Caneta contra obesidade: estudo aponta que
liraglutida reduz peso de crianças entre 6 e 12 anos
A liraglutida (vendida
sob os nomes comerciais Saxenda e Victoza) pode se tornar mais uma ferramenta
contra a obesidade infantil. Um estudo recente publicado na revista científica
"New England Journal of Medicine" (NEJM) analisou a performance da
substância entre crianças de 6 a 12 anos com obesidade. Atualmente, o
medicamento está aprovado no Brasil para adolescentes a partir de 12 anos.
Segundo os dados, o
tratamento com a liraglutida por 56 semanas, juntamente com intervenções de
estilo de vida, resultou em uma maior redução no índice de massa corporal (IMC)
se comparado com o placebo mais mudanças no estilo de vida.
📍O índice de massa corporal (IMC) é o peso em quilos dividido
pela altura ao quadrado. Entre 25 e 29,9 é considerado sobrepeso. Se for
superior a 30 é considerado obesidade.
"Pela primeira
vez, temos evidências robustas que demonstram que a liraglutida, aliada a
intervenções de estilo de vida, pode proporcionar uma redução significativa e
clinicamente relevante no IMC em crianças entre 6 e 12 anos. Isso nos oferece
uma nova esperança no combate à obesidade, uma condição crônica que,
infelizmente, tem aumentado de forma alarmante", pontua Marcela Saturnino
Caselato, endocrinologista e diretora de medical affairs da Novo Nordisk.
📍A liraglutida é "prima" da semaglutida, substância
usada no Ozempic e no Wegovy. Os medicamentos são análogos (muito parecidos) ao
hormônio GLP-1 e reduzem o apetite, dando a sensação de saciedade.
• Resultados são promissores
Para endocrinologistas
ouvidas pelo g1, esse novo estudo trouxe resultados promissores, já que os
pacientes de 6 a 12 anos não têm nenhum tipo de medicação aprovado para
tratamento da obesidade e, de acordo com estimativas, 50% das crianças
brasileiras estarão com sobrepeso em 2035 se as tendências atuais continuarem
(veja mais abaixo).
"O que vemos na
prática é que existe essa necessidade de estudos para essa população. Antes,
existia uma ideia de que, quando se tinha obesidade nessa idade, as crianças
chegariam na puberdade, iriam crescer e iriam ficar com o peso normal. O que vemos
hoje não é isso. Se a criança tem obesidade, a tendência é que ela seja um
adolescente com obesidade e logo um adulto com obesidade", alerta Maria
Edna de Melo, endocrinologista e presidente do Departamento de Obesidade da
Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).
📍Estudos populacionais mostram que uma criança com obesidade de 2
a 6 anos de idade tem 90% de chance de permanecer com obesidade quando
adolescente e na vida adulta 84% de chance de estar com IMC acima de 30.
"Os resultados
foram interessantes, clinicamente significativos e mostram uma consistência do
efeito da medicação, que já foi estudada em adolescentes e que já é aprovada
para crianças acima de 12 anos. É importante ter esse tipo de estudo no horizonte
e pode ser sim uma estratégia terapêutica no futuro", completa Cynthia
Valerio, endocrinologista e membro da diretoria da Associação Brasileira para
Estudos da Síndrome Metabólica e Obesidade (ABESO).
As especialistas
ressaltam que é ainda é preciso ter mais estudos para poder analisar também os
efeitos a longo prazo.
• Estratégias contra obesidade
Como dito, não existe
uma medicação aprovada para o tratamento da obesidade nessa faixa de idade. A
orientação é mudar o estilo de vida, reduzir telas, ter uma dieta bem
balanceada e exercício físico. No entanto, muitas vezes essas estratégias são
limitadas em termos de eficácia.
"O paciente que
tem obesidade, quando ele chega para avaliação, ele será encaminhado para
nutricionista para ajustar a rotina de alimentação. E essa orientação não é uma
dieta especial, é tirar o que não deve fazer parte do dia a dia. É fundamental que
as famílias não deixem o acesso livre aos alimentos que não são
necessários", diz Maria Edna de Melo.
As endocrinologistas
lembram que a alimentação é principal medida contra a obesidade. A atividade
física vem em seguida e não são 30 minutinhos por dia. O ideal é uma hora de
atividade física moderada a intensa todos os dias.
"É importante
levar a criança para avaliação pediátrica para ver se eles estão na curva de
crescimento. A avalição na infância e adolescência é por percentis, não é um
cálculo tão exato só utilizando IMC normal. É preciso ver no gráfico, já que
elas estão em fase de crescimento", aponta Cynthia Valerio.
• 50% das crianças brasileiras com
sobrepeso em 2035
Segundo o Atlas
Mundial da Obesidade, que reúne dados de 186 nacionalidades, 20 milhões de
crianças brasileiras terão sobrepeso em 2035. Esse número representa 50% do
público infantil. Em nível mundial, a federação diz que, se as tendências
atuais continuarem até 2035, 770 milhões de crianças e adolescentes devem viver
com sobrepeso e obesidade — um aumento de 22% (em 2020) para mais de 39% até
2035.
Uma análise publicada
na revista The Lancet apontou que 159 milhões de crianças e adolescentes viviam
com obesidade em 2022. Ao longo dos últimos 30 anos, as taxas de obesidade
entre crianças e adolescentes em todo o mundo aumentaram quatro vezes — em meninas
subiu de 1,7% para 6,9%; nos meninos, de 2,1% para 9,3%, entre 1990 e 2022.
"Esse tipo de
diagnóstico vem acompanhado com outras comorbidades relacionadas ao peso. A
gente vê uma maior prevalência de diabetes tipo 2 em uma faixa de adolescentes
que não possuíam esse diagnóstico, hipertensão, redução de HDL", ressalta
Cynthia Valerio.
Fonte: g1
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