Fake News: Não há qualquer relação entre
mpox e vacina contra covid-19
Um dia depois de a
Organização Mundial de Saúde (OMS) declarar novamente alerta máximo por causa
do surto recente de mpox na República Democrática do Congo e em países
africanos vizinhos – fazendo desta a segunda emergência global sanitária
atrelada à doença viral em dois anos –, vieram as notícias da primeira infecção
na Europa.
Segundo as autoridades
suecas que confirmaram o caso, o contágio ocorreu enquanto a pessoa afetada
viajava por uma região da África de circulação da doença.
Depois disso,
começaram a surgir nas redes sociais uma série de conteúdos sobre o vírus mpox
– e cada vez mais informações falsas.
• Mpox e vacinas mRNA: há uma conexão?
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Alegação: "O que apresentam para nós como varíola dos macacos é, na
maioria dos casos, a tal herpes-zóster – um dos efeitos colaterais mais comuns
da 'vacina' contra a covid", afirma um usuário da rede social X em post do
dia 14 de agosto de 2024. A informação é atribuída ao médico alemão e político
Wolfgang Wodarg.
<><>
Checagem da DW: Falso.
A postagem cita uma
entrevista em vídeo com Wodarg, médico e ex-deputado federal pelo SPD que
depois migrou para o partido nanico dieBasis, formado na esteira dos protestos
contra as medidas de controle sanitário na época da pandemia de coronavírus. O
vídeo foi gravado em 2022 e veiculado pelo AUF1, site austríaco
conspiracionista de ultradireita.
A mesma citação é
replicada em perfis no X de língua portuguesa e espanhola. A maioria das
postagens que a DW localizou eram nesses dois idiomas.
Um estudo da
Universidade Loyola Andalusia constatou que a narrativa que apresenta o mpox
como efeito colateral de vacinas da covid-19 foi a mais compartilhada dentre
todas as informações falsas sobre a doença.
Perguntada sobre se há
uma relação entre o atual surto da varíola dos macacos e as vacinas contra a
covid-19, a microbiologista e imunologista Kari Moore Debbink da Escola de
Saúde Pública John Hopkins Bloomberg afirma: "As vacinas mRNA contra a covid-19
foram usadas mundialmente, enquanto os casos de mpox tipicamente surgem em
determinados países da África, com alguns poucos casos fora dessa região.
Portanto, não há nenhuma ligação geográfica entre as vacinas de mRNA contra o
coronavírus e os casos de mpox".
Professor de doenças
infecciosas no Centro Médico da Universidade Vanderbilt em Nashville, nos EUA,
William Schaffner explica que os dois vírus são "totalmente
diferentes". "Claro que a vacina contra a covid-19 não tem nada a ver
com a mpox."
• Mpox = Herpes-zóster?
A fake news que
viralizou no X também alega que a doença mpox seria, na maioria dos casos,
herpes-zóster (também conhecida como cobreiro).
De acordo com um
estudo de 2022 publicado no Journal of the European Academy of Dermatology and
Venereology, os vírus zóster podem ser reativados por meio de vacinas. Isso
também se aplica às diferentes vacinas contra a covid-19, onde os imunizados
têm um risco maior de desenvolver herpes-zóster.
No entanto, não há
relação entre os vírus mpox e zóster, diz a imunologista Kari Moore Debbink:
"Mpox e herpes-zóster pertencem a grupos virais diferentes, então os dois
vírus podem ser facilmente diferenciados em testes. Embora ambos possam causar sintomas
semelhantes, como erupção cutânea, febre, gânglios linfáticos inchados e
mal-estar, há características distintas nas erupções cutâneas causadas por cada
um, permitindo a diferenciação com base nos sinais e sintomas."
• Os vírus da covid-19 e do mpox são
iguais?
O mpox é muito menos
contagioso que a covid-19. Enquanto o vírus do mpox é transmitido pelo contato
físico próximo, pele a pele, ou com materiais contaminados (toalhas, roupa de
cama e roupas), o coronavírus é extremamente contagioso e pode ser transmitido
por pequenas gotículas no ar ao respirar, falar, espirrar ou tossir – mesmo por
pessoas assintomáticas. E enquanto o coronavírus tende a provocar tosse e falta
de ar, bem como perda do paladar e do olfato, o sintoma clássico do mpox são as
erupções cutâneas.
• Desinformação atrapalha o trabalho das
autoridades de saúde
Schaffner e Debbik se
dizem preocupados com a disseminação massiva de desinformação em torno das
vacinas. "As informações erradas que estão sendo disseminadas sobre todas
as vacinas, mas também contra a covid-19 e agora o Mpox, estão causando grande
confusão e desconfiança em relação às autoridades de saúde. Isso torna muito
mais difícil para os ministérios da saúde ajudar as pessoas a se manterem
saudáveis", diz Schaffner.
• UE deve se preparar para mais casos de
mpox, alerta agência
A agência de saúde da
União Europeia pediu nesta sexta-feira (16/08) aos países membros do bloco que
se preparem para mais casos de infecção pela nova cepa da mpox. O alerta veio
um dia depois que o primeiro caso de infecção pelo vírus fora da África foi
relatado, na Suécia.
O paciente sueco foi
infectado durante viagem ao continente africano com a nova variante, mpox clado
1, um tipo mais contagioso que fez disparar os casos da doença na República
Democrática do Congo (RDC), e que se espalhou por países vizinhos como o Burundi,
Quênia, Ruanda e Uganda.
O Centro Europeu de
Prevenção e Controle de Doenças (ECDC) disse que a variante representa um risco
"baixo", mas recomenda que as autoridades de saúde pública
"mantenham altos níveis de planejamento, de preparação e atividades de
conscientização para permitir a rápida detecção e resposta".
"Testem, testem,
testem, a fim de encontrar os casos suspeitos na Europa o mais rápido possível
e evitar uma maior disseminação", aconselhou a diretora do centro, Pamela
Rendi-Wagner.
A agência elevou sua
avaliação de risco da cepa na Europa para moderado. O risco era alto para
viajantes para áreas afetadas na África em contato próximo com pessoas e
moderado para seus contatos.
O órgão sediado em
Estocolmo disse que era "altamente provável" que mais casos
aparecessem na Europa.
"Devido aos laços
estreitos entre Europa e África, devemos estar preparados para mais casos
importados do clado 1”, disse a diretora do ECDC, Pamela Rendi-Wagner, em
comunicado.
A Organização Mundial
da Saúde (OMS) declarou esta semana que a disseminação da nova cepa é uma
emergência de saúde pública de interesse internacional, o alerta máximo para
infecções.
<><> O que
é a mpox?
A doença,
primeiramente chamada de varíola dos macacos, é uma infecção viral que causa
sintomas semelhantes aos da gripe e pode causar lesões semelhantes a furúnculos
na pele. Em alguns casos, pode resultar em morte.
Pelo menos 548 pessoas
morreram em decorrência da infecção na República Democrática do Congo, que
concentra 96% dos casos.
O vírus pode passar de
animais para humanos, mas também pode ser transmitido de humanos para outros
humanos por meio de contato físico próximo.
Com a propagação da
nova cepa, que é considerada mais contagiosa, porém menos letal, houve um
aumento de 160% nos casos este ano em comparação com o ano anterior, de acordo
com dados publicados na semana passada pela agência de saúde africana.
Além do caso detectado
na Suécia, o ministério da saúde do Paquistão confirmou nesta sexta pelo menos
uma pessoa infectada pelo vírus. O paciente havia retornado de um país do
Golfo, segundo as autoridades de saúde paquistanesas. Ainda não se sabe qual foi
a cepa do vírus.
Um total de 38.465
casos da doença foi registrado em 16 países africanos desde janeiro de 2022,
com 1.456 mortes.
<><>
Empresas se preparam para fornecer vacina
A farmacêutica
dinamarquesa Bavarian Nordic informou na quinta-feira que está pronta para
produzir até 10 milhões de doses de sua vacina contra a varíola até 2025,
depois que a Organização Mundial da Saúde declarou emergência de saúde pública global.
O laboratório
dinamarquês fornece sua vacina contra a varíola principalmente para governos e
organizações internacionais, mas começou a comercializá-la nos Estados Unidos
em abril.
Na terça-feira, o
Centro Africano de Controle e Prevenção de Doenças, a agência de saúde da União
Africana, anunciou que mais de 200 mil doses da vacina seriam aplicadas no
continente, após um acordo com a União Europeia e a Bavarian Nordic.
<><> A
mpox vai desencadear outra pandemia?
Especialistas em
infectologia avaliam a hipótese como altamente improvável.
As pandemias,
inclusive as mais recentes, da gripe suína e de covid-19, normalmente são
desencadeadas por vírus transportados pelo ar, que se espalham rapidamente,
inclusive por pessoas sem sintomas aparentes.
A mpox é transmitida
principalmente por meio de contato próximo, pele a pele com pessoas infectadas
ou com suas roupas ou lençóis sujos.
Para se manter seguro,
os especialistas aconselham evitar o contato físico próximo com alguém que
tenha lesões semelhantes à varíola, não compartilhando seus utensílios, roupas
ou lençóis e manter uma boa higiene, como lavar as mãos regularmente.
Há também o fato de
que existem vacinas e tratamentos disponíveis para a varíola, ao contrário do
que aconteceu nos primeiros dias da pandemia de covid-19.
Fonte: Deutsche Welle
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