As dúvidas
sobre capacidade mental de Biden em relatório de conselho especial nos EUA
O
presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, criticou uma investigação que revelou
que ele lidou mal com arquivos ultrassecretos do governo e que concluiu que ele
tinha dificuldade para se lembrar de eventos importantes de sua vida.
Em uma
coletiva de imprensa marcada de última hora na noite de quinta-feira (8/2),
Biden insistiu: "Minha memória está boa".
Ele
rebateu a uma alegação que afirmava que ele não conseguia se lembrar de quando
seu filho morreu, dizendo: "Como diabos ousam citar isso?"
O
inquérito descobriu que Biden "reteve e divulgou intencionalmente"
arquivos confidenciais, mas as autoridades decidiram não indiciá-lo.
O
conselheiro especial do Departamento de Justiça, Robert Hur, determinou que
Biden manteve indevidamente documentos confidenciais relacionados à política
militar e externa no Afeganistão depois de servir como vice-presidente.
O
relatório de 345 páginas, divulgado no início da quinta-feira, disse que a
memória do presidente tinha "limitações significativas".
Hur
entrevistou o presidente de 81 anos durante cinco horas como parte da
investigação.
O
conselheiro especial, um republicano nomeado para o cargo pelo procurador-geral
de Biden, Merrick Garland, disse que Biden não se lembrava de quando foi
vice-presidente (de 2009 a 2017), ou "mesmo em um faixa de alguns anos, de
quando seu filho Beau morreu" (2015).
Na
entrevista coletiva de quinta-feira à noite, um emocionado Biden atacou os
trechos do relatório que lançavam dúvidas sobre sua lembrança dos
acontecimentos.
"Francamente,
quando me fizeram essa pergunta, eu pensei comigo mesmo 'isso não é da conta
deles'", disse ele.
"Não
preciso que ninguém me lembre quando ele [Beau Biden] faleceu."
Ele disse que
estava "muito ocupado... no meio da gestão de uma crise
internacional" quando foi entrevistado pelo conselheiro especial, de 8 a 9
de outubro do ano passado —exatamente quando eclodiu a guerra Israel-Gaza.
O
inquérito também disse que Biden compartilhou parte do material sensível de
cadernos seus escritos à mão com um escritor que vai redigir suas memórias —
algo que o presidente negou na entrevista coletiva.
O
procurador especial concluiu que seria difícil condenar o presidente pelo
tratamento indevido de arquivos porque "no julgamento, Biden provavelmente
se apresentaria a um júri, como fez durante a nossa entrevista com ele, como um
homem idoso, simpático e bem-intencionado, mas com memória fraca".
As
pesquisas de opinião indicam que a idade do presidente é uma preocupação para
os eleitores dos EUA antes das eleições para a Casa Branca em novembro. Mas
Biden disse aos repórteres na quinta-feira que ele é o candidato mais
qualificado.
"Sou
bem-intencionado. E sou idoso. Sei o que diabos estou fazendo. Coloquei este
país de pé. Eu não preciso da recomendação dele [o investigador]."
No
entanto, mesmo enquanto tentava refutar perguntas de repórteres sobre sua idade
e acuidade mental, ele inadvertidamente se referiu ao líder egípcio Abdul
Fattah al-Sisi como "presidente do México".
Solicitado
a comentar os últimos acontecimento da guerra Israel-Gaza, ele disse:
"Acho que, como vocês sabem inicialmente, o presidente do México, Sisi,
não queria abrir as portas para permitir a entrada de material
humanitário".
Questionado
se assumia responsabilidade por ter documentos confidenciais em sua casa, Biden
culpou sua equipe.
Ele disse
que não sabia que eles haviam colocado memorandos delicados em sua garagem - o
lugar em que, segundo o promotor, eles estavam, ao lado de uma cama de
cachorro.
Quando um
jornalista disse que o povo americano estava preocupado com a sua idade, Biden
levantou a voz em resposta: "Isso é o que você pensa".
Ele
insistiu que sua memória está "boa" e "não piorou" durante
sua presidência.
A equipe
jurídica de Biden também criticou os comentários do procurador especial sobre
os aparentes lapsos de memória de Biden.
"O
relatório utiliza uma linguagem altamente prejudicial para descrever uma
ocorrência comum entre as testemunhas: a falta de recordação de acontecimentos
ocorridos há anos", escreveu o advogado da Casa Branca, Richard Sauber, em
uma carta anexada ao relatório.
Os
arquivos ultrassecretos foram encontrados de 2022 e 2023 na casa de Biden em
Wilmington, Delaware, e em um antigo escritório particular.
A
descoberta ocorreu depois que uma investigação separada acusou o ex-presidente
Donald Trump, de 77 anos, de manuseio indevido de documentos confidenciais após
sua saída da Casa Branca. Ele enfrentará um julgamento desse caso em maio deste
ano.
O
relatório Hur distingue os dois casos, dizendo que Biden entregou os documentos
a arquivistas do governo, enquanto Trump "supostamente fez o oposto".
"De
acordo com a acusação, ele não só se recusou a devolver os documentos durante
muitos meses, mas também obstruiu a justiça ao recrutar outros para destruir
provas e depois mentir sobre isso", diz o relatório sobre Trump.
Trump, em
resposta, disse que seu julgamento relativo a arquivos confidenciais deveria
ser cancelado pelo promotor do departamento de Justiça.
"Se o
procurador especial Jack Smith quiser fazer bem ao nosso país e ajudar a
unificá-lo, ele deveria abandonar todos os litígios contra o oponente político
de Joe Biden, EU, e deixar nosso país se CURAR", postou o líder
republicano da Casa Branca em sua plataforma, Truth Social.
O
relatório também fala da oposição de Biden a políticas de Barack Obama no
Afeganistão.
Pouco
depois de assumir a Presidência dos EUA, Obama se convenceu de que o envio de
mais forças dos EUA no Afeganistão era a única forma de manter a estabilidade
no país.
Biden se
opunha a essa política.
O então
vice-presidente se considerava "uma figura histórica" que
frequentemente mantinha diários e registros com vista a escrever posteriormente
sobre seu legado.
O
relatório diz que Biden tinha um forte motivo para manter documentos
confidenciais sobre o Afeganistão: porque queria provar que se opunha à decisão
de Obama de enviar tropas adicionais para lá.
Biden
"acreditava que o aumento de tropas do presidente Obama em 2009 foi um
erro semelhante ao do Vietnã", afirma o relatório, acrescentando:
"Ele queria que os registros mostrassem que estava certo sobre o
Afeganistão; que os seus críticos estavam errados".
Análise:
uma granada política disfarçada de relatório. Por Anthony Zurcher -
Correspondente da BBC para América do Norte
Foi uma
granada política disfarçada de relatório de 345 páginas.
A
principal conclusão (do relatório) foi que o presidente não enfrentaria
acusações criminais por suas ações, apesar das evidências de que ele havia
"retido e divulgado intencionalmente materiais confidenciais... quando era
um cidadão comum".
Entre as
razões listadas por Hur para decidir não processar o presidente de 81 anos
estava porque ele provavelmente seria uma figura simpática para um júri que o
veria como um "homem idoso e bem-intencionado com memória fraca".
As
questões sobre a idade e a competência de Joe Biden para servir mais quatro
anos no cargo têm estado em debate praticamente desde que Biden chegou à Casa
Branca. Este relatório fornecerá combustível para os ataques republicanos e
alimentará preocupações entre alguns democratas de que o presidente não está à
altura do cargo.
É uma
narrativa que a campanha de Biden tem tentado enfrentar, disse Chris Borick,
diretor do Instituto de Opinião Pública do Muhlenberg College.
"Nas
sondagens, vemos repetidamente dados que sugerem que o seu maior risco nestas
eleições é que os eleitores pensem que ele é simplesmente velho demais para
concorrer", diz ele.
Não é
surpresa, portanto, que o relatório Hur tenha levado a Casa Branca a lançar uma
furiosa contraofensiva que incluiu o presidente convocando uma conferência de
imprensa improvisada, onde afirmou que a sua memória estava "muito
boa".
"Eu
sei o que diabos estou fazendo", disse ele.
A equipe
de Biden também foi rápida em atacar os erros verbais de seu provável oponente
em novembro, Donald Trump, de 77 anos. O ex-presidente confundiu recentemente a
sua principal oponente, Nikki Haley, com a ex-presidente democrata da Câmara,
Nancy Pelosi, e referiu-se ao primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, como o
líder da Turquia.
O melhor
argumento para a Casa Branca pode ser que esta granada em particular explodiu
em fevereiro, nove meses antes do dia das eleições.
Larry
Sabato, diretor do Centro de Política da Universidade da Virgínia, diz que as
preocupações com a idade de Biden já estavam essencialmente incorporadas na
disputa, tornando o relatório prejudicial, mas não fatal.
Quando os
eleitores americanos finalmente forem às urnas, as afirmações contidas em um
relatório do conselho especial que acabou por se recusar a considerar Biden
criminalmente culpado serão menos preocupantes do que questões como economia e
aborto.
O pior
cenário, por outro lado, é que este seja apenas o início de uma cavalgada de
provas que minam o presidente por um dos seus atributos mais fracos.
Ø
Procurador especial poupa Biden de
acusações criminais, mas dá munição para Trump ao descrever seu declínio
cognitivo
O relatório do procurador especial Robert Hur isentou Joe Biden de acusações criminais por manuseio de materiais confidenciais após deixar a vice-presidência, em 2017, mas estas
conclusões acabaram ofuscadas pelo veredicto que ele deu ao estado da
memória do presidente, de 81 anos: turva, confusa, cheia de lapsos, ruim e
com limitações significativas.
O duro
retrato da conduta e da acuidade mental de Biden fornecido pelo procurador foi
um presente para o adversário Donald
Trump — apenas quatro anos mais novo e
ele, sim, réu num processo por reter lotes de material secreto do governo
americano em sua residência na Flórida.
Favorito a
obter a indicação republicana para disputar, em novembro, a presidência dos
EUA, o ex-presidente recebeu de bandeja munição gratuita para torpedear Biden.
Sua campanha deflagrou imediatamente os habituais ataques ao presidente,
embalados no etarismo.
Ninguém
lembrará do relatório de Hur por ter poupado Biden de acusações criminais, mas
pela descrição detalhada de seu declínio cognitivo, como se fosse um
geriatra referindo-se a um paciente:
“É homem
idoso simpático, bem-intencionado e com uma memória ruim”, relatou o
procurador, nomeado em 2017 por Trump para o cargo.
Em outras
palavras, segundo ele, Biden estava velho demais para se dar conta de que
compartilhou documentos confidenciais.
“Sou
bem-intencionado e sou um homem idoso e, que diabos, sei o que estou fazendo.
Sou presidente e coloquei este país de pé!”, respondeu o presidente, ao mesmo
tempo furioso e emocionado, numa entrevista horas depois da divulgação do relatório do
procurador especial.
A esta
altura, não havia como conter os danos.
Ao
responder a uma pergunta sobre a guerra em Gaza, Biden ainda confundiu o
presidente do Egito, general Abdel al-Sisi, com o do México.
Em uma
semana, Biden cometeu outras gafes: relatou episódios vividos com Angela
Merkel e Emmanuel Macron como se tivessem ocorrido com Helmut Kohl e François
Mitterrand, que já morreram.
Neste
capítulo, Trump, que retrata Biden como mentalmente incapaz para o
cargo, também tem sido traído pela memória. Chamou Nikki Haley, sua
adversária na corrida republicana, de Nancy Pelosi, a ex-presidente democrata
da Câmara de Representantes. O republicano já confundiu Biden com
Obama e disse que, com o presidente no poder, os EUA chegariam
rapidamente à “Segunda Guerra Mundial”.
Uma
pesquisa da CNN publicada em novembro indicou que apenas 25% dos
americanos acreditam que Biden tenha resistência para servir novamente como
presidente. Quando se trata de Trump, o índice aumenta para 53%.
Seja um ou
outro, o fato é que ao fim dos próximos quatro anos, a Casa Branca será
comandada por um octogenário e não há como mudar essa realidade.
Ø
Trump debocha de Nikki Haley e parabeniza
'nenhum dos candidatos' ao vencer em Nevada
O
ex-presidente Donald
Trump debochou de sua concorrente Nikki
Haley ao parabenizar "nenhuma das
opções acima" após vencer o caucus republicano de Nevada, nesta
quinta-feira (9). Trump e Haley disputam a vaga do Partido Republicano para
concorrer às eleições presidenciais dos Estados
Unidos.
Na
terça-feira (6), Nikki Haley perdeu as primárias republicanas de Nevada para a opção “nenhum destes candidatos”. A candidata teve
30% dos votos, enquanto 63% dos republicanos escolheram por nenhum candidato.
No estado
de Nevada, os candidatos deveriam escolher apenas uma opção de disputa: o
caucus ou a primária. Enquanto Haley optou por disputar a primária, Trump quis
concorrer ao caucus. Por este motivo, os nomes dos dois não apareceram na mesma
cédula.
No caucus
desta quinta-feira, Trump teve mais de 99% dos votos. Ele concorria apenas com
o republicano Ryan Binkley. Com isso, o ex-presidente levou todos os 26
delegados de Nevada - que, consequentemente, vão indicá-lo como
representante do partido republicano nas eleições dos EUA.
Durante o
discurso de vitória, Trump ressaltou o percentual obtido no estado e debochou
do resultado das primárias de terça-feira.
"Vocês
viram o que aconteceram na noite passada? Eu gostaria de parabenizar 'nenhuma
das opções acima'", afirmou, sem citar Nikki Haley.
“Estamos
liderando todo mundo”, disse. “Existe alguma maneira de convocarmos as eleições
para a próxima terça-feira? Isso é tudo o que eu quero."
·
Constrangimento para Haley
Como as
primárias disputadas por Haley não tinham um peso na decisão do nome, elas
serviram apenas como mais uma opção de o candidato mostrar sua popularidade na
região.
O
resultado representou um constrangimento para Haley, que tem procurado se
posicionar como uma opção de voto aos republicanos, no lugar do ex-presidente.
Diversos
representantes políticos movimentaram seus apoiadores a irem votar nas
primárias, para mostrar a impopularidade de Haley.
O
governador Joe Lombardo, chefe-executivo do partido republicano em Nevada, por
exemplo, indicou publicamente a sua intenção de votar em “nenhum destes
candidatos”.
Já o
presidente do Partido Republicano do Condado de Washoe, Bruce Parks, pediu aos
eleitores que participassem das primeiras, mas votassem em "nenhum dos
candidatos".
“Ela
basicamente nos disse que não se importa conosco”, disse Parks, em entrevista.
“Ao marcar ‘nenhum desses candidatos’, respondemos na mesma moeda – também não
nos importamos com você.”
Haley não
fez campanha política em Nevada e preferiu usar seu tempo para fazer campanha
em seu estado natal, a Carolina do Sul.
Fonte: BBC
News Mundo/g1
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