmente" arquivos confidenciais, mas as autoridades decidiram não indiciá-lo.

O conselheiro especial do Departamento de Justiça, Robert Hur, determinou que Biden manteve indevidamente documentos confidenciais relacionados à política militar e externa no Afeganistão depois de servir como vice-presidente.

O relatório de 345 páginas, divulgado no início da quinta-feira, disse que a memória do presidente tinha "limitações significativas".

Hur entrevistou o presidente de 81 anos durante cinco horas como parte da investigação.

O conselheiro especial, um republicano nomeado para o cargo pelo procurador-geral de Biden, Merrick Garland, disse que Biden não se lembrava de quando foi vice-presidente (de 2009 a 2017), ou "mesmo em um faixa de alguns anos, de quando seu filho Beau morreu" (2015).

Na entrevista coletiva de quinta-feira à noite, um emocionado Biden atacou os trechos do relatório que lançavam dúvidas sobre sua lembrança dos acontecimentos.

"Francamente, quando me fizeram essa pergunta, eu pensei comigo mesmo 'isso não é da conta deles'", disse ele.

"Não preciso que ninguém me lembre quando ele [Beau Biden] faleceu."

Ele disse que estava "muito ocupado... no meio da gestão de uma crise internacional" quando foi entrevistado pelo conselheiro especial, de 8 a 9 de outubro do ano passado —exatamente quando eclodiu a guerra Israel-Gaza.

O inquérito também disse que Biden compartilhou parte do material sensível de cadernos seus escritos à mão com um escritor que vai redigir suas memórias — algo que o presidente negou na entrevista coletiva.

O procurador especial concluiu que seria difícil condenar o presidente pelo tratamento indevido de arquivos porque "no julgamento, Biden provavelmente se apresentaria a um júri, como fez durante a nossa entrevista com ele, como um homem idoso, simpático e bem-intencionado, mas com memória fraca".

As pesquisas de opinião indicam que a idade do presidente é uma preocupação para os eleitores dos EUA antes das eleições para a Casa Branca em novembro. Mas Biden disse aos repórteres na quinta-feira que ele é o candidato mais qualificado.

"Sou bem-intencionado. E sou idoso. Sei o que diabos estou fazendo. Coloquei este país de pé. Eu não preciso da recomendação dele [o investigador]."

No entanto, mesmo enquanto tentava refutar perguntas de repórteres sobre sua idade e acuidade mental, ele inadvertidamente se referiu ao líder egípcio Abdul Fattah al-Sisi como "presidente do México".

Solicitado a comentar os últimos acontecimento da guerra Israel-Gaza, ele disse: "Acho que, como vocês sabem inicialmente, o presidente do México, Sisi, não queria abrir as portas para permitir a entrada de material humanitário".

Questionado se assumia responsabilidade por ter documentos confidenciais em sua casa, Biden culpou sua equipe.

Ele disse que não sabia que eles haviam colocado memorandos delicados em sua garagem - o lugar em que, segundo o promotor, eles estavam, ao lado de uma cama de cachorro.

Quando um jornalista disse que o povo americano estava preocupado com a sua idade, Biden levantou a voz em resposta: "Isso é o que você pensa".

Ele insistiu que sua memória está "boa" e "não piorou" durante sua presidência.

A equipe jurídica de Biden também criticou os comentários do procurador especial sobre os aparentes lapsos de memória de Biden.

"O relatório utiliza uma linguagem altamente prejudicial para descrever uma ocorrência comum entre as testemunhas: a falta de recordação de acontecimentos ocorridos há anos", escreveu o advogado da Casa Branca, Richard Sauber, em uma carta anexada ao relatório.

Os arquivos ultrassecretos foram encontrados de 2022 e 2023 na casa de Biden em Wilmington, Delaware, e em um antigo escritório particular.

A descoberta ocorreu depois que uma investigação separada acusou o ex-presidente Donald Trump, de 77 anos, de manuseio indevido de documentos confidenciais após sua saída da Casa Branca. Ele enfrentará um julgamento desse caso em maio deste ano.

O relatório Hur distingue os dois casos, dizendo que Biden entregou os documentos a arquivistas do governo, enquanto Trump "supostamente fez o oposto".

"De acordo com a acusação, ele não só se recusou a devolver os documentos durante muitos meses, mas também obstruiu a justiça ao recrutar outros para destruir provas e depois mentir sobre isso", diz o relatório sobre Trump.

Trump, em resposta, disse que seu julgamento relativo a arquivos confidenciais deveria ser cancelado pelo promotor do departamento de Justiça.

"Se o procurador especial Jack Smith quiser fazer bem ao nosso país e ajudar a unificá-lo, ele deveria abandonar todos os litígios contra o oponente político de Joe Biden, EU, e deixar nosso país se CURAR", postou o líder republicano da Casa Branca em sua plataforma, Truth Social.

O relatório também fala da oposição de Biden a políticas de Barack Obama no Afeganistão.

Pouco depois de assumir a Presidência dos EUA, Obama se convenceu de que o envio de mais forças dos EUA no Afeganistão era a única forma de manter a estabilidade no país.

Biden se opunha a essa política.

O então vice-presidente se considerava "uma figura histórica" que frequentemente mantinha diários e registros com vista a escrever posteriormente sobre seu legado.

O relatório diz que Biden tinha um forte motivo para manter documentos confidenciais sobre o Afeganistão: porque queria provar que se opunha à decisão de Obama de enviar tropas adicionais para lá.

Biden "acreditava que o aumento de tropas do presidente Obama em 2009 foi um erro semelhante ao do Vietnã", afirma o relatório, acrescentando: "Ele queria que os registros mostrassem que estava certo sobre o Afeganistão; que os seus críticos estavam errados".

Análise: uma granada política disfarçada de relatório. Por Anthony Zurcher - Correspondente da BBC para América do Norte

Foi uma granada política disfarçada de relatório de 345 páginas.

A principal conclusão (do relatório) foi que o presidente não enfrentaria acusações criminais por suas ações, apesar das evidências de que ele havia "retido e divulgado intencionalmente materiais confidenciais... quando era um cidadão comum".

Entre as razões listadas por Hur para decidir não processar o presidente de 81 anos estava porque ele provavelmente seria uma figura simpática para um júri que o veria como um "homem idoso e bem-intencionado com memória fraca".

As questões sobre a idade e a competência de Joe Biden para servir mais quatro anos no cargo têm estado em debate praticamente desde que Biden chegou à Casa Branca. Este relatório fornecerá combustível para os ataques republicanos e alimentará preocupações entre alguns democratas de que o presidente não está à altura do cargo.

É uma narrativa que a campanha de Biden tem tentado enfrentar, disse Chris Borick, diretor do Instituto de Opinião Pública do Muhlenberg College.

"Nas sondagens, vemos repetidamente dados que sugerem que o seu maior risco nestas eleições é que os eleitores pensem que ele é simplesmente velho demais para concorrer", diz ele.

Não é surpresa, portanto, que o relatório Hur tenha levado a Casa Branca a lançar uma furiosa contraofensiva que incluiu o presidente convocando uma conferência de imprensa improvisada, onde afirmou que a sua memória estava "muito boa".

"Eu sei o que diabos estou fazendo", disse ele.

A equipe de Biden também foi rápida em atacar os erros verbais de seu provável oponente em novembro, Donald Trump, de 77 anos. O ex-presidente confundiu recentemente a sua principal oponente, Nikki Haley, com a ex-presidente democrata da Câmara, Nancy Pelosi, e referiu-se ao primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, como o líder da Turquia.

O melhor argumento para a Casa Branca pode ser que esta granada em particular explodiu em fevereiro, nove meses antes do dia das eleições.

Larry Sabato, diretor do Centro de Política da Universidade da Virgínia, diz que as preocupações com a idade de Biden já estavam essencialmente incorporadas na disputa, tornando o relatório prejudicial, mas não fatal.

Quando os eleitores americanos finalmente forem às urnas, as afirmações contidas em um relatório do conselho especial que acabou por se recusar a considerar Biden criminalmente culpado serão menos preocupantes do que questões como economia e aborto.

O pior cenário, por outro lado, é que este seja apenas o início de uma cavalgada de provas que minam o presidente por um dos seus atributos mais fracos.

 

Ø  Procurador especial poupa Biden de acusações criminais, mas dá munição para Trump ao descrever seu declínio cognitivo

 

relatório do procurador especial Robert Hur isentou Joe Biden de acusações criminais por manuseio de materiais confidenciais após deixar a vice-presidência, em 2017, mas estas conclusões acabaram ofuscadas pelo veredicto que ele deu ao estado da memória do presidente, de 81 anos: turva, confusa, cheia de lapsos, ruim e com limitações significativas.

O duro retrato da conduta e da acuidade mental de Biden fornecido pelo procurador foi um presente para o adversário Donald Trump — apenas quatro anos mais novo e ele, sim, réu num processo por reter lotes de material secreto do governo americano em sua residência na Flórida.

Favorito a obter a indicação republicana para disputar, em novembro, a presidência dos EUA, o ex-presidente recebeu de bandeja munição gratuita para torpedear Biden. Sua campanha deflagrou imediatamente os habituais ataques ao presidente, embalados no etarismo.

Ninguém lembrará do relatório de Hur por ter poupado Biden de acusações criminais, mas pela descrição detalhada de seu declínio cognitivo, como se fosse um geriatra referindo-se a um paciente:

“É homem idoso simpático, bem-intencionado e com uma memória ruim”, relatou o procurador, nomeado em 2017 por Trump para o cargo.

Em outras palavras, segundo ele, Biden estava velho demais para se dar conta de que compartilhou documentos confidenciais.

“Sou bem-intencionado e sou um homem idoso e, que diabos, sei o que estou fazendo. Sou presidente e coloquei este país de pé!”, respondeu o presidente, ao mesmo tempo furioso e emocionado, numa entrevista horas depois da divulgação do relatório do procurador especial.

A esta altura, não havia como conter os danos.

Ao responder a uma pergunta sobre a guerra em Gaza, Biden ainda confundiu o presidente do Egito, general Abdel al-Sisi, com o do México.

Em uma semana, Biden cometeu outras gafes: relatou episódios vividos com Angela Merkel e Emmanuel Macron como se tivessem ocorrido com Helmut Kohl e François Mitterrand, que já morreram.

Neste capítulo, Trump, que retrata Biden como mentalmente incapaz para o cargo, também tem sido traído pela memória. Chamou Nikki Haley, sua adversária na corrida republicana, de Nancy Pelosi, a ex-presidente democrata da Câmara de Representantes. O republicano já confundiu Biden com Obama e disse que, com o presidente no poder, os EUA chegariam rapidamente à “Segunda Guerra Mundial”.

Uma pesquisa da CNN publicada em novembro indicou que apenas 25% dos americanos acreditam que Biden tenha resistência para servir novamente como presidente. Quando se trata de Trump, o índice aumenta para 53%.

Seja um ou outro, o fato é que ao fim dos próximos quatro anos, a Casa Branca será comandada por um octogenário e não há como mudar essa realidade.

 

Ø  Trump debocha de Nikki Haley e parabeniza 'nenhum dos candidatos' ao vencer em Nevada

 

O ex-presidente Donald Trump debochou de sua concorrente Nikki Haley ao parabenizar "nenhuma das opções acima" após vencer o caucus republicano de Nevada, nesta quinta-feira (9). Trump e Haley disputam a vaga do Partido Republicano para concorrer às eleições presidenciais dos Estados Unidos.

Na terça-feira (6), Nikki Haley perdeu as primárias republicanas de Nevada para a opção “nenhum destes candidatos”. A candidata teve 30% dos votos, enquanto 63% dos republicanos escolheram por nenhum candidato.

No estado de Nevada, os candidatos deveriam escolher apenas uma opção de disputa: o caucus ou a primária. Enquanto Haley optou por disputar a primária, Trump quis concorrer ao caucus. Por este motivo, os nomes dos dois não apareceram na mesma cédula.

No caucus desta quinta-feira, Trump teve mais de 99% dos votos. Ele concorria apenas com o republicano Ryan Binkley. Com isso, o ex-presidente levou todos os 26 delegados de Nevada - que, consequentemente, vão indicá-lo como representante do partido republicano nas eleições dos EUA.

Durante o discurso de vitória, Trump ressaltou o percentual obtido no estado e debochou do resultado das primárias de terça-feira.

"Vocês viram o que aconteceram na noite passada? Eu gostaria de parabenizar 'nenhuma das opções acima'", afirmou, sem citar Nikki Haley.

“Estamos liderando todo mundo”, disse. “Existe alguma maneira de convocarmos as eleições para a próxima terça-feira? Isso é tudo o que eu quero."

·        Constrangimento para Haley

Como as primárias disputadas por Haley não tinham um peso na decisão do nome, elas serviram apenas como mais uma opção de o candidato mostrar sua popularidade na região.

O resultado representou um constrangimento para Haley, que tem procurado se posicionar como uma opção de voto aos republicanos, no lugar do ex-presidente.

Diversos representantes políticos movimentaram seus apoiadores a irem votar nas primárias, para mostrar a impopularidade de Haley.

O governador Joe Lombardo, chefe-executivo do partido republicano em Nevada, por exemplo, indicou publicamente a sua intenção de votar em “nenhum destes candidatos”.

Já o presidente do Partido Republicano do Condado de Washoe, Bruce Parks, pediu aos eleitores que participassem das primeiras, mas votassem em "nenhum dos candidatos".

“Ela basicamente nos disse que não se importa conosco”, disse Parks, em entrevista. “Ao marcar ‘nenhum desses candidatos’, respondemos na mesma moeda – também não nos importamos com você.”

Haley não fez campanha política em Nevada e preferiu usar seu tempo para fazer campanha em seu estado natal, a Carolina do Sul.

 

Fonte: BBC News Mundo/g1

 

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