sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

Análise do Santo Sudário feita em 1989 pode estar errada

O Santo Sudário é uma das relíquias religiosas mais misteriosas da história. Esse pedaço de linho contendo traços da imagem de um homem é apontado como o tecido que cobriu Jesus Cristo após sua morte.

O sudário pertenceu desde 1357 à Casa de Saboia, uma antiga família italiana, e em 1987 foi doado ao Vaticano. Hoje a relíquia está guardada na Catedral de Turim, na Itália, e raramente é exibida. A última vez que o público teve a oportunidade de ver o tecido em exibição foi em 2015.

Agora, cientistas da França e da Itália publicaram um artigo contestando uma análise feita no sudário em 1989. Naquela época, três universidades ganharam acesso a fragmentos do tecido para estudos: Universidade do Arizona (EUA), Instituto Federal de Tecnologia da Suíça e a Universidade de Oxford, no Reino Unido. Os dados foram centralizados pelo Museu Britânico.

Após todos os estudos serem concluídos, houve um consenso entre as entidades que as amostras do tecido datavam de algum período entre 1260 e 1390. Ou seja, eles não seriam da mesma época em que viveu Jesus Cristo. Depois disso, o Vaticano proibiu que outras instituições tivessem acesso ao sudário.

Para esse estudo mais recente, um grupo de pesquisadores da Universidade da Catania, entre outras instituições, entrou com um pedido na justiça em 2017 para que o Museu Britânico liberasse os dados.

Depois de dois anos de análise das informações, os pesquisadores concluíram que os resultados da pesquisa de 1989 não podem ser considerados definitivos, pois foram analisados somente fragmentos do tecido, e não o sudário inteiro, e que as amostras não seriam homogêneas.

Existem indícios de que, durante a Idade Média, alguns fragmentos do sudário teriam sido manipulados por freiras na tentativa de remendar danos causados ao tecido ao longo do tempo. Se isso foi verdade, essa manipulação pode ter afetado o resultado do estudo de 1989.

Portanto, os cientistas defendem que o Vaticano libere o acesso ao Santo Sudário para que novas análises sejam feitas para determinar a verdadeira idade da relíquia.

O novo estudo foi publicado em março na revista científica Archaeometry, da Universidade de Oxford.

 

       Cientistas retraçam a origem da misteriosa “tábua de Nazaré”

 

A “inscrição de Nazaré”, um tablete de mármore com 60 centímetros de altura que alertava ladrões de sepulturas para se manterem longe de túmulos logo após o desaparecimento do corpo de Jesus, provavelmente não é o que parece. Essa é a conclusão de uma nova análise química do mármore, abordada no site da revista “Science”, segundo a qual o objeto tem origem na Grécia, e não no Oriente Médio. Aparentemente, a “inscrição de Nazaré” foi criada para guardar o túmulo de um tirano grego que morreu algumas décadas antes de Cristo.

Wilhelm Froehner, ex-curador do Museu do Louvre, adquiriu a placa em Paris em 1878, provavelmente de um negociante de antiguidades da Grécia ou do Oriente Médio. A peça permaneceu em sua coleção particular até sua morte; estava acompanhada por uma nota de que “veio de Nazaré”. Baseado nela, o arqueólogo francês Franz Cumont sugeriu em 1930 que o tablete estaria relacionado ao desaparecimento de Jesus.

Nas 22 linhas em grego inscritas na tabuleta há um “Édito de César”, no qual o imperador ameaça com a pena de morte quem rouba a sepultura ou “expulsa as pessoas enterradas ali”. Isso foi interpretado por alguns estudiosos da Bíblia como uma reação do imperador romano às notícias de que o corpo de Jesus não estava em seu túmulo e às reivindicações de sua ressurreição.

O epigrafista John Bodel, da Universidade Brown (EUA), que não participou do novo estudo, observou que a placa foi considerada por muitos estudiosos da Bíblia o artefato físico mais antigo conectado ao cristianismo. Mas epigrafistas afirmaram mais recentemente que o grego usado na inscrição era raro fora da Grécia e da Turquia. Para Bodel, o tablete provavelmente não teve nada a ver com o cristianismo primitivo.

Pedreira em Kos

Intrigado com esse debate desde que fazia pós-graduação, o historiador Kyle Harper decidiu testar as hipóteses concorrentes com a ajuda de geoquímicos da Universidade de Oklahoma em Norman (EUA), onde ele é reitor.

Depois de obterem permissão da Biblioteca Nacional da França (onde a peça está guardada) para extrair uma amostra da parte traseira do tablete, os geoquímicos converteram 1 miligrama do mármore em pó e usaram ablação a laser para liberar o gás dos minerais do mármore. Ao medirem as proporções de isótopos de carbono e oxigênio, eles capturaram a impressão digital química única do mármore. A assinatura química da placa coincidiu com a do mármore branco de uma pequena pedreira na ilha grega de Kos, na costa da Turquia, informa a equipe na edição de abril da revista “Journal of Archaeological Science”.

A descoberta prova que a peça “não é de Nazaré”, diz Bodel. Ele reconhece que o método não exclui um cenário em que a pedra tenha sido transportada de Kos e depois recebido as inscrições. Mas, segundo Bodel, o tipo de mármore grego usado torna altamente improvável que as inscrições tenham sido feitas em Nazaré ou nas suas proximidades.

Com base no estilo da inscrição e na idade da pedreira, Harper e colegas propõem que a placa foi esculpida no primeiro século antes de Cristo por um governante em Kos conhecido como Nikias, o Tirano. Algum tempo depois de sua morte, por volta de 20 a.C., cidadãos furiosos de Kos abriram sua tumba e arrastaram seu cadáver, de acordo com um antigo poema grego.

O então imperador Augusto, que conhecia Nikias, pode ter ordenado que a tabuleta restabelecesse a lei e a ordem na região, especula Harper. Sua equipe pretende usar análises estáveis de isótopos em outros artefatos de mármore romano e grego. “Queremos aplicar isso a outras histórias”, afirmou o historiador.

 

Fonte: Planeta

 

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