sábado, 24 de agosto de 2024

Ortodoxos russos falam em perseguição religiosa … na Ucrânia

O Sínodo da Igreja Ortodoxa Russa lançou esta quinta-feira, 22 de agosto, um apelo às organizações internacionais de direitos humanos para que “deem uma resposta imediata e imparcial à flagrante opressão dos fiéis na Ucrânia”, em reação à aprovação de uma lei que permite banir organizações religiosas com vínculos a estados agressores deste país. Ao mesmo tempo, Svyatoslav Shevchuk, arcebispo supremo de Kiev e líder da Igreja (minoritária) Greco-Católica da Ucrânia, comentou que a lei aprovada “não é uma proibição das atividades da Igreja”, mas uma medida cautelar para “proteger a religião de ser convertida numa arma”.

O Sínodo Russo, que é presidido pelo Patriarca Cirilo de Moscovo, difundiu um extenso comunicado em que salienta que, desde 2014, ano da chamada “Revolução Euromaidan” ou da Dignidade, assim como da anexação da Crimeia pelas tropas do Kremlin, foi alertando contra a “política antirreligiosa” do governo ucraniano, que o teria levado a procurar “enfraquecer, dividir e destruir” a Igreja Ortodoxa da Ucrânia (IOU).

Tal política materializou-se, segundo o comunicado, numa “campanha anti-igreja [IOU] caluniosa” nos media do país, que visava “difamar a Ortodoxia canónica, bem como instigar e justificar apreensões em massa” de igrejas, chamando-lhes “transferências voluntárias” para a Igreja Ortodoxa entretanto constituída e que Moscovo considera “cismática”.

Para os responsáveis dos ortodoxos russos essas alegadas apreensões são “orquestradas pelos proponentes do cisma e nacionalistas radicais com apoio das autoridades locais, serviços de segurança e órgãos de aplicação da lei, e geralmente envolvem violência, incluindo espancamentos em massa do clero e dos fiéis”.

A pressão sobre a IOU terá ainda passado por “dezenas de casos criminais forjados e vereditos ilegais” suscitados por motivos políticos, bem como coerção sobre pastores dessa Igreja que terão sido “presos, levados sob custódia ou receberam sentenças injustas”.

Estes atos persecutórios, nota ainda o comunicado do Sínodo, levaram o Patriarca Cirilo a denunciar e apelar em várias ocasiões a organizações internacionais como a ONU, a OSCE e o Conselho da Europa, bem como aos líderes das comunidades religiosas mundiais. “Embora as violações dos direitos dos membros da Igreja Ortodoxa da Ucrânia tenham sido reconhecidas por muitos especialistas e organizações de direitos humanos no Ocidente, isso não impediu a adoção do projeto de lei que destrói a própria ideia da liberdade de consciência e dos direitos humanos fundamentais”.

Nesta perspetiva, a lei agora aprovada no Parlamento [Lei n. 8.371] permite, por meio de processos judiciais, proibir atividades de qualquer comunidade religiosa no território da Ucrânia se ela estiver ligada a uma organização religiosa na Rússia. “Para que o tribunal adote essa medida, bastarão as conclusões de uma ‘perícia religiosa’ que, no âmbito da caça às bruxas em curso, podem e serão falsificadas”, entende o Sínodo.

·        Patriarca de Constantinopla “pessoalmente responsabilizado”

A Igreja Ortodoxa Russa faz, neste contexto, críticas azedas ao Patriarca Bartolomeu de Constantinopla, considerando-o, “pessoalmente responsável por orquestrar as perseguições” contra os fiéis da IOU, ao “apoiar abertamente as ações do governo visando crucificar e destruir a Igreja canônica na Ucrânia”. Concretiza o “papel negativo” que o Patriarca Bartolomeu teria tido neste processo, aludindo a “ações unilaterais e precipitadas, inconsistentes com o espírito dos cânones sagrados”, que “apenas exacerbaram o cisma da igreja na Ucrânia, tendo falhado em curá-lo”. Mais especificamente, acusa-o de reconhecer a nova Igreja Ortodoxa e os seus “lideres cismáticos” que considera “particularmente desenfreados” no apoio a uma lei que “praticamente proíbe a Igreja Ortodoxa da Ucrânia”.

A Igreja Ortodoxa Russa e particularmente o Patriarca Cirilo deixam em silêncio alguns factos que são relevantes para a compreensão dos acontecimentos no campo ortodoxo na Ucrânia.

O principal é a cobertura, legitimação e envolvimento reiterado de Cirilo na invasão e na guerra na Ucrânia, ao lado do regime de Putin e o castigo que tem aplicado a padres, nomeadamente àqueles que, na Rússia, se atrevem a rezar publicamente pela paz em vez de pela vitória.

O Sínodo coloca-se em defesa da IOU, denunciando a alegada perseguição de que estaria a ser vítima, mas não refere que essa mesma Igreja, dias depois do início da invasão, demarcou-se das operações militares russas, pondo-se ao lado do povo ucraniano, vindo, mais tarde, a decidir no seu próprio Sínodo, cortar laços com o Patriarcado de Moscovo (que alguns entendem não terem sido totais).

O comunicado do Sínodo esquece, sobretudo, que é pelo papel que a Igreja Ortodoxa Russa tem na guerra que surge a lei n. 8.371 que limita a ação de organizações religiosas russas em território ucraniano ou de organizações religiosas ucranianas ligadas a organizações religiosas russas.

·        Dirigente católico: lei protege da “militarização da religião”

A posição entretanto manifestada pelo líder da Igreja Greco-Católica da Ucrânia vai nessa direção. Segundo o arcebispo Svyatoslav Chevchuk, foi o próprio “ambiente religioso [que] se tornou alvo da agressão russa”. “A lei aplica-se a todas as organizações religiosas com centros de gestão em países reconhecidos pela Verkhovna Rada [parlamento] da Ucrânia como agressores. A Rússia usou a Ortodoxia sob seu controlo como uma ferramenta de militarização, transformando-a numa arma neurotrópica”, observou o acebispo.

Integrando, tal como outros líderes religiosos do seu país, o Conselho de Igrejas, que se pronunciou sobre os princípios da lei agora aprovada, Chevchuk recordou esses princípios: “cooperação e parceria entre o Estado e as igrejas; ausência de uma Igreja estatal e a igualdade de todas as organizações religiosas; não interferência do Estado nos assuntos da Igreja; bem como o direito e dever do Estado de garantir a segurança nacional, respondendo à possível instrumentalização das organizações religiosas pelos estados agressores”.

O novo diploma visa, segundo o responsável católico, “proteger o ambiente religioso da Ucrânia da instrumentalização e militarização da religião, que se tornou característica das atividades da Igreja Ortodoxa Russa no contexto da guerra”.

 

¨      Cristãos indianos pedem revogação de nova lei anti-conversão

A delegação do Fórum dos Cristãos Unidos (UCF, na sigla inglesa), no seu memorando de 19 de agosto ao governador do estado indiano do Uttar Pradesh, Anandiben Patel, chamou a atenção para “a linguagem ampla e ambígua” da proposta de lei anti-conversão, pedindo a sua revogação e acrescentando que esta pode “encorajar indivíduos e grupos a visar as minorias religiosas”, noticiou a UCA News no passado dia 21 de agosto.

A delegação da UCF, composta por oito membros, afirmou que os termos utilizados no projeto de lei de 2024 sobre a proibição da conversão ilegal da religião no Uttar Pradesh, como “força, fraude e aliciamento”, são indefinidos e vagos. “Por exemplo, qualquer reunião coletiva de cristãos é demonizada e retratada como uma tentativa de aliciar as pessoas para o cristianismo”, afirmaram os membros da delegação.

O memorando enfatizou que as leis existentes, como a Lei de Proibição de Conversão Ilegal de Religião de Uttar Pradesh, de 2021, bem como as leis criminais e civis, já tratam da questão das conversões por fraude, coerção ou força.

O novo projeto de lei impõe penas desproporcionadamente severas, como a previsão de 20 anos ou prisão perpétua em caso de condenação por conversão religiosa. Anteriormente, a pena máxima prevista era de 10 anos.

O memorando refere que os investigadores têm documentado a forma como as leis anti-conversão têm sido utilizadas como armas para atingir as minorias religiosas, incluindo os cristãos.

Multidões de vigilantes, muitas vezes apoiadas por agentes da polícia local, brutalizam os cristãos por realizarem reuniões de oração nas suas casas, levando ao registo de casos falsos, que se arrastam durante muitos anos e resultam num assédio crescente e com custos legais. Tudo isto resulta “numa violação indevida do direito à vida e à liberdade”, referiram.

O novo projeto de lei também permite que qualquer terceira pessoa registe um primeiro relatório de informação quando a lei em vigor exige que a vítima ou os seus familiares de sangue forneçam informações ou apresentem uma queixa num caso de conversão.

A nova disposição, que permite que “qualquer pessoa” apresente queixa, “alarga a porta a acusações motivadas por preconceitos pessoais, políticos ou comunais, conduzindo a uma onda de violência e assédio contra estas comunidades [minoritárias]”, afirma o memorando.

Um responsável nacional da UCF, A. C. Michael, disse que a delegação instou o governador a “suspender” o novo projeto de lei na sua forma atual. A. C. Michael disse à UCA News que, no seu memorando, a UCF recomendava que o Governo de Uttar Pradesh se concentrasse em iniciativas que reforçassem a harmonia e promovessem a tolerância entre os diferentes grupos religiosos, em vez de causar tensões através de legislação punitiva.

Sugeriu ainda a realização de campanhas de sensibilização do público para educar os cidadãos sobre os seus direitos constitucionais e a importância do respeito pela diversidade. Foi também sugerido que o pessoal da polícia e os funcionários judiciais recebessem formação para salvaguardar as liberdades religiosas, tratar as queixas de forma ética e efetuar investigações imparciais.

A UCF apelou à criação de sistemas de apoio a pessoas inocentes que sejam injustamente acusadas e presas, sob a forma de aconselhamento psicológico e assistência jurídica, para que possam lidar com o trauma e o impacto financeiro de tais ações ilegais.

 

¨      Padre é preso por crimes sexuais contra adolescentes no Brasil

Um padre foi preso no passado domingo, 18 de agosto, na cidade de Coari, no estado brasileiro do Amazonas, depois de um inquérito policial ter concluído que ele abusou de pelo menos quatro adolescentes. Uma delas acabou por ficar grávida e foi obrigada por ele a abortar, noticia o jornal Crux esta quinta-feira, 22.

O padre Paulo Araújo da Silva, de 31 anos, já tinha sido denunciado de forma anónima em 2023. A polícia iniciou então uma investigação e falou com uma das suas vítimas. A adolescente de 17 anos disse às autoridades que ela e o presbítero começaram uma relação quando a rapariga tinha apenas 14 anos. Ela afirmou, ainda, que ele costumava fazer e armazenar vídeos dos atos sexuais.

O delegado José Barradas Jr. disse à imprensa que a vítima estava a sofrer uma enorme pressão por parte de Araújo da Silva quando procurou ajuda policial no ano passado. “Ela estava a sofrer uma forte violência psicológica, porque o padre não só cooptava as vítimas na sua paróquia, como também as obrigava a manter um relacionamento com ele”, disse Barradas Jr., segundo a página de notícias local Amazonas Atual. Silva nunca permitia que as vítimas deixassem de o ver e até dizia coisas como “se não estiveres comigo, não estarás com mais ninguém”.

Uma vítima disse aos investigadores que engravidou em 2023, ao que Silva terá respondido: “Faz imediatamente um aborto”. “É neste contexto que um homem de 34 anos, que está agora em fuga, também participou [no crime]. Ele é amigo do padre e foi a pessoa que deu à adolescente um medicamento, que ela tomou e que resultou no aborto”, afirmou Barradas, de acordo com o portal de notícias brasileiro G1.

O feto da vítima foi enterrado no quintal da casa desse homem. O delegado acrescentou que fotos e o depoimento da mulher confirmam essa alegação.

Todas as vítimas identificadas eram frequentadoras da igreja e membros da paróquia de São Pedro, da diocese de Coari, presidida por Silva. Segundo a polícia, testemunhas contaram que o padre pedia sempre às vítimas que trouxessem outras meninas, para que fizessem sexo grupal. E fazia sempre questão de gravar tudo.

Quando os agentes entraram na paróquia para deter Silva, ele estava na cama com uma jovem que tinha acabado de fazer 18 anos, “o que significa que já tinha tido relações sexuais com ela quando ela era menor”, disse Barradas. A polícia apreendeu de imediato o telemóvel de Silva e encontrou pelo menos 260 vídeos feitos pelo padre mostrando atos sexuais com menores. O padre também tinha 30 mil reais no seu quarto.

De acordo com a diocese de Coari, Silva nasceu em 1992 e foi ordenado em 2018.

No dia 18 de agosto, após a prisão do padre, a diocese divulgou uma nota na qual manifestou o seu “repúdio a toda a forma de abuso e exploração”.

“A Diocese de Coari manifesta a sua solidariedade às vítimas e suas famílias e coloca-se imediatamente à disposição para acompanhar e ajudar [as vítimas] a superar os traumas provocados pelos abusos do padre Paulo Araújo da Silva”, dizia o documento.

A diocese afirmou que foram tomadas “todas as medidas canónicas necessárias”. O padre foi suspenso e não pode continuar a ter qualquer atividade na paróquia. A Igreja também está disponível para colaborar com as autoridades no inquérito, concluiu a nota, assinada pelo chanceler da diocese, padre Josinaldo Plácido da Silva.

O padre será indiciado por crimes como estupro de menores ou de vulneráveis, omissão de socorro a crianças e adolescentes, produção e armazenamento de conteúdo pornográfico envolvendo menores, aborto forçado e ameaça a mulher de violência.

A polícia disse que a investigação vai continuar, uma vez que outras pessoas podem estar envolvidas nas atividades criminosas lideradas pelo padre. Podem também aparecer outras vítimas, afirmaram as autoridades.

Crux não conseguiu localizar o advogado de defesa do padre. Membros da sua paróquia e leigos católicos envolvidos em ministérios da Igreja não quiseram comentar o caso.

Na página da diocese de Coari, Silva aparece como o padre responsável pela Pastoral da Juventude local. Não foi possível saber há quanto tempo Silva trabalhava diretamente com adolescentes na região.

 

Fonte: 7Margens

 

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