6
momentos-chave da reunião de Bolsonaro e ministros em 2022
O ministro
do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, tornou pública na
sexta-feira (9/2) a gravação de uma reunião de Jair Bolsonaro e parte de seus
ministros em julho de 2022 na qual o hoje ex-presidente insta os participantes
a fazer "alguma coisa antes" das eleições daquele ano, ou seria tarde
demais para impedir o que estava "pintado" segundo ele: uma vitória
de Luiz Inácio Lula da Silva, atribuída por ele a uma suposta fraude.
O vídeo da
reunião é parte dos elementos de um inquérito que investiga Bolsonaro e aliados
sob acusação de "tentativa de golpe de Estado e abolição violenta do
Estado democrático de direito" para impedir a posse de Lula.
A gravação
do encontro estava, segundo a Polícia Federal, entre os materiais apreendidos
no computador de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro que agora
colabora com as investigações. Tenente-coronel, Cid fechou um acordo de delação
premiada com as autoridades.
Outros
investigados pela PF por suposta tentativa de golpe, como o general Augusto
Heleno, então ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), também
estão no vídeo. Em um dos momentos, Heleno fala: "Se tiver que virar a
mesa, tem que ser antes das eleições".
Alvo da
operação da PF sobre o tema, Bolsonaro diz em resposta que está sofrendo uma
"perseguição implacável" e nega qualquer articulação para promover um
golpe de Estado.
A BBC News
Brasil buscou Heleno em seu celular pessoal, mas não obteve resposta até a
publicação desta reportagem.
Veja
abaixo 6 momentos da reunião ministerial em julho de 2022:
·
1. 'Estão preparando
tudo para Lula ganhar na fraude'
Na
reunião, que aconteceu em 5 de julho de 2022, o então presidente Jair Bolsonaro
acusa o Supremo e seus ministros de supostamente atuarem a favor de Lula, então
candidato da oposição.
“Porque os
caras estão preparando tudo para o Lula ganhar no primeiro turno. Na fraude.
Vou mostrar como e por quê”, diz o então presidente.
Bolsonaro
faz então referência a reunião que teria dias depois, no mesmo mês de julho de
2022, com dezenas de diplomatas no Palácio da Alvorada. Na ocasião, ele
apresentou aos diplomatas estrangeiros falsas teorias sobre a insegurança das
urnas e atacou ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e do Supremo.
O encontro
com os representantes estrangeiros foi transmitido pelos meios de comunicação
públicos e foi um dos elementos que levou o TSE a condenar Bolsonaro em 2023 e
torná-lo inelegível.
"Alguém
acredita em (ministro do Supremo Edson) Fachin, em (Luis Roberto) Barroso,em
Alexandre de Moraes? Se acreditar levanta o braço. Acredita que são pessoas
isentas? Que estão preocupados em fazer justiça, seguir a Constituição? De tudo
o que vocês estão vendo?"
·
2. 'Vai ter o caos no
Brasil'
Em outro
momento da reunião, Bolsonaro diz que “se a gente reagir depois das eleições,
vai ter o caos no Brasil”. “Vai virar uma grande guerrilha, uma fogueira o
Brasil.”
Bolsonaro
não elabora o que seria “reagir” após o resultado eleitoral.
“Agora,
quem tem dúvida de que a esquerda, como está indo, vai ganhar as eleições? Não
adianta eu ter 80% dos votos. Eles vão ganhar as eleições”, disse ele,
sugerindo mais uma vez, sem apresentar provas, de que havia risco de fraude no
sistema eleitoral.
·
3. 'A gente vai ter
que fazer alguma coisa antes'
Jair
Bolsonaro insta os presentes a fazer “alguma coisa antes” da votação daquele
ano, marcada para 2 de outubro, para evitar um resultado que ele dizia estar
“pintado”, a sua derrota nas urnas.
“Todos
aqui tem uma inteligência bem acima da média. Não podemos deixar chegar as
eleições, acontecer o que está pintado, está pintado”, afirmou. “A gente vai
ter que fazer alguma coisa antes”, segue, sem elaborar quais seriam as ações.
Ouviam o
discurso os ministros do GSI, Augusto Heleno, da Defesa, Paulo Nogueira, da
Justiça, Anderson Torres, todos também investigados pela PF por suposta
tentativa de golpe de Estado.
Na reunião
também estavam os ministros da Economia, Paulo Guedes, e das Minas e Energia,
Adolfo Sachsida, entre outros.
·
4 - 'A OAB vai dar
credibilidade para a gente'
Em outro
trecho, Bolsonaro diz que precisa de ajuda para formalizar em um documento que
não havia condições para realizar eleições com “lisura” no Brasil e pede que
todos os presentes endossem essa eventual nota conjunta. Diz ainda que esperava
contar com uma declaração neste sentido da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).
Não há indícios de que a OAB tenha considerado declarar que o sistema eleitoral
brasileiro não era confiável.
“A OAB vai
dar credibilidade pra gente, tá? Polícia Federal...”, afirma Bolsonaro, que
considera que as condições de garantir lisura no pleito “são simplesmente
impossíveis de serem atingidas”.
·
5- 'O TSE cometeu um
erro quando convidou as Forças Armadas a participar da comissão'
Bolsonaro
também ironiza o fato de o TSE ter convidado as Forças Armadas para fazer parte
da Comissão de Transparência das Eleições (CTE), que criada em setembro de 2021
pelo então presidente do tribunal, Luiz Roberto Barroso.
A comissão
tinha o objetivo de receber sugestões de diversas entidades da sociedade para
ampliar a segurança do processo eleitoral, mas a presença dos militares acabou
provocando mais tensões.
“O TSE
cometeu um erro quando convidou as Forças Armadas a participar da Comissão de
Transparência Eleitoral. Cometeu um erro. Eles erraram. Pra nós, foi excelente.
Eles se esqueceram que eu sou o chefe supremo das Forças Armadas?”, afirma.
Durante os
meses prévios da eleição, os militares na comissão questionaram característica
da votação eletrônica. Após a votação, entregam um relatório no qual disseram
não ter detectado fraude, mas também pediram a avaliação “com urgência” de
supostas vulnerabilidades hipotéticas no sistema eleitoral.
·
6 – 'Se tiver que
virar a mesa, tem que ser antes das eleições'
Durante a
reunião, o então ministro do GSI, general da reserva Augusto Heleno, diz que é
preciso agir antes das eleições, também sem elaborar.
“Acho que
as coisas têm que ser feitas antes das eleições. Vai chegar um ponto em que não
vamos poder mais falar, vamos ter que agir. Agir contra determinadas
instituições e determinadas pessoas, isso para mim é muito claro”, diz Heleno.
“Se tiver
que virar a mesa, tem que ser antes das eleições”, afirma, também sem entrar em
detalhes sobre o que seria “virar a mesa”.
Em outro
momento, Heleno cogita inflitrar agentes da Abin (Agência Brasileira de
Inteligência) em campanhas adversárias e menciona o risco de que essa
informação vaze. Bolsonaro pede que ele não siga falando do tema na reunião,
indicando que poderiam falar reservadamente depois.
No
momento, integrantes do governo Bolsonaro estão sendo investigados por
supostamente montarem um esquema ilegal de monitoramento de adversários
conhecido como “Abin paralela”. Todos os citados negam ter cometido
irregularidades.
Fonte: BBC
News Brasil
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