terça-feira, 27 de agosto de 2024

Joaquim de Carvalho: ‘Queimadas sinalizam um novo 8 de janeiro, com objetivo de desgastar Lula e reabilitar Bolsonaro’

Os incêndios em áreas rurais de Estados do Centro-Oeste e, sobretudo, de São Paulo, no Sudeste, podem efetivamente ser fruto de ação criminosa. Pelo menos três prisões foram feitas neste fim de semana – duas em São Paulo e uma em Goiás.

A polícia, no entanto, não divulgou se os criminosos presos em flagrante confessaram as razões dessa ação, que tem matado animais silvestres e espalhado fumaça que provoca filas em hospitais por problemas respiratórios, sobretudo de crianças.

Seriam fazendeiros? No caso de Goiás, 50 proprietários participam da força-tarefa para combater o fogo. As queimadas não interessam do ponto de vista econômico a quem pratica agricultura mecanizada.

Vídeos que circulam na internet mostram funcionários de uma usina de cana ateando fogo em plantação de cana. A imagem é impactante, mas, em geral, todas elas são autorizadas por órgãos ambientais.

É a chamada queima controlada, que elimina a palha para, num momento posterior, colher a cana. Hoje, as plantações mecanizadas não necessitam dessa prática, antiga e rudimentar. 

Há um estudo publicado pela Embrapa que fala sobre os impactos da substituição da queima pelo uso de máquinas. O estudo já tem mais de dez anos.

O site do Ibama publica informações sobre essas queimas. Diz o site:

“Queima controlada é o uso planejado, monitorado e controlado do fogo, realizado para fins agrossilvipastoris em áreas determinadas e sob condições específicas. A técnica é uma prática tradicional em muitas partes do Brasil, mas que deve ser utilizada de maneira segura para que não se torne um incêndio florestal. Interessados em executar queima controlada deverão solicitar autorização ao órgão estadual de meio ambiente, já as propriedades dentro de áreas de conservação, para o ICMBio.”

Se aos proprietários de grandes áreas rurais não interessa economicamente o fogo, resta a suspeita, levantada pela presidente do PT, Gleisi Hoffmann, de que seja uma ação organizada pela extrema direita. Nesse caso, afastada a hipótese de que os proprietários rurais não estejam agindo militantes extremistas, pois, às vezes, as duas condições se misturam.

“Há uma semana, vi lideranças da extrema direita espalhando que o Brasil iria ‘pegar fogo’. Coincidência? Tenho minhas dúvidas”, disse, em postagem na rede X.

E o que a extrema direita ganharia colocando fogo no Brasil? Desgastar o governo Lula e reabilitar Jair Bolsonaro, em cujo governo as queimadas no Brasil aumentaram, sobretudo em áreas de preservação permanente.

Essa hipótese representa uma reedição dos atos terroristas de 8 de janeiro. É importante, por isso, aprofundar as investigações.

O homem preso em Goiás teria sido o responsável pelo fogo que atingiu 700 hectares de fazendas em Goiás. Ele não teve a identidade divulgada. Foi preso quando os policiais o encontraram ateando fogo em um pasto de uma propriedade rural durante patrulhamento na BR-158, em Bom Jardim de Goiás.

De acordo com a Polícia Militar, o incêndio foi criminoso e ocorreu nas regiões das cidades de Caiapônia, Piranhas, Bom Jardim de Goiás e outras. O batalhão rural ainda disse que, segundo relato de fazendeiros da região, vários animais foram queimados pelo fogo.

O suspeito deve responder pelo crime previsto no artigo 250 do Código Penal Brasileiro, que fala sobre “causar incêndio, expondo a perigo a vida, a integridade física, ou ao patrimônio de outrem”. Ele foi encaminhado ao presídio de Aragarças.

Em São Paulo, um suspeito foi preso na região de São José do Rio Preto (SP) no sábado (24) e outro foi detido neste domingo (25) em Batatais (SP). A distância entre as duas cidades é de cerca de 230 quilômetros. Teria sido coincidência que os dois, com a diferença de poucas horas, ateassem fogo em áreas rurais?

Parece, efetivamente, ação organizada. Que haja investigação séria.

 

•        Gleisi afirma que queimadas podem ser criminosas

A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, diz que as queimadas que produzem vítimas em São Paulo podem ser uma ação organizada da extrema direita.

“São Paulo registra o maior número de incêndios em mais de duas décadas, muitos deles criminosos, inclusive com pessoas sendo presas por isso. Goiânia e Brasília também ardem com chamas. Há uma semana, vi lideranças da extrema direita espalhando que o Brasil iria ‘pegar fogo’. Coincidência? Tenho minhas dúvidas. Quando temos situações trágicas como essa, é inevitável não pensar naquele pessoal que queria passar a boiada sobre o meio ambiente. Aos paulistas em especial, e a todos brasileiros que estão sofrendo com mais essa emergência climática, minha total solidariedade”, escreveu Gleisi, em postagem na rede social.

O governo Lula está ajudando o Estado de São Paulo no combate aos incêndios. A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, conversou na noite de sábado (24/8) com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Numa postagem na rede social X, a ministra do governo Lula disse que manifestou sua “solidariedade total” com o Estado de São Paulo em razão dos “gravíssimos incêndios" neste mês de agosto.

Na postagem, a ministra informou que o governo federal, por meio do Ministério da Defesa, enviou aviões para combater o fogo. “É importantíssima a decisão do governador de montar uma sala de situação e mobilizar todos os recursos do governo estadual”, escreveu Marina.

A ministra chamou o episódio de “mais uma emergência climática enfrentada no país” e disse que o momento exige “respostas rápidas e coordenadas entre todas as instâncias de poder”.

Segue a postagem da ministra:

Conversei esta noite com o governador Tarcísio de Freitas para prestar minha total solidariedade ao Estado de São Paulo, especialmente às famílias das vítimas e a todas as pessoas que estão sofrendo com os gravíssimos incêndios.

O número de focos de incêndio, as cidades em estado de alerta máximo e o avanço da destruição e dos riscos apontados pelo INPE exigem respostas rápidas e coordenadas entre todas as instâncias de poder.

Reforcei ao governador que estamos à disposição para enfrentarmos conjuntamente essa situação, intensificada pelos fortes ventos e pela seca.

O governo federal, por meio do Ministério da Defesa, também está enviando aviões para combater o fogo. É importantíssima a decisão do governador de montar uma sala de situação e mobilizar todos os recursos do governo estadual.

Em mais uma emergência climática enfrentada pelo país, o momento novamente requer solidariedade, concentração e preparo para responder adequadamente aos seus impactos.

Neste domingo, o governador decretou situação de emergência, por 180 dias, nas áreas de 45 municípios.

De acordo com o monitoramento do Centro de Gerenciamento de Emergência (CGE) da Defesa Civil, 46 cidades paulistas estão com alerta máximo para queimadas, e 21 enfrentam focos ativos de incêndio, devido à onda de calor que afeta todo o estado.

Cidades da região de Ribeirão Preto registraram incêndios de grandes proporções. Estradas que ligam outros municípios à região foram bloqueadas por conta das queimadas.

•        Presidente do Ibama pede que PF investigue origem de incêndios: 'há desconfiança de que queimadas em SP foram organizadas'

 O presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, disse neste domingo (25) que solicitou à Polícia Federal uma investigação sobre os focos de incêndio que estão afetando grande parte do  Brasil. Ainda segundo ele, a maioria das queimadas no país, inclusive as que atingem o estado de São Paulo,  possuem origem criminosa.

“Quase todo incêndio no Brasil é criminoso. Não temos incêndio espontâneo e são raros os casos de acidente, como um caminhão que pegou fogo, ou uma queda de um cabo de alta tensão. Em São Paulo, há uma desconfiança de que tudo foi organizado, pois os focos aconteceram praticamente no mesmo horário”, disse Agostinho ao jornal O Globo. Agostinho deve se reunir nesta tarde com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, para discutir a situação

Ele também confirmou que a fumaça visível no Distrito Federal e em Goiás tem origem em áreas afetadas por queimadas, como a Amazônia, o Pantanal e São Paulo. As condições climáticas, como a baixa umidade e a falta de chuva há mais de 120 dias na região Centro-Oeste, contribuem para o agravamento dos incêndios. O presidente do Ibama destacou que, apesar da queda no desmatamento, áreas desmatadas nos últimos anos continuam sendo incendiadas.

Atualmente, o governo mobilizou um número recorde de brigadistas, com mais de 2 mil pessoas atuando em todo o país, sendo 1400 na Amazônia e 800 no Pantanal. Agostinho ressaltou que a crise é uma das maiores já enfrentadas, prejudicando a recuperação de rios amazônicos afetados pela seca, como o Madeira e o Tapajós.

•        PF abre inquéritos para investigar queimadas

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, afirmou neste domingo (25) que os incêndios registrados no interior de São Paulo são atípicos e precisam ser investigados. Segundo Marina, há queimadas no interior paulista, no Pantanal e na Amazônia. A Polícia Federal abriu dois inquéritos para apurar as causas das queimadas em São Paulo.

O tempo seco e o vento contribuíram para que diferentes cidades do país amanhecessem cobertas por fumaça.

"Tem uma situação atípica. Você começa a ter em uma semana, praticamente em dois dias, vários municípios queimando ao mesmo tempo. Isso não faz parte da nossa curva de experiência na nossa trajetória de tantos anos de abordagem do fogo", disse Marina.

"Do mesmo jeito que nós tivemos o 'dia do fogo', há uma forte suspeita de que agora esteja acontecendo de novo", afirmou.

O "dia do fogo", mencionado pela ministra, foi marcado por uma série de incêndios criminosos em agosto de 2019 no Pará.

"Em São Paulo não é natural, em hipótese alguma, que, em poucos dias, você tenha tantas frentes de incêndio envolvendo concomitantemente vários municípios. Mas obviamente isso aí são as investigações que vão dizer", afirmou a ministra.

A Polícia Federal abriu dois inquéritos para apurar as causas das queimadas no interior paulista. A competência federal para investigar esses incêndios foi justificada pelo prejuízo causado ao funcionamento dos aeroportos de Ribeirão Preto e São José do Rio Preto.

"Só a investigação vai poder identificar o que está por trás dessas ações", disse o diretor-geral da PF, Andrei Passos Rodrigues. Segundo o delegado, serão usadas imagens de satélite para identificar os pontos iniciais dos incêndios.

A PF mobilizou 14 delegacias localizadas no estado de São Paulo e a diretoria de Meio Ambiente para acompanhar a situação dos incêndios no interior paulista.

As declarações das autoridades foram dadas em Brasília nesta tarde após a ministra do Meio Ambiente e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitarem a central de monitoramento de incêndios florestais que fica na sede do Ibama, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis.

<><> 'Dia do fogo'

O "dia do fogo" ao qual Marina Silva se referiu foi registrado em agosto de 2019 no Pará. A PF descobriu posteriormente que houve combinação, por meio de redes sociais, para incêndios florestais concomitantes nos municípios de Altamira e Novo Progresso, sudoeste do Pará.

Em grupos de mensagens, fazendeiros, empresários e produtores rurais teriam combinado a realização de queimadas, segundo a apuração. Para a ação criminosa, alguns teriam colaborado com dinheiro para compra de óleo diesel e gasolina, enquanto outros teriam participado da execução.

Houve aumento de 300% nos focos de incêndio em Altamira e Novo Progresso no dia 10 de agosto de 2019.

Na ocasião, os efeitos do fogo foram sentidos em várias partes do país, como acontece neste domingo. Hoje, a capital federal amanheceu coberta por uma fumaça densa. As autoridades recomendaram que os moradores adotem cuidados com a saúde. O tempo seco desta época do ano e os ventos fortes ajudam o fogo e a fumaça a se espalharem.

 

•        Quase duas dezenas de cidades de SP são atingidas por incêndios ‘criminosos’

O governo de São Paulo afirmou neste sábado que atualmente há 17 cidades no Estado com focos ativos de incêndios, enquanto 36 estão em "alerta máximo" para queimadas, em meio a um período de estiagem que já dura dias e altas temperaturas.

A região de Ribeirão Preto, no oeste do Estado, é uma das mais críticas, afirmou o governo. Atuam na região três helicópteros da Polícia Militar, uma aeronave KC-390 da Força Aérea Brasileira e dois helicópteros para ajudar no combate às queimadas.

Diante da forte fumaça que encobre a cidade, a prefeitura de Ribeirão Preto publicou decreto proibindo até domingo atividades esportivas ao ar livre, publicou o G1.

"Estamos contratando aviões para fazer a pulverização de água, que se somam às nossas equipes de aeronaves do Corpo de Bombeiros e ao reforço das Forças Armadas", afirmou o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, em comunicado à imprensa.

O governo paulista criou na sexta-feira um "gabinete de pronta resposta" aos incêndios,

No início da tarde, pelo menos três trechos rodoviários no Estado estavam interditados em decorrência das chamas e da fumaça.

Em Urupês, próxima a Ribeirão Preto e uma das cidades mais atingidas pelos focos de incêndio, a defesa civil informou que cerca de 200 hectares de cana-de-açúcar foram consumidos pelas chamas. Na sexta-feira, dois brigadistas da usina Santa Isabel, morreram ao tentar combater o fogo, afirmou a prefeitura da cidade em comunicado.

"O céu continua opaco, com forte odor de fumaça ainda presente no ar. Dados do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) do INPE...indicam que a qualidade do ar em Urupês está insalubre para grupos sensíveis, como pessoas com doenças respiratórias, crianças e idosos", afirmou a prefeitura.

<><> Governo federal acompanha incêndios em municípios paulistas

O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, informou que o governo está disposto a ajudar o governo de São Paulo a amenizar a situação dos 30 municípios que estão em alerta máximo devido aos incêndios que assolam o estado.

O aceno de apoio foi dado pelo ministro via redes sociais neste sábado (24). “Estamos acompanhando a grave situação de queimadas no estado de São Paulo, são 30 cidades em alerta máximo, rodovias interditadas, e cenários assustadores”, postou o ministro.

“Estamos trabalhando para que medidas sejam tomadas o mais brevemente possível e a situação se resolva”, acrescentou ao manifestar solidariedade aos amigos e familiares dos dois brigadistas que morreram em Urupês, tentando controlar o fogo.

O governo local criou um gabinete de crise para gerenciar ações de monitoramento e controle da situação. De acordo com o Centro de Gerenciamento de Emergência (CGE) da Defesa Civil, há focos ativos de incêndio em 30 cidades, motivo pelo qual foi estabelecido alerta máximo para grandes queimadas.

“São localidades que estão com baixa umidade do ar e risco elevado com a onda de calor que atinge todo o estado”, informou, em nota, o governo do estado. Há riscos de esses incêndios serem potencializados por rajadas de ventos, atingindo grandes áreas de vegetação natural, além de emitirem “fumaça densa e tóxica que prejudica o meio ambiente e a saúde humana, causando problemas ao sistema respiratório e desordens cardiovasculares”.

A fumaça tem se espalhado por diversas áreas do estado, e há registros de umidade relativa do ar abaixo dos 20%, além de calor bastante intenso – o que prejudica ainda mais a situação. Segundo o governo de São Paulo, dois funcionários de uma usina em Urupês morreram tentando combater um incêndio.

Alguns incêndios de grande porte levaram o governo local a interditar algumas rodovias, o que acabou por impactar “significativamente” o tráfego em várias regiões. Alertas foram emitidos sugerindo aos motoristas que evitem algumas rotas, e que se atualizem constantemente sobre as condições de tráfego no trajeto, antes de pegarem estrada.

“A principal recomendação é evitar atravessar áreas com cortinas de fumaça e fogo. Caso não haja essa possibilidade, reduza a velocidade, mantenha os faróis baixos acesos e uma distância segura do veículo à frente”, diz a nota do governo de São Paulo.

Os municípios em alerta máximo para incêndios são: Alumínio, Araraquara, Bernardino de Campos, Boa Esperança do Sul, Dourado, Iacanga, Itápolis, Itirapina, Jaú, Lucélia, Monte Alegre do Sul, Monte Azul Paulista, Nova Granada, Piracicaba, Pirapora do Bom Jesus, Pitangueiras, Poloni, Pompeia, Pontal, Presidente Epitácio, Sabino, Salmourão, Santo Antônio da Alegria, Santo Antônio do Arancanguá, São Bernardo do Campo, São Simão, Sertãozinho, Taquarituba, Torrinha e Ubarana.

 

Fonte: Brasil 247/Reuters/g1/Agencia Brasil

 

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