Quem é o
Padre golpista de Osasco alvo de operação da PF
Entre os
alvos da operação Tempus Veritatis, da Polícia Federal, nesta quinta-feira
(08), está o padre católico José Eduardo de Oliveira e Silva, da Diocese de
Osasco, na Grande São Paulo.
A operação
cumpriu 33 mandados de busca e apreensão e quatro mandados de prisão preventiva
contra pessoas acusadas de participação na elaboração da tentativa de golpe de
estado no Brasil, em janeiro do ano passado. Entre os alvos estão o
ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), ex-ministro e assessores políticos dele.
A decisão
do ministro Alexandre de Morais, do Supremo Tribunal Federal (STF), cita o
padre José Eduardo como integrante do núcleo jurídico do esquema. Segundo o
ministro, o núcleo assessorava os membros do suposto plano de golpe de estado
na elaboração de minutas de decretos com fundamentação jurídica e doutrinária
que atendessem aos interesses golpistas.
De acordo
com a Polícia Federal, o padre supostamente participou de uma reunião no dia 19
de novembro de 2022, com Filipe Martins e Amauri Feres Saad – outros dois
investigados no esquema - como indicam os controles de entrada e saída do
Palácio do Planalto.
O
encontro, segundo o inquérito da PF, fazia parte de uma série de discussões
convocadas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro para "tratativas com
militares de alta patente sobre a instalação de um regime de exceção
constitucional."
Filipe
Martins era ex-assessor especial de Bolsonaro e foi preso pela PF nesta quinta
(8).
Durante a
operação desta quinta (8), o padre José Eduardo de Oliveira e Silva foi informado
pela PF que terá que cumprir medidas cautelares para não ser preso.
Entre
elas, a proibição de manter contato com os demais investigados da operação, o
compromisso de não se ausentar do País e entrega de todos os passaportes
(nacionais e estrangeiros) no prazo de 24 horas.
O g1 e a
GloboNews entraram em contato com a Diocese de Osasco, mas não receberam
retorno até a última atualização desta reportagem.
• O que disse o padre José Eduardo
Por meio
de nota, o padre negou que tenha participado de qualquer conspiração contra a
Constituição Brasileira. Segundo o padre, como sacerdote católico "é
chamado para auxílio espiritual não apenas dos frequentadores da minha
paróquia, mas também de todos aqueles de alhures que espontaneamente me
procuram com assuntos dos mais variados temas".
"Como
é meu dever, preservo a privacidade de todos eles, visto que os dilemas que me
apresentam são sempre de foro interno. Em relação ao referido 'inquérito dos
atos antidemocráticos', minha posição sobre o assunto é clara e inequívoca: a
República é laica e regida pelos preceitos constitucionais, que devem ser
respeitados. Romper com a ordem estabelecida seria profundamente contrário aos
meus princípios", disse José Eduardo.
"Abaixo
de Deus, em nosso país, está a Constituição Federal. Portanto, não cooperei nem
endossei qualquer ato disruptivo da Constituição. Como professor de teologia
moral, sempre ensinei que a lei positiva deve ser obedecida pelos fiéis, dentre
os quais humildemente me incluo. Estou inteiramente à disposição da justiça
brasileira para qualquer eventual esclarecimento, recordando o dever de toda a
sociedade de combater qualquer tipo de intolerância religiosa", completou.
"A
única missão na minha vida é o meu trabalho sacerdotal. Por isso, preciso de um
“tradutor” que me faça compreender os passos jurídicos decorrentes desta
inusitada e inesperada situação e que me ajude a atender com precisão os
pedidos do Poder Judiciário. Por isso, constituo meu “tradutor” o Dr. Miguel da
Costa Carvalho Vidigal, advogado, que saberá dar respostas jurídicas
pertinentes ao assunto. Ainda não obtivemos acesso aos autos, o qual esperamos
obter nos próximos dias", declarou.
• Quem é o padre José Eduardo
Integrante
da ala conservadora da Igreja Católica, o padre José Eduardo comemora 18 anos
de sacerdócio em 2024. Ele é o pároco oficial da Paróquia São Domingos – o
Pregador – no bairro de Umuarama, em Osasco.
Doutor em
Teologia Moral pela Pontifícia Universidade da Santa Cruz (Roma, Itália), é
conhecido nas redes sociais por gravar vídeos no Youtube discutindo guerra
cultural, aborto e a influência ruim das músicas e divas pop na vida de
crianças e adolescentes.
Entre os
alvos preferidos do padre estão as cantoras Madonna e Luiza Sonza, em que ele
analisa a letra das músicas e o simbolismo de clipes de canções como “Campo de
Morango”.
“É de uma
baixaria que a gente fica realmente constrangido”, disse.
“Não é
apenas a letra [das músicas] que diz coisas. Mas é a harmonia, o ritmo e a
melodia. Uma música de amor que tem uma batida sensual, ela está falando de
amor em termos libidinosos. Na melodia está embutida uma mensagem sexual que
não está embutida na letra. [...]Se uma melodia não tem uma inspiração divina,
ela tem uma inspiração humana ou demoníaca?”, argumentou o padre em vídeo gravado
em 7 de agosto do ano passado.
Entre as
pautas que o padre mais gosta de comentar é o aborto: “Você tem pessoas tão
loucas que elas são abortistas e veganas. São a favor de que se matem os bebês
no ventre de suas mães, mas são totalmente contra o extermínio de animais para
o consumo”, declarou ele em outro vídeo.
• "Chatólicos"
O padre
também frequenta canais e podcast de grande repercussão na extrema direita,
como os produtos da produtora Brasil Paralelo e o canal do economista
bolsonarista Rodrigo Constantino.
Nos textos
em que mantém no seu site pessoal, o padre também alerta os fiéis católicos
contra os colegas de igreja que ele chama de “chatólicos”.
Entre as
características desse tipo de cristão, segundo o religioso, estão o seguinte:
“O fulano
que se converteu ontem, mas já se considera o próprio martelo dos hereges;
justificam toda agressividade, desde que ungida com uma pretensa defesa da fé,
em nome da qual cometem calúnias e difamações, além de muita desonestidade
intelectual; Participam da liturgia como censores, mais preocupados com os
eventuais erros cometidos pelo celebrante que com a edificação de sua alma;
vivem de sensacionalismo escatológico, assustando “os outros com revelações
particulares e especulações irresponsáveis sobre o capiroto”, escreveu.
PF chega ao 'gênio de Uberlândia' que
ajudou PL a questionar urnas, e aponta conexão com influenciador argentino
Um dos
alvos da investigação da Polícia Federal desta quarta-feira (8), sobre uma
tentativa de golpe de Estado, é Eder Balbino, dono de uma empresa de tecnologia
da informação sediada em Uberlândia (MG). A companhia auxiliou na produção do
estudo que levou o PL a contestar as urnas após o segundo turno.
Quando
Valdemar da Costa Neto questionou as urnas junto ao Tribunal Superior Eleitoral
(TSE) em 2022, ele disse, em entrevista coletiva, que teve a ajuda de "um
gênio de Uberlândia". Segundo a investigação, esse gênio seria Eder
Balbino.
A PF
encontrou uma conexão entre Balbino e o argentino Fernando Cerimedo, que ganhou
notoriedade ao fazer uma live em 4 de novembro de 2022. À ocasião, ele apontou
supostas fraudes – infundadas – na eleição brasileira.
A live de
Cerimedo repercutiu muito entre os eleitores de Bolsonaro e alimentou discursos
golpistas. Cerimedo é apoiador do presidente Javier Milei na Argentina.
A decisão
do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes que autorizou
a operação desta quinta diz: "descobriu-se que o investigado Eder Lindsay
Magalhães Balbino, sócio da empresa Gaio.io, com sede em Uberlândia/MG, foi o
responsável por subsidiar o 'estudo' apresentado por Fernando Cerimedo em sua
live".
A
investigação da PF chegou na conexão entre Balbino e Cerimedo porque, na
transmissão, o argentino disponibilizou uma pasta com arquivos que
"provariam" a existência da alegada fraude nas urnas brasileiras.
Uma dessas
pastas de arquivos havia sido editada pela última vez por um usuário de nome
"Eder Balbino" -- informação que ficou aparente e deixou um rastro
seguido pela PF.
Além desse
rastro, a Polícia Federal apontou ao STF a existência de uma conversa em que um
empresário também investigado, Paulo Renato de Oliveira Figueiredo Filho, pede
a Mauro Cid, então ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, o contato do argentino
Cerimedo.
A decisão
de Moraes diz ainda que a empresa de Balbino colaborou com o relatório
produzido pelo Instituto Voto Legal (IVL), entidade contratada e paga
diretamente com recursos do fundo partidário pelo Partido Liberal.
"A
Gaio.io foi citada nove vezes no relatório técnico apresentado pelo Instituto
Voto Legal (IVL) que baseou o pedido de anulação dos votos das urnas antigas
feito junto ao TSE no dia 22.11.2022", diz Moraes.
Segundo a
decisão, o PL fez um pagamento de R$ 1,2 milhão ao IVL, em cinco parcelas de R$
225 mil.
• O que diz Eder Balbino
Em
entrevista ao g1 em dezembro passado, Balbino negou que tenha produzido
conteúdo contra as urnas para o PL.
Ele
afirmou que sua empresa, a Gaio, apenas forneceu um software de processamento
de dados que foi usado pelos técnicos que o partido de Valdemar contratou para
analisar as urnas.
Balbino
foi alvo de buscas nesta manhã, junto com outros suspeitos de integrar o núcleo
responsável por produzir desinformação sobre as urnas.
Militar alvo de mandado de prisão por
tentativa de golpe está fora do Brasil
Todos os
militares que foram alvos da Operação Tempus Veritatis, deflagrada nesta
quinta-feira (8) pela Polícia Federal deverão entregar seus passaportes e não
poderão sair do país ou manter contato com os demais investigados.
Um dos
alvos de mandado de prisão preventiva é o coronel Bernardo Romão Corrêa Netto,
que está fora do país. Ele foi mandado aos EUA no dia 30 de dezembro de 2022 e,
por conta disso, a Polícia Federal comunicou o comando do Exército para que ele
se apresente ao Brasil. Tecnicamente, ele é considerado foragido.
De acordo
com as investigações, Correa Neto é suspeito de ter empregado técnicas de
militares com formação em Forças Especiais para direcionarem as manifestações
nas portas dos quartéis e nos atos voltados às invasões no 8 de janeiro 2023.
Segundo a
PF, a permanência de Correa Neto nos Estados Unidos "somada as
circunstâncias da designação da missão, que somente foi publicada no fim do
governo anterior" demonstram indícios de que o militar agiu para escapar
do alcance de investigações e, em consequência, da aplicação de medidas de
responsabilização criminal. Por esses motivos, a Polícia Federal pediu a prisão
preventiva dele.
Na mira da
PF estão 16 militares das Forças Armadas que, segundo as investigações, teriam
participado da elaboração de um golpe de Estado para manter o ex-presidente
Jair Bolsonaro (PL) no poder.
Foram
presos nesta quinta o major Martins de Oliveira, comandante do batalhão de
Niterói (RJ), levado para a custódia do Exército no Rio de Janeiro, e o coronel
da reserva Marcelo Costa Câmara, que ficará em Brasília sob custódia do
Exército.
Fonte: g1
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