Ortodoxos russos falam em perseguição
religiosa … na Ucrânia
O Sínodo da Igreja
Ortodoxa Russa lançou esta quinta-feira, 22 de agosto, um apelo às organizações
internacionais de direitos humanos para que “deem uma resposta imediata e imparcial
à flagrante opressão dos fiéis na Ucrânia”, em reação à aprovação de uma lei que permite banir organizações religiosas com vínculos a
estados agressores deste país. Ao mesmo tempo, Svyatoslav Shevchuk, arcebispo
supremo de Kiev e líder da Igreja (minoritária) Greco-Católica da Ucrânia,
comentou que a lei aprovada “não é uma proibição das atividades da Igreja”, mas
uma medida cautelar para “proteger a religião de ser convertida numa arma”.
O Sínodo Russo, que é
presidido pelo Patriarca Cirilo de Moscovo, difundiu um extenso comunicado em
que salienta que, desde 2014, ano da chamada “Revolução Euromaidan” ou da
Dignidade, assim como da anexação da Crimeia pelas tropas do Kremlin, foi
alertando contra a “política antirreligiosa” do governo ucraniano, que o teria
levado a procurar “enfraquecer, dividir e destruir” a Igreja Ortodoxa da
Ucrânia (IOU).
Tal política
materializou-se, segundo o comunicado, numa “campanha anti-igreja [IOU]
caluniosa” nos media do país, que visava “difamar a Ortodoxia canónica, bem
como instigar e justificar apreensões em massa” de igrejas, chamando-lhes
“transferências voluntárias” para a Igreja Ortodoxa entretanto constituída e
que Moscovo considera “cismática”.
Para os responsáveis
dos ortodoxos russos essas alegadas apreensões são “orquestradas pelos
proponentes do cisma e nacionalistas radicais com apoio das autoridades locais,
serviços de segurança e órgãos de aplicação da lei, e geralmente envolvem
violência, incluindo espancamentos em massa do clero e dos fiéis”.
A pressão sobre a IOU
terá ainda passado por “dezenas de casos criminais forjados e vereditos
ilegais” suscitados por motivos políticos, bem como coerção sobre pastores
dessa Igreja que terão sido “presos, levados sob custódia ou receberam
sentenças injustas”.
Estes atos
persecutórios, nota ainda o comunicado do Sínodo, levaram o Patriarca Cirilo a
denunciar e apelar em várias ocasiões a organizações internacionais como a ONU,
a OSCE e o Conselho da Europa, bem como aos líderes das comunidades religiosas
mundiais. “Embora as violações dos direitos dos membros da Igreja Ortodoxa da
Ucrânia tenham sido reconhecidas por muitos especialistas e organizações de
direitos humanos no Ocidente, isso não impediu a adoção do projeto de lei que
destrói a própria ideia da liberdade de consciência e dos direitos humanos
fundamentais”.
Nesta perspetiva, a
lei agora aprovada no Parlamento [Lei n. 8.371] permite, por meio de processos
judiciais, proibir atividades de qualquer comunidade religiosa no território da
Ucrânia se ela estiver ligada a uma organização religiosa na Rússia. “Para que
o tribunal adote essa medida, bastarão as conclusões de uma ‘perícia religiosa’
que, no âmbito da caça às bruxas em curso, podem e serão falsificadas”, entende
o Sínodo.
·
Patriarca de
Constantinopla “pessoalmente responsabilizado”
A Igreja Ortodoxa
Russa faz, neste contexto, críticas azedas ao Patriarca Bartolomeu de
Constantinopla, considerando-o, “pessoalmente responsável por orquestrar as
perseguições” contra os fiéis da IOU, ao “apoiar abertamente as ações do
governo visando crucificar e destruir a Igreja canônica na Ucrânia”. Concretiza
o “papel negativo” que o Patriarca Bartolomeu teria tido neste processo,
aludindo a “ações unilaterais e precipitadas, inconsistentes com o espírito dos
cânones sagrados”, que “apenas exacerbaram o cisma da igreja na Ucrânia, tendo
falhado em curá-lo”. Mais especificamente, acusa-o de reconhecer a nova Igreja
Ortodoxa e os seus “lideres cismáticos” que considera “particularmente
desenfreados” no apoio a uma lei que “praticamente proíbe a Igreja Ortodoxa da
Ucrânia”.
A Igreja Ortodoxa
Russa e particularmente o Patriarca Cirilo deixam em silêncio alguns factos que
são relevantes para a compreensão dos acontecimentos no campo ortodoxo na
Ucrânia.
O principal é a
cobertura, legitimação e envolvimento reiterado de Cirilo na invasão e na
guerra na Ucrânia, ao lado do regime de Putin e o castigo que tem aplicado a
padres, nomeadamente àqueles que, na Rússia, se atrevem a rezar publicamente
pela paz em vez de pela vitória.
O Sínodo coloca-se em
defesa da IOU, denunciando a alegada perseguição de que estaria a ser vítima,
mas não refere que essa mesma Igreja, dias depois do início da invasão,
demarcou-se das operações militares russas, pondo-se ao lado do povo ucraniano,
vindo, mais tarde, a decidir no seu próprio Sínodo, cortar laços com o
Patriarcado de Moscovo (que alguns entendem não terem sido totais).
O comunicado do Sínodo
esquece, sobretudo, que é pelo papel que a Igreja Ortodoxa Russa tem na guerra
que surge a lei n. 8.371 que limita a ação de organizações religiosas russas em
território ucraniano ou de organizações religiosas ucranianas ligadas a organizações
religiosas russas.
·
Dirigente católico:
lei protege da “militarização da religião”
A posição entretanto
manifestada pelo líder da Igreja Greco-Católica da Ucrânia vai nessa direção. Segundo o arcebispo
Svyatoslav Chevchuk, foi o próprio “ambiente religioso [que] se tornou alvo da
agressão russa”. “A lei aplica-se a todas as organizações religiosas com
centros de gestão em países reconhecidos pela Verkhovna Rada [parlamento] da
Ucrânia como agressores. A Rússia usou a Ortodoxia sob seu controlo como uma
ferramenta de militarização, transformando-a numa arma neurotrópica”, observou
o acebispo.
Integrando, tal como
outros líderes religiosos do seu país, o Conselho de Igrejas, que se pronunciou
sobre os princípios da lei agora aprovada, Chevchuk recordou esses princípios:
“cooperação e parceria entre o Estado e as igrejas; ausência de uma Igreja
estatal e a igualdade de todas as organizações religiosas; não interferência do
Estado nos assuntos da Igreja; bem como o direito e dever do Estado de garantir
a segurança nacional, respondendo à possível instrumentalização das
organizações religiosas pelos estados agressores”.
O novo diploma visa,
segundo o responsável católico, “proteger o ambiente religioso da Ucrânia da
instrumentalização e militarização da religião, que se tornou característica
das atividades da Igreja Ortodoxa Russa no contexto da guerra”.
¨ Cristãos indianos pedem revogação de nova lei anti-conversão
A delegação do Fórum
dos Cristãos Unidos (UCF, na sigla inglesa), no seu memorando de 19 de agosto
ao governador do estado indiano do Uttar Pradesh, Anandiben Patel,
chamou a atenção para “a linguagem ampla e ambígua” da proposta de lei anti-conversão,
pedindo a sua revogação e acrescentando que esta pode “encorajar indivíduos e
grupos a visar as minorias religiosas”, noticiou a UCA News no passado dia 21 de
agosto.
A delegação da UCF,
composta por oito membros, afirmou que os termos utilizados no projeto de lei
de 2024 sobre a proibição da conversão ilegal da religião no Uttar Pradesh,
como “força, fraude e aliciamento”, são indefinidos e vagos. “Por exemplo,
qualquer reunião coletiva de cristãos é demonizada e retratada como uma
tentativa de aliciar as pessoas para o cristianismo”, afirmaram os membros da
delegação.
O memorando enfatizou
que as leis existentes, como a Lei de Proibição de Conversão Ilegal de Religião
de Uttar Pradesh, de 2021, bem como as leis criminais e civis, já tratam da
questão das conversões por fraude, coerção ou força.
O novo projeto de lei
impõe penas desproporcionadamente severas, como a previsão de 20 anos ou prisão
perpétua em caso de condenação por conversão religiosa. Anteriormente, a pena
máxima prevista era de 10 anos.
O memorando refere que
os investigadores têm documentado a forma como as leis anti-conversão têm sido
utilizadas como armas para atingir as minorias religiosas, incluindo os
cristãos.
Multidões de
vigilantes, muitas vezes apoiadas por agentes da polícia local, brutalizam os
cristãos por realizarem reuniões de oração nas suas casas, levando ao registo
de casos falsos, que se arrastam durante muitos anos e resultam num assédio
crescente e com custos legais. Tudo isto resulta “numa violação indevida do
direito à vida e à liberdade”, referiram.
O novo projeto de lei
também permite que qualquer terceira pessoa registe um primeiro relatório de
informação quando a lei em vigor exige que a vítima ou os seus familiares de
sangue forneçam informações ou apresentem uma queixa num caso de conversão.
A nova disposição, que
permite que “qualquer pessoa” apresente queixa, “alarga a porta a acusações
motivadas por preconceitos pessoais, políticos ou comunais, conduzindo a uma
onda de violência e assédio contra estas comunidades [minoritárias]”, afirma o
memorando.
Um responsável
nacional da UCF, A. C. Michael, disse que a delegação instou o governador a
“suspender” o novo projeto de lei na sua forma atual. A. C. Michael disse à UCA
News que, no seu memorando, a UCF recomendava que o Governo de Uttar Pradesh se
concentrasse em iniciativas que reforçassem a harmonia e promovessem a
tolerância entre os diferentes grupos religiosos, em vez de causar tensões
através de legislação punitiva.
Sugeriu ainda a
realização de campanhas de sensibilização do público para educar os cidadãos
sobre os seus direitos constitucionais e a importância do respeito pela
diversidade. Foi também sugerido que o pessoal da polícia e os funcionários
judiciais recebessem formação para salvaguardar as liberdades religiosas,
tratar as queixas de forma ética e efetuar investigações imparciais.
A UCF apelou à criação
de sistemas de apoio a pessoas inocentes que sejam injustamente acusadas e
presas, sob a forma de aconselhamento psicológico e assistência jurídica, para
que possam lidar com o trauma e o impacto financeiro de tais ações ilegais.
¨ Padre é preso por crimes sexuais contra adolescentes no Brasil
Um padre foi preso no
passado domingo, 18 de agosto, na cidade de Coari, no estado brasileiro do
Amazonas, depois de um inquérito policial ter concluído que ele abusou de pelo
menos quatro adolescentes. Uma delas acabou por ficar grávida e foi obrigada por
ele a abortar, noticia o jornal Crux esta
quinta-feira, 22.
O padre Paulo Araújo
da Silva, de 31 anos, já tinha sido denunciado de forma anónima em 2023. A
polícia iniciou então uma investigação e falou com uma das suas vítimas. A
adolescente de 17 anos disse às autoridades que ela e o presbítero começaram
uma relação quando a rapariga tinha apenas 14 anos. Ela afirmou, ainda, que ele
costumava fazer e armazenar vídeos dos atos sexuais.
O delegado José
Barradas Jr. disse à imprensa que a vítima estava a sofrer uma enorme pressão
por parte de Araújo da Silva quando procurou ajuda policial no ano passado.
“Ela estava a sofrer uma forte violência psicológica, porque o padre não só
cooptava as vítimas na sua paróquia, como também as obrigava a manter um
relacionamento com ele”, disse Barradas Jr., segundo a página de notícias local Amazonas
Atual. Silva nunca permitia que as vítimas
deixassem de o ver e até dizia coisas como “se não estiveres comigo, não
estarás com mais ninguém”.
Uma vítima disse aos
investigadores que engravidou em 2023, ao que Silva terá respondido: “Faz
imediatamente um aborto”. “É neste contexto que um homem de 34 anos, que está
agora em fuga, também participou [no crime]. Ele é amigo do padre e foi a
pessoa que deu à adolescente um medicamento, que ela tomou e que resultou no
aborto”, afirmou Barradas, de acordo com o portal de notícias brasileiro G1.
O feto da vítima foi
enterrado no quintal da casa desse homem. O delegado acrescentou que fotos e o
depoimento da mulher confirmam essa alegação.
Todas as vítimas
identificadas eram frequentadoras da igreja e membros da paróquia de São Pedro,
da diocese de Coari, presidida por Silva. Segundo a polícia, testemunhas
contaram que o padre pedia sempre às vítimas que trouxessem outras meninas,
para que fizessem sexo grupal. E fazia sempre questão de gravar tudo.
Quando os agentes
entraram na paróquia para deter Silva, ele estava na cama com uma jovem que
tinha acabado de fazer 18 anos, “o que significa que já tinha tido relações
sexuais com ela quando ela era menor”, disse Barradas. A polícia apreendeu de
imediato o telemóvel de Silva e encontrou pelo menos 260 vídeos feitos pelo
padre mostrando atos sexuais com menores. O padre também tinha 30 mil reais no
seu quarto.
De acordo com a
diocese de Coari, Silva nasceu em 1992 e foi ordenado em 2018.
No dia 18 de agosto,
após a prisão do padre, a diocese divulgou uma nota na qual manifestou o seu
“repúdio a toda a forma de abuso e exploração”.
“A Diocese de Coari
manifesta a sua solidariedade às vítimas e suas famílias e coloca-se
imediatamente à disposição para acompanhar e ajudar [as vítimas] a superar os
traumas provocados pelos abusos do padre Paulo Araújo da Silva”, dizia o
documento.
A diocese afirmou que
foram tomadas “todas as medidas canónicas necessárias”. O padre foi suspenso e
não pode continuar a ter qualquer atividade na paróquia. A Igreja também está
disponível para colaborar com as autoridades no inquérito, concluiu a nota,
assinada pelo chanceler da diocese, padre Josinaldo Plácido da Silva.
O padre será indiciado
por crimes como estupro de menores ou de vulneráveis, omissão de socorro a
crianças e adolescentes, produção e armazenamento de conteúdo pornográfico
envolvendo menores, aborto forçado e ameaça a mulher de violência.
A polícia disse que a
investigação vai continuar, uma vez que outras pessoas podem estar envolvidas
nas atividades criminosas lideradas pelo padre. Podem também aparecer outras
vítimas, afirmaram as autoridades.
O Crux não
conseguiu localizar o advogado de defesa do padre. Membros da sua paróquia e
leigos católicos envolvidos em ministérios da Igreja não quiseram comentar o
caso.
Na página da diocese
de Coari, Silva aparece como o padre responsável pela Pastoral da Juventude
local. Não foi possível saber há quanto tempo Silva trabalhava diretamente com
adolescentes na região.
Fonte: 7Margens
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