quinta-feira, 22 de agosto de 2024

Radiação UV ou químicos no protetor solar: o que é mais perigoso?

O uso diário de protetor solar é fundamental mesmo nos dias de inverno. Afinal, o produto ajuda a proteger contra o câncer de pele e o envelhecimento precoce. No entanto, apesar dos benefícios claros do protetor solar, questões sobre sua segurança têm sido debatidas por anos.

Essas dúvidas foram alimentadas em parte por um número crescente de influenciadores nas redes sociais, bem como pela descoberta, em 2021, do carcinógeno benzeno — produto químico que, apesar de não ser um ingrediente do protetor solar, parecia estar ligado ao propelente do aerossol — em um punhado de filtros solares que foram posteriormente recolhidos.

Além disso, a Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora dos Estados Unidos, solicitou que os fabricantes realizassem mais pesquisas de segurança sobre uma dúzia de ingredientes comuns em protetores solares. Às vezes, é difícil separar fato de ficção e descobrir o que vale a pena se preocupar (ou não).

A ligação entre a exposição ao sol e o câncer de pele é bem estabelecida. Acredita-se que a radiação ultravioleta cause até 95% dos carcinomas basocelulares e espinocelulares, e entre 70-95% dos melanomas em pessoas com pele clara.

“O câncer de pele é causado pela exposição das células da pele à radiação UV, especialmente à radiação UVB”, diz a pesquisadora Rachel Neale ao Correspondente Médico da CNN, Meg Tirrell, recentemente em um episódio especial do podcast Chasing Life. Neale é pesquisadora principal do QMR Birkhoff, um instituto de pesquisa médica em Brisbane, Austrália, e estuda o câncer de pele desde 1993.

“Os raios mais prejudiciais causam câncer de pele ao provocar mutações no DNA das nossas células”, explica Neale, observando que uma mutação geralmente não é um grande problema. “Mas o que acontece se essa mutação ocorrer em um gene que é realmente importante para a reparação do DNA, por exemplo”, acrescenta. “Então temos outra mutação, e potencialmente mais outra mutação. E então, eventualmente, nossas células podem se transformar em um câncer de pele.”

Sabemos desde a década de 1990 que o protetor solar ajuda a reduzir o risco de desenvolver câncer de pele, especialmente o tipo mais mortal, melanoma, e o carcinoma de células escamosas, que é menos letal. O carcinoma basocelular é de longe o tipo mais comum de câncer de pele; embora raramente seja fatal, pode causar desconforto e ser desfigurante.

•                                        Químicos em foco

Agora surgem perguntas sobre a segurança de certos ingredientes em protetores solares. Existem dois tipos de protetores solares: mineral (também chamado de físico) e químico. O mineral pode ser melhor do que o químico (o químico não foi estudado o suficiente) e ambos são melhores do que o câncer de pele. Mas, na visão das especialistas, essa ainda é uma questão realmente complicada.

“Os bloqueadores físicos — como os protetores solares de titânio e zinco — basicamente ficam na superfície da pele e formam uma barreira”, afirma Neale. “Já os protetores solares químicos se ligam à superfície superior da pele e transformam a radiação UV em calor, que então é dissipado pelo calor do corpo.”

A FDA, que regula o protetor solar como um medicamento de venda livre, pediu aos fabricantes de protetor solar em 2019, e novamente em 2021, que fornecessem mais dados de segurança sobre 12 ingredientes comuns para que possam ter o status GRASE — Geralmente Reconhecidos como Seguros e Eficazes.

Existem duas razões para o pedido da FDA. Primeiro, porque quando a FDA começou a avaliar protetores solares na década de 1970, os cientistas não apreciavam totalmente como os produtos químicos podiam ser prontamente absorvidos pela pele. Hoje, a aplicação transdérmica é um sistema comum de entrega para certos medicamentos, incluindo nicotina, analgésicos e adesivos hormonais.

A segunda é a quantidade de protetor solar que devemos aplicar, que aumentou de algumas gotas aqui e ali para o equivalente a um copo cheio a cada duas horas que você estiver ao ar livre.

“Se você usar como pretendido, o que o tornaria eficaz, há muito mais dele que acaba em nossa corrente sanguínea do que imaginávamos, e a preocupação é que não sabemos o suficiente sobre a segurança disso”, explica a pesquisadora Laura Vandenberg a Tirrell no podcast. Vandenberg é professora de ciências da saúde ambiental na Universidade de Massachusetts Amherst, e pesquisa desreguladores endócrinos.

“O que a FDA pediu aos fabricantes desses produtos é que façam estudos onde o protetor solar seria usado como pretendido e então ver quanto desses produtos químicos acabam na corrente sanguínea”, afirma Vanderberg. “Porque a FDA tem padrões para a quantidade desses produtos químicos que devem estar em nosso sangue e, atualmente, eles não conseguem atender a esse padrão de ser seguro e eficaz.”

Vandenberg explica que tem preocupações sobre alguns desses ingredientes, incluindo a oxibenzona, que ela pesquisa em seu laboratório. Ela diz que estudos em culturas de células e em animais de pesquisa mostram que o produto químico pode imitar o estrogênio no corpo, bloquear as ações dos andrógenos e alterar a função do hormônio tireoidiano — qualquer um desses poderia ser problemático, especialmente em populações vulneráveis, por exemplo, um bebê, uma criança passando pela puberdade ou alguém que esteja grávida e seu feto.

“Disrupções hormonais podem levar a mudanças que alteram a vida, aumentando o risco de doenças”, explica. “E essas doenças podem não aparecer por décadas em um ser humano.”

Vandenberg também afirma que há evidências crescentes em populações humanas. “Algumas das críticas às ações da FDA vieram de cientistas que dizem: ‘Bem, nunca vimos nada em populações humanas que sugira que esses produtos químicos possam causar danos’. E isso não é realmente verdade”, diz.

“Quando medimos a quantidade desses produtos químicos que está sendo liberada do corpo — excretada do corpo na urina — e comparamos pessoas e seu risco de diferentes condições, existem estudos que mostram que as exposições à oxibenzona estão associadas a problemas de neurodesenvolvimento em crianças, problemas metabólicos em crianças e também aumento do risco de problemas hormonais na tireoide”, acrescenta.

Mas Vandenberg faz questão de observar que correlação não é causação. “Isso significa que podemos dizer definitivamente que um produto químico como a oxibenzona causa esses efeitos em pessoas? Não,” afirma, “porque não estamos expondo intencionalmente algumas pessoas à oxibenzona e, em seguida, comparando-as a um grupo de pessoas que nunca foram expostas à oxibenzona (porque) essas pessoas não existem.”

Vandenberg, que dá crédito à FDA por solicitar mais estudos de segurança, ressalta que só porque certos ingredientes do protetor solar penetram na pele, isso não os torna inerentemente inseguros.

“Nesse caso, acho que o que eles estão sinalizando é que não há evidências suficientes para dizer que são perigosos”, diz. “Mas esse não é o padrão que devemos ter para produtos que estamos aplicando em todo o nosso corpo, para produtos que estamos aplicando no corpo de crianças. Queremos saber que eles são seguros, mas também queremos saber que estão cumprindo sua função, porque a função dos protetores solares é realmente crítica.”

•                                        Como os especialistas se protegem

Vandenberg e Neale concordam que ambas precisam usar protetor solar, então o que elas escolhem?

“Eu uso um protetor solar químico todos os dias”, afirma Neale. “Acho que é muito complicado porque as propriedades dos protetores solares químicos os tornam muito mais agradáveis de usar; os bloqueadores físicos tendem a ser um pouco mais grossos e podem formar uma leve camada branca na pele”, explica. Além disso, ela costuma se cobrir com roupas e evitar o sol nas horas de maior intensidade.

Vandenberg tem uma abordagem diferente. “Com base no que sei e na minha própria prática, prefiro um protetor solar físico e o uso corretamente: mais do que você acha que precisa, reaplicando a cada 90 minutos”, relata.

•                                        Ainda é fundamental utilizar protetor solar para evitar câncer de pele

A especialista é rápida em acrescentar que usar um protetor solar químico é melhor do que não usar nada, porque “o câncer de pele é muito real.”

Vandenberg observa que esses produtos químicos estão em toda parte. “Eu estudo esses produtos químicos. Estou preocupada que permitimos que desreguladores endócrinos estejam presentes em produtos de protetor solar, mas eles também estão literalmente em tudo ao nosso redor”, afirma. “Remover esse único produto como uma forma de se proteger dos desreguladores endócrinos, mas aumentar seu risco em outra área (câncer de pele) não é uma coisa sensata a fazer.”

“O que realmente precisamos fazer é exigir produtos mais seguros, e podemos exigir isso das empresas às quais damos nosso dinheiro,” afirma. “Precisamos exigir isso de nossas agências reguladoras.”

 

•                                        Precisamos usar protetor solar no inverno? Especialista responde

O inverno chegou e, com ele, o tempo seco e as baixas temperaturas. Diante disso, os cuidados devem ser reforçados para evitar o ressecamento da pele e das mucosas. Isso inclui o uso do protetor solar, mesmo nos dias mais frios e nublados.

Segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), a radiação ultravioleta (UV) pode atravessar as nuvens e permanece a mesma nos dias frios. A exposição aos raios solares pode provocar diversas alterações na pele, como o surgimento de pintas, sardas, manchas e rugas, e está relacionada a diversos tipos de câncer de pele.

“Nós precisamos usar o protetor solar em todos os dias do ano, não importa a temperatura”, afirma a dermatologista Mariana Penha, membro da SBD e da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica, à CNN. “No inverno, a incidência da radiação ultravioleta continua existindo, então precisamos continuar nos protegendo como normalmente”, ressalta.

A  SBD recomenda que, durante o inverno, se continue utilizando filtro solar com fator de proteção solar (FPS) a partir de 30 e que se utilize roupas de manga longa ou calças, e acessórios como chapéu, boné e óculos escuros.

<><> Como usar o protetor solar corretamente no inverno?

Segundo Penha, os cuidados com a proteção solar no inverno devem ser os mesmos do verão. “É importante manter o fator de proteção solar (FPS) recomendado pelo seu tipo de pele durante todo o ano. Geralmente, pessoas de pele mais clara usam FPS mais alto, enquanto pessoas com pele mais escura, um que seja mais baixo. Mas isso é importante independentemente da época do ano”, orienta a dermatologista.

A aplicação correta do protetor solar também é um ponto importante. Segundo a especialista, a quantidade ideal de filtro solar a ser aplicado no rosto é de uma colher de chá.

“Essa regra não é tão prática, então, uma dica é usar a ‘regra’ dos três dedos: colocar um pouco do protetor no dedo indicador, no do meio e no anelar. Essa é uma quantidade suficiente para todo o rosto”, afirma. No caso de pessoas que utilizam protetor com cor, a dica da dermatologista é utilizar a proporção de um dedo com protetor neutro e dois dedos com protetor com cor.

Outro ponto importante é quanto ao momento ideal de passar o protetor solar antes de sair de casa. No caso dos protetores químicos, que correspondem à maioria das opções disponíveis no mercado e nas farmácias, o ideal é que sejam aplicados com 15 minutos de antecedência. “Nesse tipo de filtro, a radiação é absorvida pela pele e consegue ser transformada para não danificar a pele. Então, esse intervalo é essencial para seu funcionamento ideal”, explica. Já no caso dos protetores físicos, que funcionam refletindo as radiações incidentes, o uso pode ser imediato.

<><> No inverno, o protetor solar deve ser reaplicado?

De acordo com as orientações da SBD, o protetor solar deve ser reaplicado a cada duas ou três horas, principalmente se houver muita transpiração ou exposição solar prolongada. “Esse é o mundo ideal, mas sei que, na prática, pode ser difícil seguir”, afirma Penha. “Minha dica é aplicar, pelo menos, duas vezes ao dia: uma de manhã e outra na hora do almoço”, completa.

Nos casos de quem sofre com alguma doença de pele, como melasma, a reaplicação a cada três horas deve ser feita com mais rigor e disciplina.

 

Fonte: CNN Brasil

 

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