quinta-feira, 22 de agosto de 2024

Fake News: Não há qualquer relação entre mpox e vacina contra covid-19

Um dia depois de a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarar novamente alerta máximo por causa do surto recente de mpox na República Democrática do Congo e em países africanos vizinhos – fazendo desta a segunda emergência global sanitária atrelada à doença viral em dois anos –, vieram as notícias da primeira infecção na Europa.

Segundo as autoridades suecas que confirmaram o caso, o contágio ocorreu enquanto a pessoa afetada viajava por uma região da África de circulação da doença.

Depois disso, começaram a surgir nas redes sociais uma série de conteúdos sobre o vírus mpox – e cada vez mais informações falsas.

•        Mpox e vacinas mRNA: há uma conexão?

<><> Alegação: "O que apresentam para nós como varíola dos macacos é, na maioria dos casos, a tal herpes-zóster – um dos efeitos colaterais mais comuns da 'vacina' contra a covid", afirma um usuário da rede social X em post do dia 14 de agosto de 2024. A informação é atribuída ao médico alemão e político Wolfgang Wodarg.

<><> Checagem da DW: Falso.

A postagem cita uma entrevista em vídeo com Wodarg, médico e ex-deputado federal pelo SPD que depois migrou para o partido nanico dieBasis, formado na esteira dos protestos contra as medidas de controle sanitário na época da pandemia de coronavírus. O vídeo foi gravado em 2022 e veiculado pelo AUF1, site austríaco conspiracionista de ultradireita.

A mesma citação é replicada em perfis no X de língua portuguesa e espanhola. A maioria das postagens que a DW localizou eram nesses dois idiomas.

Um estudo da Universidade Loyola Andalusia constatou que a narrativa que apresenta o mpox como efeito colateral de vacinas da covid-19 foi a mais compartilhada dentre todas as informações falsas sobre a doença.

Perguntada sobre se há uma relação entre o atual surto da varíola dos macacos e as vacinas contra a covid-19, a microbiologista e imunologista Kari Moore Debbink da Escola de Saúde Pública John Hopkins Bloomberg afirma: "As vacinas mRNA contra a covid-19 foram usadas mundialmente, enquanto os casos de mpox tipicamente surgem em determinados países da África, com alguns poucos casos fora dessa região. Portanto, não há nenhuma ligação geográfica entre as vacinas de mRNA contra o coronavírus e os casos de mpox".

Professor de doenças infecciosas no Centro Médico da Universidade Vanderbilt em Nashville, nos EUA, William Schaffner explica que os dois vírus são "totalmente diferentes". "Claro que a vacina contra a covid-19 não tem nada a ver com a mpox."

•        Mpox = Herpes-zóster?

A fake news que viralizou no X também alega que a doença mpox seria, na maioria dos casos, herpes-zóster (também conhecida como cobreiro).

De acordo com um estudo de 2022 publicado no Journal of the European Academy of Dermatology and Venereology, os vírus zóster podem ser reativados por meio de vacinas. Isso também se aplica às diferentes vacinas contra a covid-19, onde os imunizados têm um risco maior de desenvolver herpes-zóster.

No entanto, não há relação entre os vírus mpox e zóster, diz a imunologista Kari Moore Debbink: "Mpox e herpes-zóster pertencem a grupos virais diferentes, então os dois vírus podem ser facilmente diferenciados em testes. Embora ambos possam causar sintomas semelhantes, como erupção cutânea, febre, gânglios linfáticos inchados e mal-estar, há características distintas nas erupções cutâneas causadas por cada um, permitindo a diferenciação com base nos sinais e sintomas."

•        Os vírus da covid-19 e do mpox são iguais?

O mpox é muito menos contagioso que a covid-19. Enquanto o vírus do mpox é transmitido pelo contato físico próximo, pele a pele, ou com materiais contaminados (toalhas, roupa de cama e roupas), o coronavírus é extremamente contagioso e pode ser transmitido por pequenas gotículas no ar ao respirar, falar, espirrar ou tossir – mesmo por pessoas assintomáticas. E enquanto o coronavírus tende a provocar tosse e falta de ar, bem como perda do paladar e do olfato, o sintoma clássico do mpox são as erupções cutâneas.

•        Desinformação atrapalha o trabalho das autoridades de saúde

Schaffner e Debbik se dizem preocupados com a disseminação massiva de desinformação em torno das vacinas. "As informações erradas que estão sendo disseminadas sobre todas as vacinas, mas também contra a covid-19 e agora o Mpox, estão causando grande confusão e desconfiança em relação às autoridades de saúde. Isso torna muito mais difícil para os ministérios da saúde ajudar as pessoas a se manterem saudáveis", diz Schaffner.

 

•        UE deve se preparar para mais casos de mpox, alerta agência

A agência de saúde da União Europeia pediu nesta sexta-feira (16/08) aos países membros do bloco que se preparem para mais casos de infecção pela nova cepa da mpox. O alerta veio um dia depois que o primeiro caso de infecção pelo vírus fora da África foi relatado, na Suécia.

O paciente sueco foi infectado durante viagem ao continente africano com a nova variante, mpox clado 1, um tipo mais contagioso que fez disparar os casos da doença na República Democrática do Congo (RDC), e que se espalhou por países vizinhos como o Burundi, Quênia, Ruanda e Uganda.

O Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças (ECDC) disse que a variante representa um risco "baixo", mas recomenda que as autoridades de saúde pública "mantenham altos níveis de planejamento, de preparação e atividades de conscientização para permitir a rápida detecção e resposta".

"Testem, testem, testem, a fim de encontrar os casos suspeitos na Europa o mais rápido possível e evitar uma maior disseminação", aconselhou a diretora do centro, Pamela Rendi-Wagner.

A agência elevou sua avaliação de risco da cepa na Europa para moderado. O risco era alto para viajantes para áreas afetadas na África em contato próximo com pessoas e moderado para seus contatos.

O órgão sediado em Estocolmo disse que era "altamente provável" que mais casos aparecessem na Europa.

"Devido aos laços estreitos entre Europa e África, devemos estar preparados para mais casos importados do clado 1”, disse a diretora do ECDC, Pamela Rendi-Wagner, em comunicado.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou esta semana que a disseminação da nova cepa é uma emergência de saúde pública de interesse internacional, o alerta máximo para infecções.

<><> O que é a mpox?

A doença, primeiramente chamada de varíola dos macacos, é uma infecção viral que causa sintomas semelhantes aos da gripe e pode causar lesões semelhantes a furúnculos na pele. Em alguns casos, pode resultar em morte.

Pelo menos 548 pessoas morreram em decorrência da infecção na República Democrática do Congo, que concentra 96% dos casos.

O vírus pode passar de animais para humanos, mas também pode ser transmitido de humanos para outros humanos por meio de contato físico próximo.

Com a propagação da nova cepa, que é considerada mais contagiosa, porém menos letal, houve um aumento de 160% nos casos este ano em comparação com o ano anterior, de acordo com dados publicados na semana passada pela agência de saúde africana.

Além do caso detectado na Suécia, o ministério da saúde do Paquistão confirmou nesta sexta pelo menos uma pessoa infectada pelo vírus. O paciente havia retornado de um país do Golfo, segundo as autoridades de saúde paquistanesas. Ainda não se sabe qual foi a cepa do vírus.

Um total de 38.465 casos da doença foi registrado em 16 países africanos desde janeiro de 2022, com 1.456 mortes.

<><> Empresas se preparam para fornecer vacina

A farmacêutica dinamarquesa Bavarian Nordic informou na quinta-feira que está pronta para produzir até 10 milhões de doses de sua vacina contra a varíola até 2025, depois que a Organização Mundial da Saúde declarou  emergência de saúde pública global.

O laboratório dinamarquês fornece sua vacina contra a varíola principalmente para governos e organizações internacionais, mas começou a comercializá-la nos Estados Unidos em abril.

Na terça-feira, o Centro Africano de Controle e Prevenção de Doenças, a agência de saúde da União Africana, anunciou que mais de 200 mil doses da vacina seriam aplicadas no continente, após um acordo com a União Europeia e a Bavarian Nordic.

<><> A mpox vai desencadear outra pandemia?

Especialistas em infectologia avaliam a hipótese como altamente improvável.

As pandemias, inclusive as mais recentes, da gripe suína e de covid-19, normalmente são desencadeadas por vírus transportados pelo ar, que se espalham rapidamente, inclusive por pessoas sem sintomas aparentes.

A mpox é transmitida principalmente por meio de contato próximo, pele a pele com pessoas infectadas ou com suas roupas ou lençóis sujos.

Para se manter seguro, os especialistas aconselham evitar o contato físico próximo com alguém que tenha lesões semelhantes à varíola, não compartilhando seus utensílios, roupas ou lençóis e manter uma boa higiene, como lavar as mãos regularmente.

Há também o fato de que existem vacinas e tratamentos disponíveis para a varíola, ao contrário do que aconteceu nos primeiros dias da pandemia de covid-19.

 

Fonte: Deutsche Welle

 

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