Os 7 princípios-chave para ser influente e
persuadir os outros
Certo dia, Robert
Cialdini estava no seu dormitório na universidade, quando atendeu outro
estudante, que vendia assinaturas da revista Sports Illustrated.
"Eu era um aluno
que mal comia, não tinha muita renda livre", relembra ele. "Por isso,
não iria comprar a revista."
Mas o rapaz era
persistente. Ele disse que Cialdini estaria perdendo uma venda única, que
duraria apenas aquele fim de semana.
Ele destacou que os
principais especialistas no assunto tinham excelente impressão sobre a revista.
E mencionou casualmente que ele já havia vendido muitas assinaturas para outros
residentes.
Cialdini acabou
cedendo. E, quando o rapaz saiu, ele se reclinou contra a porta e só então
percebeu o que havia acabado de acontecer.
"Eu pensei: 'você
gastou o seu dinheiro e não foi pelas qualidades do produto – foi pela forma de
apresentação'", relembra Cialdini. "E pensei 'Não é interessante? Não
vale a pena estudar?'"
A curiosidade de
Cialdini o levaria a escrever o livro O Poder da Persuasão (Ed. Elsevier,
2006), publicado originalmente em 1984.
Combinando a pesquisa
acadêmica sobre ciências comportamentais com estudos de casos pertinentes e sua
experiência pessoal, seu livro terá possivelmente criado o padrão para autores
do "pensamento inteligente", como Charles Duhigg, Adam Grant e James
Clear.
Depois de diversas
edições atualizadas, o livro já vendeu mais de sete milhões de cópias, segundo
seus editores.
No 40º aniversário de
lançamento de O Poder da Persuasão, eu me sentei com Cialdini em um hotel de
Londres para discutir a concepção e os impactos causados pelo livro.
Também conversamos
sobre como a psicologia da persuasão evoluiu nas décadas seguintes à sua
primeira publicação e suas implicações na polarizada sociedade atual.
• Os seis princípios da persuasão
Como parte da sua
pesquisa, Cialdini decidiu passar algum tempo estudando pessoas que ele definiu
como "profissionais da conformidade" – trabalhadores da área de
vendas, marketing, recrutamento e levantamento de fundos, cujo sustento depende
de mudar a opinião dos outros.
Em muitos casos, este
trabalho envolveu entrevistas formais. Em outros, o autor trabalhou
"disfarçado", como candidato a empregos e aprendendo os macetes da
profissão com seus colegas.
"Quando você
encontra o seu efeito no campo, você sabe que ele é importante", destaca
ele.
Pedi a Cialdini que
indicasse uma experiência marcante. Ele conta que acompanhou um vendedor
brilhante que oferecia de porta em porta alarmes contra incêndio acionados por
calor.
Nas suas visitas, o
mentor de Cialdini levava um grande catálogo, detalhando os diferentes
produtos, mas sempre deixava no carro. Enquanto os moradores das casas faziam o
teste de segurança da residência, ele pedia para pegar as chaves emprestadas
para poder ir buscar o livro e voltar para a casa.
"Era a única
coisa que ele fazia diferente", conta o escritor. E, depois de perguntar
repetidas vezes, o vendedor acabou explicando seu raciocínio.
"Ele disse 'Bob,
em quem você confia? Você confia nas pessoas que você deixa entrar e sair da
sua casa sozinhas e eu queria ficar associado com aquilo'", relembra
Cialdini. "E me lembro de pensar 'uau, este cara entende o comportamento
humano'."
Depois de três anos
comparando as experiências com as pesquisas publicadas, Cialdini identificou
seis princípios globais que, aparentemente, orientam qualquer campanha de
persuasão. São eles:
• Escassez
• Autoridade
• Prova social
• Simpatia
• Reciprocidade
• Compromisso e coerência
O estudante que vendia
a revista Sports Illustrated demonstra perfeitamente três destes princípios.
A venda por tempo limitado
cria o sentimento de escassez. É a sensação de que estamos concorrendo por um
recurso limitado e o temor de que podemos estar a ponto de perder uma
oportunidade.
O estudante também
apelou à autoridade, mencionando todos os especialistas que leem a revista. E
ele ofereceu a prova social – a evidência de que outras pessoas como nós estão
tomando a mesma decisão, descrevendo quantos colegas de Cialdini haviam aceitado
a oferta.
Esta não é apenas uma
questão de conformidade, mas ela também faz parte do processo. "Ela
demonstra que a ação é válida e que sua realização é viável", explica
Cialdini.
Já em relação à prova
social, hoje podemos observar sua importância em diversos cenários.
Podemos ficar mais
dispostos a baixar uma música, por exemplo, se soubermos que ela é popular
entre outros ouvintes. E as pessoas ficavam mais propensas a usar máscaras
durante a pandemia de covid-19, quando viam os demais fazendo o mesmo.
O princípio da
simpatia diz que somos mais propensos a concordar com as sugestões ou
exigências de alguém se passarmos a gostar daquela pessoa. Pode parecer óbvio,
mas uma rápida análise das provocações existentes nos debates políticos indica
que muitas pessoas não colocam esta ideia em prática quando tentam convencer os
demais sobre as suas opiniões.
Na primeira edição do
seu livro, Cialdini mencionou estudos sobre as "festas da Tupperware"
– um modelo comercial em que um membro de uma comunidade pode ganhar comissão
promovendo reuniões e vendendo os recipientes de cozinha.
Pesquisas mostraram
que, quanto maior fosse a conexão social das pessoas com o anfitrião, maior a
probabilidade de que eles comprassem os produtos, independente da sua qualidade
ou das suas características.
A reciprocidade é
definida pela expressão "uma mão lava a outra". Mas, no quesito
influência, Cialdini demonstrou que favores muito pequenos podem render grandes
dividendos.
Um exemplo é o famoso
experimento da "Coca-Cola". Nele, o psicólogo Dennis Regan convidou
participantes a visitar o seu laboratório. Sua tarefa era avaliar pinturas.
Em uma etapa do
experimento, Joe – apresentado como um dos participantes, mas, na verdade, um
assistente de pesquisa – saía do laboratório por um minuto. Em alguns casos,
ele voltava com duas garrafas de Coca-Cola, uma para ele e outra para o
participante real. Em outros, ele voltava sem nada.
Depois que o
experimento supostamente havia acabado, Joe perguntava ao participante se ele
gostaria de comprar bilhetes de rifa que ele estava vendendo. E seu
comportamento anterior tinha grande influência sobre as decisões do colega.
Quando Joe praticava
aquele pequeno ato de generosidade, comprando a garrafa adicional de Coca-Cola,
os participantes compravam consideravelmente mais bilhetes.
E o principal é que
isso acontecia até quando os participantes ouviam Joe maltratar alguém no
início do experimento. Neste caso, a reciprocidade aparentemente superava a
simpatia.
Por fim, existem o
compromisso e a coerência.
"Quando fazemos
uma escolha ou tomamos uma posição, enfrentamos pressões pessoais e
interpessoais para pensar e nos comportar consistentemente de acordo com aquele
compromisso", explica Cialdini.
O simples ato de
perguntarmos a uma pessoa se ela irá votar, por exemplo, pode aumentar as
chances de que ela compareça às urnas. Deixar de votar pareceria inconsistente
e causaria uma desconfortável sensação de "dissonância cognitiva".
• O poder da unidade
Nas edições
atualizadas do seu livro, Cialdini acrescentou um sétimo princípio: a unidade,
que faz com que as pessoas "sejam inclinadas a dizer sim para alguém que
elas consideram um deles."
Ele conta que foi
parcialmente inspirado pelo aumento do tribalismo que ele observa na sociedade.
"Sempre
considerei a unidade um amplificador: se você tivesse unidade, a escassez ou a
prova social seriam mais poderosas. Mas comecei a ver que ela [a unidade] tem
uma força independente de qualquer uma das demais."
Cialdini indica um
estudo sobre levantamento de fundos em um campus universitário. Nele, uma jovem
pede contribuições para uma organização beneficente. "Quando ela começava
seu pedido dizendo 'sou estudante', as contribuições recebidas aumentavam em
450%", segundo ele.
Cialdini também
conhece a influência da unidade na sua própria vida pessoal.
"Pouco tempo
atrás, li no jornal um artigo sobre celebridades que torcem por diversos times
de futebol americano e fiquei sabendo que Justin Timberlake e Lil Wayne são
torcedores apaixonados do [time] Green Bay Packers", ele conta.
"Imediatamente, passei a apreciar mais a sua música e desejei que eles
tivessem sucesso no futuro."
Perguntei a Cialdini
se seus estudos sobre a persuasão o prepararam contra a manipulação de
vendedores espertos. Será que ele ainda se considera ingênuo?
Cialdini responde que
sua reação aos ataques de sedução das pessoas depende da confiabilidade das
informações sendo transmitidas.
"Quando é um
golpe, estou preparado para dizer não", diz ele. Mas, se as informações
forem honestas e fundamentadas, "sou mais propenso a dizer sim, pois estes
princípios podem nos orientar corretamente".
Cialdini destaca que é
perfeitamente racional verificar se um produto é popular entre outras pessoas,
por exemplo, o que aumenta a chance de ter apelo pessoal.
"E eu teria sido
insensato se não soubesse qual é o consenso entre as verdadeiras autoridades
sobre este analgésico, este automóvel ou esta revista."
Esta parece ser uma
distinção importante. Se usarmos estes princípios honestamente, eles nos levam
a fornecer as informações mais relevantes para que alguém tome sua decisão.
"Você é
simplesmente informado ou instruído para a conformidade", segundo ele. E
Cialdini defende que toda pessoa que decidir aplicar os princípios de forma
desonesta precisará arcar com as consequências.
"Você acabará
sendo desmascarado como trapaceiro – e quem irá querer fazer negócios com você
de novo?"
• Política convincente
Nas décadas que se
seguiram ao lançamento de O Poder da Persuasão, o conselho de Cialdini foi
muito valorizado pelos líderes corporativos e também pelos políticos.
Ele trabalhou, por
exemplo, com o ex-presidente americano Barack Obama e com a ex-candidata
presidencial Hillary Clinton. Ele fez parte de um "time dos sonhos",
formado por psicólogos que assessoravam as campanhas presidenciais.
Uma das mudanças
sugeridas pela equipe foi a forma de divulgação das doações da campanha. Em vez
de fornecer o total arredondado do dinheiro recebido, eles passaram a informar
o número total de pessoas que contribuíram.
"Isso fornece a
prova social", explica Cialdini. "O número informa que existem muitas
outras pessoas que decidiram entrar em ação e que você deveria prestar atenção
naquilo."
Ele conta que seus
serviços nem sempre foram bem recebidos pelas pessoas próximas aos candidatos.
"Os consultores
tradicionais de campanha se sentiram ameaçados por estas informações
provenientes da comunidade acadêmica, a que eles não tinham acesso",
segundo ele. "Por isso, às vezes, eles ignoravam algumas das
orientações."
Perguntei a Cialdini
como poderíamos promover maior senso de unidade no mundo polarizado de hoje em
dia.
Ele não tem soluções
rápidas, mas sugere que todos nós podemos fazer um esforço maior para construir
pontes com as pessoas que têm opiniões contrárias às nossas.
"Forme os tipos
de conexão tradicionalmente associados ao parentesco ou à amizade",
orienta ele. Você pode, por exemplo, convidar um colega para jantar, mesmo se a
visão de mundo dele colidir com a sua.
"E você não os
trata como convidados. Você os trata como família e pede para eles ajudarem a
pôr e tirar a mesa."
Novamente, isso invoca
sentimentos de confiança e "nos permite reduzir a falta de
identificação".
Talvez você imagine
que estes diálogos irão gerar conflitos, mas as pesquisas psicológicas indicam
que, muitas vezes, formamos melhores laços com nossos "inimigos"
políticos do que pensamos.
Cialdini certamente
faz parecer fácil e acessível aplicar estes princípios psicológicos no nosso
dia a dia.
Saio da entrevista com
a sensação de que, agora, consigo entender muito melhor as formas de melhorar
minhas comunicações e as estratégias que outras pessoas podem usar para
influenciar meu pensamento.
Talvez seja fruto dos
seus poderes de influência, mas Cialdini me convenceu de que a psicologia da
persuasão é ainda mais relevante hoje em dia do que era em 1984.
Fonte: Por David
Robson, para BBC Future
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