Joaquim de Carvalho: ‘Queimadas sinalizam
um novo 8 de janeiro, com objetivo de desgastar Lula e reabilitar Bolsonaro’
Os incêndios em áreas
rurais de Estados do Centro-Oeste e, sobretudo, de São Paulo, no Sudeste, podem
efetivamente ser fruto de ação criminosa. Pelo menos três prisões foram feitas
neste fim de semana – duas em São Paulo e uma em Goiás.
A polícia, no entanto,
não divulgou se os criminosos presos em flagrante confessaram as razões dessa
ação, que tem matado animais silvestres e espalhado fumaça que provoca filas em
hospitais por problemas respiratórios, sobretudo de crianças.
Seriam fazendeiros? No
caso de Goiás, 50 proprietários participam da força-tarefa para combater o
fogo. As queimadas não interessam do ponto de vista econômico a quem pratica
agricultura mecanizada.
Vídeos que circulam na
internet mostram funcionários de uma usina de cana ateando fogo em plantação de
cana. A imagem é impactante, mas, em geral, todas elas são autorizadas por
órgãos ambientais.
É a chamada queima
controlada, que elimina a palha para, num momento posterior, colher a cana.
Hoje, as plantações mecanizadas não necessitam dessa prática, antiga e
rudimentar.
Há um estudo publicado
pela Embrapa que fala sobre os impactos da substituição da queima pelo uso de
máquinas. O estudo já tem mais de dez anos.
O site do Ibama
publica informações sobre essas queimas. Diz o site:
“Queima controlada é o
uso planejado, monitorado e controlado do fogo, realizado para fins
agrossilvipastoris em áreas determinadas e sob condições específicas. A técnica
é uma prática tradicional em muitas partes do Brasil, mas que deve ser
utilizada de maneira segura para que não se torne um incêndio florestal.
Interessados em executar queima controlada deverão solicitar autorização ao
órgão estadual de meio ambiente, já as propriedades dentro de áreas de
conservação, para o ICMBio.”
Se aos proprietários
de grandes áreas rurais não interessa economicamente o fogo, resta a suspeita,
levantada pela presidente do PT, Gleisi Hoffmann, de que seja uma ação
organizada pela extrema direita. Nesse caso, afastada a hipótese de que os
proprietários rurais não estejam agindo militantes extremistas, pois, às vezes,
as duas condições se misturam.
“Há uma semana, vi
lideranças da extrema direita espalhando que o Brasil iria ‘pegar fogo’.
Coincidência? Tenho minhas dúvidas”, disse, em postagem na rede X.
E o que a extrema
direita ganharia colocando fogo no Brasil? Desgastar o governo Lula e
reabilitar Jair Bolsonaro, em cujo governo as queimadas no Brasil aumentaram,
sobretudo em áreas de preservação permanente.
Essa hipótese
representa uma reedição dos atos terroristas de 8 de janeiro. É importante, por
isso, aprofundar as investigações.
O homem preso em Goiás
teria sido o responsável pelo fogo que atingiu 700 hectares de fazendas em
Goiás. Ele não teve a identidade divulgada. Foi preso quando os policiais o
encontraram ateando fogo em um pasto de uma propriedade rural durante
patrulhamento na BR-158, em Bom Jardim de Goiás.
De acordo com a
Polícia Militar, o incêndio foi criminoso e ocorreu nas regiões das cidades de
Caiapônia, Piranhas, Bom Jardim de Goiás e outras. O batalhão rural ainda disse
que, segundo relato de fazendeiros da região, vários animais foram queimados pelo
fogo.
O suspeito deve
responder pelo crime previsto no artigo 250 do Código Penal Brasileiro, que
fala sobre “causar incêndio, expondo a perigo a vida, a integridade física, ou
ao patrimônio de outrem”. Ele foi encaminhado ao presídio de Aragarças.
Em São Paulo, um
suspeito foi preso na região de São José do Rio Preto (SP) no sábado (24) e
outro foi detido neste domingo (25) em Batatais (SP). A distância entre as duas
cidades é de cerca de 230 quilômetros. Teria sido coincidência que os dois, com
a diferença de poucas horas, ateassem fogo em áreas rurais?
Parece, efetivamente,
ação organizada. Que haja investigação séria.
• Gleisi afirma que queimadas podem ser
criminosas
A presidente do PT,
Gleisi Hoffmann, diz que as queimadas que produzem vítimas em São Paulo podem
ser uma ação organizada da extrema direita.
“São Paulo registra o
maior número de incêndios em mais de duas décadas, muitos deles criminosos,
inclusive com pessoas sendo presas por isso. Goiânia e Brasília também ardem
com chamas. Há uma semana, vi lideranças da extrema direita espalhando que o Brasil
iria ‘pegar fogo’. Coincidência? Tenho minhas dúvidas. Quando temos situações
trágicas como essa, é inevitável não pensar naquele pessoal que queria passar a
boiada sobre o meio ambiente. Aos paulistas em especial, e a todos brasileiros
que estão sofrendo com mais essa emergência climática, minha total
solidariedade”, escreveu Gleisi, em postagem na rede social.
O governo Lula está
ajudando o Estado de São Paulo no combate aos incêndios. A ministra do Meio
Ambiente, Marina Silva, conversou na noite de sábado (24/8) com o governador de
São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Numa postagem na rede social X,
a ministra do governo Lula disse que manifestou sua “solidariedade total” com o
Estado de São Paulo em razão dos “gravíssimos incêndios" neste mês de
agosto.
Na postagem, a
ministra informou que o governo federal, por meio do Ministério da Defesa,
enviou aviões para combater o fogo. “É importantíssima a decisão do governador
de montar uma sala de situação e mobilizar todos os recursos do governo
estadual”, escreveu Marina.
A ministra chamou o
episódio de “mais uma emergência climática enfrentada no país” e disse que o
momento exige “respostas rápidas e coordenadas entre todas as instâncias de
poder”.
Segue a postagem da
ministra:
Conversei esta noite
com o governador Tarcísio de Freitas para prestar minha total solidariedade ao
Estado de São Paulo, especialmente às famílias das vítimas e a todas as pessoas
que estão sofrendo com os gravíssimos incêndios.
O número de focos de
incêndio, as cidades em estado de alerta máximo e o avanço da destruição e dos
riscos apontados pelo INPE exigem respostas rápidas e coordenadas entre todas
as instâncias de poder.
Reforcei ao governador
que estamos à disposição para enfrentarmos conjuntamente essa situação,
intensificada pelos fortes ventos e pela seca.
O governo federal, por
meio do Ministério da Defesa, também está enviando aviões para combater o fogo.
É importantíssima a decisão do governador de montar uma sala de situação e
mobilizar todos os recursos do governo estadual.
Em mais uma emergência
climática enfrentada pelo país, o momento novamente requer solidariedade,
concentração e preparo para responder adequadamente aos seus impactos.
Neste domingo, o
governador decretou situação de emergência, por 180 dias, nas áreas de 45
municípios.
De acordo com o
monitoramento do Centro de Gerenciamento de Emergência (CGE) da Defesa Civil,
46 cidades paulistas estão com alerta máximo para queimadas, e 21 enfrentam
focos ativos de incêndio, devido à onda de calor que afeta todo o estado.
Cidades da região de
Ribeirão Preto registraram incêndios de grandes proporções. Estradas que ligam
outros municípios à região foram bloqueadas por conta das queimadas.
• Presidente do Ibama pede que PF
investigue origem de incêndios: 'há desconfiança de que queimadas em SP foram
organizadas'
O presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho,
disse neste domingo (25) que solicitou à Polícia Federal uma investigação sobre
os focos de incêndio que estão afetando grande parte do Brasil. Ainda segundo ele, a maioria das
queimadas no país, inclusive as que atingem o estado de São Paulo, possuem origem criminosa.
“Quase todo incêndio
no Brasil é criminoso. Não temos incêndio espontâneo e são raros os casos de
acidente, como um caminhão que pegou fogo, ou uma queda de um cabo de alta
tensão. Em São Paulo, há uma desconfiança de que tudo foi organizado, pois os
focos aconteceram praticamente no mesmo horário”, disse Agostinho ao jornal O
Globo. Agostinho deve se reunir nesta tarde com o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva (PT) e a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, para discutir a
situação
Ele também confirmou
que a fumaça visível no Distrito Federal e em Goiás tem origem em áreas
afetadas por queimadas, como a Amazônia, o Pantanal e São Paulo. As condições
climáticas, como a baixa umidade e a falta de chuva há mais de 120 dias na
região Centro-Oeste, contribuem para o agravamento dos incêndios. O presidente
do Ibama destacou que, apesar da queda no desmatamento, áreas desmatadas nos
últimos anos continuam sendo incendiadas.
Atualmente, o governo
mobilizou um número recorde de brigadistas, com mais de 2 mil pessoas atuando
em todo o país, sendo 1400 na Amazônia e 800 no Pantanal. Agostinho ressaltou
que a crise é uma das maiores já enfrentadas, prejudicando a recuperação de rios
amazônicos afetados pela seca, como o Madeira e o Tapajós.
• PF abre inquéritos para investigar
queimadas
A ministra do Meio
Ambiente, Marina Silva, afirmou neste domingo (25) que os incêndios registrados
no interior de São Paulo são atípicos e precisam ser investigados. Segundo
Marina, há queimadas no interior paulista, no Pantanal e na Amazônia. A Polícia
Federal abriu dois inquéritos para apurar as causas das queimadas em São Paulo.
O tempo seco e o vento
contribuíram para que diferentes cidades do país amanhecessem cobertas por
fumaça.
"Tem uma situação
atípica. Você começa a ter em uma semana, praticamente em dois dias, vários
municípios queimando ao mesmo tempo. Isso não faz parte da nossa curva de
experiência na nossa trajetória de tantos anos de abordagem do fogo",
disse Marina.
"Do mesmo jeito
que nós tivemos o 'dia do fogo', há uma forte suspeita de que agora esteja
acontecendo de novo", afirmou.
O "dia do
fogo", mencionado pela ministra, foi marcado por uma série de incêndios
criminosos em agosto de 2019 no Pará.
"Em São Paulo não
é natural, em hipótese alguma, que, em poucos dias, você tenha tantas frentes
de incêndio envolvendo concomitantemente vários municípios. Mas obviamente isso
aí são as investigações que vão dizer", afirmou a ministra.
A Polícia Federal
abriu dois inquéritos para apurar as causas das queimadas no interior paulista.
A competência federal para investigar esses incêndios foi justificada pelo
prejuízo causado ao funcionamento dos aeroportos de Ribeirão Preto e São José
do Rio Preto.
"Só a
investigação vai poder identificar o que está por trás dessas ações",
disse o diretor-geral da PF, Andrei Passos Rodrigues. Segundo o delegado, serão
usadas imagens de satélite para identificar os pontos iniciais dos incêndios.
A PF mobilizou 14
delegacias localizadas no estado de São Paulo e a diretoria de Meio Ambiente
para acompanhar a situação dos incêndios no interior paulista.
As declarações das
autoridades foram dadas em Brasília nesta tarde após a ministra do Meio
Ambiente e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitarem a central de
monitoramento de incêndios florestais que fica na sede do Ibama, o Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis.
<><> 'Dia
do fogo'
O "dia do
fogo" ao qual Marina Silva se referiu foi registrado em agosto de 2019 no
Pará. A PF descobriu posteriormente que houve combinação, por meio de redes
sociais, para incêndios florestais concomitantes nos municípios de Altamira e
Novo Progresso, sudoeste do Pará.
Em grupos de
mensagens, fazendeiros, empresários e produtores rurais teriam combinado a
realização de queimadas, segundo a apuração. Para a ação criminosa, alguns
teriam colaborado com dinheiro para compra de óleo diesel e gasolina, enquanto
outros teriam participado da execução.
Houve aumento de 300%
nos focos de incêndio em Altamira e Novo Progresso no dia 10 de agosto de 2019.
Na ocasião, os efeitos
do fogo foram sentidos em várias partes do país, como acontece neste domingo.
Hoje, a capital federal amanheceu coberta por uma fumaça densa. As autoridades
recomendaram que os moradores adotem cuidados com a saúde. O tempo seco desta
época do ano e os ventos fortes ajudam o fogo e a fumaça a se espalharem.
• Quase duas dezenas de cidades de SP são
atingidas por incêndios ‘criminosos’
O governo de São Paulo
afirmou neste sábado que atualmente há 17 cidades no Estado com focos ativos de
incêndios, enquanto 36 estão em "alerta máximo" para queimadas, em
meio a um período de estiagem que já dura dias e altas temperaturas.
A região de Ribeirão
Preto, no oeste do Estado, é uma das mais críticas, afirmou o governo. Atuam na
região três helicópteros da Polícia Militar, uma aeronave KC-390 da Força Aérea
Brasileira e dois helicópteros para ajudar no combate às queimadas.
Diante da forte fumaça
que encobre a cidade, a prefeitura de Ribeirão Preto publicou decreto proibindo
até domingo atividades esportivas ao ar livre, publicou o G1.
"Estamos
contratando aviões para fazer a pulverização de água, que se somam às nossas
equipes de aeronaves do Corpo de Bombeiros e ao reforço das Forças
Armadas", afirmou o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, em
comunicado à imprensa.
O governo paulista
criou na sexta-feira um "gabinete de pronta resposta" aos incêndios,
No início da tarde,
pelo menos três trechos rodoviários no Estado estavam interditados em
decorrência das chamas e da fumaça.
Em Urupês, próxima a
Ribeirão Preto e uma das cidades mais atingidas pelos focos de incêndio, a
defesa civil informou que cerca de 200 hectares de cana-de-açúcar foram
consumidos pelas chamas. Na sexta-feira, dois brigadistas da usina Santa
Isabel, morreram ao tentar combater o fogo, afirmou a prefeitura da cidade em
comunicado.
"O céu continua
opaco, com forte odor de fumaça ainda presente no ar. Dados do Centro de
Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) do INPE...indicam que a
qualidade do ar em Urupês está insalubre para grupos sensíveis, como pessoas
com doenças respiratórias, crianças e idosos", afirmou a prefeitura.
<><>
Governo federal acompanha incêndios em municípios paulistas
O ministro das
Relações Institucionais, Alexandre Padilha, informou que o governo está
disposto a ajudar o governo de São Paulo a amenizar a situação dos 30
municípios que estão em alerta máximo devido aos incêndios que assolam o
estado.
O aceno de apoio foi
dado pelo ministro via redes sociais neste sábado (24). “Estamos acompanhando a
grave situação de queimadas no estado de São Paulo, são 30 cidades em alerta
máximo, rodovias interditadas, e cenários assustadores”, postou o ministro.
“Estamos trabalhando
para que medidas sejam tomadas o mais brevemente possível e a situação se
resolva”, acrescentou ao manifestar solidariedade aos amigos e familiares dos
dois brigadistas que morreram em Urupês, tentando controlar o fogo.
O governo local criou
um gabinete de crise para gerenciar ações de monitoramento e controle da
situação. De acordo com o Centro de Gerenciamento de Emergência (CGE) da Defesa
Civil, há focos ativos de incêndio em 30 cidades, motivo pelo qual foi estabelecido
alerta máximo para grandes queimadas.
“São localidades que
estão com baixa umidade do ar e risco elevado com a onda de calor que atinge
todo o estado”, informou, em nota, o governo do estado. Há riscos de esses
incêndios serem potencializados por rajadas de ventos, atingindo grandes áreas
de vegetação natural, além de emitirem “fumaça densa e tóxica que prejudica o
meio ambiente e a saúde humana, causando problemas ao sistema respiratório e
desordens cardiovasculares”.
A fumaça tem se
espalhado por diversas áreas do estado, e há registros de umidade relativa do
ar abaixo dos 20%, além de calor bastante intenso – o que prejudica ainda mais
a situação. Segundo o governo de São Paulo, dois funcionários de uma usina em
Urupês morreram tentando combater um incêndio.
Alguns incêndios de
grande porte levaram o governo local a interditar algumas rodovias, o que
acabou por impactar “significativamente” o tráfego em várias regiões. Alertas
foram emitidos sugerindo aos motoristas que evitem algumas rotas, e que se
atualizem constantemente sobre as condições de tráfego no trajeto, antes de
pegarem estrada.
“A principal
recomendação é evitar atravessar áreas com cortinas de fumaça e fogo. Caso não
haja essa possibilidade, reduza a velocidade, mantenha os faróis baixos acesos
e uma distância segura do veículo à frente”, diz a nota do governo de São
Paulo.
Os municípios em
alerta máximo para incêndios são: Alumínio, Araraquara, Bernardino de Campos,
Boa Esperança do Sul, Dourado, Iacanga, Itápolis, Itirapina, Jaú, Lucélia,
Monte Alegre do Sul, Monte Azul Paulista, Nova Granada, Piracicaba, Pirapora do
Bom Jesus, Pitangueiras, Poloni, Pompeia, Pontal, Presidente Epitácio, Sabino,
Salmourão, Santo Antônio da Alegria, Santo Antônio do Arancanguá, São Bernardo
do Campo, São Simão, Sertãozinho, Taquarituba, Torrinha e Ubarana.
Fonte: Brasil
247/Reuters/g1/Agencia Brasil
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