Radiação
UV ou químicos no protetor solar: o que é mais perigoso?
O
uso diário de protetor solar é fundamental mesmo nos dias de inverno. Afinal, o
produto ajuda a proteger contra o câncer de pele e o envelhecimento precoce. No
entanto, apesar dos benefícios claros do protetor solar, questões sobre sua
segurança têm sido debatidas por anos.
Essas
dúvidas foram alimentadas em parte por um número crescente de influenciadores
nas redes sociais, bem como pela descoberta, em 2021, do carcinógeno benzeno —
produto químico que, apesar de não ser um ingrediente do protetor solar,
parecia estar ligado ao propelente do aerossol — em um punhado de filtros
solares que foram posteriormente recolhidos.
Além
disso, a Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora dos Estados
Unidos, solicitou que os fabricantes realizassem mais pesquisas de segurança
sobre uma dúzia de ingredientes comuns em protetores solares. Às vezes, é
difícil separar fato de ficção e descobrir o que vale a pena se preocupar (ou
não).
A
ligação entre a exposição ao sol e o câncer de pele é bem estabelecida.
Acredita-se que a radiação ultravioleta cause até 95% dos carcinomas
basocelulares e espinocelulares, e entre 70-95% dos melanomas em pessoas com
pele clara.
“O
câncer de pele é causado pela exposição das células da pele à radiação UV,
especialmente à radiação UVB”, diz a pesquisadora Rachel Neale ao
Correspondente Médico da CNN, Meg Tirrell, recentemente em um episódio especial
do podcast Chasing Life. Neale é pesquisadora principal do QMR Birkhoff, um
instituto de pesquisa médica em Brisbane, Austrália, e estuda o câncer de pele
desde 1993.
“Os
raios mais prejudiciais causam câncer de pele ao provocar mutações no DNA das
nossas células”, explica Neale, observando que uma mutação geralmente não é um
grande problema. “Mas o que acontece se essa mutação ocorrer em um gene que é
realmente importante para a reparação do DNA, por exemplo”, acrescenta. “Então
temos outra mutação, e potencialmente mais outra mutação. E então,
eventualmente, nossas células podem se transformar em um câncer de pele.”
Sabemos
desde a década de 1990 que o protetor solar ajuda a reduzir o risco de
desenvolver câncer de pele, especialmente o tipo mais mortal, melanoma, e o
carcinoma de células escamosas, que é menos letal. O carcinoma basocelular é de
longe o tipo mais comum de câncer de pele; embora raramente seja fatal, pode
causar desconforto e ser desfigurante.
• Químicos
em foco
Agora
surgem perguntas sobre a segurança de certos ingredientes em protetores
solares. Existem dois tipos de protetores solares: mineral (também chamado de
físico) e químico. O mineral pode ser melhor do que o químico (o químico não
foi estudado o suficiente) e ambos são melhores do que o câncer de pele. Mas,
na visão das especialistas, essa ainda é uma questão realmente complicada.
“Os
bloqueadores físicos — como os protetores solares de titânio e zinco —
basicamente ficam na superfície da pele e formam uma barreira”, afirma Neale.
“Já os protetores solares químicos se ligam à superfície superior da pele e
transformam a radiação UV em calor, que então é dissipado pelo calor do corpo.”
A
FDA, que regula o protetor solar como um medicamento de venda livre, pediu aos
fabricantes de protetor solar em 2019, e novamente em 2021, que fornecessem
mais dados de segurança sobre 12 ingredientes comuns para que possam ter o
status GRASE — Geralmente Reconhecidos como Seguros e Eficazes.
Existem
duas razões para o pedido da FDA. Primeiro, porque quando a FDA começou a
avaliar protetores solares na década de 1970, os cientistas não apreciavam
totalmente como os produtos químicos podiam ser prontamente absorvidos pela
pele. Hoje, a aplicação transdérmica é um sistema comum de entrega para certos
medicamentos, incluindo nicotina, analgésicos e adesivos hormonais.
A
segunda é a quantidade de protetor solar que devemos aplicar, que aumentou de
algumas gotas aqui e ali para o equivalente a um copo cheio a cada duas horas
que você estiver ao ar livre.
“Se
você usar como pretendido, o que o tornaria eficaz, há muito mais dele que
acaba em nossa corrente sanguínea do que imaginávamos, e a preocupação é que
não sabemos o suficiente sobre a segurança disso”, explica a pesquisadora Laura
Vandenberg a Tirrell no podcast. Vandenberg é professora de ciências da saúde
ambiental na Universidade de Massachusetts Amherst, e pesquisa desreguladores
endócrinos.
“O
que a FDA pediu aos fabricantes desses produtos é que façam estudos onde o
protetor solar seria usado como pretendido e então ver quanto desses produtos
químicos acabam na corrente sanguínea”, afirma Vanderberg. “Porque a FDA tem
padrões para a quantidade desses produtos químicos que devem estar em nosso
sangue e, atualmente, eles não conseguem atender a esse padrão de ser seguro e
eficaz.”
Vandenberg
explica que tem preocupações sobre alguns desses ingredientes, incluindo a
oxibenzona, que ela pesquisa em seu laboratório. Ela diz que estudos em
culturas de células e em animais de pesquisa mostram que o produto químico pode
imitar o estrogênio no corpo, bloquear as ações dos andrógenos e alterar a
função do hormônio tireoidiano — qualquer um desses poderia ser problemático,
especialmente em populações vulneráveis, por exemplo, um bebê, uma criança
passando pela puberdade ou alguém que esteja grávida e seu feto.
“Disrupções
hormonais podem levar a mudanças que alteram a vida, aumentando o risco de
doenças”, explica. “E essas doenças podem não aparecer por décadas em um ser
humano.”
Vandenberg
também afirma que há evidências crescentes em populações humanas. “Algumas das
críticas às ações da FDA vieram de cientistas que dizem: ‘Bem, nunca vimos nada
em populações humanas que sugira que esses produtos químicos possam causar
danos’. E isso não é realmente verdade”, diz.
“Quando
medimos a quantidade desses produtos químicos que está sendo liberada do corpo
— excretada do corpo na urina — e comparamos pessoas e seu risco de diferentes
condições, existem estudos que mostram que as exposições à oxibenzona estão
associadas a problemas de neurodesenvolvimento em crianças, problemas
metabólicos em crianças e também aumento do risco de problemas hormonais na
tireoide”, acrescenta.
Mas
Vandenberg faz questão de observar que correlação não é causação. “Isso
significa que podemos dizer definitivamente que um produto químico como a
oxibenzona causa esses efeitos em pessoas? Não,” afirma, “porque não estamos
expondo intencionalmente algumas pessoas à oxibenzona e, em seguida,
comparando-as a um grupo de pessoas que nunca foram expostas à oxibenzona
(porque) essas pessoas não existem.”
Vandenberg,
que dá crédito à FDA por solicitar mais estudos de segurança, ressalta que só
porque certos ingredientes do protetor solar penetram na pele, isso não os
torna inerentemente inseguros.
“Nesse
caso, acho que o que eles estão sinalizando é que não há evidências suficientes
para dizer que são perigosos”, diz. “Mas esse não é o padrão que devemos ter
para produtos que estamos aplicando em todo o nosso corpo, para produtos que
estamos aplicando no corpo de crianças. Queremos saber que eles são seguros,
mas também queremos saber que estão cumprindo sua função, porque a função dos
protetores solares é realmente crítica.”
• Como os
especialistas se protegem
Vandenberg
e Neale concordam que ambas precisam usar protetor solar, então o que elas
escolhem?
“Eu
uso um protetor solar químico todos os dias”, afirma Neale. “Acho que é muito
complicado porque as propriedades dos protetores solares químicos os tornam
muito mais agradáveis de usar; os bloqueadores físicos tendem a ser um pouco
mais grossos e podem formar uma leve camada branca na pele”, explica. Além
disso, ela costuma se cobrir com roupas e evitar o sol nas horas de maior
intensidade.
Vandenberg
tem uma abordagem diferente. “Com base no que sei e na minha própria prática,
prefiro um protetor solar físico e o uso corretamente: mais do que você acha
que precisa, reaplicando a cada 90 minutos”, relata.
• Ainda é
fundamental utilizar protetor solar para evitar câncer de pele
A
especialista é rápida em acrescentar que usar um protetor solar químico é
melhor do que não usar nada, porque “o câncer de pele é muito real.”
Vandenberg
observa que esses produtos químicos estão em toda parte. “Eu estudo esses
produtos químicos. Estou preocupada que permitimos que desreguladores
endócrinos estejam presentes em produtos de protetor solar, mas eles também
estão literalmente em tudo ao nosso redor”, afirma. “Remover esse único produto
como uma forma de se proteger dos desreguladores endócrinos, mas aumentar seu
risco em outra área (câncer de pele) não é uma coisa sensata a fazer.”
“O
que realmente precisamos fazer é exigir produtos mais seguros, e podemos exigir
isso das empresas às quais damos nosso dinheiro,” afirma. “Precisamos exigir
isso de nossas agências reguladoras.”
• Precisamos
usar protetor solar no inverno? Especialista responde
O
inverno chegou e, com ele, o tempo seco e as baixas temperaturas. Diante disso,
os cuidados devem ser reforçados para evitar o ressecamento da pele e das
mucosas. Isso inclui o uso do protetor solar, mesmo nos dias mais frios e
nublados.
Segundo
a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), a radiação ultravioleta (UV) pode
atravessar as nuvens e permanece a mesma nos dias frios. A exposição aos raios
solares pode provocar diversas alterações na pele, como o surgimento de pintas,
sardas, manchas e rugas, e está relacionada a diversos tipos de câncer de pele.
“Nós
precisamos usar o protetor solar em todos os dias do ano, não importa a
temperatura”, afirma a dermatologista Mariana Penha, membro da SBD e da
Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica, à CNN. “No inverno, a
incidência da radiação ultravioleta continua existindo, então precisamos
continuar nos protegendo como normalmente”, ressalta.
A SBD recomenda que, durante o inverno, se
continue utilizando filtro solar com fator de proteção solar (FPS) a partir de
30 e que se utilize roupas de manga longa ou calças, e acessórios como chapéu,
boné e óculos escuros.
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Como usar o protetor solar corretamente no inverno?
Segundo
Penha, os cuidados com a proteção solar no inverno devem ser os mesmos do
verão. “É importante manter o fator de proteção solar (FPS) recomendado pelo
seu tipo de pele durante todo o ano. Geralmente, pessoas de pele mais clara
usam FPS mais alto, enquanto pessoas com pele mais escura, um que seja mais
baixo. Mas isso é importante independentemente da época do ano”, orienta a
dermatologista.
A
aplicação correta do protetor solar também é um ponto importante. Segundo a
especialista, a quantidade ideal de filtro solar a ser aplicado no rosto é de
uma colher de chá.
“Essa
regra não é tão prática, então, uma dica é usar a ‘regra’ dos três dedos:
colocar um pouco do protetor no dedo indicador, no do meio e no anelar. Essa é
uma quantidade suficiente para todo o rosto”, afirma. No caso de pessoas que
utilizam protetor com cor, a dica da dermatologista é utilizar a proporção de
um dedo com protetor neutro e dois dedos com protetor com cor.
Outro
ponto importante é quanto ao momento ideal de passar o protetor solar antes de
sair de casa. No caso dos protetores químicos, que correspondem à maioria das
opções disponíveis no mercado e nas farmácias, o ideal é que sejam aplicados
com 15 minutos de antecedência. “Nesse tipo de filtro, a radiação é absorvida
pela pele e consegue ser transformada para não danificar a pele. Então, esse
intervalo é essencial para seu funcionamento ideal”, explica. Já no caso dos
protetores físicos, que funcionam refletindo as radiações incidentes, o uso
pode ser imediato.
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No inverno, o protetor solar deve ser reaplicado?
De
acordo com as orientações da SBD, o protetor solar deve ser reaplicado a cada
duas ou três horas, principalmente se houver muita transpiração ou exposição
solar prolongada. “Esse é o mundo ideal, mas sei que, na prática, pode ser
difícil seguir”, afirma Penha. “Minha dica é aplicar, pelo menos, duas vezes ao
dia: uma de manhã e outra na hora do almoço”, completa.
Nos
casos de quem sofre com alguma doença de pele, como melasma, a reaplicação a
cada três horas deve ser feita com mais rigor e disciplina.
Fonte:
CNN Brasil
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