sábado, 10 de fevereiro de 2024

6 momentos-chave da reunião de Bolsonaro e ministros em 2022

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, tornou pública na sexta-feira (9/2) a gravação de uma reunião de Jair Bolsonaro e parte de seus ministros em julho de 2022 na qual o hoje ex-presidente insta os participantes a fazer "alguma coisa antes" das eleições daquele ano, ou seria tarde demais para impedir o que estava "pintado" segundo ele: uma vitória de Luiz Inácio Lula da Silva, atribuída por ele a uma suposta fraude.

O vídeo da reunião é parte dos elementos de um inquérito que investiga Bolsonaro e aliados sob acusação de "tentativa de golpe de Estado e abolição violenta do Estado democrático de direito" para impedir a posse de Lula.

A gravação do encontro estava, segundo a Polícia Federal, entre os materiais apreendidos no computador de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro que agora colabora com as investigações. Tenente-coronel, Cid fechou um acordo de delação premiada com as autoridades.

Outros investigados pela PF por suposta tentativa de golpe, como o general Augusto Heleno, então ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), também estão no vídeo. Em um dos momentos, Heleno fala: "Se tiver que virar a mesa, tem que ser antes das eleições".

Alvo da operação da PF sobre o tema, Bolsonaro diz em resposta que está sofrendo uma "perseguição implacável" e nega qualquer articulação para promover um golpe de Estado.

A BBC News Brasil buscou Heleno em seu celular pessoal, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem.

Veja abaixo 6 momentos da reunião ministerial em julho de 2022:

·        1. 'Estão preparando tudo para Lula ganhar na fraude'

Na reunião, que aconteceu em 5 de julho de 2022, o então presidente Jair Bolsonaro acusa o Supremo e seus ministros de supostamente atuarem a favor de Lula, então candidato da oposição.

“Porque os caras estão preparando tudo para o Lula ganhar no primeiro turno. Na fraude. Vou mostrar como e por quê”, diz o então presidente.

Bolsonaro faz então referência a reunião que teria dias depois, no mesmo mês de julho de 2022, com dezenas de diplomatas no Palácio da Alvorada. Na ocasião, ele apresentou aos diplomatas estrangeiros falsas teorias sobre a insegurança das urnas e atacou ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e do Supremo.

O encontro com os representantes estrangeiros foi transmitido pelos meios de comunicação públicos e foi um dos elementos que levou o TSE a condenar Bolsonaro em 2023 e torná-lo inelegível.

"Alguém acredita em (ministro do Supremo Edson) Fachin, em (Luis Roberto) Barroso,em Alexandre de Moraes? Se acreditar levanta o braço. Acredita que são pessoas isentas? Que estão preocupados em fazer justiça, seguir a Constituição? De tudo o que vocês estão vendo?"

·        2. 'Vai ter o caos no Brasil'

Em outro momento da reunião, Bolsonaro diz que “se a gente reagir depois das eleições, vai ter o caos no Brasil”. “Vai virar uma grande guerrilha, uma fogueira o Brasil.”

Bolsonaro não elabora o que seria “reagir” após o resultado eleitoral.

“Agora, quem tem dúvida de que a esquerda, como está indo, vai ganhar as eleições? Não adianta eu ter 80% dos votos. Eles vão ganhar as eleições”, disse ele, sugerindo mais uma vez, sem apresentar provas, de que havia risco de fraude no sistema eleitoral.

·        3. 'A gente vai ter que fazer alguma coisa antes'

Jair Bolsonaro insta os presentes a fazer “alguma coisa antes” da votação daquele ano, marcada para 2 de outubro, para evitar um resultado que ele dizia estar “pintado”, a sua derrota nas urnas.

“Todos aqui tem uma inteligência bem acima da média. Não podemos deixar chegar as eleições, acontecer o que está pintado, está pintado”, afirmou. “A gente vai ter que fazer alguma coisa antes”, segue, sem elaborar quais seriam as ações.

Ouviam o discurso os ministros do GSI, Augusto Heleno, da Defesa, Paulo Nogueira, da Justiça, Anderson Torres, todos também investigados pela PF por suposta tentativa de golpe de Estado.

Na reunião também estavam os ministros da Economia, Paulo Guedes, e das Minas e Energia, Adolfo Sachsida, entre outros.

·        4 - 'A OAB vai dar credibilidade para a gente'

Em outro trecho, Bolsonaro diz que precisa de ajuda para formalizar em um documento que não havia condições para realizar eleições com “lisura” no Brasil e pede que todos os presentes endossem essa eventual nota conjunta. Diz ainda que esperava contar com uma declaração neste sentido da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). Não há indícios de que a OAB tenha considerado declarar que o sistema eleitoral brasileiro não era confiável.

“A OAB vai dar credibilidade pra gente, tá? Polícia Federal...”, afirma Bolsonaro, que considera que as condições de garantir lisura no pleito “são simplesmente impossíveis de serem atingidas”.

·        5- 'O TSE cometeu um erro quando convidou as Forças Armadas a participar da comissão'

Bolsonaro também ironiza o fato de o TSE ter convidado as Forças Armadas para fazer parte da Comissão de Transparência das Eleições (CTE), que criada em setembro de 2021 pelo então presidente do tribunal, Luiz Roberto Barroso.

A comissão tinha o objetivo de receber sugestões de diversas entidades da sociedade para ampliar a segurança do processo eleitoral, mas a presença dos militares acabou provocando mais tensões.

“O TSE cometeu um erro quando convidou as Forças Armadas a participar da Comissão de Transparência Eleitoral. Cometeu um erro. Eles erraram. Pra nós, foi excelente. Eles se esqueceram que eu sou o chefe supremo das Forças Armadas?”, afirma.

Durante os meses prévios da eleição, os militares na comissão questionaram característica da votação eletrônica. Após a votação, entregam um relatório no qual disseram não ter detectado fraude, mas também pediram a avaliação “com urgência” de supostas vulnerabilidades hipotéticas no sistema eleitoral.

·        6 – 'Se tiver que virar a mesa, tem que ser antes das eleições'

Durante a reunião, o então ministro do GSI, general da reserva Augusto Heleno, diz que é preciso agir antes das eleições, também sem elaborar.

“Acho que as coisas têm que ser feitas antes das eleições. Vai chegar um ponto em que não vamos poder mais falar, vamos ter que agir. Agir contra determinadas instituições e determinadas pessoas, isso para mim é muito claro”, diz Heleno.

“Se tiver que virar a mesa, tem que ser antes das eleições”, afirma, também sem entrar em detalhes sobre o que seria “virar a mesa”.

Em outro momento, Heleno cogita inflitrar agentes da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) em campanhas adversárias e menciona o risco de que essa informação vaze. Bolsonaro pede que ele não siga falando do tema na reunião, indicando que poderiam falar reservadamente depois.

No momento, integrantes do governo Bolsonaro estão sendo investigados por supostamente montarem um esquema ilegal de monitoramento de adversários conhecido como “Abin paralela”. Todos os citados negam ter cometido irregularidades.

 

Fonte: BBC News Brasil

 

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