sábado, 10 de fevereiro de 2024

Quem é o Padre golpista de Osasco alvo de operação da PF

Entre os alvos da operação Tempus Veritatis, da Polícia Federal, nesta quinta-feira (08), está o padre católico José Eduardo de Oliveira e Silva, da Diocese de Osasco, na Grande São Paulo.

A operação cumpriu 33 mandados de busca e apreensão e quatro mandados de prisão preventiva contra pessoas acusadas de participação na elaboração da tentativa de golpe de estado no Brasil, em janeiro do ano passado. Entre os alvos estão o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), ex-ministro e assessores políticos dele.

A decisão do ministro Alexandre de Morais, do Supremo Tribunal Federal (STF), cita o padre José Eduardo como integrante do núcleo jurídico do esquema. Segundo o ministro, o núcleo assessorava os membros do suposto plano de golpe de estado na elaboração de minutas de decretos com fundamentação jurídica e doutrinária que atendessem aos interesses golpistas.

De acordo com a Polícia Federal, o padre supostamente participou de uma reunião no dia 19 de novembro de 2022, com Filipe Martins e Amauri Feres Saad – outros dois investigados no esquema - como indicam os controles de entrada e saída do Palácio do Planalto.

O encontro, segundo o inquérito da PF, fazia parte de uma série de discussões convocadas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro para "tratativas com militares de alta patente sobre a instalação de um regime de exceção constitucional."

Filipe Martins era ex-assessor especial de Bolsonaro e foi preso pela PF nesta quinta (8).

Durante a operação desta quinta (8), o padre José Eduardo de Oliveira e Silva foi informado pela PF que terá que cumprir medidas cautelares para não ser preso.

Entre elas, a proibição de manter contato com os demais investigados da operação, o compromisso de não se ausentar do País e entrega de todos os passaportes (nacionais e estrangeiros) no prazo de 24 horas.

O g1 e a GloboNews entraram em contato com a Diocese de Osasco, mas não receberam retorno até a última atualização desta reportagem.

•        O que disse o padre José Eduardo

Por meio de nota, o padre negou que tenha participado de qualquer conspiração contra a Constituição Brasileira. Segundo o padre, como sacerdote católico "é chamado para auxílio espiritual não apenas dos frequentadores da minha paróquia, mas também de todos aqueles de alhures que espontaneamente me procuram com assuntos dos mais variados temas".

"Como é meu dever, preservo a privacidade de todos eles, visto que os dilemas que me apresentam são sempre de foro interno. Em relação ao referido 'inquérito dos atos antidemocráticos', minha posição sobre o assunto é clara e inequívoca: a República é laica e regida pelos preceitos constitucionais, que devem ser respeitados. Romper com a ordem estabelecida seria profundamente contrário aos meus princípios", disse José Eduardo.

"Abaixo de Deus, em nosso país, está a Constituição Federal. Portanto, não cooperei nem endossei qualquer ato disruptivo da Constituição. Como professor de teologia moral, sempre ensinei que a lei positiva deve ser obedecida pelos fiéis, dentre os quais humildemente me incluo. Estou inteiramente à disposição da justiça brasileira para qualquer eventual esclarecimento, recordando o dever de toda a sociedade de combater qualquer tipo de intolerância religiosa", completou.

"A única missão na minha vida é o meu trabalho sacerdotal. Por isso, preciso de um “tradutor” que me faça compreender os passos jurídicos decorrentes desta inusitada e inesperada situação e que me ajude a atender com precisão os pedidos do Poder Judiciário. Por isso, constituo meu “tradutor” o Dr. Miguel da Costa Carvalho Vidigal, advogado, que saberá dar respostas jurídicas pertinentes ao assunto. Ainda não obtivemos acesso aos autos, o qual esperamos obter nos próximos dias", declarou.

•        Quem é o padre José Eduardo

Integrante da ala conservadora da Igreja Católica, o padre José Eduardo comemora 18 anos de sacerdócio em 2024. Ele é o pároco oficial da Paróquia São Domingos – o Pregador – no bairro de Umuarama, em Osasco.

Doutor em Teologia Moral pela Pontifícia Universidade da Santa Cruz (Roma, Itália), é conhecido nas redes sociais por gravar vídeos no Youtube discutindo guerra cultural, aborto e a influência ruim das músicas e divas pop na vida de crianças e adolescentes.

Entre os alvos preferidos do padre estão as cantoras Madonna e Luiza Sonza, em que ele analisa a letra das músicas e o simbolismo de clipes de canções como “Campo de Morango”.

“É de uma baixaria que a gente fica realmente constrangido”, disse.

“Não é apenas a letra [das músicas] que diz coisas. Mas é a harmonia, o ritmo e a melodia. Uma música de amor que tem uma batida sensual, ela está falando de amor em termos libidinosos. Na melodia está embutida uma mensagem sexual que não está embutida na letra. [...]Se uma melodia não tem uma inspiração divina, ela tem uma inspiração humana ou demoníaca?”, argumentou o padre em vídeo gravado em 7 de agosto do ano passado.

Entre as pautas que o padre mais gosta de comentar é o aborto: “Você tem pessoas tão loucas que elas são abortistas e veganas. São a favor de que se matem os bebês no ventre de suas mães, mas são totalmente contra o extermínio de animais para o consumo”, declarou ele em outro vídeo.

•        "Chatólicos"

O padre também frequenta canais e podcast de grande repercussão na extrema direita, como os produtos da produtora Brasil Paralelo e o canal do economista bolsonarista Rodrigo Constantino.

Nos textos em que mantém no seu site pessoal, o padre também alerta os fiéis católicos contra os colegas de igreja que ele chama de “chatólicos”.

Entre as características desse tipo de cristão, segundo o religioso, estão o seguinte:

“O fulano que se converteu ontem, mas já se considera o próprio martelo dos hereges; justificam toda agressividade, desde que ungida com uma pretensa defesa da fé, em nome da qual cometem calúnias e difamações, além de muita desonestidade intelectual; Participam da liturgia como censores, mais preocupados com os eventuais erros cometidos pelo celebrante que com a edificação de sua alma; vivem de sensacionalismo escatológico, assustando “os outros com revelações particulares e especulações irresponsáveis sobre o capiroto”, escreveu.

 

       PF chega ao 'gênio de Uberlândia' que ajudou PL a questionar urnas, e aponta conexão com influenciador argentino

 

Um dos alvos da investigação da Polícia Federal desta quarta-feira (8), sobre uma tentativa de golpe de Estado, é Eder Balbino, dono de uma empresa de tecnologia da informação sediada em Uberlândia (MG). A companhia auxiliou na produção do estudo que levou o PL a contestar as urnas após o segundo turno.

Quando Valdemar da Costa Neto questionou as urnas junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 2022, ele disse, em entrevista coletiva, que teve a ajuda de "um gênio de Uberlândia". Segundo a investigação, esse gênio seria Eder Balbino.

A PF encontrou uma conexão entre Balbino e o argentino Fernando Cerimedo, que ganhou notoriedade ao fazer uma live em 4 de novembro de 2022. À ocasião, ele apontou supostas fraudes – infundadas – na eleição brasileira.

A live de Cerimedo repercutiu muito entre os eleitores de Bolsonaro e alimentou discursos golpistas. Cerimedo é apoiador do presidente Javier Milei na Argentina.

A decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes que autorizou a operação desta quinta diz: "descobriu-se que o investigado Eder Lindsay Magalhães Balbino, sócio da empresa Gaio.io, com sede em Uberlândia/MG, foi o responsável por subsidiar o 'estudo' apresentado por Fernando Cerimedo em sua live".

A investigação da PF chegou na conexão entre Balbino e Cerimedo porque, na transmissão, o argentino disponibilizou uma pasta com arquivos que "provariam" a existência da alegada fraude nas urnas brasileiras.

Uma dessas pastas de arquivos havia sido editada pela última vez por um usuário de nome "Eder Balbino" -- informação que ficou aparente e deixou um rastro seguido pela PF.

Além desse rastro, a Polícia Federal apontou ao STF a existência de uma conversa em que um empresário também investigado, Paulo Renato de Oliveira Figueiredo Filho, pede a Mauro Cid, então ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, o contato do argentino Cerimedo.

A decisão de Moraes diz ainda que a empresa de Balbino colaborou com o relatório produzido pelo Instituto Voto Legal (IVL), entidade contratada e paga diretamente com recursos do fundo partidário pelo Partido Liberal.

"A Gaio.io foi citada nove vezes no relatório técnico apresentado pelo Instituto Voto Legal (IVL) que baseou o pedido de anulação dos votos das urnas antigas feito junto ao TSE no dia 22.11.2022", diz Moraes.

Segundo a decisão, o PL fez um pagamento de R$ 1,2 milhão ao IVL, em cinco parcelas de R$ 225 mil.

•        O que diz Eder Balbino

Em entrevista ao g1 em dezembro passado, Balbino negou que tenha produzido conteúdo contra as urnas para o PL.

Ele afirmou que sua empresa, a Gaio, apenas forneceu um software de processamento de dados que foi usado pelos técnicos que o partido de Valdemar contratou para analisar as urnas.

Balbino foi alvo de buscas nesta manhã, junto com outros suspeitos de integrar o núcleo responsável por produzir desinformação sobre as urnas.

 

       Militar alvo de mandado de prisão por tentativa de golpe está fora do Brasil

 

Todos os militares que foram alvos da Operação Tempus Veritatis, deflagrada nesta quinta-feira (8) pela Polícia Federal deverão entregar seus passaportes e não poderão sair do país ou manter contato com os demais investigados.

Um dos alvos de mandado de prisão preventiva é o coronel Bernardo Romão Corrêa Netto, que está fora do país. Ele foi mandado aos EUA no dia 30 de dezembro de 2022 e, por conta disso, a Polícia Federal comunicou o comando do Exército para que ele se apresente ao Brasil. Tecnicamente, ele é considerado foragido.

De acordo com as investigações, Correa Neto é suspeito de ter empregado técnicas de militares com formação em Forças Especiais para direcionarem as manifestações nas portas dos quartéis e nos atos voltados às invasões no 8 de janeiro 2023.

Segundo a PF, a permanência de Correa Neto nos Estados Unidos "somada as circunstâncias da designação da missão, que somente foi publicada no fim do governo anterior" demonstram indícios de que o militar agiu para escapar do alcance de investigações e, em consequência, da aplicação de medidas de responsabilização criminal. Por esses motivos, a Polícia Federal pediu a prisão preventiva dele.

Na mira da PF estão 16 militares das Forças Armadas que, segundo as investigações, teriam participado da elaboração de um golpe de Estado para manter o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no poder.

Foram presos nesta quinta o major Martins de Oliveira, comandante do batalhão de Niterói (RJ), levado para a custódia do Exército no Rio de Janeiro, e o coronel da reserva Marcelo Costa Câmara, que ficará em Brasília sob custódia do Exército.

 

Fonte: g1

 

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