Cidades inviáveis: por que tantos
municípios do Brasil não conseguem se sustentar
“Você já se perdeu por
aqui?”, brinca Augusto Manuel Merci, 66 anos, sobre o tamanho da cidade de Borá
(SP), onde ele mora e tem um bar.
O lugar é o segundo
município com menor população do Brasil, com 907 habitantes, atrás de Serra da Saudade
(MG), que tem 833 moradores segundo o Censo Demográfico 2022.
A cidade paulista
reproduz um padrão comum aos municípios brasileiros pequenos: uma baixa geração
de receitas próprias e forte dependência do Fundo de Participação dos Municípios
(FPM) — uma verba para as cidades prevista na Constituição e repassada da União
às prefeituras.
Em média, o FPM foi
responsável por 18,5% das receitas correntes dos municípios brasileiros em
2022, de acordo com o estudo "Multicidades 2024", encomendado pela
Frente Nacional de Prefeitas e Prefeitos (FNP).
Entretanto, em cidades
com até 10.188 habitantes, o percentual do FPM na receita chega em média a
45,1%.
Em Borá, no ano de
2023, 66% das receitas vieram do FPM.
Em outro extremo, São
Paulo, a capital do Estado onde fica Borá, tem o menor percentual no Brasil de
participação do FPM na receita, 0,6%.
O FPM é apenas um dos
repasses recebidos pelos municípios. Os Estados, por exemplo, também são
obrigados a transferir às prefeituras parte do Imposto sobre a Propriedade de
Veículos Automotores (IPVA) e do Imposto sobre Operações relativas à Circulação
de Mercadorias (ICMS) (leia mais abaixo).
Por ter uma atividade
econômica mais pujante, cidades maiores tendem a recolher maiores volumes de
tributos municipais e taxas: os impostos sobre Serviços (ISS); sobre a
Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU) e sobre Transmissão de Bens
Imóveis (ITBI), além de contribuições de melhorias, como a Contribuição de
Iluminação Pública (Cosip).
Entretanto, há
exceções no país, tanto de municípios relativamente pequenos que podem ter
maior autonomia financeira, quanto os grandes, que podem ter baixa autonomia.
Segundo um estudo da
Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) com dados de
2022, mais da metade dos municípios brasileiros tem uma situação “crítica” no
quesito autonomia para sustentar sua estrutura básica com a própria atividade
econômica.
De 0 a 1, sendo 1 a
melhor nota, a média dos municípios brasileiros foi de 0,4088 no indicador de
“Autonomia” do Índice Firjan de Gestão Fiscal (IFGF).
O indicador calcula se
as receitas correntes fruto da atividade econômica municipal suprem os custos
de manutenção da Prefeitura e da Câmara de Vereadores.
De 5.240 cidades
analisadas, 55,5% estão na pior classificação, em situação “crítica”; 9,7% em
situação “difícil”; 9,1% em situação “boa”; e 25,8% em situação “excelente”.
Um terço dos
municípios teve nota zero — ou seja, não tiveram receitas produzidas por sua
atividade econômica suficientes nem para sustentar a Prefeitura e a Câmara de
Vereadores.
As regiões Nordeste
(62,4%) e Norte (42,4%) têm a maior proporção de nota zero, seguidas de Sudeste
(15%), Centro-Oeste (11,4%) e Sul (5,9%).
Um dos municípios
brasileiros com nota zero é Borá.
Na pacata cidade do
oeste paulista onde parece ser difícil se perder, os moradores e até a
Prefeitura têm a esperança de aumentar a população — e com isso, agitar sua
atividade econômica, hoje resumida principalmente a uma usina de açúcar e
álcool, uma fábrica de ração animal e uma empresa de biotecnologia que produz
itens como fertilizantes.
Augusto Manuel, dono
de bar, diz que demora horas até alguém entrar em seu estabelecimento e comprar
uma bala que seja. Ele não tem funcionários e complementa a renda com uma
lavoura em seu sítio na cidade vizinha.
O proprietário conta
que nasceu na região, viveu em Borá entre 1986 e 1993 e voltou de vez em 2013.
Ele diz que não tem o que reclamar da saúde e do sossego na cidade, mas acha
que ela deveria receber empreendimentos para movimentá-la, como mais fábricas
ou até uma vila industrial.
“Precisa trazer
emprego. Hoje, o prefeito precisa dar ônibus para as pessoas trabalharem em
Paraguaçu [Paulista, município vizinho, com 41 mil habitantes]. Não tem um
escritório de contabilidade, não tem banco... Só tem a lotérica. Eu recebo
[valores] na maquininha [de cartão] e preciso ir lá em Paraguaçu buscar o
dinheiro”, diz Augusto Manoel.
Borá tem uma unidade
básica de saúde (UBS), uma creche e uma escola municipal. Além disso, conta com
um balneário público, quadras e até uma academia municipal, com aulas
gratuitas.
A babá Rayane Santana,
23 anos, frequenta a academia. Moradora de Borá desde os 3 anos, quando se
mudou de Maceió (AL) com os pais, ela conta que a maioria dos amigos já saiu da
pequena cidade em busca de outras oportunidades e reconhece que esse pode ser
seu futuro também, embora goste da tranquilidade do pequeno município.
Ela faz faculdade de
administração por ensino à distância.
“Em Borá, só usina ou
prefeitura”, resume a babá sobre as oportunidades de emprego na cidade.
“Mas saúde é uma
maravilha. Tudo é bom. Só para os jovens que não tem nada. Pra sair [à noite],
tem que ir para as cidades vizinhas."
Nas eleições
municipais de 2024, há apenas um candidato à prefeitura — o atual mandatário,
Luiz Carlos Rodrigues, que busca a reeleição. A BBC News Brasil tentou contato
com ele via e-mail, telefone e visita pessoal, mas não foi atendida.
Na eleição
atual, há 213 municípios brasileiros que só têm um candidato à
prefeitura.
Em Borá, há 27
candidatos para nove vagas de vereador.
Paulo Paiva,
economista e supervisor-geral (algo como um chefe de gabinete administrativo)
da Prefeitura de Borá, afirma que a administração municipal tem um convênio
quase formalizado para levar o programa habitacional Minha Casa, Minha Vida
para a cidade, o que, segundo ele, poderia trazer cerca de 200 habitantes para
o município.
Paiva acrescenta que,
até 2025, a Prefeitura também prevê contratar um auditor fiscal, o que
permitiria fazer um Código Tributário e, com isso, iniciar a formulação da
Planta Genérica de Valores (PGV) — a base para definir valores diferentes de
IPTU, por exemplo, de acordo com o tamanho e a localidade do imóvel.
Hoje, segundo Paiva,
cobra-se uma taxa básica de IPTU de todos os imóveis.
Outras receitas
municipais, como ISS e ITBI, acabam não rendendo tanto para o município por
conta da pouca atividade de serviços e transferências de imóveis, ele diz.
Cerca de 92% das
receitas correntes de Borá em 2023 (aproximadamente R$ 21 milhões) vieram de
transferências da União (72,2% das receitas), incluindo o FPM, e do Estado de
São Paulo (19,8% das receitas).
Segundo dados
levantados pela Firjan a pedido da BBC, a maior parte da receita própria do
município em 2023 veio do imposto retido na fonte dos salários de servidores e
pagamentos de fornecedores (cerca de R$ 389,9 mil), a que as cidades têm
direito.
Já o ISS arrecadou R$
223 mil para a cidade e o IPTU, apenas R$ 27,9 mil.
O supervisor-geral
Paulo Paiva argumenta que o município gera bastante ICMS, Imposto de Renda,
Imposto de Exportação e PIS/Cofins. Entretanto, o primeiro é recolhido pelo
Estado e os outros, pela União — só depois uma parte de alguns desses tributos
é repassada aos municípios, segundo critérios diversos.
“Se você olhar
realmente o que é arrecadado dentro do município, ele é subsistente”,
argumenta, afirmando que os índices econômicos podem ter falhas e defendendo
que a população de Borá tem boa qualidade de vida e acesso a serviços públicos.
·
Mais de 1.400 novos
municípios desde 1988
Borá era um distrito
de Paraguaçu Paulista e virou município em 1965.
Paiva reconhece que
projetos no Congresso que visam diminuir a quantidade de municípios pequenos no
Brasil, por exemplo com a fusão de cidades, geram temor na Prefeitura de Borá.
“Se o município vira
distrito, a população padece demais. Se a gente virasse distrito de Paraguaçu
Paulista, não sei se manteria aqui dentro um ginecologista, um pediatra, três
dentistas, dois fisioterapeutas...”, argumenta.
Já Jonathas Goulart,
gerente de estudos econômicos da Firjan, acredita que os dados existentes
mostram que o problema exige uma solução.
“Para o município
existir, ele precisa, pelo menos, gerar receita para financiar sua estrutura
administrativa mais básica. Porque senão, esse dinheiro que poderia ser
utilizado em educação, em saúde, em diversas coisas, vai ser utilizado para
financiar o salário da Câmara de Vereadores e da Prefeitura”, aponta Goulart.
Nayara Freire,
especialista em estudos econômicos da Firjan, afirma que houve nas últimas
décadas um “aumento muito grande no número de municípios com baixa autonomia”.
"São municípios
que não têm nenhuma estrutura para arrecadar impostos e nenhuma atividade
econômica suficiente para gerar, de fato, receitas. Então, esses municípios
ficaram muito dependentes de transferências, principalmente da União",
explica a especialista.
Desde a Constituição
de 1988, o Brasil viu a criação de 1.452 municípios, de acordo com a
Confederação Nacional de Municípios (CNM).
Uma emenda
constitucional de 1996 congelou o processo de criação de novos municípios — mas
outra emenda, de 2008, permitiu que processos de criação que já tivessem sido
iniciados fossem concluídos.
A União é obrigada
pela Constituição a repassar ao Fundo de Participação dos Municípios (FPM)
cerca de um quarto dos valores arrecadados com o Imposto de Renda (IR) e o
Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).
O FPM é distribuído
para os municípios através de uma combinação de características, principalmente
o tamanho da população, a renda per capita dos Estados e a diferenciação entre
municípios do interior versus capitais.
Pelo modelo atual, que
passará por mudanças na reforma tributária (leia mais abaixo), os
Estados são obrigados a repassar aos seus municípios 50% do Imposto sobre a
Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) e 25% do Imposto sobre Operações
relativas à Circulação de Mercadorias (ICMS).
Segundo dados
levantados pela FNP a pedido da BBC News Brasil, em 2023, 94,8% dos municípios
analisados (5.434 tinham dados disponíveis) tiveram 50% ou mais das suas
receitas correntes transferidas por entes externos, seja Estados ou União.
Cerca de 19% dos
municípios tinham dependência de 80% ou mais de transferências externas.
Esses repasses incluem
não só os impostos já citados, mas também transferências relativas a royalties,
ao Sistema Único de Saúde (SUS), ao Fundo Nacional de Desenvolvimento da
Educação (FNDE), entre outros.
O escopo desse dado é
diferente do IFGF da Firjan — que opta por considerar os impostos como ICMS e
IPVA como fruto da atividade econômica dos municípios, e não como um indicador
de mera dependência.
“Em geral, as cidades
[mais dependentes] têm um porte populacional mais baixo, estão afastadas da
área urbana, especialmente fora de área metropolitana, e não têm atividade
econômica muito desenvolvida", explica Kleber Castro, consultor econômico
da FNP.
“As cidades mais
autônomas são exatamente o oposto: têm maior atividade, maior concentração
populacional...”, enumera.
As diferenças entre as
regiões do Brasil têm a ver com o grau de atividade econômica, acrescenta
Castro.
Presidente da CNM,
Paulo Ziulkoski rejeita a pecha de dependente atribuída a muitos municípios
brasileiros. Ele diz que os repasses de ICMS ou FPM, por exemplo, não são
benevolência dos Estados ou da União, e sim uma obrigação constitucional.
Por uma série de
razões, são esses os entes a administrar os impostos, posteriormente repassando
um percentual aos municípios.
“É nosso recurso,
somos sócios do negócio. Apenas a administração está a cargo de alguém mais
habilitado ou adequado a maximizar o projeto no qual estamos inseridos”, afirma
Ziulkoski.
“Poderíamos inverter,
nós administrarmos o ICMS e transferir uma parcela pertencente aos Estados. Nós
administrarmos o Imposto de Renda e IPI e repassar as parcelas dos Estados e da
União. Eles seriam nossos dependentes?”, indaga.
“A tributação sobre
imposto de importação é feita pela União porque tem melhores condições técnicas
de gerir as entradas nas fronteiras e no país do que os municípios. A mesma
linha serve para o Imposto de Renda”, exemplifica.
O presidente da CNM
assegura que os municípios estão melhorando sua estrutura para arrecadar
impostos, mas destaca que os tributos municipais, para a maioria das cidades,
têm uma capacidade de arrecadação limitada.
“O ISS merece que
tenhamos a necessidade local de demanda de serviços; o ITBI, de aquisições
imobiliárias. Os dois, na maioria dos municípios, são algo pouco significativo
em termos de operações”, afirma Ziulkoski.
“Ainda temos o IPTU,
mas a maioria dos municípios têm pequenas áreas urbanas. Mesmo que a
administração tributária local atue nos limites máximos da eficiência, o fator
número de imóveis é limitado e torna aquela soma arrecadada pequena.”
·
Como melhorar?
Fato é que, de 1988 a
2022, a participação de receitas próprias dos municípios no total de suas
receitas aumentou, segundo o estudo "Multicidades 2024".
Em 1988, a receita
própria compunha em média 20,6% da receita municipal total e passou para 35,4%
em 2022.
Já a participação das
transferências passou de 79,4% em 1988 para 64,6% em 2022.
Kleber Castro, da FNP,
afirma que este avanço é fruto do esforço e investimento dos municípios em
gestão e modernização da administração tributária.
"Como resultado
disso, de forma direta, os municípios conseguem arrecadar. Eles estão cada vez
mais exercendo a sua responsabilidade como agente arrecadador — coisa que eles
não faziam, ou faziam muito menos, no passado", explica o consultor financeiro
da entidade.
Castro cita também
mudanças na legislação que aperfeiçoaram os tributos municipais, como uma lei
de 2003 que na prática ampliou o rol de serviços que as cidades podem tributar
com o ISS.
Segundo o estudo
"Multicidades 2024", este imposto indireto é a principal fonte de
recursos próprios dos municípios (44,4% das receitas próprias, em média) e teve
uma alta real de 238,4% na arrecadação entre 2004 e 2022.
Outro fator que
favorece a arrecadação do ISS — e, em consequência, a geração de receitas
próprias dos municípios — é a crescente participação, nas últimas três décadas,
dos serviços na economia brasileira, já que este é um tributo destinado a esse
setor.
Mas Castro diz que
ainda há espaço para melhora, já que, até hoje, há municípios que não têm
estrutura para arrecadar, por exemplo, o IPTU.
"Apesar do
crescimento recente, o IPTU é um imposto que está bastante aquém da sua
capacidade de arrecadação”, aponta o especialista.
“E muito aquém da sua
capacidade de ser utilizado como instrumento de redução de desigualdades. Você
pode chegar em uma cidade e verificar quanto se cobra de IPTU de uma casa que
custa no mercado R$ 1 milhão. Quando vai ver, o valor é irrisório, às vezes
menor do que ele [proprietário] paga no IPVA do carro. Isso é muito
comum", exemplifica Castro.
Por mais desagradável
que isso seja, o especialista responde que sim, o caminho para a melhoria da
autonomia financeira dos municípios muitas vezes passa pelo aumento de impostos
cobrados da população.
"O Brasil precisa
de mais divulgação acerca de cidadania fiscal. As pessoas têm que entender que
imposto é uma coisa importante, porque um imposto se reverte em benefícios para
a população. É doloroso, eu também sou contribuinte, sei como é. Mas é entender
que, quando você paga imposto, aquilo de alguma forma está voltando para você
ou para outras pessoas que precisam mais”, defende.
“O segundo aspecto é
que se a gente deixar de cobrar o IPTU ou algum imposto, certamente o poder
público vai precisar cobrar por outro caminho. O município que deixa de ter
autonomia vai precisar de recursos dos Estados ou da União que, por sua vez,
vão tributar de outra forma o cidadão. Então, de alguma forma essa conta
chega.”
Nayara Freire, da
Firjan, reconhece que os resultados dos investimentos das prefeituras em áreas
que melhorem a vida da população, como saúde e habitação, não necessariamente
se refletem direta e rapidamente na autonomia de um município.
Por exemplo, projetos
que estimulem o acesso à educação e à capacitação profissional normalmente
podem levar muitos anos para resultar em geração de empregos e atividade
econômica mais pujante — e essas mudanças também dependem de outros fatores,
como a atração de empresas e o contexto econômico da região e do país.
"O
desenvolvimento econômico é um caminho sustentável para gerar o equilíbrio das
contas públicas. O problema é que o gestor não quer fazer esse trabalho mais
longo”, aponta a especialista.
·
Reforma tributária
traz mudanças também para os municípios
Os entrevistados pela
BBC News Brasil avaliam que, no saldo geral, a reforma tributária — aprovada no
final de 2023 e em fase de regulamentação — traz possibilidades de melhoras
para a autonomia dos municípios.
Um dos pontos
positivos apontados é a criação de um comitê gestor do novo Imposto sobre Bens
e Serviços (IBS). Esse tributo substituirá o ISS e o ICMS e, portanto, ocupará
o lugar de impostos que são hoje municipal e estadual, respectivamente.
Os percentuais que os
municípios e Estados receberão do IBS ainda serão definidos, mas há um
princípio na reforma de que nenhum ente perca arrecadação em relação ao que
recebe hoje — podendo haver compensações para evitar isso.
Após um período de
transição, em 2033 o ICMS e o ISS serão extintos.
O comitê gestor do IBS
será um órgão compartilhado pelos governos locais que vai gerenciar a
arrecadação e a repartição das receitas entre Estados e municípios.
Para Paulo Ziulkoski,
da CNM, o comitê gestor permitirá uma participação mais ativa dos municípios —
que hoje, por exemplo, ficam distantes da gestão do ICMS por parte dos Estados.
“Uma das partes
arrecadadas será o IBS municipal. E no IBS estadual, onde temos uma
participação de 25% [correspondente ao atual ICMS], há uma mudança positiva:
este valor virá diretamente do comitê gestor para o município, sem passar pelos
cofres dos Estados”, comemora Ziulkoski.
Jonathas Goulart, da
Firjan, aponta que a nova estrutura criada pela reforma possibilitará também
que alguns municípios arrecadem tributos que hoje nem chegam a ser cobrados.
“Tem muito município
que não tem nenhuma estrutura tributária para fazer a arrecadação. Como eles
não têm nem a estrutura do município para, por exemplo, arrecadar ISS, eles não
arrecadam. Agora, quando essa estrutura passa a ser de interesse do Estado, do
governo federal e dos municípios, os municípios vão acabar também recebendo
esse recurso”, explica o economista, destacando, porém, que ainda há muitos
efeitos imprevisíveis da reforma.
“Por ser um período
longo de transição, ninguém sabe exatamente o que vai acontecer", aponta
Goulart.
Outra mudança
importante da reforma é a cobrança de impostos no destino (local de consumo) em
vez da origem (local de produção) — como ocorre atualmente.
Ziulkoski também vê aí
vantagens para os municípios.
“Hoje, somos cobrados
em muitos setores para fiscalizar, arrecadar, porém, a formatação de incidência
tributária é atualmente concentrada na origem. Assim, por vezes a sociedade vê
determinadas ações e atividades econômicas ocorrendo na sociedade local e
espera que o produto desta arrecadação ocorra ali, mas não ocorre”, aponta.
Kleber Castro, da FNP,
destaca também que, com as novas regras, a Planta Genérica de Valores (PGV)
pode ser modificada por decreto dos prefeitos, não necessitando mais da
aprovação da Câmara dos Vereadores.
“O prefeito pode tomar
essa decisão, ainda que tenha que sustentar isso tecnicamente. Isso é muito
importante e pode ajudar a alavancar o potencial de arrecadação do IPTU",
destaca Castro.
Não há previsão de
mudanças nos critérios de distribuição do FPM por conta da reforma. Entretanto,
a partir de 2027, o Imposto Seletivo (IS) deve substituir o IPI na composição
do fundo.
De acordo com análise
do estudo "Multicidades 2024", as possibilidades de perdas de receita
no FPM quando houver substituição pelo IS são "relativamente baixas",
já que a reforma prevê a compensação por eventuais perdas.
Fonte: BBC News Brasil
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